31/08/2014

Jardim da[s] delícia[s]

Viagem ao Jardim da[s] delícia[s]. 
A ida a Monserrate teve como leitmotiv a exposição: Uma história de jardins A sua arte na tratadística e na literatura que esteve patente na Biblioteca Nacional de Portugal.  A exposição finalizava com uma curta-metragem [?] sobre jardins portugueses com alma entre eles o de Monserrate.

Visitar Monserrate consistiu num misto de prazer, de curiosidade e de encantamento.




Breve resenha histórica baseada na brochura: Parque e Palácio de Monserrate, Guia Oficial. Parques de Sintra - Monte da Lua SA e Scala Publishers, 2011.

O primeiro proprietário conhecido da Quinta da Boa Vista, como se chamava, foi o Hospital Real de Todos-os-Santos inaugurado em 1508 (reinado de D. Manuel I). Em 1540 um padre de nome Gaspar Preto, no regresso de uma peregrinação à Abadia Beneditina de Monserrate (na Catalunha) conseguiu autorização para construir no hospital uma capela, onde actualmente se situa o Palácio. Provavelmente o nome da quinta teve assim a sua origem. O Hospital arrendou  a quinta à família Melo e Castro em 1601, que acabaria por a comprar em 1718. Caetano Melo e Castro (arrendatário), vivia em Goa, tinha sido vice-rei da Índia, e ali morreu. Monserrate foi arrendado formalmente a Gerard de Visme em 1790  que iniciou a construção da casa. Todavia, dois anos depois foi para Inglaterra e subarrendou-a William Beckford até 1808. O castelo neogótico que Gerard de Visme mandou construir em Monserrate  seguiu parcialmente o modelo da sua primeira casa em Benfica que foi da autoria do arquitecto Oliveira Bernardes. A inspiração do edifício é de construção inglesa neogótica, inspirado numa propriedade em Strawberry Hill, Twickenham, a sudeste de Londres pertencente a Horace Walpole. Os jardins tal como a casa eram de matriz inglesa, diferentes dos jardins barrocos então em moda em Portugal. O jardim foi valorizado com adições artísticas e plantações ornamentais. 
William Beckeford notabilizou-se como escritor, tendo escrito livros de viagem a Itália, Espanha e Portugal. Numa das estadias em Portugal arrendou Monserrate (1794) onde parece ter escrito as suas obras de vulto, como Vatheck. William fez obras na casa sendo, no entanto, difícil de saber quais as obras realizadas por qualquer dos ocupantes. Sabe-se que o escritor criou a Cascata no jardim e trouxe um jardineiro de Inglaterra. Com as invasões francesas Beckford deixou Monserrate, e esta "terá inclusivamente sido ocupada durante algum tempo pelas tropas francesas".
O jardim emana a luz forte do Verão
A casa ficou abandonada e parte em ruína quando foi arrendada pelo casal Francis e Emily Cook nos anos cinquenta de oitocentos e adquirida à família Melo em 1856. A construção do que hoje se encontra foi feito pela família Cook e pelo arquitecto James Knowles (pai) e possível parceria com o filho também arquitecto. A sua passagem por Itália e o gosto por John Ruskin (poeta, desenhador e crítico de arte) que foi o mestre de várias gerações de artistas vitorianos, caracterizam a presente construção. De Itália note-se especialmente as janelas (sobrepozição das molduras dos dois pisos das Loggie do Palácio ducal de Veneza). O orientalismo "é sugerido pelos telhados com pequena inclinação, alguns dos quais circulares, pelos elementos decorativos dos pináculos, que lembram stupas, monumentos budistas existentes nos Himalaias (que supostamente acumulam energias positivas),  pelo rendilhado dos arcos do pórtico sobre o relvado e por azulejos de várias proveniências entre as quais iznik (Turquia)". Os elementos decorativos dos átrios e corredores são elementos mais orientais do que góticos. "Os estuques são a marca mais portuguesa da casa pois foram executados por artesãos de Afife, sendo um dos padrões escolhidos semelhante a um dos existentes no Alhambra de Granada".

 Sala de Música                                          Pormenor do tecto em madeira
A beleza do estuque e da madeira esculpida
Átrio Central ao lado direito tecto do átrio


Poema de Lord Byron após a visita a Monserrate

Sala de jantar                                            Paul Cargill, médico e poeta, amigo dos Cook escreveu:

Sala Indiana


 Pormenor do tecto e das obras                                  Biblioteca distribuída por áreas temáticas: História, Botânica e livros de viagens. Retrato dos Cook


 Pormenor da escada para o segundo piso.
Em cima, acesso à cozinha e pormenor da mesma.
Pórtico da entrada e nenúfar do repuxo que antecede a entrada da casa.

As fotografias focam a casa no tempo da família Cook que a manteve até 1949, ano em que o Estado a comprou. A família enriqueceu com o negócio de tecidos. O belíssimo palácio era apenas para ser visitado duas vezes por ano.
Os motivos florais e orientais davam a beleza que os olhos procuravam e faziam a ligação dos espaços exteriores com o interior.

