31/05/2015

Janelas com feridas

Sigam as andorinhas e encontram algumas janelas feridas, no canto superior esquerdo,
Rua das Oliveiras (?), na Cedofeita.


Rua dos Clérigos

Com a ajuda do João Menéres e da Cláudia os 50 anos evocam as memórias da UNICEPE – Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto.
Largo da Universidade, Praça de Gomes Teixeira, mais conhecida por Praça dos Leões.


Van Gogh, A Pork-Butcher's Shop Seen from a Window, Arles, 1888, 
Museu Van Gogh, Amesterdão

Será  a língua portuguesa este constante desleixo pelo património?

LÍNGUA  PORTUGUESA

Última flor do Lácio, inculta e bela,
És a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre cascalhos vela...

Amo-te assim, desconhecida e obscura,
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura!

Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te ó rude e doloroso idioma

Em que da voz materna ouvi: «Meu filho!»,
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O génio sem ventura e o amor sem brilho!

as mais belas poesia de Olavo Bilac escolhidas por José Régio, Artis, 1966, p. 40.

Desta edição fez-se uma tiragem com 120 exemplares, em papel Arte, numerados e assinados por José Régio, sendo os últimos vinte, (I a XX) fora do mercado.
Ilustrações de Manuel Lapa, Maria Keil, Rogério Ribeiro e Sá Nogueira.


29/05/2015

Rodei maçanetas...

«Primeiro bati a algumas portas, rodei maçanetas, depois perdi-me nos corredores, passando por ateliers fechados, subi e desci escadas.
Ainda ouço a minha passada, vejo o vapor da minha respiração no edifício gelado, transformado em frigorífico de vários andares. Não quero esmorecer e devo ter travado um diálogo comigo mesmo, para dar coragem: Não desistas, aguenta! Pensa no teu camarada Joseph, que disse: "A Graça divina não nos cai do colo...", quando de repente, ia eu já a caminho de regresso, dou de caras com a arte na figura de um velho homem que igualava a imagem de um pintor que passava nos tempos do cinema mudo. (...) 
Um momento só para lembrar-me, para agarrar na cebola. Afinal, naquele minuto do destino tratava-se de fazer ou não fazer, mais decisivo ainda: de ser ou não ser. O que é que ela diz na camada que transpira?
(...) Ainda hoje ouço na íntegra o aviso decepcionante do professor de arte: "Estamos fechados por falta de carvão."»

Günter Grass, Descascando a cebola. Autobiografia 1939-1959. Cruz-Quebrada: Casa das Letras, 2007, p. 228-229.
Maçanetas com estilo


Estadio de noche

Lentamente ascendió el balón en el cielo.
Entonces se vio que estaba lleno el graderío.
En la portería estaba el poeta solitario,
pero el árbitro pitió fuera de juego

Günter Grass,
Textos traducidos por Miguel Sáenz, Poemas seleccionados de lo libro  "Las ventajas de las gallinas de viento" de 1956. Daqui.

 

27/05/2015

Porto, ecos de uma geração. Porto Sentido e "Goa"

A ida ao Porto teve como objectivo ver esta  exposição: 
ecos de uma geração, o homem e a cidade, no Museu Soares dos Reis mas primeiro que tudo conhecer o João Menéres.


João Menéres um dos fotógrafos dos ecos de uma geração junto das suas fotos.


Uma das fotos  do João que me encantaram. Do catálogo.

A Paula Rêgo podia ter pintado uma tela inspirada nesta fotografia

Sala de exposição, panorama geral.

Um dia bem passado, um dia entre amigos.

Obrigada João, Cláudia, Alexandra e M.

Estive com as minhas amigas Cláudia e Alexandra Ribeiro. Conheci a M.
A malandra da Alexandra escondeu-se. A Cláudia também tentou mas eu ainda a apanhei.:))
Livraria Lumière

Ao almoço estivemos três mulheres a saborear a deliciosa comida portuense com um copo de vinho branco verde para nos refrescarmos dos 29 graus, mas desse momento não tenho registo.


Porto, o Casario.


Quando cheguei a casa tinha uma surpresa do Amigo Henrique Antunes Ferreira 
à minha espera:
Goa chegou até mim. Obrigada. Um dia destes a rã voltará aqui.


