29/04/2013

Clarice

Escolhi a tela de Lorenzo di Credi para a associar a Clarice Lispector.
A exposição na Fundação Calouste Gulbenkian leva-nos a ver Clarice através de um espelho de palavras. Ela surge nas fotografias que tirei e há uma palavra que resume o que encontrei - melancolia.

Lorenzo di Credi (Lorenzo d'Andrea d'Oderigo) Retrato de uma Jovem (viúva do irmão do pintor), 
c. 1490–1500

Museu Metropolitano de Arte, Nova Iorque

EXPOSIÇÃO CLARICE LISPECTOR - A HORA DA ESTRELA
Ressalto a afirmação da escritora: E um dos indiretos modos de entender é achar bonito
in a Maçã no Escuro

27/04/2013

A abstração da música ou a Casa da Música

A Casa da Música no Porto rasga a paisagem, torna-se um grito que emerge do solo ao relacionar-se com o casario que o envolve. Bela na sua magnificência, extravagante nos seus gastos, ali se ergue imponente. Não ensurdece, na sua árida pedra ouve-se a límpida melodia.

Casa da Música, Porto

Relacionando esta Casa com uma poetisa "portuense"** , dela registo as palavras que li recentemente:
«A água desempenharia um papel musical, como o acompanhamento duma sinfonia de verdura.»

Porto, 14 de Julho de 2004,
Agustina Bessa-Luís*,  no livro: revelação da água, texto de Agustina Bessa-Luís, fotografia de João Menéres. Porto: Edição, João Menéres, 2005.

Este edifício não tem um ponto que dê um enfoque à água mas a música assemelha-se a essa preciosidade que «sempre foi relacionada com a fonte da vida»*.


[Um livro belíssimo em imagem e em palavras, voltarei a ele, se os autores não se importarem].



**Agustina Bessa-Luís nasceu em Vila Meã-Amarante.

25/04/2013

Máscara

Trinta e nove anos depois do 25 de Abril, com os cravos sedentos, celebro este dia com um poema de Jane Gatti: Máscara.

Lorenzo Lippi, detalhe de Mulher com Máscara 

Máscara

Chega um dia em que podemos enfim tirar a máscara, 
deixar cair a fantasia 
e ser quem sempre fomos 
sem que ninguém houvesse percebido. 
Chega um dia em que podemos dizer “Basta!” 
e virar as costas, 
e bater a porta. 
Chega um dia em que tudo acaba. 
Ou será que tudo se inicia?

Lorenzo Lippi, Mulher com Máscara ou a Alegoria da Simulação
(c. 1640)

"Ombra fedele anch'io", música composta por Riccardo Broschi para seu irmão Farinelli.

23/04/2013

Na Biblioteca Nacional - (III) Verdi & Wagner

Intróito em detrimento do Dia do Livro



A Biblioteca Nacional é guardiã de livros portugueses e estrangeiros e de documentos de várias tipologias. 
Ao visitá-la, para nos recolhermos na leitura ou no estudo, encontramos exposições que, para além do livro, nos relatam contextos tornando o espécime visível.

Verdi e Wagner: 200 anos.
Uma mostra interessante.
«No ano em que se celebra o bicentenário do nascimento de dois dos maiores nomes da história da música dramática, Giuseppe Verdi (1813-1901) e Richard Wagner (1813-1883), a Biblioteca Nacional de Portugal associa-se ao Centro Histórico do Teatro Nacional de São Carlos para assinalar a dupla efeméride. Nesta mostra evocativa dos dois compositores, são apresentados documentos manuscritos e impressos e materiais utilizados nas produções de algumas das suas óperas, pertencentes às coleções da BNP e ao Arquivo do TNSC.» 
BNP
Projetos do Cenário

Verdi, Aida


Wagner

Parsifal, projeto de cenário de Peter Busseger, 1973

Parsifal, Prelude, I Acto

Verdi, La Traviata

La Traviata, Ouverture

Cartão perfurado da ópera Aida para ser ouvida mecanicamente

Perspetiva geral de uma parte da exposição

Traje de Cena, La Traviata (Verdi), 2002

Trajes de Cena Tannhäuser (Wagner), figurinista Toni Businger,1993

Maqueta usada no TNSC para a Trilogia o Anel do Nibelungo

À entrada da exposição somos recebidos com cenografia da Aida

21/04/2013

Na Biblioteca Nacional - II

Literatura de Cordel no Brasil. Outra exposição na Biblioteca Nacional de Portugal que merece uma visita.
Reparem nos títulos, são deliciosos. 
Desconheço este tipo de literatura e tenho pena de não poder pegar num livrinho, folhear e ler.



