29/06/2014

Leituras em dia de S. Pedro

Alfred Lambart - Juliet, Daughter of Richard H. Fox of Surrey,1931,
Laing Art Gallery

O mundo é 
a minha vontade

Assim surge o conceito sentimento,
como uma grande incógnita
para a razão, que só através de equação remota
em cada caso particular
se torna reconhecível mais de perto.

Arthur Schopenhaeur

Cristoph, Poschenrieder, A Paixão de Schopenhaeur. S. Pedro: Saída de Emergência, 
(tradução de Manuela Ramos), 2011, s/nº página (3º capítulo)

De Simão para Pedro

E eu te declaro: tu és Kepha e sobre esta Kepha edificarei a minha Igreja e as portas do inferno não prevalecerão nunca contra ela.
Mt. 16:18

Detalhe de S. Pedro, Grão Vasco (Vasco Fernandes),
Fotografia do Museu Grão Vasco, Viseu
Detalhe pintado para a Sé de Viseu, hoje está no Museu Grão Vasco

Saudades de Roma!

Uma das mais belas passagens da vida de Cristo: a Paixão
Um registo do filme polémico de Mel Gibson (2004). 
Terá sido desta forma tão crua que os acontecimentos ocorreram?
Porquê esta peça hoje que se celebra [São] Pedro, o primeiro papa,?
Não tenho uma resposta cabal. 
Interpretação de Olga Szyrowa. Composição do tema para o filme de Michal Lorenc.

27/06/2014

"todos os espelhos"

Farol entre as brumas

- Porque é que, apesar de todos os espelhos, não sabemos realmente como somos? 

Cristoph, Poschenrieder, A Paixão de Schopenhaeur. S. Pedro: Saída de Emergência, (tradução de Manuela Ramos), 2011, p. 131.

Canção que se ouvia em casa dos meus pais... memórias.

25/06/2014

Em torno de (por) Camões

Details, “Portrait of an African Slave Woman,” 
atribuído a Annibale Carracci, c. 1580,

BARBARA, ESCRAVA

Ajoelhara a negra suspirando
Postas as mãos, os labios contrahidos,
Diziam as canções dos seus gemidos
Mais do que os prantos com que estava olhando.

Camões fitava o espaço, meditando,
Bem longe o coração, longe os sentidos;
E de seus olhos, para a dôr nascidos,
As perolas caiam, deslisando.

Um queixume da negra, compungente, 
Acordara o poeta, que sonhava
Com a patria querida e o amor ausente.

Ella co'os olhos n'elle comtemplava,
Elle co'os olhos n'ella era indifferente,
Que todo aquelle mal outra o causava.

Ernesto Pires, Camões e o Amor. Porto: João E. Cruz Coutinho, 1884, s/nº p.

O livro custava na época 300 Reis. Foi uma das minhas últimas aquisição, veio do Porto da Livraria Lumière.


23/06/2014

S. João Baptista

Na noite de São João
Mandei embora a tristeza
Houve sardinhas com pão
E muito vinho sobre a mesa

(quadra popular)

Andrea del Sarto, S. João Baptista, 1602
 Palazzo Pitti, Firenze (Wikipedia)


[Salomé] Pressionada pela mãe, disse: «Dá-me aqui, num prato, a cabeça de João Baptista»
Mt.14-8.

Bernardino Luini,  Salomé com a Cabeça de S. João Baptista, s/d., 
Museum of Fine Arts, Boston


Troquei a musica por esta ser mais alegre. 
A anterior escolha prendeu-se à tela de Bernardino Luini 
(24-06-2014, 9:22h )

João Menéres,
Não sei se gosta mais de S. João Baptista ou de S. João Evangelista. Contudo, hoje é dia de se festejar o primeiro.
Como João que é, e a todos que por aqui passem, desejo um dia Feliz.

22/06/2014

"Valsa" ou "Grito"?

