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05/10/2013

Moldura de pedra


BARCA BELA

Pescador da barca bela,
Onde vais pescar com ela,
Que é tão bela,
Ó pescador?

Não vês que a última estrela
No céu nublado se vela?
Colhe a vela,
Ó pescador!

Deita o lanço com cautela,
Que a sereia canta bela...
Mas cautela,
Ó pescador!

Não se enrede a rede nela,
Que perdido é remo e vela
Só de vê-la,
Ó pescador!

Pescador da barca bela,
Inda é tempo, foge dela,
Foge dela,
Ó pescador!

Almeida Garrett, Folhas Caídas. Lisboa: Portugália, 1955

Porque não me canso de ouvir... esta chuva.

23/06/2013

Viagens...

Hieronymus Bosch, detalhe de O Jardim das Delícias,(1480-1505) painel central, Museu do Prado
(Wikipedia)*
File:Hieronymus Bosch - The Garden of Earthly Delights - Prado in Google Earth-x2-y1.jpg


Formou Deus o homem, e pôs num paraíso de delícias; tornou a formá-lo a sociedade, e o pôs num inferno de tolices.
O homem - não o homem que Deus fez, mas o homem que a sociedade tem contrafeito, apertando e forçando, em seus moldes de ferro, aquela pasta de limo que no paraíso terreal se afeiçoara  à imagem da divindade-, o homem, assim, aleijado como nós o conhecemos, é o animal mais absurdo, mais disparatado e incongruente que habita na Terra.

Almeida Garret, Viagens na Minha Terra. Circulo de Leitores, 1987, p. 123.

Detalhe do volante direito do Jardim das Delícias*
File:Hieronymus Bosch - The Garden of Earthly Delights - Prado in Google Earth-x4-y1.jpg

No blogue de Lídia Borges, Searas de Versos, li um trecho do livro de Saramago, A Viagem a Portugal.  A leitura levou-me a procurar o livro na Biblioteca Municipal. 
Eis que ao folheá-lo, na primeira página que antecede o índice, li a dedicatória:
A quem me abriu as portas e mostrou caminhos
- e também em lembrança de Almeida Garret,
mestre de viajantes.

Estando na biblioteca, logo procurei o livro de Garret que li há alguns anos. Numa leitura transversal deparei-me com o trecho que transcrevi. Olhei para o horizonte, para todos os que se deixam corromper quer na política, quer numa outra atividade, e faça-se jus a Garret que magistralmente descreve a natureza humana.
Não pude deixar de sorrir, ao olhar para trás, e aperceber-me que não dei a importância que as Viagens na Minha Terra merecem. O brilhantismo académico, o humanismo e a eloquência são apanágio do grande escritor.

Quanto a Saramago, a sua Viagem a Portugal prende a nossa atenção. Pegamos na mochila, na máquina fotográfica e cada momento retratado na escrita transforma-se em realidade. Não supera Garret, nem é essa a intenção, a singularidade de cada escritor marca a sua genialidade.

Pátio das Escolas, Universidade de Coimbra

Fotografia retirada da Wikipedia
File:Universitat de Coïmbra - Sala d'actes.JPG

Enfim, esta é a Universidade de Coimbra, donde muito terá vindo de Portugal, mas onde algum mal se preparou. O viajante não vai entrar, focará sem saber que jeito tem a Sala dos Actos Grandes e como é por dentro a Capela de São Miguel. O viajante às vezes é tímido. Vê-se ali, no Pátio das Escolas, rodeado de ciência por todos os lados, e não ousou ir bater às portas, pedir esmola de um silogismo ou um livre-transito para os Gerais. Junte-se  a esta cobardia a convicção profunda eem que está o viajante de que a universidade não é Coimbra, e perceber-se-á por que a este Pátio das Escolas se limita a dar a volta, sem gosto pelas estátuas da Justiça e  daFortaleza que o Laprade armou na Via Latina, mas de gosto rendido diante do portal manuelino da Capela de São Miguel, e tendo entrado pela Porta Férrea por ela tornou a sair.

José Saramago, Viagem a Portugal. Lisboa: Caminho, 1995 (11ª edição), p. 137.

A Universidade de Coimbra foi consagrada pela UNESCO Património Mundial [para nossa alegria].

04/05/2013

Lírio


A Rosa e Lírio 

A rosa
É formosa
Bem sei.
Porque lhe chamam – flor D'amor,
Não sei.
A flor, Bem de amor
É o lírio;
Tem mel no aroma, – dor
Na cor
O lírio.

Se o cheiro
É fagueiro
Na rosa;
Se é de beleza – mor
Primor
A rosa:

No lírio
O martírio
Que é meu
Pintado vejo: – cor
E ardor
É o meu.

A rosa
É formosa,
Bem sei...
E será de outros flor
D'amor...
Não sei.

Almeida Garret,  Folhas Caídas - Livro primeiro, capítulo XVII. Porto: Porto Editora, 2003


The Tiger Lillies, trio formado em 1989 pelo cantor Martyn Jacques. 

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