«Os folhetos que em Portugal, na Espanha e na América latina são ditos de cordel, porque outrora eram suspensos - para exposição e venda - de cordéis, apareceram em Portugal, como noutros países da Europa, poucas décadas depois da descoberta da imprensa, e foram até meados do século XX um poderoso meio de comunicação popular. Levados por emigrantes para o Brasil, aqui começaram alguns a ser reeditados pouco depois de D. João VI ter criado a primeira tipografia, em 1808; imitados ou recriados, permitiram que antes do final do século Leandro Gomes de Barros, Silvino Pirauá de Lima e outros poetas populares, sobretudo da Paraíba e de Pernambuco, fixassem os modelos do folheto de cordel brasileiro, que como regra ainda se mantêm, apesar das transformações sociais e tipográficas: papel mais ou menos ordinário, formato raramente afastado dos 15x12 ou 16x11 centímetros, simplicidade gráfica, capa ilustrada, com privilégio da xilogravura, impressão rudimentar, enunciação oralizante e narrativa, linguagem concreta, popular e coloquial, fixação quase exclusiva na expressão poética, com preferência pelo verso setissílabo e pela sextilha, gosto do cómico e da crítica social, abertura temática mas com atracção por certos “ciclos”…»
Arnaldo Saraiva


Cordel: Feira de São Cristóvão

São Cristóvão é nos domingos
O ponto mais brasileiro
Encontro dos nordestinos
Que estão no Rio de Janeiro
Lá passam horas saudosas
Comendo coisas gostosas
E ouvindo um bom violeiro.

O nordestino que fez
O grande Rio crescer
Construindo arranha-céus
Se arriscando a morrer
Comandado pelos gringos
Tem direito aos domingos
Ter seu lugar de lazer.

O Campo de São Cristóvão
É palco de tradição
Dos primeiros nordestinos
Que deixaram seu torrão
Sua família querida
Vieram tentar a vida
Viajando em caminhão.


João José dos Santos
Cadernos do CNLF, Vol. XVI, Nº 04, t. 2, pág. 1717.

18/04/2013

Seis azulejos para o Dia Internacional dos Monumentos e Sítios

No Dia Internacional dos Monumentos e Sítios a minha escolha recai num
detalhe de um Painel de Azulejos, Lição de Música, atribuído ao monogramista PMP, 1700-1730
Museu Nacional do Azulejo, Lisboa


Fuga
O músico procura 
Fixar em cada verso 
O cântico disperso 
Na luz, na água e no vento. 

Porém, luz, vento e água 
Variam riso e mágoa, 
De momento a momento. 

E em vão a área dos dedos 
Se eleva! Não traduz 
Os súbitos segredos 
Escondidos no vento, 
Nas águas e na luz... 

Pedro Homem de Mello, in "Segredo" (Retirado do citador)

17/04/2013

Na Biblioteca Nacional - I

Mostra: Raúl Rêgo, Bibliófilo, Centenário do Nascimento 
15 de Abril a 25 de Maio 2013

Raúl Rêgo, republicano e democrata, combatente antifascista, frontal em todas as posições assumidas sem rodeios, ao longo de uma vida feita de batalhas e de coragem, foi jornalista e indiscutivelmente um dos símbolos da liberdade de imprensa...

Texto retirado da homenagem efetuada pela CML no Dia Mundial da Imprensa, 3 de Maio de 2005 


«Raúl Rêgo colecionava livros, era um dos grandes bibliófilos portugueses. Mas colecionar livros é diferente de ser bibliófilo; e ser bibliófilo também é diferente de ser um estudioso e um expert no assunto: é que um livro cerrado não traz cultura! Mas o bibliófilo não gosta apenas do livro pelo conhecimento (ou divertimento) que o mesmo lhe pode proporcionar... gosta do livro pelo cheiro, pelo formato, pela época em que foi feito, pelo autor que o escreveu, pela tipografia que o imprimiu e, também, pelo seu conteúdo. Enfim, gosta do livro pelo livro. E Raúl Rêgo era esse expert, esse bibliófilo, que se passeava de livraria em livraria na busca de saciar o seu prazer infinito. Depois de ter caçada a presa, anotava-a, estudava-a e, na maioria das vezes, escrevia sobre ela. A Biblioteca Nacional de Portugal organiza, neste momento em que passa o centenário do seu nascimento, uma mostra evocativa desse bibliófilo. Mostra que faz uma viagem entre alguns dos seus livros, objetos de estudo e de coleção – o que nos legou desses anos de investimento. A escolha incidiu entre os livros do século XVI, escolhendo daqueles apenas os que não existem nas coleções da própria BNP.»



