30/12/2017

(H)oje "EROS E PSIQUE"

Para todos,
HOJE,
o desejo
de um FELIZ ANO NOVO!
(Um especial bem-haja pela Vossa Visita, em breve, regressarei)


EROS E PSIQUE

... E assim vedes, meu Irmão, que as verdades que vos foram dadas no Grau de Neófito, e aquelas que vos foram dadas no Grau de Adepto Menor, são, ainda que opostas, a mesma verdade.

Do ritual do grau de Mestre do Átrio na Ordem Templária de Portugal


Conta a lenda que dormia 
Uma Princesa encantada 
A quem só despertaria 
Um Infante, que viria 
De além do muro da estrada. 
Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.

A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera.
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.

Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado.
Ele dela é ignorado.
Ela para ele é ninguém.

Mas cada um cumpre o Destino —
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.

E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E, vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora.
E, inda tonto do que houvera,
A cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.

s. d.

 Fernando Pessoa. (Nota explicativa de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1942 (15ª ed. 1995), p. 237.

[1ª publ. in Presença , nº 41-42. Coimbra: Mai. 1934.]

30/11/2017

In Memoriam- "Para Sempre" Zé Pedro

"BLITZ - É considerado de forma quase unânime uma das pessoas mais amáveis da música em Portugal. Essa forma de estar é, também, gratidão pelo que foi recebendo?

JOSÉ PEDRO - Sempre fui educado nessa fórmula do dar e receber. Em cima do palco, então, essa maneira de estar é crucial. Recebemos muita energia e, quando não conseguimos dar, eu e os meus colegas ficamos um bocado pírulas. Aí aparecem os egocêntricos do «grande artista», ficamos com acumulação de energia que as pessoas te dão. Tocar para muita gente tem essa parte: é uma força muito forte, e a maneira mais fácil, mais natural e mais saudável de lidar com isso é dar e retribuir essa energia. Isso aplica-se no dia-a-dia. Se uma pessoa recebe, e eu realmente recebo muito carinho, muita admiração, muita proteção e muita força, especialmente em momentos mais difíceis, essas coisas têm de ser retribuídas."

Excerto de uma entrevista ao Blitz.



25/11/2017

Saltos da Joana

Joana Vasconcelos, Marilyn.

Esta obra foi vendida pela leiloeira Christie`s por cerca de 505.250 libras (573.964 euros). (Noticiado pela agência Lusa)




Começou imediatamente a louvar a sua devoção. Não entrara porque não quisera perturbar o 
seu recolhimento. Mas aprovava-a muito! A falta de religião era a causa de toda a imoralidade 
que grassava...
- E além disso é de boa educação. Vossa Excelência há de reparar que toda a nobreza 
cumpre...
Calou-se; aprumava a estatura, todo satisfeito de descer o Chiado com aquela linda senhora, 
tão olhada. Mesmo, ao passar por um grupo, curvou-se para ela misteriosamente; disse-lhe ao 
ouvido, sorrindo:

- Está um dia apreciável!

E ofereceu-lhe bolos à porta do Baltresqui. Luísa recusou.

- Sinto. Todavia acho muito sensata a regularidade nas comidas.

A sua voz vinha agora a Luísa com a impertinência de um zumbido; apesar de não fazer calor, 

abafava, picava-lhe o sangue no corpo; tinha vontade de deitar a correr, de repente; e todavia 
caminhava devagar, infeliz, como sonâmbula, cheia de necessidade de chorar. 
Sem razão, ao acaso, entrou no Valente. Era hora e meia! Depois de hesitar pediu gravatas de 
fular a um caixeiro louro e jovial.
- Brancas? De cor? De riscas? Com pintinhas?
- Sim, verei, sortidas.
Não lhe agradavam. Desdobrava-as, sacudia-as, punha-as de lado; e olhava em roda 
vagamente, pálida... O caixeiro perguntou-lhe se estava incomodada: ofereceu-lhe água, 
qualquer coisa... 
Não era nada; o ar é que lhe fazia 
bem; voltaria. Saiu. O Conselheiro, muito solícito, prontificou-se 
a acompanhá-la a uma boa farmácia tomar água de flor de laranja...Desciam então a Rua Nova do Carmo, e o Conselheiro ia afirmando que o caixeiro fora muito polido; não se admirava, porque no comércio havia filhos de boas famílias; citou exemplos.


