31/12/2016

Feliz Ano Novo!

Feliz Ano Novo para todos!
Os meus votos para o ano vindouro são:
- Inteligência;
- Amor;
-Lucidez;
- Paz;
- Fortuna.


Luz de dentro

Miminhos que recebi  e que muito agradeço.:))


 



30/12/2016

Nuvens

A nuvem invólucro arquitectónico.
A Coluna de Nelson, Trafalgar Square

NUBES (I)

No habrá una sola cosa que no sea
una nube. Lo son las catedrales
de vasta piedra y bíblicos cristales
que el tiempo allanará. Lo es la Odisea,
que cambia como el mar. Algo hay distinto
cada vez que la abrimos. El reflejo
de tu cara ya es otro en el espejo
y el día es un dudoso laberinto.
Somos los que se van. La numerosa
nube que se deshace en el poniente
es nuestra imagen. Incesantemente
la rosa se convierte en otra rosa.
Eres nube, eres mar, eres olvido.
Eres también aquello que has perdido.


NUBES (II)

Por el aire andan plácidas montañas
o cordilleras trágicas de sombra
que oscurecen el día. Se las nombra
nubes. Las formas suelen ser extrañas.
Shakespeare observó una. Parecía
un dragón. Esa nube de una tarde
en su palabra resplandece y arde
y la seguimos viendo todavía.
Qué son las nubes? Una arquitetura
del azar? Quizá Dios las necesita
para la ejecución de Su infinita
obra y son hilos de la trama oscura.
Quizá la nube sea no menos vana
que el hombre que la mira en mañana.

Jorge Luís Borges, De Los Conjurados (daqui)

27/12/2016

"Escuta, lenhador..."


Seurat, La Tour Eiffel, ca. 1889, 24,1 x 15,2 cm Fine Arts Museums of San Francisco, Museum purchase, William H. Noble Bequest Fund (daqui)



Escuta, lenhador...
Todos os anos vejo as árvores desaparecerem. Pode dizer-se que voltam a ser plantadas, mas nunca se reencontram tantas como anteriormente e é sempre um número mínimo que volta a estender os seus jovens ramos em direcção ao sol ou que agita a sua cabeleira ao vento.
Paris é a única cidade onde se tratam  assim as nossas irmãs árvores; nem Berlim nem Londres, para citar apenas cidades civilizadas, demonstram um tal desconhecimento da natureza. Todos os anos, sob os mais diversos pretextos, as nossas avenidas apresentam um desfile digno dos «infortúnios de guerra» e os mutilados expõem os seus cotos perante a indiferença dos automóveis, em grande medida responsáveis por esta desastrada exterminação. Se, como diz Aristóteles, as árvores são pessoas que sonham, o que pensará a árvore dos seus carrascos? Não quero fingir que lhe dou voz, porque ela tem a seu favor o silêncio dos amantes, as brincadeiras das crianças, as divagações dos solitários e um povo livre sem constrangimentos, ou seja, os pássaros.

Julien Green, Paris. [1983]( Tradução Carlos Vaz Marques) Lisboa: Tinta da China, 2008, p. 105.

Um livro que só agora li por razões várias e porque revisitei Paris nesta época natalícia há uns tempos atrás. Saudades de Paris? Talvez.

Em homenagem a mais uma partida do mundo da música:
(1963-2016)

23/12/2016

Feliz Natal!

A todos um Feliz Natal! 


Numa bola de sabão ...
uns flocos de neve pairam
sob um presépio
que tem uma base barroca: 
 uma caixa de música que canta alegria.


