Tive uma boa surpresa quando recebi o catálogo da Livraria Lumière. A escolha da Cláudia Ribeiro para a capa recaiu em João Gaspar Simões, um escritor ligado à Revista Presença criada em 1927, segundo momento do Modernismo em Portugal.
No catálogo saliento as palavras de Manuel Poppe sobre o autor:
«A independência e a capacidade para separar trigo e joio - creio que nenhum dos autores da nossa Literatura desses anos, escapou ao juízo certo de Gaspar Simões - criaram-lhe um exército de inimigos. E tão acérrimo foi ataque ao grande escritor que as suas vítimas quase conseguiram apagar o seu nome e quase o enterraram vivo.
De facto, quem fala, hoje do exímio ensaísta e ficcionista?»
Manuel Poppe
Deixo aqui o agradecimento a Manuel Poppe que me levou a ler o escritor e do qual li os seguintes títulos: Elói (1932); Pântano (1940) e o Internato (1946).
Agradeço à Cláudia que me arranjou os livros e que me enviou o catálogo que vale a pena consultar pois o elenco de livros é atrativo.
Sobre Fernando Pessoa Gaspar Simões escreveu os seguintes títulos:
- Vida e Obra de Fernando Pessoa — História duma Geração, Vol. I: Infância e adolescência; Vol. II: Maturidade e morte, 1950;
- Fernando Pessoa — Escorço interpretativo da sua vida e obra, 1962, reeditado como Fernando Pessoa, Breve Escorço da sua Vida e Obra, 1983 e segs.
- Estudos sobre Fernando Pessoa no Brasil (textos de JGS et al.), São Paulo, 1986.
- Fernando Pessoa — Heteropisicografia, 1973.
- Fernando Pessoa na Perspectiva da Presença, 1978.
- Obras Completas de Fernando Pessoa, 4 vols. (com Luís de Montalvor, para a ed. Ática), 1942-1945
(Wikipedia)
João Gaspar Simões em diálogo com Pessoa:
Apartado 147.
Lisboa, 18 de Novembro de 1930.
Meu querido Gaspar Simões:
Desculpe não ter respondido ainda à sua carta de 7: não queria responder sem lhe enviar os meus folhetos de versos em inglês, e só hoje é que consegui desencantar o embrulho onde estavam. Envio-lhos por este correio, sob invólucro separado.
(...)
Estou com muito interesse em ver o seu estudo na Presença. Basta que o veja aí; não é preciso, como numa outra carta me disse, mandar-mo antes de o publicar. O título não me alarma nada, sendo certo, porém, que, de per si, não o compreendo definidamente. O estudo, contudo, mo explicará. Noto, aliás, que não dá o título como definitivo, mas como provável. Se ele define bem as conclusões do estudo, deve mantê-lo. Tem, com certeza, o dom de interessar.
Outra coisa muito diferente. Recebi, no dia 13, na minha caixa postal, uma carta sua (pelo envelope e letra nele) para o António Botto. Contra todos os precedentes, extraviei essa carta. Peço-lhe desculpa disso, e aviso-o, para que possa ter a maçada de escrever de novo. Não expliquei o caso ao António porque há uns quinze dias que o não vejo; a correspondência que vem para ele, para a minha caixa postal – e que pode sempre para ali ir, pois não costumo extraviar as cartas –, deixo-‑lha logo no Café Arcada, onde ele vai frequentemente, mas a horas a que eu raras vezes posso ir.
Um grande abraço do seu amigo certo, admirador e obrigado,
Fernando Pessoa
Cartas de Fernando Pessoa a João Gaspar Simões. (Introdução, apêndice e notas do destinatário.) Lisboa: Europa-América, 1957 (2.ª ed. Lisboa: Imprensa Nacional - ‑Casa da Moeda, 1982), p. 53.
Do Arquivo Pessoa
A amizade