Também trarei mais apontamentos do Porto.
PORTO  SENTIDO

Quem vem e atravessa o rio
Junto à serra do Pilar
vê um velho casario
que se estende até ao mar

Quem te vê ao vir da ponte
és cascata, san-joanina
erigida sobre um monte
no meio da neblina.

Por ruelas e calçadas
da Ribeira até à Foz
por pedras sujas e gastas
e lampiões tristes e sós.

E esse teu ar grave e sério
num rosto e cantaria
que nos oculta o mistério
dessa luz bela e sombria

[refrão]
Ver-te assim abandonada
nesse timbre pardacento
nesse teu jeito fechado
de quem mói um sentimento

E é sempre a primeira vez
em cada regresso a casa
rever-te nessa altivez
de milhafre ferido na asa


Carlos Tê e Rui Veloso


26/05/2015

os olhos ficam marejados

O que engana à primeira vista: ao descascar a cebola, os olhos ficam marejados. Assim se turva aquilo que com a vista límpida seria legível.

Günter Grass, Descascando a cebola. Autobiografia 1939-1959. Cruz-Quebrada: Casa das Letras, 2007, p. 183.





23/05/2015

Da indignação à petição



Pablo Picasso, Femmes à la colombe, 1955, 
Centro Georges Pompidou  PINTEREST


© Collection Centre Pompidou, Dist. RMN / Droits reserves © Succession Picasso/DACS 2009 : Picasso's Red Period.
Recebi através de e-mail uma mensagem em pdf que pedia para reenviar a pelo menos vinte pessoas. Junto vinha com a mensagem: 

- após três dias teríamos acesso à petição. 


As redes sociais, quando bem aproveitadas, podem mostrar a indignação de todos. Edito-o porque me parece justo o que propõe. 

Não gosto de grupos sem identificação política, os cidadãos nunca são a-políticos têm sempre as suas escolhas, prefiro-as, como já referi, identificadas. 
Sublinho:
Penso que todo o deputado deve ganhar bem pois tem de tomar decisões que implicam o bem do povo.




 O texto é de Teresa Semedo (Advogada - C.P. 1948p) Póvoa Varzim (emenda à Constituição) PEC de iniciativa popular:
« Reforma da Assembleia (proposta de emenda à Constituição)

 1. O deputado será assalariado somente durante o mandato. Não haverá 'reforma pelo tempo de deputado', mas contará o prazo de mandato exercido para agregar ao seu tempo de serviço junto ao INSS referente ao seu trabalho como cidadão normal. 


2 A Assembleia (deputados e funcionários) contribui para o INSS. Toda a contribuição (passada, presente e futura) para o fundo actual de reforma da Assembleia passará para o regime do INSS imediatamente. Os senhores deputados participarão dos benefícios dentro do regime do INSS, exactamente como todos outros portugueses. O fundo de reforma não pode ser usado para qualquer outra finalidade. 

3. Os senhores deputados e assessores devem pagar os seus planos de reforma, assim como todos os outros portugueses. 

4 Aos deputados fica vedado aumentar os seus próprios

salários e gratificações fora dos padrões do crescimento de salários da população em geral, no mesmo período. 

5. Os deputados e seus agregados perdem os seus actuais seguros de saúde, pagos pelos contribuintes, e passam a participar do mesmo sistema de saúde do povo português. 


6. A Assembleia deve igualmente cumprir todas as leis que impõe ao povo português, sem qualquer imunidade que não aquela referente à total liberdade de expressão quando na tribuna da Assembleia. 

7. Exercer um mandato na Assembleia é uma honra, um privilégio e uma responsabilidade, não uma carreira. Os deputados não devem "servir" mais de duas legislaturas consecutivas. 

8. É vedada a actividade de lobista ou de 'consultor' quando o objecto tiver qualquer laço com a causa pública. »


21/05/2015

As plantas rindo estão vestidas


AS PLANTAS RINDO ESTÃO ESTÃO VESTIDAS

As plantas rindo estão, estão vestidas 
De verde variado de mil cores; 
Cantam tarde e manhã os seus amores 
As aves, que d'Amor andam vencidas,

As neves, já nos montes derretidas, 
Regam nos baixos vales novas flores; 
Alegram as cantigas dos pastores 
As Ninfas pelos bosques escondidas.

O tempo, que nas cousas pode tanto, 
A graça, que por ele a terra perde, 
Lhe torna com mais graça e fermosura.

