Tiziano Vecellio, Sísifo, 1548-49,
Museu do Prado (wikipedia)
... Na música, a mulher ainda por cima tem um papel secundário. Quero dizer, na realização musical criadora, na composição. A mulher tem um papel secundário. Ou será que conhecem alguma compositora célebre? Uma única? Estão a ver! Já alguma vez tinham pensado nisso? Mas deviam. Pensemos... O feminino na música. Vejamos: o contrabaixo é um instrumento feminino. Apesar do seu género gramatical é um instrumento feminino e, contudo, extremamente sério; aliás como a própria morte que é feminina na sua crueldade salvadora, isto falando em termos associativos; ou como se queira, na sua inevitável função maternal surge também, por outro lado, como complementaridade no princípio da vida, como fertilidade, terra-mãe, etcetera, tenho razão? E nesta função, falando agora outra vez em termos musicais, o contrabaixo como símbolo da morte luta contra o Nada absoluto que ameaça simultaneamente afundar Música e Vida. Nós, os contrabaixistas, somos neste contexto os Cerbéros [sic.]
nas catacumbas do Nada, ou, por outras palavras, Sísifo que carrega aos ombros, a montanha acima, a carga sensual de toda a música, ora, façam favor de reter esta imagem!
Patrick Süskind, O Contrabaixo. Lisboa: Difel, 2001, p.31
Patrick Süskind nasceu em Ambach, próximo de Munique, em 1949. O escritor não toca contrabaixo mas piano. O livrinho (66 páginas) é notável, trouxe-o da Biblioteca Municipal.
E no entanto... o que seriam Brahms, Mahler, Wagner, Beethoven, Mozart, Schumann, sem aquelas que os acompanharam, serviram de musas, levaram à loucura ou ao suicídio...
ResponderEliminarEm cada compositor há uma história de amor intensa, trágica -- como se diria noutro contexto, já agora, vale a pena pensar nisto :)
Boa noite, cara ana :)
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ResponderEliminarGostei muito do texto... e nunca tinha pensado em Sísifo a carregar a carga sensual de uma música ;)
ResponderEliminarbeijinho amigo
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ResponderEliminarNão conhecia esta obra de Süskind!
ResponderEliminarSou de opinião de não existir género na música... Mas é inegável que determinados instrumentos têm mais "adeptos" de um certo género...
Dá que pensar! É uma pergunta pertinente!
Beijinhos.:))
Realmente, não conheço nenhuma compositora famosa - com excepção da Hildegarda de Bingen. Boa semana e bjns!
ResponderEliminarAtrevo-me a dizer que não. A música, na sua imensa beleza, na sua universalidade está acima, muito acima dessas ninharias que afligem alguns mortais.
E a Ana que não deixa de nos questionar da forma mais interessante.
Obrigada, pois!
Beijinho.
Xilre,
ResponderEliminarPois é. Claro que as musas tiveram o seu papel.
Mas realmente a compor só conheço Hildegarda Von Bingen.
A música é gramaticalmente feminina, talvez, por isso, só haja homens a criá-la.
A mulher pode igualar a execução, pode exceder a alma da música mas compor como está ligado à matemática é natural que se desenvolva mais no homem. A História, pelo menos comprova a estatística.
Obrigada pelo seu comentário.
Boa tarde. :))
Daniel,
Também fiquei surpreendida mas é uma imagem elucidativa.
Bj. :))
Cláudia,
Os números falam mais alto. A mulher pode exceder na execução, pode exceder na sensibilidade e ficamos por aqui. :))
Bj.
Margarida,
Pois, também é a única que conheço.
Bj. :))
GL,
Agradeço o comentário mas se opto pelo espírito científico, coloco-me na memória dos factos.
Bj. :))
Bem, fiquei sem palavras... E Cesária Évora não conta? Compôs ela? Não sei...
ResponderEliminarA verdade é que as MUlheres não podem fazer TUDO! A pedra da Sísifa é tremendamente pesada!
Algumas coisas, elas deixam para os homens....
Hahaha! beijinhos
Querida Maria João,
ResponderEliminarEstou a referir-me a música dita, ou chamada música "clássica". No Jazz, não sei. Como é música mais intuitiva, é natural que haja mulheres a compor, como na música actual.
Beijinho. :))
Na verdade as mulheres não estavam na música, nem em nada - quase - só em casa...
ResponderEliminarCreio que tenho esse livro, mas não o li. Li O Perfume e A Pomba.
Um beijinho e boa semana
Tema interessante este do género na música. Penso que as convenções de cada comunidade/sociedade estão refletidas (também) na música. Á mulher era vedado o acesso a certos papéis como o da composição e direção. Até na execução havia instrumentos para senhoras.
ResponderEliminarAninhasamiga
ResponderEliminarDeixa-me discordar contigo: há géneros e interpretes que me permito enunciar em que a mulher (o melhor da criação dizem que divina)chegou aos píncaros da fama.Que dizer de uma Guilhermina Suggia, violoncelista extraordinária nos anos 30/40 do século passado.
Que dizer também de Maria João Pires, pianista que dispensa adjectivos. E noutra escala, noutro registo e outra música, como se pode esquecer a grande Amália e, hoje,a Marisa e a Ana Moura.
Musas inspiradoras, tal como diz o Xiframigo, sim - mas não só. A César o que é de César. E por César, e a Cesária?
O texto, como sempre, está magnífico. E o Sísito é um achado. Parabéns queria Aninhasamiga
Qjs
Isabel,
ResponderEliminarLi o Perfume, a Pomba, A História do Senhor Sommer e agora este. Gostei de todos.
Beijinho. :))
Agostinho,
Na música erudita era assim. Não sei se já houve mudanças...
Agora executantes sim, aí não há género.
Boa noite. :))
Amigo Henrique,
O que afirmo é o constato. Quanto à Maria João Pires, uma pianista divinal, ela vale pela execução e variações mas não conheço nada composto por ela.
Amália, Mariza, para mim Ana Moura não tanto, são divas não de música erudita mas do fado.
Sou mulher mas tenho que ver a realidade.
Bjs. :))
leia-se: o que constato.
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