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15/11/2015

A voz do mar

Nem o mar ao longe, nem as árvores serenas,
acalmaram a tarde de Outono, quebrada pela notícias francesas do atentado islâmico.



Foto de Thibault Camus/AP
Em honra das vítimas do atentado, Cafetaria Carillon, Paris

Homem se emociona diante de objetos de tributo deixados em frente à cafeteria Carillon, em Paris, onde um dos ataques terroristas ocorreu (Foto: Thibault Camus/AP)

O lançamento do livro de poesia : Não sei se o Vento de Rui Miguel Fragas, um amigo, na Biblioteca Municipal da Figueira da Foz.



A voz do mar 

pertence ao mar. E o  canto dos pássaros não te
pertence. Ouve os pássaros e ouve o mar e o vento
que sopra ao longe. Escuta os sinos da tua voz, lá
dentro do teu peito: há em tudo o que escutas

o mesmo rumor.

Mesmo que seja só uma promessa de sílaba uma
vogal apenas ou o rasto de uma vogal. Mesmo que
não chegue para dizer o teu nome, mesmo

que não chegue para me chamar.

O que está dentro do teu peito é mais do que tu: e o
que ouves é sempre mais

do que és capaz de dizer. A demora da luz e os
rituais da distância têm voz

mas não têm nome.

Só o rosário do silêncio me chama e ainda sou
capaz de ouvir as baleias do outro lado do mundo.
Só sei responder ao vento: por isso se me chamares

não te responderei.

Não queiras mais nada para além dessa sílaba
adiada, dessa vogal ou eco e do eco dessa vogal.

O teu nome é um nebuloso sussurro: vem de longe
e vai para longe, para lá de todas as luas de 
saturno. És uma invocação sem apelo.

não tens nome quando te chamo.

 Rui Miguel Fragas, Não sei se o Vento.Óbidos: Poética Edições, 2015, p. 61.

Na apresentação do livro, o Rui disse que o mundo é em si poesia.
Respondo só o é para quem a vê. Poucos são os que a vêem, perdoem-me a arrogância.
A escolha do poema inscreve-se no nome anónimo dos que morreram no atentado  em França. O mar é agora a sua liberdade, mas pagaram-na bem cara.

A minha homenagem às vítimas do atentado de sexta-feira 13 em Paris: que a vida não seja apenas as folhas mortas que caem...,
na voz de Yves Montant



14/09/2015

Rebuçado - "UE"

Laurence Jenkell, Rebuçado, Cannes 
( 2 m de altura, escultura em alumínio, resina, e aço... )

Comemoração do encontro do G 20  a 3 e 4 Novembro de 2011, em Cannes.


Este rebuçado representa a União Europeia. Será assim tão doce?

(Foto minha)


Foto retirada do Nice- Matin a escultora junto à obra.
(http://www.nicematin.com/cannes/jenkell-offre-deux-sculptures-bonbons-a-cannes.1162103.html)

Vivemos num mundo conturbado e em convulsão.
O espírito económico mantém-se. O homem  precisa de projectos, ideais, humanismo 
e compreender o mundo que o rodeia...

Tanta evolução, tanto caminho e tão pouco aperfeiçoamento... :((

Boa noite/ Bom dia!

Cannes




23/05/2015

Da indignação à petição



Pablo Picasso, Femmes à la colombe, 1955, 
Centro Georges Pompidou  PINTEREST


© Collection Centre Pompidou, Dist. RMN / Droits reserves © Succession Picasso/DACS 2009 : Picasso's Red Period.
Recebi através de e-mail uma mensagem em pdf que pedia para reenviar a pelo menos vinte pessoas. Junto vinha com a mensagem: 

- após três dias teríamos acesso à petição. 


As redes sociais, quando bem aproveitadas, podem mostrar a indignação de todos. Edito-o porque me parece justo o que propõe. 

Não gosto de grupos sem identificação política, os cidadãos nunca são a-políticos têm sempre as suas escolhas, prefiro-as, como já referi, identificadas. 
Sublinho:
Penso que todo o deputado deve ganhar bem pois tem de tomar decisões que implicam o bem do povo.