Eça de Queirós, O Primo Basílio. Lisboa: Colecção Livros do Brasil,  p. 197. s.d.


23/11/2017

Simplesmente belo!

A Paixão de Van Gogh resume-se à beleza da tela animada e a uma história através de uma paleta virtual. 



1. “Vincent,” painted by Anna Kluza. Robert Gulaczyk as Vincent van Gogh, inspired by van Gogh's self portrait. Photo courtesy of Good Deed Entertainment and BreakThru Films.

2. “What Dr. Gachet? No, I Wouldn’t Have Said That,” painted by Christos Marmeris.The second of five Adeline Ravoux (Eleanor Tomlinson) close-ups at the window. Here she is commenting on the supposed friendship between Dr. Gachet and van Gogh. Photo courtesy of Good Deed Entertainment and BreakThru Films.

3. “Chaponval,” painted by Anna Wydrych Design painting combining van Gogh’s paintings “Houses at Auvers” and “Thatched Cottages at Cordeville.” Photo courtesy of Good Deed Entertainment and BreakThru Films.

4. “Dr. Gachet,” painted by Piotr Dominiak.

5. “How I Remember Him,” painted by Marlena Jopyk-Misiak.
In this “Noir Vincent” shot, Armand Roulin (Douglas Booth) enters “Bedroom in Arles” and is confronted by the spectacle of Vincent covered in blood on the "night of the ear."
Photo courtesy of Good Deed Entertainment and BreakThru Films.

6. “Marguerite Gachet,” painted by Bartosz Armusiewicz
Saoirse Ronan as Marguerite Gachet, the mecurial doctor's daughter. Inspired by van Gogh's “Marguerite Gachet at the Piano.” Photo courtesy of Good Deed Entertainment and BreakThru Films.

Imagens e legendas retiradas daqui.

Realizadores: Dorota Kobiela and Hugh Welchman. Photo by Laura Blum.




20/11/2017

Rudeza



Rudeza

Vivo rodeada de rudeza.
Pedaço de terra desértica
donde desperta uma flor,
grito do horror entre o belo e o cáustico.




18/11/2017

Rotina


Não há coisa tão preciosa, e tão útil, que continuada não enfade.
Padre António Vieira, Sermões (citador)

16/11/2017

Para o João Menéres

Agora é que é a valer:
Parabéns, mil graças e felicidades, 
no meio do mar, rodeado pelas pessoas que gosta.





11/11/2017

Sobre um plano a ilusão

Fotografia: Sobre um plano a ilusão
Gustavo Fernandes, Detalhe s/ título, colecção particular


Prefiro o sonho à ilusão; no sonho sabe-se que temos os olhos fechados; na ilusão julgamos tê-los abertos.

Condessa Marie de Beausacq (citador)

08/11/2017

Inacção

A inacção consola de tudo.

A inacção consola de tudo. Não agir dá-nos tudo. Imaginar é tudo, desde que não tenda para agir. Ninguém pode ser rei do mundo senão em sonho. E cada um de nós, se deveras se conhece, quer ser rei do mundo.

Não ser, pensando, é o trono. Não querer, desejando, é a coroa. Temos o que abdicamos, porque o conservamos, sonhando, intacto eternamente à luz do sol que não há, ou da lua que não pode haver.
s.d.

Bernardo Soares, Livro do Desassossego, Vol.I.  (Organização e fixação de inéditos de Teresa Sobral Cunha.) Coimbra: Presença, 1990, p. 221.


03/11/2017

Para a Margarida

Parabéns, Margarida!
Que tenha uma noite, no Louvre, com jantar, muito feliz.
A arte e a moda serão um casamento possível?

