"Pequena Dançarina de 14 anos" (foto de Artshooter, Wikicommons). c. 1878-1881, Imagens daqui
A dança e a alma
A dança? Não é movimento súbito gesto musical É concentração,num momento, da humana graça natural
No solo não,no éter pairamos, nele amaríamos ficar. A dança-não vento nos ramos seiva, força, perene estar um estar entre céu e chão, novo domínio conquistado, onde busque nossa paixão libertar-se por todo lado...
Onde a alma possa descrever suas mais divinas parábolas sem fugir a forma do ser por sobre o mistério das fábulas
Carlos Drummond de Andrade, C. D. Obra completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1964.
Julgo que já foi editado mas acho linda esta interpretação da dança.
Reedição do excerto do filme de Wim Wenders: PINA (cortesia do youtube)
Um livro já focado anteriormente, Deslumbra-me, serviu de intermediário entre mim e a ópera Garnier, em particular, renovou o encontro com Chagall. Estive em frente à ópera, fotografei-a mas não pude entrar; ficará, pois, para uma futura visita a Paris.
Joan ajoelha num camarote às escuras do terceiro balcão do Palais Garnier, a Ópera, espreitando pela balaustrada d e veludo vermelho. Junto dela há três frágeis cadeiras que sabe que estalarão e tem o cuidado de não as perturbar. As luzes estão apagadas mas o brilho do palco mostra uma profusão de douradas figuras de gesso: divindades serenas, anjos com trombetas. liras, grinaldas, flores, folhas de carvalho, máscaras, colunas coríntias, tudo isto imerso numa profunda sombra, empilhado em redor do proscénio e entre caixas, como muros de uma gruta escarpada e dourada, subindo ao teto redondo pintado por Chagall. com anjos nus e voluptuosas bailarinas e cabras e galinhas e amantes e a Torre Eiffel azul e uma imagem manchada de vermelho do próprio Palais. No centro de tudo isso pende o grande lustre adormecido: um enorme cardo de vidro pendurado ao contrário para secar, obscuramente cintilante.
Maggie Shipstead, Deslumbra-me. (Tradução de Carmo Vasconcelos Romão). Lisboa: Editorial Presença, 2015, p. 95.
Detalhe do tecto de Chagall, fotografia de Johan Framhoul
Na história Joan, a protagonista, encontra Arslan (bailarino russo) a dançar Giselle na ópera Garnier.
Adolphe Charles Adam (1803 - 1856) compôs várias óperas e balaidos, o mais famoso: Giselle.
Roberto Bolle nasceu em 1975 na região de Piemonte, Itália, e é primeiro bailarino no American Ballet Theatre tendo pertencido ao Corpo di ballo del Teatro alla Scala.
O Quartel do Carmo: cenário mais marcante do 25 de Abril de 1974,
onde ocorreu a rendição de Marcelo Caetano
41 anos de democracia e o nosso país assiste ao maior empobrecimento em liberdade.
A dignidade humana é posta em causa:
- O direito à saúde, à educação, à cultura, ao trabalho estão comprometidos.
- A população envelhece e à medida que envelhece tem mais encargos,os anos de trabalho aumentam.
- Os jovens qualificados partem, os filhos nascem noutra nação...
- Os números falam mais alto do que a humanidade.
- Os burocratas sucedem ao animal politico, as ideias esvaem-se.
- Os valores atenuam-se para dar lugar ao egoísmo: salve-se quem puder.
- A inteligência é protelada pelo oportunismo.
- A justiça tem uma venda mais apertada.
- Desrespeitam-se os mais frágeis.
- A fome é uma realidade.
- Não comento a questão da liberdade da imprensa ...
Em suma, o Eça tinha razão:
Nestas Democracias industriais e materialistas, furiosamente empenhadas na luta pelo pão egoísta, as almas cada dia se tornam mais secas e menos capazes de piedade.
Eça de Queirós, A Correspondência de Fradique Mendes (citador)
Pede-me a amiga Ana que lhe diga se acho que Veneza é decadente. Ou triste.