 O texto é de Teresa Semedo (Advogada - C.P. 1948p) Póvoa Varzim (emenda à Constituição) PEC de iniciativa popular:
« Reforma da Assembleia (proposta de emenda à Constituição)

 1. O deputado será assalariado somente durante o mandato. Não haverá 'reforma pelo tempo de deputado', mas contará o prazo de mandato exercido para agregar ao seu tempo de serviço junto ao INSS referente ao seu trabalho como cidadão normal. 


2 A Assembleia (deputados e funcionários) contribui para o INSS. Toda a contribuição (passada, presente e futura) para o fundo actual de reforma da Assembleia passará para o regime do INSS imediatamente. Os senhores deputados participarão dos benefícios dentro do regime do INSS, exactamente como todos outros portugueses. O fundo de reforma não pode ser usado para qualquer outra finalidade. 

3. Os senhores deputados e assessores devem pagar os seus planos de reforma, assim como todos os outros portugueses. 

4 Aos deputados fica vedado aumentar os seus próprios

salários e gratificações fora dos padrões do crescimento de salários da população em geral, no mesmo período. 

5. Os deputados e seus agregados perdem os seus actuais seguros de saúde, pagos pelos contribuintes, e passam a participar do mesmo sistema de saúde do povo português. 


6. A Assembleia deve igualmente cumprir todas as leis que impõe ao povo português, sem qualquer imunidade que não aquela referente à total liberdade de expressão quando na tribuna da Assembleia. 

7. Exercer um mandato na Assembleia é uma honra, um privilégio e uma responsabilidade, não uma carreira. Os deputados não devem "servir" mais de duas legislaturas consecutivas. 

8. É vedada a actividade de lobista ou de 'consultor' quando o objecto tiver qualquer laço com a causa pública. »


10/05/2015

O significado / liberdade

            A Miindo, 1825 daqui                (pintura coreana)               Miindo século XIX


"Nunca serás feliz se insistes em encontrar a felicidade,
Nunca viverás se procuras o significado da vida".

Albert Camus in, Iosif Landau, Memória Tumultuada 
(com a cortesia e amizade de Myra Landau)

O que sentiria a menina, desta história de caso de uma refugiada, sobre a citação de Camus?
Eu própria sinto que ela é a derrota dos sonhos...
A procura é o acto preciso de que somos vivos. Não quero entender este grito de Camus.


Temos o dever de partilhar para não esquecermos quão importante é a liberdade
e o respeito pelos direitos humanos.
Com um profundo agradecimento a Majo que me fez chegar o vídeo à mão.




10/02/2015

Os jogadores de xadrez jogavam

Ouvi contar que outrora, quando a Pérsia

Ouvi contar que outrora, quando a Pérsia
Tinha não sei qual guerra,
Quando a invasão ardia na Cidade
E as mulheres gritavam,
Dois jogadores de xadrez jogavam
O seu jogo contínuo.
À sombra de ampla árvore fitavam
O tabuleiro antigo,
E, ao lado de cada um, esperando os seus
Momentos mais folgados,
Quando havia movido a pedra, e agora
Esperava o adversário,
Um púcaro com vinho refrescava             
Sobriamente a sua sede.
Ardiam casas, saqueadas eram
As arcas e as paredes,
Violadas, as mulheres eram postas                      
Contra os muros caídos,
Traspassadas de lanças, as crianças
Eram sangue nas ruas...                                                       
Mas onde estavam, perto da cidade,
E longe do seu ruído,
Os jogadores de xadrez jogavam
O jogo do xadrez.                                                                                Ludovico Carracci, Jogadores de Xadrez

Inda que nas mensagens do ermo vento
Lhes viessem os gritos,
E, ao reflectir, soubessem desde a alma
Que por certo as mulheres
E as tenras filhas violadas eram
Nessa distância próxima,
Inda que, no momento que o pensavam,
Uma sombra ligeira
Lhes passasse na fronte alheada e vaga,
Breve seus olhos calmos
Volviam sua atenta confiança
Ao tabuleiro velho.