Camille Claudel, Valse
1891-93 

Camille Claudel é para mim uma personagem intrigante. Vi recentemente o filme: Camille Claudel, 1915 de Bruno Dumont. A película revela a vida da escultora num manicómio. A interpretação de Juliette Binoche é sublime. Não sei se é a sua representação que me leva a questionar a loucura de Claudel, ou se é esse o intuito do realizador que a dirigiu. No entanto, entre a loucura e a lucidez há a tragédia de uma pessoa diferente, aparentemente normal, a viver entre dementes físicos e mentais.
O filme angustiou-me e não pude deixar de cruzar a sensação com as últimas leituras: A Paixão de Schopenhauer e o texto que me enviou Agostinho (do blogue O Mundo é Grande) sobre uma escultura.
De Claudel, escolhi a peça "Valsa" porque a vida é uma valsa constante, uns sabem dançar, outros não.
Do livro registo uma citação de Schopenhaeur que comunga de forma perfeita com Camille.

O mundo é a minha 
representação

Como mantimento para a viagem da vida
(e para o resto da viagem, quanto mais cedo melhor).
é também imperativo
uma boa reserva de resignação,
que temos de extrair primeiro das esperanças.

Arthur Schopenhaeur in,
Cristoph Poschenrieder, A Paixão de  Schopenhaeur. S.Pedro, 2011, s/nº p. (2º capítulo)

Não sei se foi o acaso ou o destino*, recebi do Agostinho a imagem "O Grito"do escultor Carlos Ferreira. Repare-se como a interligação do que foi exposto é precisa.

O Grito de Carlos Ferreira

A arte tridimensional. 
O homem quando nasce traz uma inquietude no ser! 

É questão que toda a gente coloca a si própria, em declinações variáveis, mas que não verbaliza, talvez por falta de coragem, tal como o fez Bernardo Soares (heterónimo de Fernando Pessoa) no Livro do Desassossego: “onde está Deus, mesmo que não exista?”. 

Aquele maior da cultura lusa, enquanto por cá andou, cumpriu o desígnio divino da criação soprado no íntimo do homem no início de tudo. Deus modelou e, da plasticidade efémera do barro, surgiram formas belas para que os corações, mais do que amorfismos maquinais, sentissem as emoções do éden na contemplação. 

Como Pessoa modelou o barro das palavras, com uma paixão ilimitada, todo o homem traz uma inquietude no ser quando nasce: modelar o seu “barro”. 
Mas, há no mundo quem afirme de forma crescente e definitiva a alquimia do “barro”: os escultores, demiurgos da arte tridimensional, que, em mágicas secretas, do instável barro materializam a beleza superlativa na arte pétrea e férrea. Para que perdure na eternidade, o escultor lança mão aos materiais que a natureza lhe dispensa; de forma real ou alegórica, na excitação do ritual que celebra, transfigura o primitivo no sublime, faz a catarse da humanidade. 

Se encontrarmos por aí Bernardo Soares, aliás, Pessoa, sempre lhe poderemos dizer que Deus, mesmo que não exista, está na figuração da beleza da arte escultórica. Ou também está.
A.J.

* Se existir (?)


Valsa Triste do húngaro Franz von Vecsey

20/06/2014

Aprazíveis Diálogos - IV

Localizada ainda no Centro do país, mais propriamente entre os rios Lis e Lena, houve um pássaro que me trouxe uma história da parte do Agostinho do blogue o Mundo é Grande.
A história foi recolhida em Guimarães e o Agostinho recriou-a notavelmente através da sua escrita. 
O retrato do que se vai ler bem podia passar-se no presente com a fome que, infelizmente, grassa no nosso país.
Muito obrigada.
Uma voltinha de avião