Aqui fica uma prendinha virtual  concebida por Jeff Koons para a Louis Vuitton

http://eu.louisvuitton.com/eng-e1/products/neonoe-nvprod650090v




30/10/2017

Esqueço-me...

O trabalho, as viagens e a rotina levam ao esquecimento de mim.
Daí estar em falta com todos, daí estar ausente...
Até o livro que estou a reler se ressente. Um livro que li há muito tempo, e que na nova leitura está a despertar momentos diferentes. Um livro que fala de amor, da vida e da morte.

Tokuriki Tomikichiro, Fuji e Sakura
https://www.etsy.com/listing/484502397/japanese-art-mountain-fuji-and-sakura

O título é a Montanha Mágica de Thomas Mann. Deixo um excerto para louvar a vida.

Oh, o amor  nada é, se não é loucura, uma coisa insensata, proibida, uma aventura no mal. De outro modo seria banalidade agradável, que só prestaria para sobre ela se fazerem cançõezinhas pacíficas nas planícies.

Thomas Mann, Montanha Mágica ( Tradução de Herbert Caro).Lisboa: Edição Livros do Brasil, s.d.,  p. 358.

21/10/2017

Natureza-morta

Natureza -morta

lusão ou realidade?
Será real ou uma pintura hiper-realista?


As ilusões sustentam a alma como as asas sustentam o pássaro.
Victor Hugo


16/10/2017

Para a Maria João

Um ano atípico, este que está a correr. O relógio anda muito depressa e eu perco-me e deixo as lembranças importantes esfumarem-se.

À Maria João, uma mulher muito especial, pela sua sensiblidade, pelo seu sentido estético, pela sua vasta cultura, mas acima de tudo pela sua humanidade, deixo um beijinho de parabéns e faço votos para que tenha tido um dia muito feliz! 

Botticelli, Coragem, Galleria del Uffizi, Florença

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Para o amigo

João Menéres com o desejo de um dia muito feliz!
Um brinde à amizade, vou adiar os festejos. Está bem? 
 :))


Porque é pequenino aqui vai esta mostra da
Filmoteca da Junta de Castilla y Léon, Salamanca




14/10/2017

12/10/2017

Velhice

João Augusto Ribeiro, O Pescador, c. 1917,
Museu Soares dos Reis, Porto


Dizem que as sociedades atuais não são para velhos...
Não queria crer, mas começo a acreditar que é verdade. 
É lamentável? 
É. 
O que fazer? 
Não sei.

Velhice

Virá o dia em que eu hei de ser um velho experiente
Olhando as coisas através de uma filosofia sensata
E lendo os clássicos com a afeição que a minha mocidade não permite.
Nesse dia Deus talvez tenha entrado definitivamente em meu espírito
Ou talvez tenha saído definitivamente dele.
Então todos os meus atos serão encaminhados no sentido do túmulo
E todas as ideias autobiográficas da mocidade terão desaparecido:
Ficará talvez somente a ideia do testamento bem escrito.
Serei um velho, não terei mocidade, nem sexo, nem vida
Só terei uma experiência extraordinária.
Fecharei minha alma a todos e a tudo
Passará por mim muito longe o ruído da vida e do mundo
Só o ruído do coração doente me avisará de uns restos de vida em mim.
Nem o cigarro da mocidade restará.
Será um cigarro forte que satisfará os pulmões viciados
E que dará a tudo um ar saturado de velhice.
Não escreverei mais a lápis
E só usarei pergaminhos compridos.
Terei um casaco de alpaca que me fechará os olhos.

Serei um corpo sem mocidade, inútil, vazio
Cheio de irritação para com a vida
Cheio de irritação para comigo mesmo.

O eterno velho que nada é, nada vale, nada vive
O velho cujo único valor é ser o cadáver de uma mocidade criadora.


Vinicius de Moraes, 1933


07/10/2017

Sem palavras

Sem palavras, só assim posso dedicar esta postagem à Cláudia, da Livraria Lumière, uma amiga especial de quem me esqueci. Aquela, precisamente, que não queria esquecer. Será possível?