Quando o rei de marfim está em perigo,                                       Honoré Daumier, Jogadores de xadrez.
Que importa a carne e o osso
Das irmãs e das mães e das crianças?
Quando a torre não cobre
A retirada da rainha branca,
O saque pouco importa.
E quando a mão confiada leva o xeque
Ao rei do adversário,
Pouco pesa na alma que lá longe
Estejam morrendo filhos.
Mesmo que, de repente, sobre o muro
Surja a sanhuda face
Dum guerreiro invasor, e breve deva
Em sangue ali cair
O jogador solene de xadrez,
O momento antes desse
(É ainda dado ao cálculo dum lance
Pra a efeito horas depois)
É ainda entregue ao jogo predilecto
Dos grandes indiferentes.
Caiam cidades, sofram povos, cesse
A liberdade e a vida,
Os haveres tranquilos e avitos
Ardem e que se arranquem,
Mas quando a guerra os jogos interrompa,
Esteja o rei sem xeque,
E o de marfim peão mais avançado
Pronto a comprar a torre.
Meus irmãos em amarmos Epicuro
E o entendermos mais
De acordo com nós-próprios que com ele,
Aprendamos na história
Dos calmos jogadores de xadrez
Como passar a vida.
Tudo o que é sério pouco nos importe,
O grave pouco pese,
O natural impulsa dos instintos
Que ceda ao inútil gozo
(Sob a sombra tranquila do arvoredo)
De jogar um bom jogo.
O que levamos desta vida inútil
Tanto vale se é
A glória; a fama, o amor, a ciência, a vida,
Como se fosse apenas
A memória de um jogo bem jogado
E uma partida ganha
A um jogador melhor.
A glória pesa como um fardo rico,
A fama como a febre,
O amor cansa, porque é a sério e busca,
A ciência nunca encontra,
E a vida passa e dói porque o conhece...
O jogo do xadrez
Prende a alma toda, mas, perdido, pouco
Pesa, pois não é nada.
Ah! sob as sombras que sem querer nos amam,
Com um púcaro de vinho
Ao lado, e atentos só à inútil faina
Do jogo do xadrez,
Mesmo que o jogo seja apenas sonho
E não haja parceiro,
Imitemos os persas desta história,
E, enquanto lá por fora,
Ou perto ou longe, a guerra e a pátria e a vida
Chamam por nós, deixemos
Que em vão nos chamem, cada um de nós
Sob as sombras amigas
Sonhando, ele os parceiros, e o xadrez
A sua indiferença.

1-6-1916

Ricardo Reis, Odes  (Notas de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1946 (imp.1994).  p.  57.




Com o recente prémio do 43º Prix de Lausanne do bailarino Miguel Pinheiro, de 17 anos, aqui deixo a sua performance.

Apesar do Ministério de Educação não ligar ao ensino artístico, esta vitória é uma bofetada para o Senhor Ministro.

«Um país sem artistas é um país de curtas vistas»,
slogan na manifestação em frente ao Ministério da Educação

06/12/2014

Não se pode confiar...

... nos homens, principalmente no Homo politicus.



Todo el estudio de los políticos se emplea en cubrirle el rostro a la mentira para que parezca verdad, disimulando el engaño y disfrazando los designios. 

 Diego de Saavedra Fajardo

05/11/2014

"Banqueros" - Henrique Antunes

Recebi  o texto abaixo via e-mail do Henrique, da Travessa do Ferreira, a quem agradeço. Achei graça à pertinência da lei medieval.
Se hoje fosse praticada La Taula de Canvis, os nossos políticos não nos vendiam..., nem nos espoliavam.

La Taula de Canvis apareció durante el reinado de Jaime I El Conquistador (1213-1276). La legislación romana y goda que regían este negocio fue sustituida.

