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09/04/2015

"Colunas de Héracles"

Quanto às verdadeiras colunas de Héracles [Hércules], encontram-se, como toda a gente sabe, a leste de Gadir, uma de cada lado do estreito, marcando a entrada que é hoje o Mar Romano.
Por vontade expressa do meu tio, recebi uma educação tão completa quanto as suas posses o permitiam - e ela era rico. Por isso falo e escrevo latim e grego, além de conhecer a velha escrita cónia e boa parte das línguas ibéricas. 
[147 a.C]

João Aguiar, A Voz dos Deuses. Lisboa: Asa, 1993 (1ª edição: 1984), p. 43.

Lamento, lamento imenso, que a minha geração não tenha aprendido latim e grego. A educação está adaptada às circunstâncias do tempo. Julgo que perdeu um pouco a profundidade de outrora. Não sou saudosista e acredito no futuro, porém, tenho pena que a cultura clássica se perca no tempo.
O livro que aqui trago foca a história de Viriato, o guerreiro que foi um pesadelo para Roma, passa-se entre 147 e 139 a.C. 
A Voz dos Deuses foi o primeiro romance de João Aguiar.

Hans Sebald Beham (1500–1550), Hercules carrying the columns of Gaditanas 1545  daqui



Hans Sebald Beham (1500–1550), Hercules carrying the columns of Gaditanas 1545
(Wikimedia Commons, Iconotheca Valvasoriana)
File:Hercules carrying the columns of Gaza, Iconotheca Valvasoriana.jpg


Sobre a ópera ver: link 

03/03/2015

"O deserto é o tempo sem espaço" - Leituras

«- Quero fazer-te um pedido: se és poeta, não queres recitar para mim alguns dos teus versos?
O outro, que contemplava as chamas da fogueira, respondeu sem desviar a cara:
- Aqui está um poema feito durante a minha viagem.

O deserto é o tempo sem espaço.
O deserto é o vazio do mundo.
É uma jóia que espera resplandecer,
desde o princípio dos séculos.
Quando uma lágrima cai no chão seco,
a terra agradece com uma flor.

Houve um silêncio pesado. Rashid aclarou a garganta e declarou com todo o tacto de que era capaz (e que não era muito):
- Sem ofensa: no país de onde vieste as pessoas gostam desses versos? Consegues ganhar a vida com eles?
Ao ouvir isto, o poeta riu tanto que as suas faces ficaram molhadas de lágrimas. Respondeu:
- Já percebi não gostaste! Mas tens razão, eu não recito  poemas como este no país de onde venho... Enfim, não sejas tão severo: quando canto, é um pouco diferente. »

João Aguiar, O Homem Sem Nome. Lisboa: Asa, 1995, 
(7ª Edição), p. 17.                                                               Imagem cortesia do Google.
Agradeço à Cláudia Ribeiro que me encontrou este livro.

Danae Stratou, escultor, Alexandra Stratou, desenhadora industrial e Stella Constantinides, The Desert Breath, instalação no deserto do Egipto próximo de Hurghada, 1997, daqui


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