Um dia profícuo e um fim de manhã bem passado antes da ida para a Torre do Tombo.

Encontrei Verdi na Biblioteca Nacional, onde voltarei para mostrar outras exposições, entre elas, 
Verdi & Wagner, 200 anos

14/04/2013

Diálogos da escrita

Há livros que nos tocam profundamente. "Quando eu era uma obra de Arte" é sem dúvida um livro singular e marcante. 

Miguel Ângelo, David, Galleria dell' Accademia, Florença (daqui)


Diálogos da escrita

A arte é feita para o homem, pelo homem, mas a arte não é certamente um homem.

Eric-Emmanuel Schmitt, Quando eu era uma obra de arte. Porto: Ambar, 2003, p.176.

(...) Há em olhos humanos, ainda que litográficos, uma coisa terrível: o aviso inevitável da consciência, o grito clandestino de haver alma.

Bernardo Soares, O Livro do Desassossego, Vol.I. (Recolha e transcrição dos textos de Maria Aliete Galhoz e Teresa Sobral Cunha. Prefácio e Organização de Jacinto do Prado Coelho.) Lisboa: Ática, 1982, p. 138.


Não há nada que a Arte não possa exprimir, e reconheço que todo o trabalho que realizei desde que conheci Dorian Gray é um trabalho de qualidade, é a melhor obra da minha vida.

Oscar Wilde, O Retrato de Dorian Gray, Lisboa: Edital Estampa, 1995, p.10.

[Após a leitura do livro mencionado perceberão o conjunto de ideias].

Porque há acasos ou coincidências hoje revi o filme:
O Homem da Máscara de Ferro

12/04/2013

Sob o céu de chumbo: duas esferas

Coimbra, Cimo das Escadas Monumentais


Houve um tempo em que vivíamos a uma grande e respeitável distância do céu. O céu era uma grande taça azul invertida, uma ampla tenda, ou, de acordo com a Bíblia, um grande prato metálico arqueado sobre a terra (EoR, 13:346).  Era o lar de Deus ou era a grande deusa Nut curvando-se, protegendo o mundo. O céu era tão vasto, tão alto, tão distante, que apenas as aves e as montanhas o podiam alcançar.

Imagem e texto retirado de O Livro dos Símbolos, Reflexões Sobre Imagens Arquetípicas, Taschen, Katthleen Martin, p. 56.

10/04/2013

Legendary sea

Itō Shinsui - The Fragrance of a Bath [1930]
Fotografia de  Gandalf's Gallery

Itō Shinsui - The Fragrance of a Bath [1930] by Gandalf's GalleryThe hair ornament of the sun
has sunk
into the legendary sea.

Mitsuhashi Takajo (1879-1972),   Women Poets of Japan. New Directions Publishing,  1977, (editado por Kenneth Rexroth), p.80.

08/04/2013

Cardo- folhas espinhosas

Barbara Regina Dietzsch (1706-1783), Cardo com Insectos.
Guache sobre velino, Alemanha


Cardo 
Os contornos das suas folhas espinhosas espetam e rasgam como pequenos picos, desencorajando o toque. No entanto, a vistosa flor que coroa a haste tem uma doce fragrância, atraindo borboletas, insectos, abelhas e pássaros. (...) Na mitologia, o cardo não cresceu  no Jardim do Éden; pelo contrário, os cardos e os espinhos apareceram como castigos depois do Pecado, em oposição à bênção dos figos e das uvas do Paraíso. (...) na crença popular ele é visto como uma oferta do Diabo. No entanto, o cardo também transmite as ideias de amor que sobrevive ao sofrimento e do trabalho que sobrevive às privações. O cardo é associado ao amor mundano de Afrodite bem como à amorosa compaixão da Virgem Maria. (...)
A Escócia, que tem o cardo como símbolo nacional, celebrava o carácter deste numa lenda do século X. Os invasores viquingues, esperando atacar  furtivamente o castelo de Staines, tiraram as botas. Mas os escoceses tinham enchido de cardos a fossa seca do castelo e os gritos do inimigo traíram a sua presença. Organicamente, as raízes do cardo dão origem a uma flor doce e a haste rude, pelo que se diz que essas raízes propagam a melancolia.

Marina Heilmeyer, The Language of Flowers: Symbols and Miths, Munique e Londres, 2001, p. 26.