Niccolo di Pietro Gerini, Scenes from the Life of Saint Matthew -
detail (bankers), 1380s,  Church of San Francesco, Prato, Italy, (Late Gothic)



Estos son algunos de los artículos de esta legislación bancaria: El 13 de febrero de 1300 se estableció que cualquier banquero que se declarara en bancarrota sería humillado por todo el pueblo, por un voceador público y forzado a vivir en una estricta dieta de pan y agua hasta que devolviese a sus acreedores la cantidad completa de sus depósitos.
El 16 de mayo de 1301 se decidió que los banqueros estarían obligados a obtener fianzas y garantías de terceras partes para poder operar, y a aquellos que no lo hicieran no se les permitiría extender un mantel sobre sus cuentas de trabajo. El propósito de ello era señalar a todo el mundo que estos banqueros no eran tan solventes como aquellos que usaban manteles, es decir, que estaban respaldados por fianzas. Cualquier banquero que rompiera esta regla (por ejemplo, que operase con un mantel, pero sin fianza) sería declarado culpable de fraude.
Sin embargo, a pesar de todo, los banqueros pronto empezaron a engañar a sus clientes.
Debido a esos engaños, el 14 de Agosto de 1321 se estableció que aquellos banqueros que no cumpliesen inmediatamente sus compromisos, se les declararía en bancarrota, y si no pagasen sus deudas en el plazo de un año, caerían en desgracia pública, lo que sería pregonado por voceros por toda el pueblo. Inmediatamente después, el banquero sería decapitado directamente enfrente de su mostrador, y sus propiedades vendidas localmente para pagar a sus acreedores.
 Existen evidencias documentales de que esto se cumplía.
Por ejemplo, el banquero catalán Francesc Castelló, fue decapitado directamente frente a su mostrador en 1360, en estricto cumplimiento de la ley. 

O Henrique lançou as suas crónicas e aqui está a capa: belíssima, no meu entender.
Parabéns Henrique!



Quanto a banqueiros só nos resta o Lamento

25/07/2014

"Abstractio" - black and white

Bombardeamento na Faixa de Gaza

 ABSTRACTO, do latim ABSTRACTIO, significa algo que não é concreto. O que prevalece é a ideia e o conceito.

Acerca da arte abstracta Kandinsky evidencia que,

Se o artista é sacerdote da «beleza», esta deve ser procurada, segundo o principio do valor interior... A «beleza» só pode ser medida pela escala da Grandeza e da Necessidade Interior... É o belo que procede de uma necessidade interior da alma. É o belo que é belo interiormente. 

Wassily Kandinsky, Do espiritual na arte. Lisboa: D. Quixote,  2010, p. 114-116.

Sendo os bombardeamentos concretos, serão abstractas as pessoas que morreram? 
Israel bombardeou uma escola das Nações Unidas, na Faixa de Gaza, morreram muitos civis entre eles crianças... 
Como explicar o inexplicável? 
Como entender este fenómeno?
A comunidade judaica sofreu, no passado, horrores como é que agora responde com mais horror?

24/02/2014

Um chá com Júlio Isidro...

*
Pela mão amiga de Maria Emília Matos e Silva [a quem agradeço] chegou-me o texto que apresento e que é digno de ser lido e relido.  Enquanto bebia o meu chá, na presença de Wenceslau de Moraes, retive-me no texto de Júlio Isidro, nele revi as minhas ideias...

«NÃO, NÃO ESTOU VELHO!!!!!! 
 NÃO SOU É SUFICIENTEMENTE NOVO PARA JÁ SABER TUDO! 