A ceia lá em casa era servida pela matriarca já a noite ia adiantada.
Essa hora tardia não tinha a ver com desleixo ou preguiça na preparação da refeição mas com a necessidade de acorrer a mil e um afazeres, que a ocupavam nas duas ou três horas depois do trabalho diário normal na fábrica, arrastando as lides culinárias para horas mais tardias.
Os salários do pai e da mãe juntos não eram nada que se visse e, para sustentar a vasta prole, era necessário usar engenho e arte para administrar e fazer durar o pouco dinheiro que entrava em casa. Por isso, era necessário complementar os proventos com mais trabalho esforçado no lameiro, para que houvesse batatas e couves na panela, apanhar ervas para os coelhos, engordar o porco, e um sem número de coisas pequenas mas indispensáveis à sobrevivência do clã. Depois da ceia, acomodados os meninos, ainda havia um ror de aconchegos domésticos a fazer mas, paciência, houvesse saúde e tudo se resolvia.
Enquanto a mãe ia preparando a refeição, os pequenos davam largas às traquinices próprias da idade, percorriam a casa num tropel constante. Na galhofa, por entre gritos e risos era uma festa. Também havia algumas zangas e choros pelo meio, ultrapassados rapidamente porque, na verdade, não havia tempo a perder. De nada adiantavam choraminguices ou queixas porque delas, muitas das vezes, não resultava nada mais senão um puxão de orelhas ou um tabefe subsequente ao julgamento sumário, inevitavelmente, quando havia recurso à instância mais elevada da hierarquia, a mãe ou o pai, nos conflitos mais bicudos de dirimir.
É claro que a ementa não era muito elaborada ou complicada, por via da falta de tempo e, sobretudo, pela escassez que havia na intendência, de modo que, umas papas de farinha de milho, cozidas com feijão vermelho, apareciam, em três tempos, a fumegar nos pratos na larga mesa da cozinha. À ordem “meninos para a mesa já”, as brincadeiras cessavam como se de uma ordem militar se tratasse, dada pelo comandante do batalhão no campo de batalha; os soldados, de pronto, respondiam precipitando-se para a mesa num ápice, cada um no seu devido lugar.
Apesar do exemplo do pai, que começava a comer de imediato, pois o apetite era mais que muito depois de tantas horas de trabalho, primeiro na fábrica e depois na courela que enchia o panelão familiar, havia sempre alguém, de entre os mais novos, que refilava e fungava recusando a paparoca, ou usando a manha de se fingir adormecido para conquistar a tolerância paterna. Não ganhava pela demora. Por mais refinada que fosse a estratégia, por mais elevada que fosse a representação empregue na rebelião, a decisão do pai não se fazia esperar.
- Comes ou vais dar uma volta de avião?
Perante a recusa de levar as papas à boca, o senhor Santos levantava-se do seu lugar, pegava no rebelde pelos braços, saía para o alpendre da casa, baixava-o até ao chão do pátio e, por mais que esperneasse, mergulhava o filhote no escuro da noite.
Perante isto, o petiz, cheio de miufa, tratava de subir logo pelo escadório, fugindo à escuridão da rua, sentava-se à mesa e começava de imediato a comer, sem mais delongas. A voltinha de avião abrira-lhe, como que por magia, o apetite.

Fim
2011
Agostinho

Dos Miseráveis a excelsa música dos oprimidos. 

18/06/2014

Nostalgia...

Papoilas


Puseste um vaso à janela.

Puseste um vaso à janela.
Foi sinal ou não foi nada,
Ou foi p’ra que pense em ti
Que te não importas nada?
s.d.
Fernando Pessoa, Quadras ao Gosto Popular.  (Texto estabelecido e prefaciado por Georg Rudolf Lind e Jacinto do Prado Coelho.) Lisboa: Ática, 1965. (6ª ed., 1973), 
 p. 87.
Em casa dos meus pais ouvia-se Chavela Vargas, até pela mão do pai ao piano. 

Os genes têm tanta importância, 
habitam em nós 
como os peixes no aquário.

16/06/2014

Na música... Será que há género?


Tiziano Vecellio, Sísifo, 1548-49, 
Museu do Prado (wikipedia)

... Na música, a mulher ainda por cima tem um papel secundário. Quero dizer, na realização musical criadora, na composição. A mulher tem um papel secundário. Ou será que conhecem alguma compositora célebre? Uma única? Estão a ver! Já alguma vez tinham pensado nisso? Mas deviam. Pensemos... O feminino na música. Vejamos: o contrabaixo é um instrumento feminino. Apesar do seu género gramatical é um instrumento feminino e, contudo, extremamente sério; aliás como a própria morte que é feminina na sua crueldade salvadora, isto falando em termos associativos; ou como se queira, na sua inevitável função maternal surge também, por outro lado, como complementaridade no princípio da vida, como fertilidade, terra-mãe, etcetera, tenho razão? E nesta função, falando agora outra vez em termos musicais,  o contrabaixo como símbolo da morte luta contra o Nada absoluto que ameaça simultaneamente afundar Música e Vida. Nós, os contrabaixistas, somos neste contexto os Cerbéros [sic.] nas catacumbas do Nada, ou, por outras palavras, Sísifo que carrega aos ombros, a montanha acima, a carga sensual de toda a música, ora, façam favor de reter esta imagem!