Em re-re-reposição porque gosto muito de ouvir este poema neste dia

19/12/2016

Vento


Vento
A porta da igreja está aberta 
e o presépio em construção.
Os sinos silenciosos marcam
a sexta-feira sombria.
Folhas rolam pelo chão...
com o som agudo e agreste do vento
As muralhas defensivas
talvez defendam dos ataques dos homens,
mas não da Natureza.
Faz frio porque o vento bate fortemente
chamando por mim,
não sei se hei-de ficar ou partir com o vento.


ana

(Agradeço a todos a visita, em breve poderei retribuir)

12/12/2016

Passado/Porvir - Diálogo

Danny Galieote, The Great Escape

"The Great Escape," oil on canvas, by Danny Galieote



Na realidade afigura-se mais lógico, mais fácil, e mesmo mais interessante, conhecermo-nos primeiro em Passado do que em Porvir, - já que ignoramos um e outro.

Mário de Sá-Carneiro, A Estranha Morte do Professor Antena. (Prefácio de Nuno Júdice). Sintra: Colares Editora, p. 26.

...............

O que é o presente?
Algo que conhecemos
e vemos como algo que não atingimos.

O que é o passado?
As memórias doces e amargas
de algo que perdemos.

O que é o porvir?
Algo que almejamos
como a melhor das utopias
felicidade suprema...

ana


09/12/2016

When I Was a child!

Brinquedo, Museu do Caramulo

"When I Was A Child"

I was reaching for the future
Slowly floating in the blue
When I was a boy
I dreamed a dream of you

I danced upon the tree top
I drifted with the stream
When I was a child
I held you in my dreams

Oh, oh
Oh, oh
Ooh

Once I was a soldier
In my castle strong
Oh, I stood so tall then
I could do no wrong
Innocence and slumber
When I was a boy

I was walking with a stranger
He left without a trace
When I was a boy
I slept at Heaven's gate

Once I was a soldier
In my castle strong
Oh, I stood so tall then
I could do no wrong
Innocence and slumber
When I was a boy

Once I was a soldier
In my castle strong
Oh, I stood so tall then
I could do no wrong

Innocence and slumber
Oh, when I was, when I was, when I was
When I was, when I was
When I was, oh, oh, ooh yeah

Once I was a soldier
In my castle strong
Oh I stood so tall then
I could do no wrong

Innocence and slumber
Oh, ooh yes, you know and so I wonder
Through it grows and grows
When I was a boy
I was a boy
I was a boy


05/12/2016

Noite


Noite

Cansaço...
ruído
alegria
tristeza
palavras inscritas
na pedra,
no rio,
no mar.

Grito
mudo...
do fundo da caverna
esperança
em contradança
entre a presença fugaz
e a ausência permanente,
vida.

Laços
embalo
ao de leve
frágil
proeza surreal
do amor
harmonia
no relógio
sem ponteiros,
noite.

ana

 

30/11/2016

Não quero ir onde não há a luz

Brilho duplo.
Joana Vasconcelos (casamento) no Palácio da Ajuda

Não quero ir onde não há a luz
verso título do poema de

Fernando Pessoa, Poesias Inéditas (1930-1935).  (Nota prévia de Jorge Nemésio.) Lisboa: Ática, 1955 (imp. 1990), p. 109.

28/11/2016

Infernos, um livro que veio da minha primeira visita à nova Lumière

Na nova Lumière fui muito bem recebida, como sempre. O espaço é fantástico, a luz é dominante, ou não se chamasse assim a livraria. Ao fundo, a galeria de escritores. Uma cadeira, um café e a companhia agradável da Cláudia e da Alexandra Ribeiro. Muito acolhedora esta livraria, já o era no passado, agora é mais porque nos oferece um espaço maior.
De lá trouxe o livro que ando a ler: Infernos de Jean Genet. Um livro poético,  lucidamente amargo, uma auto-crítica? Não sei se será, mas é um livro em que o escritor faz um ajuste de contas consigo e com o mundo marginal de que fazia parte.  






Não há - nem mesmo tu - quem te perdoe a beleza. Não há - e mesmo tu - quem saiba fazer mais do que desatar a rir perante as maldições indeslindáveis que te deixam melancólico. Serás em breve só a memória da tua beleza. Dela restará o canto, e depois o canto deste poema que abandonas, e talvez mais longe «esta ideia de miséria infinita». Trabalha. Manifesta brilhantemente aquilo que o mundo já condenou em ti e não os astros. (...)