Passaram 40 anos de um sonho chamado Abril. E lembro-me do texto de Jorge de Sena…. Não quero morrer sem ver a cor da liberdade. Passaram quatro décadas e de súbito os
portugueses ficam a saber, em espanto, que são responsáveis de uma crise e que a têm que pagar…. civilizadamente, ordenadamente, no respeito das regras da democracia, com manifestações próprias das democracias e greves a que têm direito, mas demonstrando sempre o seu elevado espírito cívico, no sofrer e ….calar. Sou dos que acreditam na invenção desta crise. Um “directório” algures decidiu que as classes médias estavam a viver acima da média. E de repente verificou-se que todos os países estão a dever dinheiro uns aos outros…. a dívida soberana entrou no nosso vocabulário e invadiu o dia a dia. Serviu para despedir, cortar salários, regalias/direitos do chamado Estado Social e o valor do trabalho foi diminuído, embora um nosso ministro tenha dito decerto por lapso, que “o trabalho liberta”, frase escrita no portão de entrada de Auschwitz. Parece que alguém anda à procura de uma solução que se espera não seja final. Os homens nascem com direito à felicidade e não apenas à estrita e restrita sobrevivência. Foi perante o espanto dos portugueses que os velhos ficaram com muito menos do seu contrato com o Estado que se comprometia devolver o investimento de uma vida de trabalho.Mas, daqui a 20 anos isto resolve-se. Agora, os velhos atónitos, repartem o dinheiro entre os medicamentos e a comida. E ainda tem que dar para ajudar os filhos e netos num exercício de gestão impossível. A Igreja e tantas instituições de solidariedade fazem diariamente o miagre da multiplicação dos pães. Morrem mais velhos em solidão, dão por eles pelo cheiro, os passes sociais impedem-nos de sair de casa, suicidam-se mais pessoas, mata-se mais dentro de casa, maridos, mulheres e filhos mancham-se de sangue , 5% dos sem abrigo têm cursos superiores, consta que há cursos superiores de geração espontânea, mas 81.000 licenciados estão desempregados. Milhares de alunos saem das universidades porque não têm como pagar as propinas, enquanto que muitos desistem de estudar para procurar trabalho. Há 200.000 novos emigrantes, e o filme “Gaiola Dourada” faz um milhão de espectadores. Há terras do interior, sem centro de saúde, sem correios e sem finanças, e os festivais de verão estão cheios com bilhetes de centenas de euros. Há carros topo de gama para sortear e auto-estradas desertas. Na televisão a gente vê gente a fazer sexo explícito e explicitamente a revelar histórias de vida que exaltam a boçalidade. Há 50.000 trabalhadores rurais que abandonaram os campos, mas há as grandes vitórias da venda de dívida pública a taxas muito mais altas do que outros países intervencionados. Há romances de ajustes de contas entre políticos e ex-políticos, mas tudo vai acabar em bem...estar para ambas as partes. Aumentam as mortes por problemas respiratórios consequência de carências alimentares e higiénicas, há enfermeiros a partir entre lágrimas para Inglaterra e Alemanha para ganharem muito mais do que 3 euros à hora, há o romance do senhor Hollande e o enredo do senhor Obama que tudo tem feito para que o SNS americano seja mesmo para todos os americanos. Também ele tem um sonho… Há a privatização de empresas portuguesas altamente lucrativas e outras que virão a ser lucrativas. Se são e podem vir a ser, porque é que se vendem? E há a saída à irlandesa quando eu preferia uma…à francesa. Há muita gente a opinar, alguns escondidos com o rabo de fora. E aprendemos neologismos como “inconseguimento” e “irrevogável” que quer dizer exactamente o contrário do que está escrito no dicionário. Mas há os penalties escalpelizados na TV em câmara lenta, muito lenta e muito discutidos, e muita conversa, muita conversa e nós, distraídos. E agora, já quase todos sabemos que existiu um pintor chamado Miró, nem que seja por via bancária. Surrealista… Mas há os meninos que têm que ir à escola nas férias para ter pequeno- almoço e almoço. E as mães que vão ao banco…. alimentar contra a fome , envergonhadamente , matar a fome dos seus meninos. É por estes meninos com a esperança de dias melhores prometidos para daqui a 20 anos, pelos velhos sem mais 20 anos de esperança de vida e pelos quarentões com a desconfiança de que não mudarão de vida, que eu não quero morrer sem ver a cor de uma nova liberdade.»

**

Júlio Isidro link

* Wenceslau de Moraes, O Culto do Chá. KOBE, Typographia do "Kobe Herald", gravuras de Gotô Seikôdô, 1905 (Illustrações de Yoshiaki), p. 21.
Edição Fac-simile Comemoração dos 500 anos da Biblioteca da Universidade de Coimbra, 2014.

Tenho umas três edições diferentes deste livrinho. Apesar disso adquiri este fac-simile.

