A blusa romena é uma explosão de cor na forma ampla, generosa, excessiva, de um corpo de mulher, cujo rosto se rasga, parecia-me então, num sorriso luminoso. ( p.42)
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A História, assim mesmo: só os humanos a escrevem com letra grande, porque a investem de uma carga intemporal e metafísica que que ela não tem, pura e simplesmente porque não existe enquanto tal. Que outro vazio se esconde por detrás desta desmedida ambição de fazer História através da pequena história de acidentes e casualidades que é o destino de cada um?
António Mega Ferreira, A Blusa Romena. Lisboa: Sextante, 2008, p.45-46.
Numa casa portuguesa fica bem pão e vinho sobre a mesa. Quando à porta humildemente bate alguém, senta-se à mesa co'a gente. Fica bem essa fraqueza, fica bem, que o povo nunca a desmente. A alegria da pobreza está nesta grande riqueza de dar, e ficar contente.
Quatro paredes caiadas, um cheirinho á alecrim, um cacho de uvas doiradas, duas rosas num jardim, um São José de azulejo sob um sol de primavera, uma promessa de beijos dois braços à minha espera... É uma casa portuguesa, com certeza! É, com certeza, uma casa portuguesa!
No conforto pobrezinho do meu lar, há fartura de carinho. A cortina da janela e o luar, mais o sol que gosta dela... Basta pouco, poucochinho p'ra alegrar uma existéncia singela... É só amor, pão e vinho e um caldo verde, verdinho a fumegar na tijela.
Quatro paredes caiadas, um cheirinho á alecrim, um cacho de uvas doiradas, duas rosas num jardim, um São José de azulejo sob um sol de primavera, uma promessa de beijos dois braços à minha espera... É uma casa portuguesa, com certeza! É, com certeza, uma casa portuguesa!
Reinaldo Ferreira (filho)
Poema eternizado por Amália Rodrigues e outros fadistas.
Porque é um dos fados que menos gosto, apesar da excelente letra, optei pela Serenata de Carlos Paredes.
Para celebrar os 35 anos de carreira de Rui Veloso aqui fica Paredes e Rui Veloso em Porto Sentido.
Claro, é para o João Menéres para a sua rubrica "Porto Meu".
Publicada hoje num breve intervalo após o comentário do Rogério. Sim, as letras do Carlos Tê são maravilhosas. Foquei Reinaldo Ferreira porque me pareceu que casava melhor com a fotografia.
Quem vem e atravessa o rio Junto à serra do Pilar Vê um velho casario Que se estende ate ao mar
Quem te vê ao vir da ponte És cascata, são-joanina Erigida sobre o monte No meio da neblina.
Por ruelas e calçadas Da Ribeira até à Foz Por pedras sujas e gastas E lampiões tristes e sós.
E esse teu ar grave e sério Dum rosto e cantaria Que nos oculta o mistério Dessa luz bela e sombria
[refrão]
Ver-te assim abandonada Nesse timbre pardacento Nesse teu jeito fechado De quem mói um sentimento
E é sempre a primeira vez Em cada regresso a casa Rever-te nessa altivez De milhafre ferido na asa
Carlos Tê
O tempo é um velho corvo de olhos turvos, cinzentos. Bebe a luz destes dias só dum sorvo como as corujas o azeite dos lampadários bentos. E nós sorrimos, pássaros mortos no fundo dum paul dormimos. Só lá do alto do poleiro azul o sol doirado e verde, o fulvo papagaio (estou bêbedo de luz, caio ou não caio?) nos lembra a dor do tempo que se perde.
Não sei rotular a música dos Tiger Lillies. Será música de cabaré? Dark music? Alternativa? Gosto do ar decadente e esta canção que foca todo os meses do ano casei-a com o meu portal
Em Portalegre os idosos e as crianças associaram-se na Praça da República para levantar a voz sobre a erradicação da pobreza. Foram entrevistados vários idosos que vivem no limiar da pobreza ou mesmo em pobreza, com o dinheiro contado e com a ajuda da Misericórdia. É este o país em que vivemos, é caso para dizer que este país não é para velhos nem para jovens, para quem é afinal?
Para uma população activa, que desconta os seus impostos a pensar nos mais velhos e no futuro mas ... sem futuro?
Na Gulbenkian este Senhor mereceu o meu olhar.
Partilha o que tem e na sua solidão há apenas a harmonia com a Natureza que o rodeia.
