31/10/2013

"Uma lágrima solta nos olhos da pedra"

Na base da Janela do Convento de Cristo,Tomar

Quando a estátua deixou de ser estátua
 eu vi uma lágrima solta nos olhos da pedra.

 Eufrázio Filipe do Mar Arável
[A quem peço desculpa por ter surripiado]

Um poema de Eufrázio Filipe que ligo à notícia da partida de inúmeros jovens do nosso país. Pesa na alma, dói no coração.
Joana Vasconcelos no Palácio da Ajuda


29/10/2013

Alma

Eu queria...
[Agradecendo a todos que passam e a quem não tenho visitado]


Rob Shouten in Uma Migalha na Saia do Universo, Antologia da Poesia Neerlandesa no Século Vinte. Lisboa: Assírio e Alvim, 1997, p. 135. (Tradução de Fernando Venâncio)


Lou Reed de quem era fã.
Uma das suas músicas em reposição numa versão peculiar com Jools Holland (2003)
[Hoje não foi assim]

25/10/2013

quadrados de luz

SILÊNCIO                                                                                                         quadrados de luz

Não interrogues. E não digas
também
segredos ao ouvido.
O próprio silêncio
é às vezes indiscreto.

Albano Martins, Assim são as Algas, poesia 1950-2000.Porto: Campo das Letras, 2000, p. 405. 
Museum Amstelkring (Igreja Nosso Senhor no Sótão)
 Oudezijds Voorburgwal 40, Amesterdão


23/10/2013

Acasos felizes

Acasos felizes. 

O mar que separa também une.
Um pássaro metálico trouxe duas amigas.
A mesa cheia de livros na companhia
de bacalhau pão e vinho,
foram o bastante para brindar:
- à amizade,
- à cumplicidade,
- à feminilidade,
- à inteligência.
A sensibilidade, o riso e o bom gosto revelaram a partilha.


Café no Campo Grande [Aliados, Café Guarany] 

A árvore acompanhada
o automóvel com gente 
na almofada.

Olha pela vidraça
toma café
música e a chuva
que cai na praça.

Está como o café
dentro da chávena das coisas.

Borges Coelho, Ponte Submersa. Lisboa: Livros Horizonte, 1969, p. 18.

Café Guarany (acrescentado às  16:40h)




Na Livraria Lumière os risos luso-brasileiros continuaram. :))
À Alexandra, Cláudia, Elisa, e Márcia (Cozinha dos Vurdóns/ AMSK) agradeço:
***as gentilezas e o carinho***.



E porque tivemos que partir

21/10/2013

Leonardo da Vinci: alguns apontamentos

Imagem da capa interior e da primeira página do livro Notas de Cozinha de Leonardo da Vinci de Shelagh e Jonathan Routh, apresentado na Academia de Ciências de Lisboa.
Alguns dos projetos para dobrar guardanapos (ler a legenda no rodapé da imagem)


O livro é maravilhoso apesar de não se ter a certeza das notas e dos desenhos serem de Leonardo da Vinci ( Codex Romanoff) há quem defenda a probabilidade de o terem sido. Advogam essa tese os autores do livro e o presidente do Circolo Enogastronomico d'Italia que apresenta as suas razões na introdução do mesmo. Seja ou não seja, o facto é que os desenhos são fantásticos e parecem da lavra de Leonardo. A edição portuguesa é de 2013.

Uma fantasia que me encanta por muitas razões como me encanta Leonardo da Vinci.

18/10/2013

Dor

[Da fome da "gente da minha terra" 
... testemunho de uma mãe: "não tenho um mimo para lhe dar".]

David Oliveira, uma das esculturas integradas na exposição Corpo Habitado. Galeria 111, Lisboa
Intitulei-a dor.

Dor

Passa-se um dia e outro dia 
À espera que passe a Dor, 
E a Dor não passa, e porfia, 
Porque trás dia, outro dia 
Que traz Dor inda maior; 

Porque embora a Dor aflita 
Calasse há muito seus ais, 
Ainda, fundo, palpita 
Uma outra Dor que não grita: 
A Dor do que não dói mais. 

Francisco Bugalho, in "Dispersos e Inéditos"
(Citador)

16/10/2013

Para a Maria João

"É um pássaro..."   
À Maria João muitos parabéns e o desejo de um dia feliz.

