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05/01/2019

Saudades...

Saudades dos passeios pelos canais..., Amesterdão





...e as algas como molhados cabelos empastando o rosto morto das águas.
Um som suave de rio largo, uma indecisa frescura aquática, uma saudade audível, oculta, um amarelo morto de movimento.

Leves, leves as sombras calmas.

A noite era cheia daquelas pequenas nuvens muito brancas, que se destacam umas das outras. Vista através de uma ou outra delas, a Lua tinha em seu torno um halo azul, castanho e amarelo, com uns tons supostos de verde-vivo. Entre as árvores o céu era dum azul-negro profundíssimo, longínquo, irrevogável. As estrelas viam-se ora através das nuvens, ora, muito longe, mas entre elas. Uma saudade de coisas idas, de grandes passados da alma, talvez porque em reencarnações antigas, olhos nossos, no corpo físico, houvesse visto, este luar sobre florestas longínquas, quando selvática ainda, a alma infanta talvez pressentia, por uma memória em Deus ao contrário, no futuro das suas reencarnações, esta lua retrospectiva. E assim essas duas luas davam mãos de sombra por sobre a minha cabeça abatida.
s.d.



Bernardo Soares, Livro do Desassossego. Vol.I, (Organização e fixação de inéditos de Teresa Sobral Cunha.) Coimbra: Presença, 1990, p. 82.



22/07/2017

"estúpido do jardim"





CASCATA

A criança sabe que a boneca não é real, e trata-a como real até chorá-la e se desgostar quando se parte. A arte da criança é a de irrealizar. Bendita essa idade errada da vida, quando se nega a vida por não haver sexo, quando se nega a realidade por brincar, tomando por reais a coisas que o não são!
Que eu seja volvido criança e o fique sempre, sem que me importem os valores que os homens dão às coisas nem as relações que os homens estabelecem entre elas. Eu, quando era pequeno, punha muitas vezes os soldados de chumbo de pernas para o ar... E há argumento algum, com jeitos lógicos para convencer, que me prove que os soldados reais não devem andar de cabeça para baixo?
A criança não dá mais valor ao ouro do que ao vidro. E na verdade, o ouro vale mais? — A criança acha obscuramente absurdos as paixões, as raivas, os receios que vê esculpidos em gestos adultos. E não são na verdade absurdos e vãos todos os nossos receios, e todos os nossos ódios, e todos os nossos amores?
Ó divina e absurda intuição infantil! Visão verdade das coisas, que nós vestimos de convenções no mais nu vê-las, que nos embrumamos de ideias nossas no mais directo olhá-las!
Será Deus uma criança muito grande? O universo inteiro não parece uma brincadeira, uma partida de criança travessa? Tão irreal, tão (...), tão (...)
Lancei-vos, rindo, esta ideia ao ar e vede como ao vê-la distante de mim de repente vejo o que de horrorosa ela é (Quem sabe se ela não contém a verdade?) E ela cai e quebra-se-me aos pés, em pó de horror e estilhaços de angústia...
Acordo para saber que existo...
Um grande tédio incerto gorgoleja erradamente fresco ao ouvido, pelas cascatas, cortiçada abaixo, lá ao fundo estúpido do jardim.

s.d

Bernardo Soares, Livro do Desassossego.  (Recolha e transcrição dos textos de Maria Aliete Galhoz e Teresa Sobral Cunha. Prefácio e Organização de Jacinto do Prado Coelho.) Lisboa: Ática, 1982, Vol.II. p. 441.


26/06/2015

Leque-objecto-livros- Verão

Aí está o Verão e sabe bem refrescarmos-nos
com leques para regalar a vista.

D. Quixote e Sancho Pança, Centro de Interpretação de Cervantes, Alcalá de Henares


Gatos na KattenKabinet -espólio/colecção de Bob Meijer e do gato John Pierpont Morgan, Amesterdão, um museu que adorei, LINK. Voltarei a falar nele um dia destes.
Sobre o museu ler aqui



E para refrescar a alma:
leque de livros


Fotografia melhorada (**)
Havia um menino

Havia um menino
que tinha um chapéu
para pôr na cabeça                                         
por causa do sol.

Em vez de um gatinho
tinha um caracol.
Tinha o caracol
dentro de um chapéu;
fazia-lhe cócegas
no alto da cabeça.


Por isso ele andava
depressa, depressa
pra ver se chegava
a casa e tirava
o tal caracol
do chapéu, saindo
de lá e caindo
o tal caracol.