O Dia Internacional da Erradicação da Pobreza celebra-se dia 17 de Outubro.
e um dia muito feliz em Veneza! Para recordar as Maias de Portalegre
Uma flor apanhada antes de cair na água (Botticelli)
Sandro Botticelli, The Birth of Venus, detail flower (1486)
Florence Uffizi - google Art Project
Privada de internet, até ao momento, só agora posso deixar a minha lembrança: um poema de um escritor que viveu na sua terra - Portalegre, uma cidade luminosa. A escolha tem que ver com a Maria João que já viveu em vários países, conheceu várias culturas e é uma pessoa muito humana e muito culta.
Sabedoria
Desde que tudo me cansa, Comecei eu a viver. Comecei a viver sem esperança... E venha a morte quando Deus quiser.
Dantes, ou muito ou pouco, Sempre esperara: Às vezes, tanto, que o meu sonho louco Voava das estrelas à mais rara; Outras, tão pouco, Que ninguém mais com tal se conformara.
Hoje, é que nada espero. Para quê, esperar? Sei que já nada é meu senão se o não tiver; Se quero, é só enquanto apenas quero; Só de longe, e secreto, é que inda posso amar. . . E venha a morte quando Deus quiser.
Mas, com isto, que têm as estrelas? Continuam brilhando, altas e belas.
Exposição comemorativa do centenário do pintor Luís Dourdil
em Coimbra, no Museu Municipal Edifício Chiado, desde Setembro até 11 de Outubro passado.
Aqui fica um apontamento das cores e da sensibilidade do pintor que nasceu em Coimbra em 1914 e faleceu em Lisboa em 1989.
Luís, Dourdil, Peixeira sentada, c. 1960
A Peixeira Sentada, c. 1960 e o Abraço de 1973.
Luís Dourdil, Mulheres de Alfama, s/ data, carvão
Todos temos um cofre secreto de memórias que a um dado momento gostaríamos de abrir.
Poema de Lagoa Henriques em homenagem ao pintor Luis Dourdil:
DO TEU ÁLBUM DE LEMBRANÇAS
DO TEU FICHEIRO DE IMAGENS
DO TEU SECRETO COFRE
DE MEMÓRIAS
DOURDIL,NERVOSA E REFLECTIDAMENTE QUEBRA O SILÊNCIO
TRAZES UMA MÃO CHEIA DE LUZ SOMBRIA LARANJA PRATEADA DE RUMORES CORPOS SENSUAMENTE DECEPADOS (CORPOS SÓ ANCAS) NUVENS DE MADRUGADA PRESAS NO MOVIMENTO ABANDONADO DOS BOTES DAS FRAGATAS DAS TRAINEIRAS CORPOS DE SOL CORPOS DE SAL
A PINTURA DOS AVENTAIS DAS BLUSAS DAS SAIAS DOS LENÇOS DAS PEÚGAS DE ALGODÃO DOS OLEADOS DAS CANASTRAS DOS GRITOS DOS SEGREDOS E DOS BEIJOS DO NASCER DO CRESCER E DO MORRER
A ALFAMA ONDE MORAM AS TUAS VARINAS PEIXEIRAS COMO TU DIZES SÃO ELAS PRÓPRIAS FEITAS DE BAIRRO ALICERCE MOVENTE ARQUITECTURA SEM PAREDES PORTAS E JANELAS DE TERNURA.
AS TUAS SENHORAS NUAS DE SENTIMENTOS VESTIDAS DE HUMANIDADE DE GESTOS VERDADEIROS AUTÊNTICOS NATURAIS DE GESTOS-DE GESTOS OS GESTOS DA TUA PINTURA OS GRITOS MODULADOS DO TEU DESENHO NO CÉU CLARO FORTEMENTE ILUMINADO DA BEIRA-RIO
DA BEIRA-TEJO DO RIO Á BEIRA DA RIBEIRA DE LISBOA.
DEPOIS AS TUAS MÃOS MÁGICAMENTE MÁGICA DE CIÊNCIA E DE SABER- DE- OFÍCIO DESDOBRAM O SORTILÉGIO DO ACONTECER. MÉTAFISICA DO QUOTIDIANO BRAÇADAS DE TERNURA ANÓNIMA QUE RÁPIDAMENTE ORGANIZAS NO LINHO PREPARADO NA PAREDE NA PÁGINA QUE DESFOLHAS.
-OUTONO SALGADO MORDIDO DE SOL INVERNO ILUMINADO PRIMAVERA DE MÃOS E ROSTOS DE PALAVRAS DE SILÊNCIOS, DE BEIJOS DE GRITOS SUFOCADOS DE HÉLICES DE REDES, DE GAIVOTAS DE PORTAS, DE REMOS
DE PEIXES
DE SOMBRAS FRATERNAS NOS CORPOS QUE SE TOCAM CONVIVÊNCIA INADIÁVEL QUE DESLUMBRADO AGARRAS E REGISTAS E RESPONDES.