Cláudia é com um beijinho que lhe ofereço estas obras de arte fabulosas que gostaria de poder oferecer na realidade, não hoje mas no dia 6 de Outubro. A si, como é obvio e para selar a nossa amizade, agora com a ferida de um esquecimento imperdoável, teria que lhe dar o coração da amizade.

"Codex Rotundus", c. 1480, escrito em latim e francês,
diâmetro 9 cm, Biblioteca de Hildesheim, Alemanha



Livro de Horas de Amiens, século XV

Livro de Horas com cenas da Natividade e da Ressurreição de Cristo, 
último quartel do século XVI, Copenhaga,  6,1x6,1x2,2 cm,
Pinterest
Prayer-Book with Scenes of the Nativity of Christ and the Resurrection  Last quarter of the 16th century Copenhagen  gold, cut diamonds, rubies, emeralds, paper and gouache Technique: chased, enamelled and painted Dimension: 6,1x6,1x2,2 cm

Livro de horas, Livro das horas ou ainda Livro missal é um livro de devoção criado por devotos no final da Idade Média. Em geral, continha o calendário das festas e dos Santos, as Horas da  Virgem, da Cruz, do Espírito Santo e dos mortos (Liturgia das Horas), as orações comuns e os salmos penitenciais. Estes livros eram ricamente ilustrado com iluminuras.


Montanha Má[G]ica

Regresso à Montanha Magica.

G de garfo


«dilema da alma humana»a (...) Uma alma sem corpo é tão desumana e atroz como um corpo sem alma. O primeiro é, aliás uma rara excepção, e o segundo é regra. Regra geral é o corpo que tem supremacia, açambarca toda a vida, toda a importância, e emancipa-se da maneira mais repugnante.

Thomas Mann, A Montanha Mágica, ( Tradução de Herbert Caro). Lisboa: Livros do Brasil, s.d. p.106.




30/09/2017

Janela de vão de escada

Janela de vão de escada


Não basta abrir a janela


Não basta abrir a janela
Para ver os campos e o rio.
Não é bastante não ser cego
Para ver as árvores e as flores.
É preciso também não ter filosofia nenhuma.
Com filosofia não há árvores: há ideias apenas.
Há só cada um de nós, como uma cave.
Há só uma janela fechada, e todo o mundo lá fora;
E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse,
Que nunca é o que se vê quando se abre a janela.

4-1923


Alberto Caeiro, “Poemas Inconjuntos”. Fernando Pessoa. (Nota explicativa e notas de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1946 (10ª ed. 1993), p.75.

1ª publ. in “Poemas Inconjuntos”. In Athena, nº 5. Lisboa: Fev. 1925.


27/09/2017

Red Tower

Para Majo,

O meu estado de espírito, 



daí não visitar os blogues amigos e andar distante.

Giorgio De Chirico, The Red Tower, 1913, Guggenheim, New York 
Giorgio de Chirico, The Red Tower, 1913. Oil on canvas, 28 15/16 x 39 5/8 inches (73.5 x 100.5 cm)

23/09/2017

A Chave


A chave, ela existe mas para quê?