Só pera mim nem flor nem erva verde, 
Nem água clara tem, nem doce canto, 
Que tudo falta a quem falta ventura.


Diogo Bernardes  



19/05/2015

"To Love"

People discuss my art and pretend to understand as if it were necessary to understand, when it's simply necessary to love.

Claude Monet.  [And I love art].
Papoilas ou como gosto de lhes chamar as alegrias do campo.


Terá o impressionismo nascido da desfocagem? 

Uma fotografia mal tirada mas uma experiência que me agradou


Claude Monet, O campo de papoilas próximo de Argenteuil, 1873
Musée d'Orsay, Paris (wikiart)


Em homenagem a B. B. King que partiu há poucos dias.



17/05/2015

Descascando ...

Descascando a cebola, com a arte de interpretar o que vai no íntimo da alma humana, o elo solitário e comum de uma nação e de circunstâncias únicas e inequívocas. Uma curva na estrada, uma viagem constante ao passado, um ajuste de contas... 

Descascando lentamente,
a casca fina, veios que se fragmentam,
na história trágica e humana:
lágrimas... pérolas perdidas.
A verdade, nua e crua, confessa
  a dignidade consumada. 

Assim vejo e sinto o livro de Günter Grass, a quem vi algumas vezes no Centro Cultural de S. Lourenço, em Almancil, no Algarve.
Jacob Collins, Green Onions, Still life, 2004 daqui




A cebola tem muitas camadas. Existem em maioria. Mal é descascada, renova-se. Cortada, provoca lágrimas. Só ao descascá-la fala verdade. (...)

Uma palavra puxa a outra, Sculden e Schuld, dívidas e culpa. Duas palavras tão próximas uma da outra, tão firmemente enraizadas no solo féril da língua alemã, apesar de se conseguir  resolver a primeira, atenuando-a, através de pagamento - nem que seja em prestações, como fazia a clientela da minha mãe que comprava a fiado -, a culpa, porém, tanto a comprovável como a escondida, ou aquela que apenas se suspeita, essa fica. Faz tiquetaque sem parar, e mesmo nas viagens a nenhures lá está  ela no seu lugar, à espera. Recita a sua pequena sentença, não teme repetições, faz-se esquecer,  por longos períodos, magnânima, e hiberna em sonhos. Permanece como sedimento, não pode ser removida como uma mancha, sorvida como uma poça. Aprendeu desde cedo a procurat refúgio, confessada na concha de um ouvido, a tornar-se mais pequena do que pequena, num nada, fazendo-se passar por prescrita ou há muito perdoada, mas está afinal, assim que a cebola desaparece camada, após camada, inscrita nas camadas mais novas: às vezes  com letras maiúsculas, outras como frase subordinada ou nota de rodapé, às vezes é claramente legível, outras ainda aparece em hieróglifos que, quando muito, podem ser decifradas  a custo.

Günter Grass, Descascando a cebola. Autobiografia 1939-1959. Cruz-Quebrada: Casa das Letras, 2007,p. 11 e 33.


"Pagliacci" de Leoncavallo, Placido Domingo, versão do filme de Franco Zeffirelli, 1981.

14/05/2015

a ilha

O regresso ao escritor Sándor Márai deve-se ao título: a ilha. Há algo de idílico no que representa uma ilha. Será aquele espaço finito o paradigma da libertação? 


Ao chegar a casa, abriu uns livros atrás dos outros e começou a ler em voz alta. Eram livros antigos e bem conhecidos, e reparou com surpresa que essa surdez interna mudava conforme o texto: ao ler Platão, não ouvia nada, mas agarrou o jornal e começou a ler o editorial, um antigo grandíloquo sobre a missão cultural dos colonizadores franceses, e ouviu e entendeu cada som daquele texto fútil.

Sándor Márai, a ilha. Lisboa: D. Quixote, (traduzido do húngaro por Piroska Felkai) 2012, (2ª edição), p. 98.

Um livro estranho, intenso, de perdas e não de vitórias, nem fugas. Em síntese Carpe Diem: a escolha entre a felicidade esperada ou a ruptura e o abismo. O que valem as escolhas?



10/05/2015

O significado / liberdade

            A Miindo, 1825 daqui                (pintura coreana)               Miindo século XIX


"Nunca serás feliz se insistes em encontrar a felicidade,
Nunca viverás se procuras o significado da vida".