Mas era, afinal,
impossível tal,
nem fazia mal
nem vê-lo, nem tê-lo:
porque o caracol
era do cabelo.

*Dedicado ao sobrinho Luís Miguel - o Bébé - que não queria pôr o chapéu " por causa do sol".

Manuela Nogueira, O Meu Tio Fernando Pessoa, V. N. Famalicão: Editora Centro Atlântico, 2015, p. 70 e (**) p. 81.

O Meu Tio Fernando é uma reedição, renovada e acrescentada, de um livro que não comprei: O Melhor Mundo São as Crianças, da mesma autora editado pela Assírio e Alvim. Gostei do formato do livro, gostei da capa, julgo que é uma fotografia de Fernando Pessoa muito trabalhada, dado que o menino aparece a preto e branco na contracapa, mostrando apenas meio corpo.
É lamentável a falta de informação sobre a imagem apenas refere que o design da capa é de António J. Pedro. 

Em especial para a Sandra . :)) Cortesia do Youtube

01/04/2015

Leituras, livros e anotações

Acabei de ler "O Miniaturista" de Jessie Burton. O livro teve o condão de me cativar e surpreender. Não apreciei a tradução; contudo a história é tão interessante que se esquece esse pormenor.
O miniaturista, Editorial Presença, Jessie Burton














O ambiente narrado reporta-se ao século XVII, localiza-se em Amesterdão e gravita à volta de uma família de mercadores. As personagens são ricas, intensas, ... barrocas. As mulheres têm um papel preponderante.

A casa de bonecas, de Petronella Oortman que está no Rijksmuseum é o ponto fulcral da narrativa.
O início da história levou-me a realizar um projecto: construir uma casa de bonecas. Comecei esse hobbie no pouco tempo que disponho para lazer. Em tempo próprio exporei essa minha prosápia. 
Confesso que o livro me afectou que as circunstâncias narradas expondo a alma humana me entristeceram. Todavia, uma certeza ficou: é que as mulheres - a quem no século XVII não se reconhece poder - são dotadas de uma força que lhes dá poder. A ficção está bem concretizada e os ambientes retratados estão documentados.

Amesterdão, Passeei pelas ruas da cidade, agora através do livro.


As fotografias do livro são cortesia do google. As outras são minhas.

Na minha visita ao Rijksmuseum encontrei a casa de bonecas.

Anónimo c. 1686-c.1710, Casa de Bonecas de Petronella Oortman, Rijksmuseum



Jacob Appel, Casa de Bonecas de Petronella Oortman, 1710, Rijksmuseum


«A vida dela tem de ser o que ela fizer dela»
Jessie Burton, O Miniaturista. (Trad.Catarina F. Almeida). Lisboa: Editorial Presença, 2014, p. 394.


12/02/2015

Poème pour un enfant lointain

Para as crianças da Ucrânia


Poème pour un enfant lointain

Tu peux jouer au caillou :
Il suffit de ne pas bouger,
Très longtemps, très longtemps.

Tu peux jouer à l’hirondelle,
Il suffit d’ouvrir les bras
Et de sauter très haut, très haut.

Tu peux jouer à l’étoile :
Il suffit de fermer l’œil,
Puis de le rouvrir,
Beaucoup de fois, beaucoup de fois.

Tu peux jouer à la rivière :
Il suffit de pleurer,
Pas très fort, pas très fort.

Tu peux jouer à l’arbre :
Il suffit de porter quelques fleurs,
Qui sentent bon, qui sentent bon.

Alain Bosquet

Anatole Bisk, também conhecido por Alain Bosquet , nasceu em  Odessa  (Ucrânia ), a 28 de Março de 1919 e morreu em Paris a 8 de Março de 1998. Viveu em Bruxelas e obteve a cidadania francesa em 1980 (Wikipedia)


22/11/2014

Oito rostos ou o efeito espelho

Oito rostos ou o efeito espelho
Vermeer revisitado

AO ESPELHO

Por que persistes, incessante espelho?
Por que repetes, misterioso irmão,
O menor movimento de minha mão?
Por que na sombra o súbito reflexo?
És o outro eu sobre o qual fala o grego
E desde sempre espreitas. Na brunidura
Da água incerta ou do cristal que dura
Me buscas e é inútil estar cego.
O facto de não te ver e saber-te
Te agrega horror, coisa de magia que ousas
Multiplicar a cifra dessas coisas
Que somos e que abarcam nossa sorte.
Quando eu estiver morto, copiarás outro
e depois outro, e outro, e outro, e outro...