Uma mulher que admiro e que voa como um falcão. A vida é uma prova constante e a Maria João passou em todas as provas. De Roma o seu (nosso) Botticelli.

Sandro Botticelli, detalhe do fresco da Capela Sistina sobre
 a Prova de Moisés. As filhas de Jetro, 1481-82


DESPERTAR

É um pássaro, é uma rosa,
é o mar que me acorda?
Pássaro ou rosa ou mar,
tudo é ardor, tudo é amor.
Acordar é ser rosa na rosa, 
canto na ave, água no mar.

Eugénio de Andrade in Até Amanhã 
(Banco de poesia Casa Fernando Pessoa)

Imagem Daqui



 detalhe da Madonna del Libro, c.1583, Sandro Botticelli,
Museo Podi Pezzoli, Milão 
(wikimedia Commons)



15/10/2013

"Sagesse"


Tactear a câmara


Bien penser: la qualité supême.
Et la sagesse: dire le vrai et agir suivant la nature, à l'écoute.

Heráclito, in André Comte-Sponville,
"Carnets de Philosophie", Pensées sur la Sagesse. Paris: Albin Michel, 2000, p. 18.








Uma reposição do bailado, com o tema Cold Song, da ópera Rei Artur de Henry Purcell.
Voz de Klaus Nomi

12/10/2013

Arte na rua

Seguindo o mote do João Menéres, do Grifo Planante, juntei às suas escadas coloridas aquilo a que chamei arte na rua em prol da fotografia.

A arte na rua (canoas no Museu do Design), Rua Augusta, Lisboa


Maravilhoso este trio pleno de cor vibrante. 
ária da opereta: O País do Sorriso (1929) de Franz Lehár


You are my heart's delight,
And where you are, I long to be
You make my darkness bright,
When like a star you shine on me
Shine, then, my whole life through
Your life divine bids me hope anew
That dreams of mine may at last come true
And I shall hear you whisper,
"I love you."

In dreams when night is falling
I seem to hear you calling
For you have cast a net around me
And 'neath a magic spell hath bound me
Yours, yours alone
A wondrous air is your beautiful hair
Bright as a summer sky
is the night in your eyes
Soft as a sparkling star
is the warmth of my love.

You are my heart's delight,
And where you are, I long to be
You make my darkness bright,
When like a star you shine on me
Shine, then, my whole life through
Your life divine bids me hope anew
That dreams of mine may at last come true
And I shall hear you whisper,
"I love you."

(Daqui)

10/10/2013

Felicidade (?)

No século XXI subsiste a falta de liberdade e de auto-determinação...          Peter Burke, Register, 2003, Buda Parque 

 «Polícias chineses alegadamente abriram fogo sobre manifestantes no Tibete, causando 60 feridos, anunciaram hoje organizações não-governamentais que denunciam uma repressão contra os tibetanos na região. Os manifestantes estavam concentrados no domingo no distrito de Biru para exigir a libertação de um homem detido por alegadamente se ter recusado a içar a bandeira da China, indicou a organização Free Tibet. "As forças de segurança começaram a bater nos tibetanos, causando feridos, depois recorreram a gás lacrimogéneo e dispararam cegamente no meio da multidão", acrescentou a mesma organização sedeada no Reino Unido». 
Destak, 9-10-2013 (on-line)







Acredito que o objetivo da nossa vida seja a busca da felicidade.
 Isso está claro. Quer se acredite em religião ou não, 
quer se acredite nesta religião ou naquela, 
todos nós buscamos algo melhor na vida. 
Portanto, acho que a motivação da nossa vida é a felicidade.

Dalai Lama -Tenzo Gyatso,  A Arte da Felicidade (citador)


 

08/10/2013

Grafismos orientais - Myra e Breitner. "Refugia-te na Arte"

A Arte é uma forma de nos deslumbrarmos e de fazermos a catarse do mundo em que vivemos.
Não é uma fuga mas antes uma defesa. Podem esvaziar-nos e assaltar-nos mas não podem despejar a nossa mente. Essa é propriedade individual e inalienável. 
Da mente cuidem-se os políticos...