Podemos viver sem a arquitetura de uma época, mas não podemos recordá-la sem a sua presença. Podemos saber mais da Grécia e de sua cultura pelos seus destroços do que pela poesia e pela história. Deve-se fazer história com a arquitetura de uma época e depois conservá-la. As construções civis e domésticas são as mais importantes no significado histórico. A casa do homem do povo deve ser preservada pois relata a evolução nacional, devendo ter o mesmo respeito que o das grandes construções consideradas por muitos importantes. Mais vale um material grosseiro, mas que narre uma história, do que uma obra rica e sem significado. A maior glória de um edifício não depende da sua pedra ou de seu ouro, mas sim, do fato de estar relacionada com a sensação profunda de expressão. Uma expressão não se reproduz, pois as idéias são inúmeras e diferentes os homens; segundo os objetos de diferentes estudos, chegar-se-ia a inúmeras conclusões. A restauração é a destruição do edifício, é como tentar ressuscitar os mortos. É melhor manter uma ruína do que restaurá-la.
John Ruskin in, Georges Chevrolet, As pequenas virtudes do lar (em pt). São Paulo: Quadrante, 1990. p. 50. [Wikipedia].

Jardim da[s] delícia[s]

O jardim resplandece ao amanhecer...
Raios de luz penetram nas árvores centenárias,
cria-se a atmosfera idílica.
Como amar assim a Natureza?

Só o eleito que não crê em guerras,
procura a relevância do ser,
e cultiva os prazeres da alma na esfera mágica:
do encontro entre o Ocidente e o Oriente, sem fraqueza.

Registo lavrado em forma de flor mostra ao anoitecer
que o jardim entra em casa pela mão de afifenses,
O suor do ganha-pão criativo:
trouxe as flores e as fadas que se escondem na Natureza.

27/08/2014

The Water...

À espera do amor que partiu ou a nostalgia de partir e alcançar terras sem fim.


Um mastro, apenas ele a sugerir um grande navio.

Com o agradecimento a Xilre que mo deixou:

"We are beginning to learn that our brains are hardwired to react positively to water and that being near it can calm and connect us, increase innovation and insight, and even heal what’s broken."
Céline Cousteau


A água bela e límpida da baía de Cascais. 

E...à partida à procura de um "Cielo" 


25/08/2014

"O Mar Junto A Meus Pés..."

"O mar junto a meus pés" sem o conseguir agarrar...
Fecho os olhos. Cheiro a maresia... 
A faina dos pescadores é corrompida no ar
pelo ruído dos altifalantes de um palco contra-natura.

Na areia, a escultura da miudagem ganha vigor,
guarda os risos trocados na azáfama da construção 
entre a moldagem e os baldes de água entornados.
O abismo entre a realidade e a fantasia é revelador.

O préstimo está na vontade da peça ser eternizada esta estação.
Não há vento, nem ondas que levem a ideia
escrita  na areia da praia.

O dragão sem descanso lança chamas.
No entanto, as sereias não o miram, desprezam-no,
sem lhe cantarem no silêncio da noite de Verão!

[Seguindo o mote de Guerra Junqueiro]









Dom Carlos (escultura de Luís Valadares)

23/08/2014

In Memoriam - A. H. Oliveira Marques

Casa da Escrita

O historiador abriu muitas portas aos jovens que o liam e que com ele aprendiam.

(...) Sendo o país mais ocidental do continente europeu, Portugal foi, durante séculos, o fim do mundo. Finisterre, o nome de um cabo da Galiza, melhor se poderia aplicar ao cabo da Roca, a ponta da Europa. Para ocidente nada existia, nem mesmo ilhas. De facto, a costa portuguesa, com os seus 848 km, quase não tem ilhas, se esquecermos os pequenos rochedos das Berlengas, ao largo de Peniche. É, além disso, uma costa de poucas aberturas, apesar das longas tiras de praia. O número de bons portos abrigados reduz-se a três ou quatro. E, embora o mar afecte quase todo o Portugal, quer em condições climáticas quer em vegetação, não há praticamente golfos e a quantidade de vida económica dependendo do mar mostra-se secundária.

A. H. de Oliveira Marques, Breve História de Portugal. Lisboa: Editorial Presença, 2012 (8ª edição), p. 12.


18/08/2014

Parabéns

Parabéns Isabel, um dia muito feliz!

No recato da leitura
somos por vezes enfeitiçadas
com o poder das palavras.
Nem o mar nos exime.

Hoje as palavras são: Muitos anos de vida e felicidade.:))

16/08/2014

The Door


“If the doors of perception were cleansed every thing would appear to man as it is, Infinite. For man has closed himself up, till he sees all things thro' narrow chinks of his cavern.”

William Blake, The Marriage of Heaven and Hell (1793)

Esta porta tem uma beleza maior. Qual será?