Jorge Luís Borges,  "O ouro dos tigres" in Obras Completas 1952-1972. Lisboa: Teorema, 1998, p. 517.


18/10/2014

Táctica y estrategia

Guerra é a pior invenção do Homem. 

Avião no
Xadrez Nazi, II Guerra Mundial, c. 1940, 
Rijksmuseum, Amesterdão


Táctica y estrategia

Mi táctica es 
mirarte 
aprender como sos 
quererte como sos 

mi táctica es 
hablarte 
y escucharte 
construir con palabras 
un puente indestructible 

mi táctica es 
quedarme en tu recuerdo 
no sé cómo ni sé 
con qué pretexto 
pero quedarme en vos 

mi táctica es 
ser franco 
y saber que sos franca 
y que no nos vendamos 
simulacros 
para que entre los dos 
no haya telón 
ni abismos 

mi estrategia es 
en cambio 
más profunda y más 
simple 

mi estrategia es 
que un día cualquiera 
no sé cómo ni sé 
con qué pretexto 
por fin me necesites.

 Mario Benedetti, El Amor, Las Mujeres y la Vida. Buenos Aires: Ediciones La Cueva, s.d. p.83-84.

Para o Manuel [Talvez assim se apazigue um pouco com Wagner]

27/01/2014

27 de Janeiro, em memória das vítimas do holocausto

Vidas partidas... laços desfeitos... uma visita em memória...                                      
«(...) Eu visitei Auschwitz-Birkenau em Novembro passado. Um vento frio soprava naquele dia, o chão sob os meus pés era rochoso. Mas eu tinha um sobretudo e sapatos resistentes; os meus pensamentos foram para aqueles que não tinham nem uma coisa, nem outra: os judeus e outros prisioneiros que outrora povoaram o campo. Eu pensei naqueles prisioneiros a passar horas em pé, nus, num clima gelado, arrancados às suas famílias, os seus cabelos rapados enquanto os preparavam para as câmaras de gás. Pensei naqueles que foram mantidos vivos apenas para trabalhar até a morte. Acima de tudo, reflecti sobre quão insondável o Holocausto permanece até hoje. A crueldade foi tão profunda, a escala tão grande, a visão de mundo nazi tão deformada e extrema, a mortandade conduzida de uma forma tão organizada e calculada. (...)
Marian Turski, um judeu polaco que sobreviveu a Auschwitz e é hoje o vice-presidente do Comité Internacional de Auschwitz, guiou-me através do infame portão com o lema "Arbeit Macht Frei" (O trabalho liberta) – desta vez em liberdade. O Rabino Yisrael Meir Lau, um sobrevivente de Buchenwald e agora o rabino-chefe de Telavive, esteve ao meu lado na rampa onde os comboios de transporte descarregavam a sua carga humana, e contou o momento traumático quando o rápido movimento do dedo indicador de um comandante das SS significava a diferença entre a vida e a morte. Sinto pesar por aqueles que morreram nos campos, e estou impressionado com aqueles que viveram – que carregam memórias tristes, mas também mostraram a força do espírito humano. (...)
Ao longo de quase uma década, o Programa de Informação “Nações Unidas e o Holocausto” tem vindo a trabalhar com professores e alunos de todos os continentes para promover a tolerância e os valores universais. O mais recente pacote educacional do programa, produzido em parceria com o Museu Memorial do Holocausto nos Estados Unidos, vai ajudar a introduzir estudos sobre o Holocausto nas salas de aula de países como o Brasil, a Nigéria, a Rússia e o Japão. Na cerimónia de comemoração deste ano na sede da ONU, o orador principal será Steven Spielberg, cujo Instituto Shoah para a História Visual e a Educação foi um marco na preservação dos testemunhos de sobreviventes.»

Secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, no Público, 26-01-2014, link.

Anne Frank é mais um registo das vítimas do holocausto.  Casa de Anne Frank (fotografia minha), Amesterdão

O que se podia ver do anexo da fábrica* link



25/09/2013

"My open Window"

De dentro para fora como se a janela fosse minha, Hermitage Museum, Amesterdão


blue morning glory
head bent in contemplation
of the coming dawn

***

this hazy morning
the rooster looks puzzled at
my open window

Eduardo Ribeiro, Among the wasps silence, twelve dozen haiku by a portuguese bum, p. 8 e 12.