Jean Genet, Infernos, Fragmentos. (Tradução e prefácio de Aníbal Fernandes). Lisboa: Hiena Editora, 1990, p. 38

... Já passaram 25 anos que morreu Freddie Mercury.


26/11/2016

Abstracto

Composição a partir da tela de António Charrua



O amor é abstracto,
são explosões de cor,
é luminoso no seu esplendor
e escuro na tristeza da sua morte.

 

25/11/2016

Numa visita ao museu

A arte abstracta nasceu em 1910, por oposição à arte concreta e real, por oposição à fotografia que captava a realidade tal como se apresentava.

Tela de António Charrua,
numa exposição temporária no Museu Nacional Machado de Castro

Gostei da citação de Raquel Henriques da Silva pois, na tentativa de explicação fica sempre algo por dizer.

18/11/2016

Tarde de Outono

Cascata encenada pelo homem

Tarde de Outono,
uma cascata sinfónica
corta o silêncio majestoso do jardim,
espaço cénico do botânico que o criou.
Os amantes procuram a paz
para fazer juras de amor.
Os poetas procuram a quietude
para escrever.
Os pintores procuram a mansidão,
para colocarem na tela
a impressão dourada das folhas.
As crianças procuram na água
os peixinhos vermelhos
 e a alegria de chapinhar.
A folha cai da árvore lentamente,
flutua no ar... flutua
cai na água e rodopia
em movimentos concêntricos,
à procura de ti.


16/11/2016

Parabéns, João Menéres!

Parabéns, João!
Um dia muito feliz e tão bonito como o de ontem no lançamento do livro.

fotografia de João Menéres, Entre o Ver e o Olhar, p. 22

Estrelas cadentes em forma de flor
enchem o céu de júbilo.

ana

11/11/2016

O castanheiro

Boa noite de S. Martinho!


Nostalgia
o castanheiro da avó
ficou perdido no bosque
já ninguém o visita.
Debaixo da frondosa copa,
à sombra das suas folhas dançantes,
os livros ficaram perdidos
pousados junto às raízes fortes.
As memórias boas e funestas
são sombras e afectos perdidos.
O canto dos pássaros continua...
a vida continua,  o canto também,
mas os pássaros são outros, ...
O livro aberto está em branco,
a passagem do tempo apagou a escrita,
apagou o nome,
apenas ficou o coração desenhado na árvore.
O castanheiro da avó
permanece inteiro, em direcção ao céu,
no chão ficaram duas ou três castanhas.

ana

Homenagem a um cantor que gosto.

10/11/2016

"stories"


You may have heard the world is made up of atoms and molecules, but it's really made up of stories. When you sit with an individual that's been here, you can give quantitative data a qualitative overlay.
William Turner



09/11/2016

O ritmo antigo que há nos pés descalços

O ritmo antigo que há nos pés descalços

O ritmo antigo que há nos pés descal
ços
Esse ritmo das ninfas copiado
Quando sob arvoredos
Batem o som da dança —

Pelas praias às vezes, quando brincam
Ante onde a Apolo se Neptuno alia
As crianças maiores,
Têm semelhanças breves

Com versos já longínquos em que Horácio
Ou mais clássicos gregos aceitavam
A vida por dos deuses
Sem mais preces que a vida.

Por isso à beira deste mar, donzelas,
Conduzi vossa dança ao som de risos
Soberbamente antigas
Pelos pés nus e a dança

Enquanto sobre vós arqueia Apolo
Como um ramo alto o azul e a luz da hora
E há o rito primitivo
Do mar lavando as costas.

9-8-1914

Ricardo Reis, Odes (Notas de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor). Lisboa: Ática, 1946.


07/11/2016

Intensidade

intensidade
dilema
grau
tristeza
profundidade
desencontro
incenso que não arde,
velas derretidas em candelabro de prata.
Perfume perdido,
na impotência física
da porta em ruínas.
...Tristeza.

ana










05/11/2016

o não ter tempo...