 

Ópera: Júlio César 
Natalie Dessay - Cleopatra
Lawrence Zazzo  - Giulio Cesare 
Dominique Visse -Nireno 
Emmanuelle Haïm l'Orchestre du Concert d'Astrée 
Opéra Garnier, Paris, february 2011. (youtube)

14/08/2014

Miscelânea...

de afectos.
Saúdo a beleza que na ausência continua a brilhar.
Cats + Lauren Bacall
Fotografia daqui: http://catmoji.com/pic/vygq/cats-lauren-bacall/       http://www.consueloblog.com/wp-content/uploads/2014/08/robin_williams.jpg

Duas viagens por motivos diferentes mas com o mesmo desfecho: o silêncio.

Carpe diem
a citação mais emblemática do filme: "O Clube dos Poetas Mortos". Uma citação que por vezes dói.



HOW LITTLE WE KNOW

Maybe it happens this way
Maybe we really belong together
But after all, how little we know

Maybe it's just for a day
Love is as changeable as the weather
And after all, how little we know

Who knows why an April breeze never remains
Why stars in the trees hide when it rains
Love comes along, casting a spell      

Will it sing you a song
Will it say a farewell
Who can tell

Maybe you're meant to be mine
Maybe I'm only supposed to stay in your arms a while
As others have done

Is this what I've waited for, am I the one
Oh, I hope in my heart that it's so
In spite of how little we know

Is this what I've waited for, am I the one
Oh, I hope in my heart that it's so
In spite of how little we know

Canção do filme: "To Have And Have Not" (1944) (Johnny Mercer / Howard Hoagland,"Hoagy", Carmichael)

11/08/2014

As armas...

Se amassem as pombas...


«As armas são instrumentos de má sorte; empregá-las por muito tempo produzirá calamidades.»

Sun Tzun A Arte da Guerra. Peru: Los Libros Mas Pequeños del Mundo, 2008, p. 46


Um mini-livro da minha colecção, mede 6,5 X 4,5 cm.


Fotografia da Wikipedia, O início de A Arte da Guerra
em um livro de bambu da época do reino do Imperador Qianlongséculo XVIII.

Para a Isabel

09/08/2014

Rosas



A filha do destino, de Benazir Bhutto, é um registo na primeira pessoa, a narração de uma vida inteira de luta pela democracia e liberdade no Paquistão.   


Quando a minha mãe e eu iniciamos o nosso segundo mês de detenção em Al -Murtaza os jardins estão a morrer. Antes da prisão e morte do meu pai [Zulfikar Ali Bhutto], precisávamos de dez empregados para manter os grandes jardins e cuidar dos exteriores. Porém, desde que Al-Murtaza foi convertida numa subprisão para a minha mãe e para mim, o regime de Zia só permite a entrada de três jardineiros. Eu junto-me à luta para manter os jardins vivos.
Não  sou capaz de observar as flores a murchar, especialmente as rosas do meu pai. Sempre que ele viajava para o estrangeiro, trazia variedades novas e exóticas para plantar no nosso jardim - rosas violeta, rosas cor de tangerina, rosas que nem sequer se assemelhavam a rosas mas eram tão perfeitamente esculpidas que pareciam ter sido criadas a partir de barro. Agora as roseiras começam a murchar e a ficar castanhas por falta de cuidados.
Durante o calor forte do Verão, eu estou diariamente no jardim às sete da manhã, a ajudar os jardineiros a levar as pesadas mangueiras de lona de canteiro em canteiro. (...) 
As horas mais felizes da minha vida foram passadas no meio das rosas e à sombra fresca das árvores de fruto em Al-Murtaza.

Benazir Bhutto, A filha do destino. Lisboa: Dom Quixote, 2009, p. 75.

Rosas e um relógio, ode ao tempo, em dia de aniversário do (In)Cultura

Willem Van Aeslt, Detalhe Floral Still Life with Pocket Watch, 1668,
Rijksmuseum, Amesterdão






06/08/2014

"Houve um tempo em que minha janela se abria"

Janelas em parede azul



Houve um tempo em que minha janela se abria
sobre uma cidade que parecia ser feita de giz.
Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco.
Era uma época de estiagem, de terra esfarelada,
e o jardim parecia morto.

Cecília Meireles5 versos do poema, A Arte de Ser Feliz

04/08/2014

Janela com cortinas brancas

«Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor.
Outras vezes encontro nuvens espessas. »

Cecília Meirelles 
versos do poema A Arte de Ser Feliz.

Janela com cortinas brancas


02/08/2014

Talha - em memória d'outros tempos

Talha - em memória d' outros tempos
(detalhe de uma talha que se usava para guardar azeite)


A memória é a consciência inserida no tempo.

Fernando Pessoa - in Baralho de Cartas Fernando Pessoa,
Ponto M,  2012

Obrigada Isabel.

[Pardon Papa]

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