19/09/2013

Ponte - "Detive-me na ponte..."

Aprecio sobremaneira a poesia de Mário de Sá-Carneiro, o que nele há de nostálgico, solitário e triste. Um inadaptado? ... Não o seremos todos num ou noutro momento? 
Nos canais, em Amesterdão, a nostalgia esvai-se talvez por causa dos reflexos e da cantoria da água.

Ponte sobre o canal, Amesterdão


Ângulo

Aonde irei neste sem-fim perdido,
Neste mar ôco de certezas mortas? -
Fingidas, afinal, todas as portas
Que no dique julguei ter construido...

- Barcaças dos meus impetos tigrados,
Que oceano vos dormiram de Segrêdo?
Partiste-vos, transportes encantados,
De embate, em alma ao rôxo, a que rochêdo?...

- Ó nau de festa, ó ruiva de aventura
Onde, em Champanhe, a minha ânsia ia,
Quebraste-vos também ou, por ventura,
Fundeaste a Ouro em portos d'alquimia?...

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Chegaram à baía os galeões
Com as sete Princesas que morreram.
Regatas de luar não se correram...
As bandeiras velaram-se, orações...

Detive-me na ponte, debruçado,
Mas a ponte era falsa - e derradeira.
Segui no cais. O cais era abaulado,
Cais fingido sem mar á sua beira...

- Por sôbre o que Eu não sou há grandes pontes
Que um outro, só metade, quer passar
Em miragens de falsos horizontes -
Um outro que eu não posso acorrentar...

Barcelona, setembro de 1914


Mário de Sá-Carneiro, in Indícios de Oiro


«Performed in Stockholm Opera House with Royal Swedish Ballet in 2009».
Coreografia de Juan Ignacio Duato Bárcia, conhecido por Nacho Duato. O coreógrafo nasceu em Valência a 8 de Janeiro de 1957. Gentileza do Youtube.

15/09/2013

"Fiz um conto para me embalar"

Flores para a Cláudia e 
para a Natália Correia


Fiz um conto para me embalar

Fiz com as fadas uma aliança.
A deste conto nunca contar.
Mas como ainda sou criança
Quero a mim própria embalar.

Estavam na praia três donzelas
Como três laranjas num pomar.
Nenhuma sabia para qual delas
Cantava o príncipe do mar.                                                              
Rosas fatais, as três donzelas                                                            
A mão de espuma as desfolhou.
Nenhum soube para qual delas
O príncipe do mar cantou.                                                                         Detalhe*
         
Um poema da Natália Correia que trouxe da Livraria Lumière. Obrigada Cláudia pela beleza do poema.

*Natureza-Morta: Flores com Relógio de Bolso, de Willem van Aenlst, 1663, Rijksmuseum   



13/09/2013

Noivado

A João Mattos e Silva e muitos anos de poesia (11 de setembro).
Amesterdão


NOIVADO

Estão de branco as salinas
e noivam assim puras
com a terra.
O mar na despedida
da emoção
tece de espuma grinaldas
deixadas por pudor
sobre as areias.


João Mattos e Silva, Intemporal, Antologia. Lisboa: Universitária Editora, p. 110.

 

07/09/2013

Auto-retrato inventado - "Cansaço"

[Peguei num pincel imaginário e esbocei um auto-retrato.] 

Karel Appel, Homem entre Animais, 1949, Stedelijk Museum, Amesterdão


[O pássaro é o elemento primordial,]


[no conjunto entre os seres vivos...]


Cansaço

O que há em mim é sobretudo cansaço —
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas —
Essas e o que falta nelas eternamente —;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada —
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimno, íssimo, íssimo,
Cansaço...

Álvaro de Campos, in "Poemas" (cortesia de Citador)

04/09/2013

Olhares diversos e uma câmara, "Claro"

Amesterdão: uma cidade livre. 

Olhares diversos e uma câmara no Museumplein, numa manifestação contra Putin: "Putin, Putout"


CLARO

Claro que o moço na duna teve de notar
que eu o olhava intensamente.
Claro que depois passou perto de mim
com muitos movimentos dispensáveis
mesmo fazendo como quem diz que não me via.
Claro que começou um ballet de primavera
com um miúdo amigo e uma bola,
claro que se fartou, em jeito demasiado à menina,
de passar a mão pelos longuíssimos cabelos
e olhou por cima do ombro ao fazê-lo,
dentes brilhando num rosto escuro.
Claro que mais tarde se deitou
mastigando indolente um pé de erva
naquele tocante calção de banho desbotado
sozinho numa quente concavidade da duna.
Claro que me afastei sem barulho e despercebido
e claro que passo o dia a arrepender-me disto.