45º



Deus pede estrita conta de meu tempo.
E eu vou do meu tempo, dar-lhe conta.
Mas, como dar, sem tempo, tanta conta
Eu, que gastei, sem conta, tanto tempo?

Para dar minha conta feita a tempo,
O tempo me foi dado, e não fiz conta,
Não quis, sobrando tempo, fazer conta,
Hoje, quero acertar conta, e não há tempo.

Oh, vós, que tendes tempo sem ter conta,
Não gasteis vosso tempo em passatempo.
Cuidai, enquanto é tempo, em vossa conta!
Pois, aqueles que, sem conta, gastam tempo,
Quando o tempo chegar, de prestar conta
Chorarão, como eu, o não ter tempo...


Frei António das Chagas, in  Antologia Poética 
(citador)



03/11/2016

Para a Margarida

Parabéns, Margarida!
Um resto de dia muito feliz. 


A pintura é uma poesia que se vê e não se sente, 
e a poesia é uma pintura que se sente e não se vê.

Leonardo da Vinci, Tratado de Pintura 
(retirado do Citador)

Study sheet with cats dragon and other animals - by Leonardo da Vinci
http://www.leonardodavinci.net/study-sheet-with-cats-dragon-and-other-animals.jsp


02/11/2016

Sabedoria



Sócrates sentou-se e respondeu:
-Seria bom, Agatão, que a sabedoria fosse uma coisa que se pudesse transmitir, de um homem que a possui, a um homem que não a possui, mediante um simples contacto mútuo, tal como a água que passa para um copo vazio através de um simples fio de lã.


Platão, O Banquete ou do Amor, Coimbra: Atlântida Editora, sd, p. 44.

31/10/2016

"O Echo"

Ernesto Canto da Maya, Adão e Eva, 1929
Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado
O Echo


Tão tarde. Adão não vem? Aonde iria Adão?! 
Talvez que fosse á caça; quer fazer surprezas com alguma côrça branca lá da floresta. 
Era p'lo entardecer, e Eva já sentia cuidados por tantas demoras. 
Foi chamar ao cimo dos rochedos, e uma voz de mulher tambem, tambem chamou Adão. 
Teve mêdo: Mas julgando fantazia chamou de nôvo: Adão? E uma voz de mulher tambem, tambem chamou Adão. 
Foi-se triste para a tenda. 
Adão já tinha vindo e trouxera as settas todas, e a cáça era nenhuma! 
E elle a saudá-la ameaçou-lhe um beijo e ella fugiu-lhe. 
- Outra que não Ella chamára tambem por Elle.


Almada Negreiros, in "Frisos" - Revista Orpheu nº1

[Voltar a ler Almada faz-nos esquecer as coisas tristes como a perda de Lobo Antunes.]


Hoje ao clicar no botão do rádio surgiu esta bela canção. Já não a ouvia há muito tempo. Por vezes esquecemos-nos do que é nosso.

27/10/2016

Incerteza

Incerteza

desliza levemente
no sopro quente de outono
a folha dourada, tesouro ostensivo
da natureza morta.

Com ela vão os registos inscritos,
as promessas de amor
incerteza constante
de sonhos perdidos.

Castelo numa rocha suspensa,
Magritte  com olhos e boca amordaçados
não vê, não grita quão incerto é o amor.

Eva mordeu a maçã da árvore proibida
Adão é inocente e Eva é julgada
na assembleia dos deuses.

ana

Gosto muito desta interpretação de Yves Montand

25/10/2016

Forever Young...

What can I say, I'm speechless.