A CHAVE

E de repente
o resumo de tudo é uma chave.
A chave de uma porta que não abre
para o interior desabitado
no solo que inexiste,
mas a chave existe.
Aperto-a duramente
para ela sentir que estou sentindo
sua força de chave.
O ferro emerge de fazenda submersa.
Que valem escrituras de transferência de domínio
se tenho nas mãos a chave-fazenda
com todos os seus bois e os seus cavalos
e suas éguas e aguadas e abantesmas?
Se tenho nas mãos barbudos proprietários oitocentistas
de que ninguém fala mais, e se falasse
era para dizer: os Antigos?
(Sorrio pensando: somos os Modernos
provisórios, a-históricos…)
Os Antigos passeiam nos meus dedos.
Eles são os meus dedos substitutos
Ou os verdadeiros?
Posso sentir o cheiro do suor dos guarda-mores,
o perfume- Paris das fazendeiras no domingo de missa.
Posso, não. Devo.
Sou devedor do meu passado,
cobrado pela chave.
Que sentido tem a água represada
no espaço onde as estacas do curral
concentram o aboio do crepúsculo?
Onde a casa vige?
Quem dissolve o existido, eternamente
existindo na chave?
O menor grão de café
derrama nesta chave o cafezal.
A porta principal, esta é que abre
sem fechadura e gesto.
Abre para o imenso.
Vai-me empurrando e revelando
o que não sei de mim e está nos Outros.
O serralheiro não sabia
o ato de criação como é potente
e na coisa criada se prolonga,
ressoante.
Escuto a voz da chave, canavial,
uva espremida, berne de bezerro,
esperança de chuva, flor de milho,
o grilo, o sapo, a madrugada, a carta,
a mudez desatada na linguagem
que só a terra fala ao fino ouvido.
E aperto, aperto-a, e de apertá-la,
ela se entranha em mim. Corre nas veias.
É dentro em nós que as coisas são,
ferro em brasa – o ferro de uma chave.



Carlos Drummond de Andrade, O Corpo. ( Itabira, 1902 – Rio de Janeiro, 1987)

   A ópera Diva Dance contou com música da ópera de Gaetano Donizetti Lucia di Lammermoor: "Il dolce suono (1ª parte) e a parte dois intitulou-se The Diva Dance.

16/09/2017

In Memoriam João MS!

LIBERDADE

(...)
Sou livre, sou livre...
Sinto-me limitado e impotente.
Não durmo nem sonho.
Queria ser livre para amar 
loucamente.
Aqui, sinto-me asfixiar,
estou incapaz, estou louco
Queria gritar até se ouvir
A minha voz nos céus: sou livre! Estou louco.

João Mattos e Silva, Sem Contorno. Lisboa: Edições Excelsior, 1968, p. 51.


Júlio Pomar para o levar na sua viagem, João.


Ao fim da tarde - a pergunta

Ao fim da tarde, já com a luz do candeeiro


A PERGUNTA

«Ora diz-me», assim falou um dia
A um poeta alguém duro, insensível,
«Se tivesses de optar entre ver morta —
Tua mulher, a quem tanto querias —
E a perda total, irreversível,
De teus versos todos, dela em troca —
Qual das perdas tu mais sentirias?»

O poeta olhou surpreso, em dor
E desgostoso, o interlocutor,
Cuja pergunta sem cabimento
Quebrou seu íntimo recolhimento,
Sem responder; sorriu o outro então
Como se fora seu mais velho irmão:
A percepção do sentido atento
Ao súbito, intenso conhecimento
Da nova consciência que o apanhara,
Foi mais amargo do que imaginara.
Mais, do que um sorriso, violento.


Alexander Search, Lisboa: Assírio & Alvim, edição e tradução de Luisa Freire, 1999


Agradeço ao João Menéres que me enviou por e-mail a Carmen (no gelo). Nunca tinha visto e adorei.

11/09/2017

Regresso à infância

Imagem relacionada
Ilustrações de José A. Cambraia, 2ª edição do livro em Portugal, 1971


As leituras de férias já voaram. Agora, talvez, porque regressar ao trabalho custa; pensamos sempre, não podemos ficar mais um bocadinho?...
Então decidi re-re-reler um livro de infância. Um livro da grande Senhora Enid Blyton, "Uma Casa da Árvore Oca". 
Escusado será dizer que o gosto com que o leio é o mesmo de outrora.
Não é um livro para a menina ou para o menino, é um livro para jovens, com a idade escolar da 4ª classe, no passado, do 2º ciclo, no presente. Ele desperta a curiosidade, a interpretação, a moral, a justiça, o afecto, a camaradagem e as vicissitudes do ambiente social que nem sempre é o mais favorável. 
Já aqui foi focado quando a Cláudia Ribeiro, da Lumière, mo arranjou.

Blyton era genial!

Todavia, também o trouxe a pensar num amigo que hoje faz anos, que leu alguns títulos que eu li porque todos os pais ou amigos ofereciam os livros da Colecção Azul, ou os livros da Enid Blyton...