Patrick Süskind, O Contrabaixo. Lisboa: Difel, 2001, p.31



Patrick Süskind nasceu em Ambach, próximo de Munique, em 1949. O escritor não toca contrabaixo mas piano. O livrinho (66 páginas) é notável, trouxe-o da Biblioteca Municipal.

13/06/2014

Xisto [Em terras de ] - Santo António

Solidão em terras de xisto.



SANTO ANTÓNIO

Nasci exactamente no teu dia —
Treze de Junho, quente de alegria,
Citadino, bucólico e humano,
Onde até esses cravos de papel
Que têm uma bandeira em pé quebrado
Sabem rir...
Santo dia profano
Cuja luz sabe a mel
Sobre o chão de bom vinho derramado!
Santo António, és portanto
O meu santo,
Se bem que nunca me pegasses
Teu franciscano sentir,
Católico, apostólico e romano.
(Reflecti.
Os cravos de papel creio que são
Mais propriamente, aqui,
Do dia de S. João...
Mas não vou escangalhar o que escrevi.
Que tem um poeta com a precisão?)
Adiante ... Ia eu dizendo, Santo António,
Que tu és o meu santo sem o ser.
Por isso o és a valer,
Que é essa a santidade boa,
A que fugiu deveras ao demónio.
És o santo das raparigas,
És o santo de Lisboa,
És o santo do povo.
Tens uma auréola de cantigas,
E então
Quanto ao teu coração —
Está sempre aberto lá o vinho novo.
Dizem que foste um pregador insigne,
Um austero, mas de alma ardente e ansiosa,
Etcetera...
Mas qual de nós vai tomar isso à letra?
Que de hoje em diante quem o diz se digne
Deixar de dizer isso ou qualquer outra coisa.
Qual santo! Olham a árvore a olho nu
E não a vêem, de olhar só os ramos.
Chama-se a isto ser doutor
Ou investigador.
Qual Santo António! Tu és tu.
Tu és tu como nós te figuramos.
Valem mais que os sermões que deveras pregaste
As bilhas que talvez não concertaste.
Mais que a tua longínqua santidade
Que até já o Diabo perdoou,
Mais que o que houvesse, se houve, de verdade
No que — aos peixes ou não — a tua voz pregou,
Vale este sol das gerações antigas
Que acorda em nós ainda as semelhanças
Com quando a vida era só vida e instinto,
As cantigas,
Os rapazes e as raparigas,
As danças
E o vinho tinto.
Nós somos todos quem nos faz a história.
Nós somos todos quem nos quer o povo.
O verdadeiro título de glória,
Que nada em nossa vida dá ou traz
É haver sido tais quando aqui andámos,
Bons, justos, naturais em singeleza, Que os descendentes dos que nós amámos
Nos promovem a outros, como faz
Com a imaginação que há na certeza,
O amante a quem ama,
E o faz um velho amante sempre novo.
Assim o povo fez contigo
Nunca foi teu devoto: é teu amigo,
Ó eterno rapaz.
(Qual santo nem santeza!
Deita-te noutra cama!)
Santos, bem santos, nunca têm beleza.
Deus fez de ti um santo ou foi o Papa? ...
Tira lá essa capa!
Deus fez-te santo! O Diabo, que é mais rico
Em fantasia, promoveu-te a manjerico.
És o que és para nós. O que tu foste
Em tua vida real, por mal ou bem,
Que coisas, ou não coisas se te devem
Com isso a estéril multidão arraste
Na nora de uns burros que puxam, quando escrevem,
Essa prolixa nulidade, a que se chama história,
Que foste tu, ou foi alguém,
Só Deus o sabe, e mais ninguém.
És pois quem nós queremos, és tal qual
O teu retrato, como está aqui,
Neste bilhete postal.
E parece-me até que já te vi.
És este, e este és tu, e o povo é teu —
O povo que não sabe onde é o céu,
E nesta hora em que vai alta a lua
Num plácido e legítimo recorte,
Atira risos naturais à morte,
E cheio de um prazer que mal é seu,
Em canteiros que andam enche a rua.
Sê sempre assim, nosso pagão encanto,
Sê sempre assim!
Deixa lá Roma entregue à intriga e ao latim,
Esquece a doutrina e os sermões.
De mal, nem tu nem nós merecíamos tanto.
Foste Fernando de Bulhões,
Foste Frei António —
Isso sim.
Porque demónio
É que foram pregar contigo em santo?