** O Chá da avó, um dos serviços mais utilizados. Fábrica de Sacavém, Assinado Gilman [ou Gilman & Companhia] :)

27/01/2014

27 de Janeiro, em memória das vítimas do holocausto

Vidas partidas... laços desfeitos... uma visita em memória...                                      
«(...) Eu visitei Auschwitz-Birkenau em Novembro passado. Um vento frio soprava naquele dia, o chão sob os meus pés era rochoso. Mas eu tinha um sobretudo e sapatos resistentes; os meus pensamentos foram para aqueles que não tinham nem uma coisa, nem outra: os judeus e outros prisioneiros que outrora povoaram o campo. Eu pensei naqueles prisioneiros a passar horas em pé, nus, num clima gelado, arrancados às suas famílias, os seus cabelos rapados enquanto os preparavam para as câmaras de gás. Pensei naqueles que foram mantidos vivos apenas para trabalhar até a morte. Acima de tudo, reflecti sobre quão insondável o Holocausto permanece até hoje. A crueldade foi tão profunda, a escala tão grande, a visão de mundo nazi tão deformada e extrema, a mortandade conduzida de uma forma tão organizada e calculada. (...)
Marian Turski, um judeu polaco que sobreviveu a Auschwitz e é hoje o vice-presidente do Comité Internacional de Auschwitz, guiou-me através do infame portão com o lema "Arbeit Macht Frei" (O trabalho liberta) – desta vez em liberdade. O Rabino Yisrael Meir Lau, um sobrevivente de Buchenwald e agora o rabino-chefe de Telavive, esteve ao meu lado na rampa onde os comboios de transporte descarregavam a sua carga humana, e contou o momento traumático quando o rápido movimento do dedo indicador de um comandante das SS significava a diferença entre a vida e a morte. Sinto pesar por aqueles que morreram nos campos, e estou impressionado com aqueles que viveram – que carregam memórias tristes, mas também mostraram a força do espírito humano. (...)
Ao longo de quase uma década, o Programa de Informação “Nações Unidas e o Holocausto” tem vindo a trabalhar com professores e alunos de todos os continentes para promover a tolerância e os valores universais. O mais recente pacote educacional do programa, produzido em parceria com o Museu Memorial do Holocausto nos Estados Unidos, vai ajudar a introduzir estudos sobre o Holocausto nas salas de aula de países como o Brasil, a Nigéria, a Rússia e o Japão. Na cerimónia de comemoração deste ano na sede da ONU, o orador principal será Steven Spielberg, cujo Instituto Shoah para a História Visual e a Educação foi um marco na preservação dos testemunhos de sobreviventes.»

Secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, no Público, 26-01-2014, link.

Anne Frank é mais um registo das vítimas do holocausto.  Casa de Anne Frank (fotografia minha), Amesterdão

O que se podia ver do anexo da fábrica* link



19/01/2014

"O caso português"


Myra Landau, intitulado por mim: Elo partido

Porque sou portuguesa e me entristece o meu país, não podia deixar de publicar um trecho de Luís Raposo que saiu no Público.

«Em Novembro de 2013 foi dado a conhecer um Eurobarómetro referente aos hábitos culturais dos europeus especialmente devastador para o caso português. Quando se pergunta pela frequência de diferentes recursos culturais no último ano, verifica-se que a nossa melhor posição relativa (lugar 22 em 27) é a na assistência a programas culturais de TV e rádio; inversamente, no livro, no teatro e na dança/ópera, situamo-nos em último lugar; nos restantes domínios, estamos em penúltimo (cinema, monumentos e museus) ou antepenúltimo (bibliotecas).
(...) 
Os níveis de educação escolar são ainda mais relevantes no que respeita à visita a museus (porventura também à dança/ópera e muito menos ao cinema, livro, TV/rádio e monumentos).(...) Chegados aqui, voltamos, porém, ao princípio, ou seja, à situação em que nos encontramos nesta “ocidental praia lusitana”, onde não definhamos apenas por falta de dinheiro, mas também (ou sobretudo) por carência de política e de cidadania. Onde a moléstia atingiu tal dimensão que, nesta “triste e leda madrugada”, políticos, gestores e agentes culturais todos nos refugiamos em lugares de recuo e sobrevivemos apenas na nossa vidinha diária, tentando encontrar nela nichos de pequena felicidade. Onde, mais do que lutar, parece que desistimos também de pensar.»