Albert Camus in, Iosif Landau, Memória Tumultuada 
(com a cortesia e amizade de Myra Landau)

O que sentiria a menina, desta história de caso de uma refugiada, sobre a citação de Camus?
Eu própria sinto que ela é a derrota dos sonhos...
A procura é o acto preciso de que somos vivos. Não quero entender este grito de Camus.


Temos o dever de partilhar para não esquecermos quão importante é a liberdade
e o respeito pelos direitos humanos.
Com um profundo agradecimento a Majo que me fez chegar o vídeo à mão.




08/05/2015

Velha casa amarela

A luz atravessa a janela da velha casa amarela.
Afecto sem réplica do tempo que passa.



... apesar de tudo gosto de ser portuguesa.

Lisboa, Menina e Moça

(Em reposição)


Num outro registo: António Zambujo

06/05/2015

urge criar - a poesia e a arte

Uma iniciativa interessante e que entra pelos olhos dentro. Entre as várias criações - que podem ver no link abaixo registado - escolhi esta por achar que a ligação à livraria é perfeita, para não falar na simbologia em causa. Precisamos de luz para viver inteligentemente.

Fotografia de Cláudia Ribeiro - Reparem como as luzes estão acesas, no lado direito.


O Clube de Criativos de Portugal existe há 16 anos e tem como objectivo premiar o que de melhor se faz em criatividade comercial em Portugal.
Nesse sentido, o Clube lança anualmente um tema que, em 2015, envolve o convite às livrarias icónicas de Lisboa e Porto na integração do projecto. No Porto, trata-se da INCM, Leitura Bulhosa, Poetria e Lumière.

Num tempo em que a urgência impera no tom e na forma, "URGENTE É A POESIA" impôs-se como tema, porque é urgente a inspiração, a renovação e a arte, que a rotina - ou o mercado -, nos vai fazendo esquecer ou que, cada vez mais, é urgente contrariar.
A forma encontrada para materializar esse conceito, foi a criação de um laço entre o Design e as livrarias, tornando-as no objecto da intervenção. Ou, por outras palavras, a Poesia do Design serve de mote para a atribuição de montras de livrarias a designers e ateliers nacionais que nelas trabalharam, alguns dos profissionais mais reconhecidos nesta área.

Partindo e valorizando a literatura poética disponível em cada livraria intervencionada, esta parceria visa, para além da promoção dos artistas envolvidos, a das próprias livrarias, chamando a atenção do público para as suas montras e induzindo-o para a descoberta e compra dos livros.
A vertente do vitrinismo é assim assumida como forma de comunicação e captação do interesse e do olhar de quem por elas passa.

Ver aqui o projecto Livraria Lumière

Gosto de contrastes e é assumidamente entre estes dois mundos: o da criatividade comercial e o da arte pura que trago aqui alguma luz.

A arte puramente pela arte - foi com alegria que recebi os raios de Sol da Myra.

Luz incandescente [título meu]


URGENTE É A POESIA:  Iosif Landau é poeta e irmão da pintora Myra Landau. No link assinalado encontra mais poesia.

ERA UMA VEZ

Meus doze anos, calças curtas,
pele luminosa, seda do oriente,
olhos castanhos, cerejas maduras,
perfume de macieira, inocência.

Como a mãe em vigília,
dias escorrem em silêncio,
a grama por onde ando
esconde meus passos,
estrelas longe do meu alcance,
visões, idéias e pensamentos
em minha mente flutuam,
mão do destino guia.

Lendas de reis e princesas,
Excalibur e a Dama do Lago,
abrem as portas da casa escura,
flautas e oboés, Puck dança,
flores surgem da terra,
visão floresce,
ela deitada ao meu lado, encanto

Meu rosto vincado,
mapa do meu passado,
vida de longo caminho,
já fui criança,
mãe, me abraça.


Iosif Landau

Se não fosse a "Lumière" não tinha descoberto este cantor : Calogero Joseph Salvatore Maurici, conhecido como Calogero é um cantor francês.  Entre a canção e a declamação poética a fronteira é ténue.

04/05/2015

O horizonte e o mar, diálogo entre Modiano e Neruda

Pela primeira vez, acudia-lhe à ideia uma palavra: futuro, e outra palavra: horizonte. Naquelas noites, as ruas desertas e silenciosas do bairro eram linhas de fuga que, todas elas, conduziam ao futuro e ao HORIZONTE.