To Bob Dylan


Forever Young
May God's bless and keep you always
May your wishes all come true
May you always do for others
And let others do for you
May you build a ladder to the stars
And climb on every rung
May you stay
Forever young
Forever young
Forever young
May you stay
Forever young
May you grow up to be righteous
May you grow up to be true
May you always know the truth
And see the lights surrounding you
May you always be courageous
Stand upright and be strong
And may you stay
Forever young
Forever young
Forever young
May you stay
Forever young
May your


23/10/2016

Livros, leituras de Outono - Isabel de Aragão

O Outono é melancólico, as árvores despem-se, o chão torna-se dourado, começa o vento e a chuva ainda é miudinha, e... ainda está calor. A paleta de cores encanta, mas o tempo entristece. Foi assim, neste ambiente que encontrei um título, para mim, completamente desconhecido, de Vitorino Nemésio, Isabel de Aragão Rainha Santa. Uma Rainha, uma mulher enigmática, um esboço de um retrato elaborado por Vitorino Nemésio que nos diz: uma interpretação puramente biográfica da Rainha - uma obra de arte. Seja como for não perdemos o pé da História, não inventámos um único personagem ou facto: a nossa invenção é puramente psicológica. Não se pode fazer uma «vida» com as verbas avulsas dos arquivos. (p. 79).

O livro é dedicado 
Afonso Lpoes Vieira,
Vizinho do castelo de Leiria e português velho
- este retrato de Mulher,
Pelo muito que o admiro.



Excerto da p. 70, editado pela Texto em 2011.


18/10/2016

The Letter

The Letter 

Gimme a ticket for an aeroplane
Ain't got time to take a fast train
Lonely days are gone, I'm a-goin' home
My baby, just-a wrote me a letter

I don't care how much money I gotta spend
Got to get back to my baby again
Lonely days are gone, I'm a-goin' home
My baby, just-a wrote me a letter

Well, she wrote me a letter
Said she couldn't live without me no more
Listen mister, can't you see I got to get back
To my baby once-a more
Anyway, yeah!

Gimme a ticket for an aeroplane
Ain't got time to take a fast train
Lonely days are gone, I'm a-goin' home
My baby, just-a wrote me a letter

Well, she wrote me a letter
Said she couldn't live without me no more
Listen mister, can't you see I got to get back
To my baby once-a more
Anyway, yeah!

Gimme a ticket for an aeroplane
Ain't got time to take a fast train
Lonely days are gone, I'm a-goin' home
My baby, just-a wrote me a letter, my baby just-a wrote me a letter

 Read more: The Box Tops - The Letter Lyrics | MetroLyrics

 

16/10/2016

Parabéns, Maria João!

Parabéns, Maria João!

Um dia muito Feliz.

The Youth Moses (detail), 1481-1482 - Sandro Botticelli
Botticelli, The Youth Moses” (1481-1482) https://www.wikiart.org/en/sandro-botticelli/the-youth-moses-detail-1482


Deixo aqui os meus parabéns e a minha tristeza por ter sido lembrada pelas redes sociais e não pela minha cabeça.:((

Partilho, no entanto, o nosso gosto por Botticelli e por Roma, cidade que conhece melhor que eu.


15/10/2016

Com F [linpo] no coração



Parabéns Flinpo pelo 6º Aniversário!

Fazes passar ante os meus olhos as séries de seres vivos [...]

Shopenhaeur, Da Necessidade Metafísica. Lisboa: Editorial Inquérito Limitada, ( trad. Lobo Vilela, 2 edição), s.d.(comprado em 1960), p. 57. Obrigada.


Ao laureado Nobel da literatura, um cantor que ouvi bastante.

10/10/2016

não parava na curva da estrada



Ai se pudesse girar os ponteiros do relógio no sentido contrário.
Ai se pudesse amordaçar a boca e ficar muda …
Ai se pudesse adormecer … e acordar sem ter vivido a última semana!
Ai se fosse outra pessoa que não eu

Como seria feliz!
Não magoaria o outro,
não choraria o vazio,
não sorriria sem vontade.

Poderia rir ao sabor do vento.
Poderia chorar ao sabor da chuva.
Poderia ignorar a verdade.

Viveria a sonhar,
viveria a idealizar
viveria a caminhar… e não parava na curva da estrada.

ana


08/10/2016

[Um livro] é um farol

Amanhecer, junto ao farol. Não ilumina mas é iluminado.