Não posso achar Veneza nem decadente nem triste.
É uma cidade que conheço como nenhuma, que amo especialmente.
Em nenhum outro lugar vivi tão intensamente.
Num certo plano do meu ser, do meu espírito, alma. Sim, num certo recanto de mim próprio.
A minha primeira viagem a Veneza data de Setembro de 1973, durou uma semana e, de Veneza, ficou-me a Piazza de San Marco, o Rialto e... o Café Florian, onde passei horas a escrever o que me ia dentro –o meu sobressalto, a minha emoção.
Nunca imaginei que voltaria a Itália um ano depois e que por lá ficaria quinze anos. E que tantos dias, meses, anos, iria andar por Veneza.
Pio Semeghini, Burano - Mazzorbo, 1947*1
Nem o que o destino me reservava: encontros extraordinários dos quais deixo, mais ou menos veladamente, testemunho em O Pássaro de Vidro, Os Amantes Voluntários, A Mulher Nua e nos dois volumes de Crónicas Italianas.
Deu-me o destino um amigo como Aldo Zari, que me revelou a face mais escondida de Veneza, a tal venezia povera, as osterie, a gente à qual o turista não tem acesso, porque o veneziano é reservado e está farto de turistas até à ponta dos cabelos.
E facultou-me as pistas que eu segui sozinho.
Veneza é uma cidade viva. Em Veneza, quando o incauto a julga a dormir, acontecem histórias das mil e uma noites.
Umberto Moggioli Sera a Mazzorbo 1913 *2
Na outra Veneza.
E, aí, há o que há em todos os sítios vivos: alegrias, melancolias, tristezas, paixões e ódios.
Juntaria a Aldo Zari, Luciana Piai, Patrizia Bonato, Mirella, Giorgio Trentin, Veludo...
Juntaria as meninas que almoçaram comigo no Harry’s Bar, Paola e Monica, e que levaram um americano a virar-se para mim e a perguntar-me, sinceramente entusiasmado:
-“Onde foi desencantar essas duas figuras de Renoir?!”
Muito simples: no mundo maravilhosa de Veneza. Gino Rosso, Canale con vela a Burano *3
Na fantástica laguna, onde, mais que a clássica ilha de Torcello, se destaca Burano das casas coloridas.
Os pintores de Burano!
Moggioli, Gino Rosso, Pio Semeghini, Luigi Scopinich... alguns nomes aqui ficam, para quem quiser saber deles.
Pintores da alegria! Tal qual Aldo Zari o é, quase sempre...
Veneza é um estado de alma.
Criador.
Luigi Scopinich, Natiura morta con vaso di margherite *4
A decadência existirá nos incapazes de reinventar o milagre veneziano.
Os mesmos que dirão –pobrezinhos!-: “Cheira mal”.
Quando saí de Itália, trazia comigo, a roer-me, a sangrar-me, a destruir-me... e a amparar-me, a música de Alessandro Marcello (ou de Benedetto Marcello), Anónimo Veneziano.
Aqui a deixo.
Acompanhou-me e há-de acompanhar por onde quer que eu ande.
É uma ideia maravilhosa, usar a música para criar a paz, gostava de saber que melodias vais tocar lá. Só vou afinar, não sou pianista (...).
Daniel Mason, O Afinador de Pianos. ( Tradução Isabel Alves), Lisboa: Asa, 2005 (8ª edição) p. 43.
O livro narra uma viagem à Birmânia, colónia inglesa no século XIX. O afinador, protagonista da história, vai de Londres para afinar um piano Érard a um médico militar.
O livro faz sonhar.
Heinrich Vogeler, Die Erwartung (Träume II). O Devaneio (Sonho II) [tradução livre]
A música é o canto dos pássaros por isso roubei a Myra o seu pássaro.
Myra Landau, Pássaro [Título meu]
Um piano Érard, construído por Sebastian Erhrard, foi amplamente apreciado pelos seguintes músicos: Beethoven, Chopin, Fauré, Haydn, Herz, Liszt, Mendelssohn, Moscheles e Verdi.