E RESPONDES,REPITO NESSA SEGUNDA CASA ONDE CONVIVES COM ESSA OUTRA FAMÍLIA QUE TU AMAS TANTO COMO A PRIMEIRA QUE É A TUA MULHER E O TEU FILHO ESSA OUTRA FAMÍLIA QUE É O CHIADO E A BRASILEIRA AS LIVRARIAS OS AMIGOS A RUA DO ALECRIM,QUE DESCES DESLUMBRADO A PENSAR NO ENCONTRO FELIZ INDIMENSIONAL ABSOLUTO COM O TEU SOL O TEU RIO RIO DE PEIXES E DE CORPOS
BRUMA SENSUALÍSSIMA DE PERFIS SEGREDADOS QUE RISCAS ENERGICAMENTE NUMA CARÍCIA MEMORIZADA TERRIVELMENTE ÍNTIMA DUMA DOLOROSA ALEGRIA ALEGRIA QUE CONSTRÓIS PACIENTE E EXALTADO RESPONDENDO AO PORQUÊ? AO PORQUÊ? DA ÁRVORE GENEOLÓGICA DA VIDA
Lisboa, 12 de junho de 1975 Escultor prof. Lagoa Henriques (https://pt-br.facebook.com/luisdourdil/posts/10152950673013251)
Para a Cláudia um livro de arte que arranjei na FNAC em Nice,
para que se maravilhe e tenha um dia especial.
A capa fecha-se com três laços de cetim
abre-se e dentro contem um caderno de capa dura donde se tira o livro que se pode ver e que tem as pinturas Sobre a Rota de de Tôkaidô
O caderno fininho simples apresenta o livro e é realizado por Nelly Dellay
O caderno cozido, e mais elaborado, contem as 53 pinturas ou estações (+ 2 início e término) com as paisagens vislumbradas na viagem.
1 station: À Tôkyô, ce pont mène à la route du Tôkaidô; quatre porteurs nus present le pas pour faire traverser deux litières, des voyageurs se croisent. À droie une tour de guet pour surveiller les incendies si frequents. Éditeur Tsutaya, 1848-1854
12 station Une passerelle de bois conduit vers un village au milieu des arbres en fleurs; deux grands pins laissent percevoir le Fuji immaculé. Éditeur Tsutaya, 1848-1854
Na caixa está o facsímile, em harmónio.
Abre-se o livro com as telas que nos espantam.
36 station Goyou Six porteurs... 35 station À droite , au milieu des pins s'élèvent les tours de l'imposant château...
7ª station Fujisawa ... un temple Shogo Koji 8ª station Hiratsuka deux barques...
E ainda,
uma obra especial que fala sobre a amizade e da qual fizeram uma animação:
O Principezinho, uma história intemporal, estreia amanhã (7 de Outubro 2015) em França.
A animação é realizada por Mark Osborne.
O meu respeito para com todos os monárquicos e para com o regime que fez nascer Portugal. O Tratado de Zamora ocorreu na data 5 de Outubro, de 1143, o que muito honra todos os portugueses.
Sou republicana. Dia 5 de Outubro era feriado e evocava a implantação da República a 5 de Outubro de 1910. Desde pequena que esta data era vista como um acontecimento importante na História de Portugal. Ficava-se em casa e assistia-se às comemorações ou participava-se nelas.
Monumento no Príncipe Real
Inscrição na pedra:
"A França Borges, do seu trabalho herculeo nasceu a Republica, consagremos o luctador"
Durante o Estado Novo o feriado foi mantido e havia comemorações (com discrição). Abaixo veja-se no link o documento do MUD (1946) sobre as comemorações.
Em 2015 o Presidente da República, pela primeira vez, em democracia, não estará presente nas comemorações. Lamento que o representante de todos os portugueses assim tenha escolhido e manifestado a sua intenção aos meios de comunicação.
Gostaria de mostrar o documento mas não tive tempo de pedir autorização por isso reencaminho para o link onde se pode consultar.
(1946), "5 de Outubro - Circular da Comissão Distrital de Lisboa do MUD", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_147658 (2015-10-4) António França Borges nasceu a 10 de Janeiro de 1871 e faleceu em 1915
A moralidade informa a experiência e não o inverso. Eu sou a minha história, no entanto, no desejo moral de compreender o meu passado, para ser completamente auto-consciente tornei-me precisamente aquilo que a minha história demonstra que não sou - livre.
Susan Sontag, Renascer Diários e Apontamentos1947-1963. Lisboa: Quetzal, 2010, p. 72.
Um Senhor para Gaudí: um homem prodigioso. Lamento que as novas construções sejam baseadas na sua obra e não façam sobressair o melhor que há de si nelas.