Imagem e texto  retirado de O Livro dos Símbolos, Reflexões Sobre Imagens Arquetípicas, Taschen, Katthleen Martin, pp.166-167.

LÁGRIMAS DA PÁTRIA / ANNO 1636

Está tudo devastado e mais que devastado!
as hordas agressivas, a trombeta que arrasa,
A espada a beber sangue, a metralha que abrasa,
Consomem todo o esforço, trabalho e pão guardado.

As torres num braseiro, a igreja está no chão,
A Câmara em ruínas, os fortes já os não vemos,
Donzelas violentas - para onde quer que olhemos
Há fogo, peste e morte varrendo o coração.

Muralhas e cidade sempre em sangue ensopadas.
Três vezes já seis anos as ribeiras pejadas
De cadáveres que impedem a água correr.

Para não falar daquilo que é pior do que a morte,
Mais terrível que peste e fome e fogo forte:
Que os tesouros da alma se deitem a perder!

Andreas Gryphius, (1616-1664), in O Cardo e a Rosa, Poesia do Barroco Alemão
selecção, tradução e prefácio de João Barrento, Lisboa: Assírio & Alvim, 2002, p. 19

Auto-retrato de Albrecht.Dürer. Ele segura na mão planta do género Eryngium (cardo) - 1493

Ficheiro:Albrecht-self.jpg
Museu do Louvre Paris (wikipedia)


06/04/2013

igualdade...

Uma vitória numa questão política elementar: a igualdade de direitos. 

(...) "todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei"
Artigo 13 da Constituição da República  (número 1).



O resultado da inconstitucionalidade do Orçamento de Estado pelo Tribunal Constitucional revela que ainda estamos num estado de direito cuja justiça social é equacionada.
Com o Tribunal Constitucional partilho o ramo de rosas que recebi de uma grande amiga, a quem aproveito para agradecer publicamente.

Moustaki recordado há uns dias no blogue Falcão de Jade fez-me lembrar a canção: Ma Liberté. 
[Uma liberdade que me tocou].

04/04/2013

Cartas Selectas

Um presente especialíssimo que me fez humedecer a vista.
Uma pérola 
arranjada pela Cláudia da Livraria Lumière.

Cartas Selectas do padre António Vieira (1608-1697).
Como amante deste jesuíta, que escreveu dos mais belos sermões do Barroco Português, estas cartas são rosas e pérolas - o tesouro dos tesouros.

A foto não está bem mas tirei-a depois de vir de uma palestra sobre O Espaço 
no Centro de Ciência Viva Rómulo de Carvalho e não podia esperar para agradecer 

A quem mo ofereceu muito obrigada.


03/04/2013

Chinoiseries

 [Reflexão: a zombaria é baixeza. 
Devemos fazer bem a quem  nos faz bem]
A Myra é um bem que agradeço.

Beleza,
Movimento,
Dança e abraço
com traço de pincel.
Myra Landau, Chinoiseries



capturar as palavras
maravilhoso troféu
encher com elas 
minhas paredes
inventar com a sua parceria
mais e mais metáforas
fora deste mundo
mudo
sobretudo
surdo

Myra (daqui)

Obrigada, Myra.
Camélias para Myra, uma mulher que admiro.



01/04/2013

Horas e imagens

As horas são primordiais, 
cadenciam o dia, 
orientam o homem, 
marcam a História,
criam o tempo.
[Os sublinhados do texto são  meus].

As Horas* (título meu)
Palácio Atlântico (cerâmica de Jorge Barradas) 
fotografia [do livro] de João Menéres, 


Horas de todos os tempos*
fotografia [do livro] de João Menéres 



[Um belo]  encontro com o Porto, livro de João Menéres 
(27-03-2013)
Obrigada João.

(...)
Na Arte há um encanto que não se sabe.
Procura-se a razão e não sabemos continuar.
A fotografia é uma das Artes mais novas. Arte do Homem moderno.
Um desejado princípio técnico e científico: o registo da impressão
luminosa. Não demorou que o Homem entendesse aí outro processo 
de Arte. O Homem é assim.

A certeza da Arte do João Menéres vem de uma experiência
contínua, de exaltação e enlevo de imaginação.
João Menéres sabe transmitir o fascínio da fotografia.
O seu mundo, perspectivas de sonho, irrepreensíveis e inesperadas.
 A sua obra, como uma continuaão de si próprio.
Fernando Lanhas

* In, João Menéres, encontro com o Porto, 2001, 1ª edição, s/nº p.

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