Apenas conta aquilo que nos pode «fertilizar». Nenhuma pessoa, nenhuma paisagem, nenhum livro me interessam, se não me enriquecer, unindo-se comigo, ajudando-me a tornar mais fecundo, mais forte.
Mircea Eliade, Diário Português [1941-1945]. Lisboa: Guerra e Paz Editores, 2008, p 143.
Memórias
ResponderEliminarAninhasamiga
ResponderEliminarSou um sortudo (menos no Euromilhões...). Conheci Mircea Eliade em Nova Iorque, em 1977. Eu acabara de chegar a Portugal vindo da Roménia onde fizera para o DN a reportagem do terremoto.
Daí seguiria para os Estados Unidos porque uma jornalista romena, a Rodica Serban, que me acompanhara como intérprete, me pedira para transmitir se possível uma informação para Eliade. E da Roménia de então era perigosíssimo, a Securitate (PIDE de lá) não era para brincadeiras...
Disse-lhe para lhe escrever uma carta que eu levaria em mão ao destinatário, o que ela fez. Já em Lisboa, falei com o João Gomes,ao tempo director do DN e contei-lhe a estória.
João Gomes enviou-me a Nova Iorque para assinar o acordo de Exclusivos entre o New York Times e o Diário de Notícias. Era o motivo "oficial" da minha deslocação... E assim fiz.
No entretanto consegui falar com Mircea.E comecei por lhe perguntar Ce mai faceti - Como está? Foi uma boa entrada, porque me disse Poftim? Como disse? Spune Roman?
Tive de lhe dizer que tinha aprendido umas frases en pouco mais. Depois de lhe entregar a carta da Rodica, e de falarmos um pouco, enchi-me de coragem: Luam Masa impreuna?. ou seja quer almoçar comigo? Uma gargalhada o que me pareceu excelente para um Homem dos Sete Ofícios, desde professor a estudioso das religiões e obviamente escritor.
Foi um almoço prolongado no Loeb Boathouse no Central Park e uma tarde muito bem passada, onde se falou de Portugal e dos anos que aqui passara, passando por cima do "Salazar si Revolutia in Portugalia" e falando sobretudo do seu "Diário Português".
Tenho (ou tinha, pois não o encontro, a mudança de casa foi uma desgraça) Os Romenos Latinos do Oriente autografado. Mas...
Aninhasamiga
Peço desculpa deste longo comentário, mas avivaste-me a recordação de um homem estranho, difícil de entender, mas afável.
Qhs
Ousaria dizer que, se não for assim, é pura perda de tempo, ana
ResponderEliminarBeijinhos e votos de boa semana
Gostei muito desta frase e concordo com ela. Bjs!
ResponderEliminarBom dia.
ResponderEliminarTudo e todos nos "fertilizam".
Nem que seja um simples folha na terra, uma pedra na calçada, ou um vagabundo a esticar a mão.
Qualquer outra forma de sentir o mundo é uma forma pouco humilde e muito redentora.
Desculpe ter "evadido" o seu espaço.
Mar Arável,
ResponderEliminarObrigada pela sua passagem. :))
Henrique,
Gostei tanto mas tanto da sua história. Acho fascinante ter conhecido Mircea Eliade. Gostaria de o ter conhecido. Li alguns livros dele o Dicionário das Religiões, o Sagrado e o Profano e outro ligado à religião que não me recordo do título. Todavia, o Diário, é impressionante, a uma dada altura, na leitura, achei que não devia ser editado pois é demasiado pessoal. Era sem dúvida, uma pessoa estranha. O Diário afectou-me, não posso dizer que não.
Estou a equacionar publicar o seu comentário mas decidi fazer-lhe um convite para uma colaboração aqui na minha janela. Quer aproveitar este assunto ou quer outro sem nada a ver com Eliade.
Beijinho muitíssimoooo agradecida. :))
Pedro,
Estou a matutar no que me diz.
Beijinho e boa semana. :))
Margarida,
Obrigada. Compreendo-a. :))
Beijinho.
Caro anónimo,
Achei graça ao seu comentário. Julgo que Eliade não era humilde. Poderei estar errada. :))
Talvez seja redentor mas é possível a escolha. Há imagens que não nos tocam ou não precisamos delas para nos fortalecermos. Talvez seja egoísmo mas há essa possibilidade.
Seja bem-vindo/a, é pena não ter escrito um nome, nem que seja o primeiro.
Eu concordo com a frase, na medida em que, pelo menos a partir de uma certa idade, se temos que fazer escolhas, não perdemos tempo com coisas inúteis que não acrescentam nada à nossa vida, à nossa sede de saber.
ResponderEliminarIsso não impede que a beleza de uma folha, de uma pedra, a conversa ocasional com um vagabundo...não me enriqueçam. Também! Estamos sempre a aprender e tudo nos pode ensinar alguma coisa, mas temos que fazer escolhas e se assim é, cada um no fundo escolhe o que considera que é "fertilizante" para si, não é?
Para que hei-de perder tempo a ver um programa de televisão foleiro e deprimente, se posso ler um bom livro?
São escolhas!
Um beijinho :)
A frase é feliz e verdadeira por, seja lá qual for, o prisma que se veja a vida.
ResponderEliminarQuanto à ária que colocou tem um momento que me parece sempre mágico, quando a câmara se desloca para o palco.
Tenho alguma pena que este filme não tenha tido a projeção que mereceria, pois revejo-o sempre com muito prazer e Händel nunca deixa ninguém indiferente
Manel
Isabel,
ResponderEliminarConcordo plenamente. Uma "folha" ou a "conversa ocasional com um vagabundo" de certeza que irão mexer comigo e fertilizar, mas o livre arbítrio é uma possibilidade controlada e não fruto do acaso. :))
Beijinho grato pelo comentário.
Manuel,
Fez-me sorrir. Adoro esta ária que já coloquei aqui várias vezes, até na pele de Farinelli.
Grata pela sua passagem.
Boa noite. :))
Já se comentou Eliade, fica apenas uma nota de apreço para o signor Farinelli :)
ResponderEliminarE o signor Handel, que gostava de reusar as suas próprias arias, em diferentes operas:
https://www.youtube.com/watch?v=A1Pbhc68YeM
(e muito bem :))
Xilre,
ResponderEliminarMuito obrigada pela sua presença e amável comentário. Cecilia Bartoli tem uma voz belíssima.
Boa noite. :))
Se não houvesse a felicidade do “escandalosamente” diferente, do incomum, do desafinado, para fertilizar a aridez do normalizado em que vivemos, o mundo seria uma triste lugar.
ResponderEliminarVou ver se pesco neste Mircea Eliade.
Obrigado pela informação.
Agostinho,
ResponderEliminarConcordo inteiramente. É preciso mesmo fertilizar a aridez... :))
O Diário não é fácil de ler pois tem partes muito melancólicas. contudo,a sua leitura faz regressar aos anos de 1941-1945, ao Portugal de Salazar, à 2ª Guerra e a um homem singular.
Boa noite. :))
qdo tinha uns 18 anos li Mircea Eliade...achei mto bem escrito, mas um pouco confuso....bem era talvez jovem demais...adoro teus posts!
ResponderEliminar