Fernando Pessoa: Santo António, São João, São Pedro.  (Organização de Alfredo Margarido.) Lisboa: A Regra do Jogo, 1986.

In Memorim de Fernando Pessoa e Santo António 

12/06/2014

Livro de poesia e Arte

O livro de Maria Teresa Horta, A Dama do Unicórnio foca numa abordagem poética as seis tapeçarias quatrocentistas do Museu de Cluny, actual Museu da Idade Média, em Paris. As tapeçarias localizadas pelo arqueólogo Prosper Marimée no castelo de Boussac seduziram vários escritores e poetas, tais como: George Sand; Balzac; Jean Cocteau, Rilke, Marina Tsvétaïeva e Hilda Doolittle.

A beleza da poesia e da arte representada são verdadeiro alimento.
A Dama do Unicórnio é composta por seis tapeçarias que representam os cinco sentidos: 
«Paladar», «Audição», «Olfacto», «Visão» e «Tacto»



A Coroa de Flores e o odor.

Deslaçam-se os perfumes
no cume dos sentidos

Desacertando tudo
deixando tudo inteiro
voltam depois diluindo o ar

Para logo tornarem
aguçando os cheiros

Primeiro são as fragrâncias
das treliças dos cravos

Depois vêm as rosas
na cesta de flores

Nos odores da água
mas também nas do corpo
a desencadear desejo no topo

Desenredadas que estão
as essências do êxtase

Do orgasmo
e do grito
do pudor já desfeito

No pecado e no vício
no ardor satisfeito.

MTH, na obra assinalada, in  Olfacto, s/nº de página.

Não nos aproximamos, sem dar por isso, mais silenciosamente da tapeçaria seguinte logo que notamos que a figura feminina está como que absorta? Ela está a fazer uma grinalda, uma pequena coroa redonda de flores. Pensativa escolhe a cor do cravo seguinte na salva que a aia lhe estende, enquanto vai prendendo o anterior. Ao fundo sobre um banco, está um cesto de rosas intactas, que um macaco descobriu. 

Rainer Maria Rilke,As Anotações de Malte Laurids Brigge, Lisboa: Relógio de D’ Água, 2003 (tradução e prefácio de Maria Teresa Dias Furtado), pp. 130-131.


The Lady and the Unicorn (John Renbourn) performed by Anton Pinna

10/06/2014

Rimas Várias [portuguesas]


Imagem retirada da Wikipédia

Enquanto quis Fortuna que tivesse
Esperança de algum contentamento,
O gosto de um suave pensamento
Me fez que seus efeitos escrevesse.

Porém temendo Amor que aviso desse
Minha escritura a algum Juízo isento
Escurecendo o Engenho com o tormento,
Para que seus enganos não dissesse.

Ó vós, que Amor obriga a ser sujeitos
A diversas vontades! Quando lerdes
Num breve Livro casos tão diversos;

Verdades puras são, e não defeitos.
Entendei que segundo o Amor tiverdes,
Tireis o entendimento de meus Versos.

[transcrição actualizada]

Rimas Várias de Luís de Camões, (comentadas por Manuel de Faria e Sousa) Edição comemorativa, Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1972, pag. 1.




«Camões» de Leitão de Barros estreou a 23 de Setembro de 1946, no cinema S. Luís.

Argumento: A tempestuosa existência errante de Luís Vaz de Camões, desde os tempos irreverentes com estudante em Coimbra, aos amores contrariados, como guerreiro da "má fortuna", até ao declínio inglório, acompanhando a decadência do fausto renascentista e da pátria imperial. Intérpretes: António Vilar - Camões; José Amaro - D. Manuel de Portugal; Igrejas Caeiro - André Falcão de Resende; Paiva Raposo - Pero de Andrade Caminha; Idalina Guimarães - Inês; Leonor Maia - Leonor; Vasco Santana - Mal Cozinhado; Eunice Muñoz - Beatriz da Silva; José Victor - Frei Bartolomeu Ferreira; Carmen Dolores - Catarina de Ataíde / Natércia; João Villaret - D. João III; Julieta Castelo - Infanta D. Maria; Assis Pacheco - D. João da Silva - O Regedor de Justiça e ainda: António Silva; Costinha; Manuel Lereno; Dina Salazar, António Góis, Josefina Silva; Regina Montenegro. 