Para seres um homem de bem só precisas de uma coisa: a vontade.
in Carta nº 80 a Lucílio.

 Séneca (Lúcio Anéu), Cartas a Lucílio, [retirado de uma cópia que me foi oferecida desta carta nº 80], p. 345.
Existe esta obra  numa 4ª edição da Fundação Calouste Gulbenkian, do ano de 2009.


04/10/2016

O tempo

A model presents a body painting composition ''Time" by Belarusian designer Andrei Lagun during the Mammoth Fashion Festival in Minsk, 
Picture: VIKTOR DRACHEV/AFP/Getty Images, in The Telegraph

O tempo

O tempo diz ao tempo
passa, passa, lentamente,
o tempo diz ao tempo
passa, passa, rapidamente.

O tempo diz ao tempo
que perda tudo isto,
passas na rua, sem olhar,
entras em casa sem enxergar.

Vagueias pelo caminho que abriu sem o conheceres;
desenham-se no horizonte auroras e poentes,
mas tu continuas a vaguear...
passa o tempo, passa o tempo,

sem fronteira, nem destino,
sem ritmo, nem desafio,
sem rumo, nem meta,
apenas vagueias sem pressa.

Diz o tempo para o tempo,
adormece e passa o tempo.
Diz o tempo para o tempo.

passa, passa, passa,
volta, volta, volta,
parte, parte, parte.

ana


01/10/2016

"tasca vizinha" - Vizinhos

Apanhados à porta de casa, vizinhos em amena conversa



Ah, como incerta, na noite em frente

Ah, como incerta, na noite em frente,
De uma longínqua tasca vizinha
Uma ária antiga, subitamente,
Me faz saudades do que as não tinha.

A ária é antiga? É-o a guitarra.
Da ária mesma não sei, não sei.
Sinto a dor-sangue, não vejo a garra.
Não choro, e sinto que já chorei.

Qual o passado que me trouxeram?
Nem meu nem de outro, é só passado:
Todas as coisas que já morreram
A mim e a todos, no mundo andado.

É o tempo, o tempo que leva a vida
Que chora e choro na noite triste.
É a mágoa, a queixa mal definida
De quando existe, só porque existe.
14-8-1932

Fernando Pessoa, Poesias Inéditas (1930-1935). (Nota prévia de Jorge Nemésio.) Lisboa: Ática, 1955 (imp. 1990), p. 86.




29/09/2016

Se podes olhar...

José Saramago, Ensaio sobre a Cegueira, Lisboa: Coleção Essencial Livros RTP

Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara.
Livro do Conselhos (s/nº p.)

24/09/2016

O mundo não é a preto e branco

Londres


O mundo não é a preto e branco,
nem tão pouco cinzento.
Ele é:
 azul,
amarelo,
rosa,
turquesa,
cinza escuro.
Tal como o Homem, nada é o que parece
nada parece o que é.
Ele é um ser múltiplo e finito.
Erra quem é daltónico nos seus julgamentos. 


11/09/2016

Em "clausura"

A minha torre de marfim, Monção


A todos venho agradecer a passagem e os comentários gentis. 
Peço desculpa pela minha ausência e pela falta de acompanhamento aos vossos registos e apontamentos que de certeza alimentariam a minha alma. 
Todavia, neste tempo que desenho de forma helicoidal, chegou o momento de alguma pausa. Letargia?, esvaziamento?, falta de capacidade de diálogo? 
Talvez.
O silêncio é por vezes necessário. 
O desejo que o mundo se torne uma grande almofada onde recostamos a cabeça e adormecemos torna-se pura realidade. 
Há input mas não se consegue fazer o output.
Que a amizade resista a estas ausências.
Boa semana!

10/09/2016

Xeque-mate

Xeque-mate

O meu baralho tem três reis, 
menos um.
O meu baralho tem peões 
e arqueiros.
O meu baralho 
é baralhado.
O meu baralho 
só joga xadrez.

ana



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