George Hendrik Breitner (1857-1923), detalhe, Rapariga com o Kimono Branco, 1894


Myra Landau (do blog Parole), Grafismos [intitulado por mim]


O Que Alguém Disse

"Refugia-te na Arte" diz-me Alguém 
"Eleva-te num vôo espiritual, 
Esquece o teu amor, ri do teu mal, 
Olhando-te a ti própria com desdém. 

Só é grande e perfeito o que nos vem 
Do que em nós é Divino e imortal! 
Cega de luz e tonta de ideal 
Busca em ti a Verdade e em mais ninguém!" 

No poente doirado como a chama 
Estas palavras morrem... E n'Aquele 
Que é triste, como eu, fico a pensar... 

O poente tem alma: sente e ama! 
E, porque o sol é cor dos olhos d'Ele, 
Eu fico olhando o sol, a soluçar... 

Florbela Espanca, in "Livro de Sóror Saudade" (Citador)


Grafismo - pintura japonesa

Um dos Kimonos que mais gostei no Rijksmuseum.
[não consegui obter mais informação no site do museu]


06/10/2013

Books and art

Os livros são uma paixão; a sua beleza, para lá do conteúdo que encerram, foi o motivo para me deliciar numa viagem - aos livros e a arte - em particular à pintura. Encontrei uma forma de não trabalhar, de não pegar no livro que ando a ler, de não ver um filme... Deu-me prazer e lembrei-me de uma amiga que passa muito tempo com os livros - a Cláudia da Livraria Lumière [um beijinho].

Rogier Van der Weiden,  detalhe do livro de orações, Maria Madalena a ler
(data provável 1435-38)


National Gallery, Londres [Wikipedia]

The true felicity of a lover of books is the luxurious turning of a page, the surrender, not meanly abject, but deliberate and cautious, with your wits about you, as you deliver yourself into the keeping of the book. This I call reading.
Edith Wharton (Daqui)

Quentin Massys (ou Metsys), detalhe do livro, Cambista e a sua mulher, 1415.


Louvre, Paris [Wikipedia]

Livros [cortesia do Google porque perdi o paradeiro do site].


Georgia Russel, Flores dentro de livros.

Finalmente uma biblioteca de onde podia ter tirado os livros representados.

Elizabeth Colomba, La bibliotheque, 2005. 
(E.C. nasceu e vive em França) Daqui

Já por aqui andou há uns tempos. 

05/10/2013

Moldura de pedra


BARCA BELA

Pescador da barca bela,
Onde vais pescar com ela,
Que é tão bela,
Ó pescador?

Não vês que a última estrela
No céu nublado se vela?
Colhe a vela,
Ó pescador!

Deita o lanço com cautela,
Que a sereia canta bela...
Mas cautela,
Ó pescador!

Não se enrede a rede nela,
Que perdido é remo e vela
Só de vê-la,
Ó pescador!

Pescador da barca bela,
Inda é tempo, foge dela,
Foge dela,
Ó pescador!

Almeida Garrett, Folhas Caídas. Lisboa: Portugália, 1955

Porque não me canso de ouvir... esta chuva.

03/10/2013

O vazio político

Mapa da Península Ibérica numa bandeja atribuída a Wenzel Jamnitzer, c. 1553, Rijksmuseum *

A abstenção, o voto em branco e o voto nulo, três formas de actuação que acentuam o vazio que a política tem cultivado nos últimos tempos.
A aridez das ideias e das soluções encontradas para fazer face à crise anunciam a descrença na governação e no arquétipo do político português.

Um cansaço interiorizado, um despegar da cidadania, um mar revolto sem rumo.
Portugal é um penhasco sem farol.
Os argonautas partem sem vontade de regressar.
Um dia,  talvez se volte a dar valor à polis e a retórica se torne numa linguagem corrente. Sim, talvez os cidadãos regressem e participem no governo da "cidade".

A oligarquia banqueira em que vivemos acabará por definhar quando a palavra humanidade triunfar. Então o liberalismo selvático terá os dias contados. Não chegaremos à Cidade do Sol mas a iluminação chegará para alimentar os homens bons e trazer de novo sentido à palavra democracia.

A ampulheta, no rotativismo que lhe é próprio, fará com que os regimes se renovem.

*



01/10/2013

Welcome


Há flores delicadas de aparência frágil mas cuja robustez extravasa o local onde são enraizadas. (Modificado às 13 horas)

Dia Mundial da Música com a Cavalleria Rusticana

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