Presidente do ICOM Portugal; membro da direcção do ICOM Europa
Luís Raposo, Público, 17-01-2014
Artigo 

27/11/2013

Sinal vermelho

A economia deve ser gerida pelo Direito e a política pela ética
Ramalho Eanes, 25-11-2013.

Sinal vermelho para os nossos governantes (Lisboa, 2012)

O fado de ser português...

Traça a reta e a curva

Traça a reta e a curva, 
a quebrada e a sinuosa
Tudo é preciso. De tudo viverás.

Cuida com exatidão da perpendicular
e das paralelas perfeitas.
Com apurado rigor.
Sem esquadro, sem nível, sem fio de prumo,
traçarás perspectivas, projetarás estruturas.
Número, ritmo, distância, dimensão.
Tens os teus olhos, o teu pulso, a tua memória.

Construirás os labirintos impermanentes
que sucessivamente habitarás.

Todos os dias estarás refazendo o teu desenho.
Não te fatigues logo. Tens trabalho para toda a vida.
E nem para o teu sepulcro terás a medida certa.

Somos sempre um pouco menos do que pensávamos.
Raramente, um pouco mais.

Cecília Meireles in Poesia Brasileira do Século XX, Dos Modernistas à Actualidade
(seleção, introdução e notas Jorge Henrique Bastos). Lisboa: Antígona [daqui]

Uma versão do Lamento de Dido [Purcell]

31/10/2013

"Uma lágrima solta nos olhos da pedra"

Na base da Janela do Convento de Cristo,Tomar

Quando a estátua deixou de ser estátua
 eu vi uma lágrima solta nos olhos da pedra.

 Eufrázio Filipe do Mar Arável
[A quem peço desculpa por ter surripiado]

Um poema de Eufrázio Filipe que ligo à notícia da partida de inúmeros jovens do nosso país. Pesa na alma, dói no coração.
Joana Vasconcelos no Palácio da Ajuda


10/10/2013

Felicidade (?)

No século XXI subsiste a falta de liberdade e de auto-determinação...          Peter Burke, Register, 2003, Buda Parque 

 «Polícias chineses alegadamente abriram fogo sobre manifestantes no Tibete, causando 60 feridos, anunciaram hoje organizações não-governamentais que denunciam uma repressão contra os tibetanos na região. Os manifestantes estavam concentrados no domingo no distrito de Biru para exigir a libertação de um homem detido por alegadamente se ter recusado a içar a bandeira da China, indicou a organização Free Tibet. "As forças de segurança começaram a bater nos tibetanos, causando feridos, depois recorreram a gás lacrimogéneo e dispararam cegamente no meio da multidão", acrescentou a mesma organização sedeada no Reino Unido». 
Destak, 9-10-2013 (on-line)







Acredito que o objetivo da nossa vida seja a busca da felicidade.
 Isso está claro. Quer se acredite em religião ou não, 
quer se acredite nesta religião ou naquela, 
todos nós buscamos algo melhor na vida. 
Portanto, acho que a motivação da nossa vida é a felicidade.

Dalai Lama -Tenzo Gyatso,  A Arte da Felicidade (citador)


 

03/10/2013

O vazio político

Mapa da Península Ibérica numa bandeja atribuída a Wenzel Jamnitzer, c. 1553, Rijksmuseum *

A abstenção, o voto em branco e o voto nulo, três formas de actuação que acentuam o vazio que a política tem cultivado nos últimos tempos.
A aridez das ideias e das soluções encontradas para fazer face à crise anunciam a descrença na governação e no arquétipo do político português.

Um cansaço interiorizado, um despegar da cidadania, um mar revolto sem rumo.
Portugal é um penhasco sem farol.
Os argonautas partem sem vontade de regressar.
Um dia,  talvez se volte a dar valor à polis e a retórica se torne numa linguagem corrente. Sim, talvez os cidadãos regressem e participem no governo da "cidade".

A oligarquia banqueira em que vivemos acabará por definhar quando a palavra humanidade triunfar. Então o liberalismo selvático terá os dias contados. Não chegaremos à Cidade do Sol mas a iluminação chegará para alimentar os homens bons e trazer de novo sentido à palavra democracia.

A ampulheta, no rotativismo que lhe é próprio, fará com que os regimes se renovem.

*



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