Parabéns, João Mattos e Silva!
Tenha um dia feliz.

Fazer anos é também fazer uma viagem à infância.

Nunca tive uma casa na árvore, o mais semelhante, foi ter um navio realizado com cadeiras e um sofá, na casa da avó. Acreditem que as viagens eram fantásticas.




09/09/2017

Outra face do Brasil


Cada vez mais  eu escrevo 
com menos palavras. Meu livro
melhor acontecerá quando
eu de todo não escrever.

Clarice Lispector in

Exposição: Clarice Lispector, Na Hora da Estrela, Fundação Calouste Gulbenkian, 2009




05/09/2017

Classe Latina

Dr. Atl. (Gerardo Murillo), Dama com Vulcões, 1944

Resultado de imagem para dr atl

http://www.artnet.com/artists/dr-atl-gerardo-murillo/past-auction-results/5

"A Cruz Vermelha mexicana enviou uma equipa de voluntários para Dallas, no Texas, com o objetivo de ajudar os norte-americanos a fazer face à devastação provocada pelo furacão Harvey. Uma oferta prontamente aceite pelo governador do Texas, Greg Abbott..." 
Euronews

Não sou boa a fixar ditados populares, mas lá que o México deu uma "bofetada com luva de pelica" ao Senhor Trump, deu.

Não há dúvida que os latinos hão-de sobreviver a todas as intempéries.

Podemos (latinos) não ser ricos mas somos umas ricas pessoas.


Intermezzo composto pelo mexicano Manuel María Ponce Cuéllar 

03/09/2017

Centauro atormentado por uma Ménade

Centauro atormentado por uma Ménade, 1770-1778
pintura de óleo em seda, Real Academia de Bellas Artes de San Fernando, Madrid



A maldade feminina ou a ferida protectora?
O amor ou o ódio?
O que transmite esta pintura?


02/09/2017

Desastre nas coisas mais simples



Nunca são as coisas mais simples
que aparecem quando as esperamos.
...O que é mais simples,
como o amor, ou o mais evidente dos sorrisos,
não se encontra no curso previsível da vida.
Porém, se nos distraímos do calendário,
ou se o acaso dos passos
nos empurrou para fora do caminho habitual,
então as coisas são outras.
Nada do que se espera
transforma o que somos se não for isso:
um desvio no olhar;
ou a mão que se demora no teu ombro,
forçando uma aproximação
dos lábios.


Nuno Júdice, As Coisas Mais Simples, Lisboa: D. Quixote, 2006.


23/08/2017

Sabedoria em memória de A. H. Oliveira Marques

Em memória do professor Oliveira Marques que nasceu em 1933, a 23 de Agosto, reflecti sobre estes dois textos um de Platão e outro do historiador. 
Tudo se pode interligar quando queremos ver.


Sócrates sentou-se e respondeu:
-Seria bom, Agatão, que a sabedoria fosse uma coisa que se pudesse transmitir, de um homem que a possui, a um homem que não a possui, mediante um simples contacto mútuo, tal como a água que passa para um copo vazio através de um simples fio de lã.


Platão, O Banquete ou do Amor, Coimbra: Atlântida Editora, sd, p. 44.



A. H. Oliveira Marques, "História genealógica do homem comum: micro-história ou macro-história?", Revista da Faculdade de Letras História,Porto, Série, III, vol. 4, 2003, pp. 173-186.



22/08/2017

Ginjinha!

O pecado da gula - o que resta da ginjinha, mas acreditem despareceu tudo.


O local do crime


Uma das entradas no Castelo de Ourém


O meu portal


Grafismos no portal aberto para o infinito.


A hora da partida... (?)


                              

É mais fácil com uma mão
dez estrelas agarrar
fazer o sol esticar
reduzir o mundo a grude
mas ginja com tal virtude
é difícil encontrar.

[Versos a decorar as paredes da Ginjinha do Rossio]
Gabriela Carvalho, A Baixa de Lisboa, Lisboa: Inapa, 2005

Solista -Mari Silje Samuelsen

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