Seurat, La Tour Eiffel, ca. 1889, 24,1 x 15,2 cm Fine Arts Museums of San Francisco, Museum purchase, William H. Noble Bequest Fund (daqui)
Escuta, lenhador...
Todos os anos vejo as árvores desaparecerem. Pode dizer-se que voltam a ser plantadas, mas nunca se reencontram tantas como anteriormente e é sempre um número mínimo que volta a estender os seus jovens ramos em direcção ao sol ou que agita a sua cabeleira ao vento.
Paris é a única cidade onde se tratam assim as nossas irmãs árvores; nem Berlim nem Londres, para citar apenas cidades civilizadas, demonstram um tal desconhecimento da natureza. Todos os anos, sob os mais diversos pretextos, as nossas avenidas apresentam um desfile digno dos «infortúnios de guerra» e os mutilados expõem os seus cotos perante a indiferença dos automóveis, em grande medida responsáveis por esta desastrada exterminação. Se, como diz Aristóteles, as árvores são pessoas que sonham, o que pensará a árvore dos seus carrascos? Não quero fingir que lhe dou voz, porque ela tem a seu favor o silêncio dos amantes, as brincadeiras das crianças, as divagações dos solitários e um povo livre sem constrangimentos, ou seja, os pássaros.
Julien Green, Paris. [1983]( Tradução Carlos Vaz Marques) Lisboa: Tinta da China, 2008, p. 105.
Um livro que só agora li por razões várias e porque revisitei Paris nesta época natalícia há uns tempos atrás. Saudades de Paris? Talvez.
Em homenagem a mais uma partida do mundo da música:
(1963-2016)
Assim é. Os ortopedistas radicalizam-se degolando com golpes assassinos profundos a elegância verde nas ruas, parques e jardins.
ResponderEliminarBj.
Assim, penso, Agostinho.
EliminarBj.:))
Para nós, o espetáculo é deprimente, porque atribuímos às árvores
ResponderEliminarsentimentos, porém, na verdade são seres desprovidos totalmente de
qualquer sistema nervoso que lhes possa configurar sensibilidade.
Quando criadas na natureza, elas próprias amputam em si os ramos
velhos, a favor do crescimento dos novos...
A vitalidade com que desabrocham árvores bem podadas, é um sinal
inequívoco de que apreciam sobremaneira a ''tosquia''...
A realidade não é nada poética, mas alivia as nossas más impressões.
~~~ Beijinhos, Ana ~~~
Peço a palavra para dizer que concordo na generalidade com a Majo.
EliminarElas gostam de ser podadas não decepadas. Ora, vê-se por aí autênticos massacres... Não é poesia. Será que "sentem"? Basta observar que muitas definham após podas talibãs.
Majo,
EliminarLi um livro de um botânico, lindíssimo em que foca a vida das árvores como seres com sensações e reflexos entre si e gostei bastante. Julgo que são seres diferentes de nós mas com vida e comportamentos próprios. Faz-me impressão o corte abrupto das árvores, não é natural.
Contudo, agradeço a sua explicação e o modo optimista de ver renascer.
Beijinho.:))
Agostinho,
EliminarÉ isso que eu acho.
Bj.:))
Nem toda a poda é assassina, mas toda me confrange (ainda que também eu a utilize): podar é cortar. E é verdade que no outono as árvores de ramos em coto me impressionam. Mas quem sabe se não verdejam mais na primavera por tal motivo. Tão suave a Torre Eiffel de Seurat. Prefiro-a. Desconhecia os dotes de tradução de Carlos Vaz Marques. Bonitinho, este alerta ao lenhador.
ResponderEliminarSeurat é um pintor por vezes esquecido.
EliminarObrigada.
Um bom fim de ano e um óptimo Ano Novo!:))
A MAJO e a BEA estão certas quanto à necessidade de na altura certa ( Outubro/ Novembro, por cá ) as árvores precisam de ser podadas por quem sabe do ofício.
ResponderEliminarSó assim se revigoram, na verdade.
Quanto a Seurat : há obras que admiro. Outras, nem tanto.
Um beijo amigo, Ana.
João,
EliminarE eu que recebi umas árvores lindíssimas!:))
Apesar de tudo tenho pena do corte que dão às árvores.
Beijinho grato.:))
Nunca li esse livro e fiquei com vontade, porque adoro Paris e árvores. Bom dia!
ResponderEliminarMargarida,
EliminarO livro é uma interessante descrição de Paris segundo o olhar de Julien Green, vale a pena ler.
Beijinhos.:))
Pensamos pouco nestas coisas. Julgamos que não serve a nossa palavra. No entanto, é importante dizê-la! E o protesto irá andando cada vez mais forte. Será? As árvores continuam a ser cortadas...
ResponderEliminar"Se, como diz Aristóteles, as árvores são pessoas que sonham, o que pensará a árvore dos seus carrascos?"
Porq ue não as deixamos sonhar em paz? beijinhos e Bom Ano!
Pois é, deixemos as árvores sonhar em paz.
EliminarBeijinhos, MJ.:))
Gosto bastante dos livros de Julien Green e muito em particular deste dedicado a Paris que é magnifico e surpreendente, por vezes, já que o seu autor que adorava Paris, não tinha grande amor pelo monumento mais emblemático da cidade: a Torre Eiffel.
ResponderEliminarVotos de um Bom Ano 2017!
Mr.V,
EliminarO livro é uma maravilha. De facto ele não gosta da Torre Eiffel, mas gosta de Seurat, entre as telas deste, resolvi escolher aquela por ser a menos característica.
Muit obrigada, votos de um bom Ano para si também!:))
As belas árvores!
ResponderEliminarGostei muito do excerto que escolheste deste livro!
Bjs e obrigada pela presença na minha vida!
De nada, Gracinha.
EliminarO livro tem partes interessantíssimas, esta foi mais uma delas que me tocou e que gostei de partilhar.
Beijinhos e também agradeço a tua presença na minha vida!:))