No Dia Internacional dos Museus e Monumentos um memorando: Museu do Holocausto distinguiu padre português.
O padre Carreira salvou refugiados judeus em Roma durante a Segunda Guerra Mundial. A distinção do Museu do Holocausto, sediado em Jerusalém, foi entregue à família, numa cerimónia que teve lugar esta quarta-feira, na Sinagoga de Lisboa.
Sic Notícias
Pelas vítimas do Holocausto: malmequeres. Melhor será dizer bem-me-quer
Na Sinanoga de Lisboa: em memória do padre Joaquim Carreira, ver o link:
The Railway Man, Uma longa Viagem, é um filme, de 2013, de Jonathan Teplitzky. Os protagonistas são Colin Firth (Eric Lomax), Nicole Kidman (Patti Lomax) e Jeremy Irvine (Lomax jovem). A história do filme é baseada em factos verídicos.
O desfecho não é surpreendente mas é a vitória do bem sobre o mal, a diferença entre o homem e os bichos.
No início dos tempos, o relógio bateu uma vez. Em seguida, deixou cair o orvalho e o relógio bateu duas. Desse orvalho cresceu uma árvore e o relógio bateu três. A árvore fez uma porta e o relógio bateu quatro. Os homens nasceram e o relógio bateu cinco. Contagem um.. eis que estou à porta e bato!
«O ladrão que furta para comer, não vai nem leva ao inferno: os que não só vão, mas levam, de que eu trato, são outros ladrões de maior calibre e de mais alta esfera; os quais debaixo do mesmo nome e do mesmo predicamento distingue muito bem São Basílio Magno: Non est intelligendum fures esse solum bursarum incisores, vel latrocinantes in balneis; sed et qui duces legionum statuti, vel qui, commisso sibi regimine civitatum aut gentium, hoc quidem furtim tollunt, hoc vero vi, et publice exigunt. Não são só ladrões, diz o Santo, os que cortam bolsas ou espreitam os que se vão banhar, para lhes colher a roupa; os ladrões que mais própria e dignamente merecem este título, são aqueles a quem os reis encomendam os exércitos e legiões, ou o governo das províncias, ou a administração das cidades, os quais já com manha, já com força, roubam e despojam os povos.»
Padre António Vieira, Sermão do Bom Ladrão VI, pregado na Igreja da Misericórdia de Lisboa, no ano de 1655. Versão digitalizada, sublinhado meu.
Aqui fica um pequeno-almoço especial.
Homenagem a Audrey Hepburn que revisitei há pouco tempo
Apresento um livro que encontrei na FNAC e ficará na lista para comprar. Procurei informações. Na editora encontrei este trecho. O título é estranho mas o tema, ballet, interessa-me. Não sei se será um bom livro. Feminilidades...
Nunca intitularia "Deslumbra-me" a um livro; empregaria, sim, na arte, pois, é o que espero dela.
Setembro de 1977 — Nova Iorque
Nos bastidores, atrás de uma estante metálica, cheia de rolos
de cabos, grinaldas de flores de seda e os alaúdes sem cordas do primeiro ato, está um cesto com dois bassets pretos. Estão acordados, mas imóveis, os olhos pequenos e irrequietos, fixos nos bailarinos, que saem do palco a sorrir e a saltar e depois se entregam a uma violenta exaustão, inclinando‑se com as mãos nas ancas, resfolegando como cavalos de corrida. Os bailarinos apanham mãos‑cheias de lenços de papel das caixas presas com fita adesiva nos suportes dos projetores, e limpam o rosto e o peito. O suor bate no chão. Um auxiliar passa a esfregona a cheirar a amoníaco. Começa o pas de deux. As duas estrelas russas ficam sós, sob as luzes, ambos desertores. A superfície do palco tem o brilho embaciado do gelo negro; a resina salpica‑o como neve. (...)