Patrick Modiano, O Horizonte, Porto: Porto Editora, 2011, p. 54.


Modiano vagueia na cidade, entre edifícios de betão, em ruas e encruzilhadas, numa atmosfera de regresso ao passado, As memórias revelam sempre a solidão, os passeios sem rumo, à procura do horizonte. Pablo Neruda faz o mesmo trajecto, porém, nele, o mar é a substância maior. Quando não temos o mar, a cidade pode preencher esse espaço mas o horizonte fica sempre mais longe.


El mar

NECESITO del mar porque me enseña:
no sé si aprendo música o conciencia:
no sé si es ola sola o ser profundo
o sólo ronca voz o deslumbrante
suposición de peces y navios.
El hecho es que hasta cuando estoy dormido
de algún modo magnético circulo
en la universidad del oleaje.
No son sólo las conchas trituradas
como si algún planeta tembloroso
participara paulatina muerte,
no, del fragmento reconstruyo el día,
de una racha de sal la estalactita
y de una cucharada el dios inmenso.

Lo que antes me enseñó lo guardo! Es aire,
incesante viento, agua y arena.

Parece poco para el hombre joven
que aquí llegó a vivir con sus incendios,
y sin embargo el pulso que subía
y bajaba a su abismo,
el frío del azul que crepitaba,
el desmoronamiento de la estrella,
el tierno desplegarse de la ola
despilfarrando nieve con la espuma,
el poder quieto, allí, determinado
como un trono de piedra en lo profundo,
substituyó el recinto en que crecían
tristeza terca, amontonando olvido,
y cambió bruscamente mi existencia:
di mi adhesión al puro movimiento


Pablo Neruda
Homenagem a Maya Plisetskaya que o dia 2 de Maio deixou o nosso horizonte.


Com 61 anos dançava assim:

03/05/2015

Contrastes

*Mãe*
Os contrastes estão cada vez mais vincados. 

Mary Cassat, Mother Combing Child's Hair,1879, Wikimedia commons



Picasso, A sopa, 1903



Vittorio Crivelli (c 1440-1501), Detalhe de Virgem com o Menino (pinterest)

Vittorio Crivelli (Italian artist, c 1440-1501) Madonna and Child

Mãe

Conheço a tua força, mãe, e a tua fragilidade.
Uma e outra têm a tua coragem, o teu alento vital.
Estou contigo mãe, no teu sonho permanente na tua esperança incerta
Estou contigo na tua simplicidade e nos teus gestos generosos.
Vejo-te menina e noiva, vejo-te mãe mulher de trabalho
Sempre frágil e forte. Quantos problemas enfrentaste,
Quantas aflições! Sempre uma força te erguia vertical,
sempre o alento da tua fé, o prodigioso alento
a que se chama Deus. Que existe porque tu o amas,
tu o desejas. Deus alimenta-te e inunda a tua fragilidade.
E assim estás no meio do amor como o centro da rosa.
Essa ânsia de amor de toda a tua vida é uma onda incandescente.
Com o teu amor humano e divino
quero fundir o diamante do fogo universal
.

António Ramos Rosa, Antologia Poética. Lisboa: Dom Quixote, 2001.

01/05/2015

Uma tarde...

No Dia do Trabalhador o poema de Adília Lopes.


Será uma Osga?


Uma tarde Maria Cristina
obrigou-me a comer osgas
e a repetir
com a boca cheia de osgas
as pessoas sensíveis gostam de comer osgas
mas não gostam
de ver matar osgas
por isso têm de comer
as osgas vivas
se querem fazer na vida
aquilo de que gostam



Adília Lopes, in "Quem quer casar com a poetisa?", antologia de poemas de A.L. organizada por Valter Hugo Mãe, ed. Quasi, 2001, p. 49.

Camille Saint-Saëns, Le Carnival des Animaux - Le Cygne (O cisne )



Num outro registo e porque ontem foi o dia do Jazz:

They cant't take that away from me interpretado pelo combo de Jazz da Tone que foi ao Festival de Jazz do S. Luiz. O combo é composto por: Daniela Quental (voz), Filipe Santos (bateria), Marcelo Murta (guitarra), Rui Alvarez (contrabaixo) e Lourenço Taborda (piano).
Este concerto foi realizado no conservatório de Música de Coimbra no dia 14 de Maio de 2014.
(Cortesia youtube)

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