07/06/2014

De Cronos ou enigmas

William Blake, François-Marie Arouet de Voltaire (1694–1778,)
 — Qual é, entre todas as coisas do Mundo, a mais longa e a mais curta, a mais rápida e a mais lenta, a mais divisível e a mais extensa, a que mais se despreza e a que mais se tem pena de perder,  sem a qual nada pode fazer-se, que devora tudo o que é pequeno e que revigora tudo o que é grande?
[...]
Uns disseram que a chave do enigma era a fortuna, outros a terra, outros a luz. Zadig disse que era o tempo.
In Enigmas.

Voltaire, Zadig ou o Destino. Lisboa: Editorial Verbo, Livros RTP, ( tradução de João Gaspar Simões) 1972, p. 95-96.




Myra Landau [Parole], Rostos, olhares sobre Zadig
 (intitulado por mim)

A Diva...

05/06/2014

"Um homem novo"...

No fundo, tenho de inventar a qualquer preço um homem novo»!...
 29 de Março 1945
Mircea Eliade, Diário Português [1941-1945]. Lisboa: Guerra e Paz Editores, 2008, p 258.

Uma hortênsia, hydrangea macrophylla


Na adolescência não o valorizei, a minha geração era a que ouvia Queen and so on
Hoje reconheço-o.

03/06/2014

«fertilizar»

Apenas conta aquilo que nos pode «fertilizar». Nenhuma pessoa, nenhuma paisagem, nenhum livro me interessam, se não me enriquecer, unindo-se comigo, ajudando-me a tornar mais fecundo, mais forte.

Mircea Eliade, Diário Português [1941-1945]. Lisboa: Guerra e Paz Editores, 2008, p 143. 

01/06/2014

Poesia, livros e pequenos nadas - 2

No Dia Mundial da Criança
Numa tarde branda de Julho
Desliza um barco calmante
Sob o céu resplandescente.

E esta história é a minha oferta
Às três crianças de antigamente,
Escutando de ouvidos alerta.

Julho congelou com o frio de Outono!
Há muito que o céu se toldou
E que o eco da memória se calou.

Todavia, Alice, de passos incertos,
Vagueia ainda nos campos desertos
Nunca vista por olhos despertos.

E eu hei-de continuar a contar
A todas as crianças que virão
A história desse outro Verão.

Crianças do País das Maravilhas,
Que levamos dias sonhando.
Que passam os dias cantando.

Deslizando pela memória
Do seu passado risonho,
Que é a vida senão sonho?

Lewis Carrol, Do Outro Lado do Espelho* 

Um mini-livro para a colecção de Alice no País das Maravilhas

Los Libros Mas Pequeños del Mundo, Peru.
Ilustração Franco Martinez Luis 
O livrinho mede 6,5x  4,5 cm

Alice no País das Maravilhas, Publicações Dom Quixote.
Ilustrações de John Tenniel

*Imagem retirada do livro: Lewis Carroll no país das maravilhas
um livro de Stephanie Lovett Stoffel.  Publicações Quimera. 
Ilustração de John Tenniel
* Imagem do livro de Stoffel. Ilustração de John Tenniel
Pinturas de Diego Muñoz, Lewis Carrol -  As Aventuras de Alice no País das Maravilhas, vol II 
publicado pelo Expresso

Katie Brine, fotografia de Lewis Carroll (* proveniência)
(Charles Lutwidge Dodgson) Filha de amigos. 
A inspiração sobre a fantasia e a infância estava presente nas filhas de amigos.
*Imagem retirada do livro:Lewis Carroll no país das maravilhas
um livro de Stephanie Lovett Stoffel

Joseph Noel Paton, A Reconciliação de Oberon e Titânia, 1847, 

A beleza do quadro e a ligação ao Sonho de Uma Noite de Verão de Shakespeare

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