As células continuam a multiplicar‑se. Joan descansa a palma da mão sobre o ventre, tentando adivinhar o local exato em que a vida está lá plantada como um bolbo de túlipa.
Maggie Shipstead, Deslumbra-me. (Tradução de Carmo Vasconcelos Romão). Lisboa: Editorial Presença, 2015, p. 11.
Enriqueci a colecção de marcadores. The Observer descreve o livro como:
«Uma escrita soberba, um romance excelente sobre um mundo fascinante.»
As tulipas foram apanhadas no vaso que está na rua. Tulipas negras.
Svetlana Zakharova e Andrei Uvarov no Japão - Don Quixote. Lindíssimo.
As Crianças do Padre é uma comédia croata de 2013, na minha visão muito à moda italiana, do realizador Vinko Bresan. O filme obteve o Prémio de Cinema Europeu de Melhor Comédia. Uma película doce no que respeita aos objectivos do jovem padre. O conteúdo pode definir-se como uma miscelânea de inocência, amor, maldade, vida e morte numa pequena ilha na Dalmácia.
Quanto às verdadeiras colunas de Héracles [Hércules], encontram-se, como toda a gente sabe, a leste de Gadir, uma de cada lado do estreito, marcando a entrada que é hoje o Mar Romano.
Por vontade expressa do meu tio, recebi uma educação tão completa quanto as suas posses o permitiam - e ela era rico. Por isso falo e escrevo latim e grego, além de conhecer a velha escrita cónia e boa parte das línguas ibéricas.
[147 a.C]
João Aguiar, A Voz dos Deuses. Lisboa: Asa, 1993 (1ª edição: 1984), p. 43.
Lamento, lamento imenso, que a minha geração não tenha aprendido latim e grego. A educação está adaptada às circunstâncias do tempo. Julgo que perdeu um pouco a profundidade de outrora. Não sou saudosista e acredito no futuro, porém, tenho pena que a cultura clássica se perca no tempo.
O livro que aqui trago foca a história de Viriato, o guerreiro que foi um pesadelo para Roma, passa-se entre 147 e 139 a.C. A Voz dos Deuses foi o primeiro romance de João Aguiar.
Hans Sebald Beham (1500–1550), Hercules carrying the columns of Gaditanas 1545 daqui
Hans Sebald Beham (1500–1550), Hercules carrying the columns of Gaditanas 1545
Acabei de ler "O Miniaturista" de Jessie Burton. O livro teve o condão de me cativar e surpreender. Não apreciei a tradução; contudo a história é tão interessante que se esquece esse pormenor.
O ambiente narrado reporta-se ao século XVII, localiza-se em Amesterdão e gravita à volta de uma família de mercadores. As personagens são ricas, intensas, ... barrocas. As mulheres têm um papel preponderante.
A casa de bonecas, de Petronella Oortman que está no Rijksmuseum é o ponto fulcral da narrativa.
O início da história levou-me a realizar um projecto: construir uma casa de bonecas. Comecei esse hobbie no pouco tempo que disponho para lazer. Em tempo próprio exporei essa minha prosápia.
Confesso que o livro me afectou que as circunstâncias narradas expondo a alma humana me entristeceram. Todavia, uma certeza ficou: é que as mulheres - a quem no século XVII não se reconhece poder - são dotadas de uma força que lhes dá poder. A ficção está bem concretizada e os ambientes retratados estão documentados.
Amesterdão, Passeei pelas ruas da cidade, agora através do livro.
As fotografias do livro são cortesia do google. As outras são minhas.
Na minha visita ao Rijksmuseum encontrei a casa de bonecas.
Anónimo c. 1686-c.1710, Casa de Bonecas de Petronella Oortman, Rijksmuseum
Jacob Appel, Casa de Bonecas de Petronella Oortman, 1710, Rijksmuseum
«A vida dela tem de ser o que ela fizer dela»
Jessie Burton, O Miniaturista. (Trad.Catarina F. Almeida). Lisboa: Editorial Presença, 2014, p. 394.