1921

Hans Warren in Uma Migalha na Saia do Universo, Antologia da Poesia Neerlandesa no Século Vinte. Lisboa: Assírio e Alvim, 1997, p. 87. (Tradução de Fernando Venâncio).

E mais uma vez colocado ...

03/09/2013

O barco...

              Amesterdão Canal de Prisengracht                                         O BARCO EM QUE SE DEVE

deixar baloiçar
 um homem. Uma mulher

em que se pensa, em que o homem pensa,

até ao último momento, talvez.
Devemos então fechar os olhos
para ver como, mar calmo,
e vista clara, o barco uma vez
após outra, cada vez mais penetrante,
alcança o mesmo promontório.

Hans Faverey (1933-1990) in Uma Migalha na Saia do Universo, Antologia da Poesia Neerlandesa no Século Vinte. Lisboa: Assírio e Alvim, 1997, p.107. (Tradução de Fernando Venâncio) 

01/09/2013

Anne Frank - "Chegará a hora em que seremos gente de novo"

"Algum dia essa guerra terrível vai terminar. Chegará a hora em que seremos gente de novo, e não somente judeus" (11 de abril 1944)*

É com as palavras de Anne que foco a visita à Casa de Anne Frank, em Amesterdão, mais propriamente ao esconderijo no escritório e fábrica do pai, após a ocupação Nazi. Um momento que considero pesado mas necessário, nele estiveram presentes emoções recordadas da leitura do Diário na minha adolescência. O holocausto através das memórias de uma menina e duma família. Uma visita inesquecível perpetuando os horrores e desumanidades para que o passado não se repita. 

Na fotografia pode ver-se a escultura de bronze de Anne Frank de Mari S. Andriessen, no Westermarkt, próximo da Casa Anne Frank. Não consegui ter a escultura só para mim, apesar de ter esperado por um momento solitário. As crianças que por ali passavam juntavam-se em torno da Anne de bronze, acabei por achar que até fazia sentido tê-las todas juntas.

"Ainda passo muitas manhãs de domingo a folhear e a olhar a minha coleção de astros do cinema, que está com um tamanho respeitável"
(28 de janeiro de 1944)

"Não poder sair deixa-me mais chateada do que posso dizer, e sinto-me aterrorizada com a possibilidade do nosso esconderijo ser descoberto e sermos mortos a tiros".
(28 de Setembro de 1942)

Trechos do Diário de Anne Frank retirados do livro Casa Anne Frank, Um Museu com História. Amesterdão:Casa Anne Frank, 2012, p. 118 e 119.(Tradução de Eliana Stella). * No prefácio do livro citado.

Anne Frank Huis, Prisengracht nº 263

Uma flor que encontrei em Amesterdão para Anne

DEDICO esta postagem em especial a Myra Landau que viveu em Amesterdão e conheceu esta triste realidade.

29/08/2013

Túlipa (s) - Impressões


Museu da Túlipa, 
Prinsengracht, 116, Amesterdão 


O latim é a essência, o francês, o pensamento, o espanhol, o fogo, o italiano o ar (claro que usei a palavra éter), o catalão a terra e o português a água.


Cees Nooteboom*, A História Seguinte. Lisboa: Quetzal, 1991, p. 39.

* Escritor holandês

A túlipa na arte, reprodução de Flora, de Rembrandt, no Museu da Túlipa
 Saskia a jovem mulher de Rembrandt representada como Flora


Rembrandt Harmensz van Rijn,, Flora, Hermitage, São Petersburgo 
Imagem retirada da Wiki Commons 
File:Flora 1634 Rembrandt.jpg

Como evitar apaixonarmo-nos por um povo cuja tulipomania levou à falência algumas casas ricas no século XVII?

Amesterdão é uma cidade interessante, livre, das mais livres que conheço. Os seus canais, a melodia da água, as flores, a corrida vertiginosa das bicicletas, o sorriso das pessoas e a jovialidade crescente que encontramos nas ruas encantam.

Hoje trago túlipas para todos como sinal de regresso (breve, pois voltarei com esta história).
Renovo o meu agradecimento à Sandra do blogue Presépio Com Vista para o Canal pelos apontamentos sobre a cidade.

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