29/10/2015

casa portuguesa

Casa portuguesa, Óbidos



Numa casa portuguesa fica bem
pão e vinho sobre a mesa.
Quando à porta humildemente bate alguém,
senta-se à mesa co'a gente.
Fica bem essa fraqueza, fica bem,
que o povo nunca a desmente.
A alegria da pobreza
está nesta grande riqueza
de dar, e ficar contente.

Quatro paredes caiadas,
um cheirinho á alecrim,
um cacho de uvas doiradas,
duas rosas num jardim,
um São José de azulejo
sob um sol de primavera,
uma promessa de beijos
dois braços à minha espera...
É uma casa portuguesa, com certeza!
É, com certeza, uma casa portuguesa!

No conforto pobrezinho do meu lar,
há fartura de carinho.
A cortina da janela e o luar,
mais o sol que gosta dela...
Basta pouco, poucochinho p'ra alegrar
uma existéncia singela...
É só amor, pão e vinho
e um caldo verde, verdinho
a fumegar na tijela.

Quatro paredes caiadas,
um cheirinho á alecrim,
um cacho de uvas doiradas,
duas rosas num jardim,
um São José de azulejo
sob um sol de primavera,
uma promessa de beijos
dois braços à minha espera...
É uma casa portuguesa, com certeza!
É, com certeza, uma casa portuguesa!


Reinaldo Ferreira (filho)

Poema eternizado por Amália Rodrigues e outros fadistas.

Porque é um dos fados que menos gosto, apesar da excelente letra, optei pela Serenata de Carlos Paredes.



Para celebrar os 35 anos de carreira de Rui Veloso aqui fica Paredes e Rui Veloso em Porto Sentido.
Claro, é para o João Menéres para a sua rubrica "Porto Meu".

Publicada hoje num breve intervalo após o comentário do Rogério. Sim, as letras do Carlos Tê são maravilhosas. Foquei Reinaldo Ferreira porque me pareceu que casava melhor com a fotografia. 

Quem vem e atravessa o rio
Junto à serra do Pilar
Vê um velho casario
Que se estende ate ao mar

Quem te vê ao vir da ponte
És cascata, são-joanina
Erigida sobre o monte
No meio da neblina.

Por ruelas e calçadas
Da Ribeira até à Foz
Por pedras sujas e gastas
E lampiões tristes e sós.

E esse teu ar grave e sério
Dum rosto e cantaria
Que nos oculta o mistério
Dessa luz bela e sombria

[refrão]

Ver-te assim abandonada
Nesse timbre pardacento
Nesse teu jeito fechado
De quem mói um sentimento

E é sempre a primeira vez
Em cada regresso a casa
Rever-te nessa altivez
De milhafre ferido na asa

Carlos Tê


(1992)

19 comentários:

  1. Obrigado, Ana !
    Esta é a única do Rui Veloso que gosto !
    Também não aprecio nada o Pedro Abrunhosa...

    Uma vez mais, muito obrigado.

    Um beijo.

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    1. De nada, João.:))
      Esta música é um achado.
      Beijinho.

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  2. Sobre Carlos Paredes, a solo e emparceirando com Rui Veloso, não falemos

    Sobre o "Porto Sentido" tocado em parceria, não falemos

    Sobre uma letra que lhe agrada, num fado que não lhe agrada nada, não falemos

    Poderíamos falar das (maravilhosas) letras de Carlos Tê
    Ninguém fala
    e eu me interrogo: porquê?

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    1. Rogério,
      O Carlos Tê escreve muitíssimo bem e a letra de Porto Sentido é muito bonita mas não casava tão bem com a foto.
      Quanto a Reinaldo Ferreira, o seu poema pode dizer-se datado, pois pertence a uma época já ultrapassada (felizmente). Penso que o filho do Reporter X só podia escrever com ironia...
      Em suma, o Carlos Tê não veio à baila porque a foto não trata do casario do Porto.
      Boa noite.:))

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  3. Vou contar um segredo - a versão de Porto Sentido que aqui publica é uma das escolhidas para uma rubrica que tenho às quintas-feiras no blogue (Intemporais).
    Mas não conte nada a ninguém que ainda falta muito tempo para ser publicada.
    Beijinhos

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    1. Pedro,
      Tentei encontrar o blog mas não consegui.
      Beijinhos.:))

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  4. Bonita fotografia, Ana.
    Já não vou a Óbidos há 10 anos, parece-me.
    Beijinho!

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    1. Sandra,
      Vale sempre a pena revisitar e beber uma ginja no copo de chocolate.:))
      Beijinho.

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  5. Um post bem português, Ana!
    São tão bonitas estas casas...
    Amália, Rui Veloso, Carlos Paredes... do melhor!
    Um beijinho (português).:))

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    1. Obrigada, Cláudia.
      Gosto muito destes vivos azuis ou amarelos. Acho que gosto mais dos amarelos.
      Beijinhos.:))

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  6. Belos poemas, embora goste mais do "Porto Sentido". A casa de Óbidos é linda. Beijinhos, Ana!

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    1. Também gosto mais, Margarida.:))
      Obrigada.
      Beijinhos.

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  7. Gostei imenso da foto! Só fui a Óbidos uma ou duas vezes. Gostei muitíssimo:)

    Um beijinho:)

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  8. Isabel,
    Óbidos é especial.
    Beijinhos.:))

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  9. As casas, daqui e dali, o reflexo dum certo jeito de ser português...

    Um beijinho, Ana :)

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  10. AC,
    É esse o espírito.
    Beijinho.:))

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  11. A casa portuguesa com certeza! O equilíbrio das proporções o enquadramento, as cores, a singeleza conferem à casa portuguesa mais personalidade e beleza que o casario parido nas últimas décadas. Mas deve ser recuperada e adaptada aos tempos actuais conferindo-lhe condições de conforto condizentes com o nosso estilo de vida.
    Na música e nas letras: a primeira a d'"a alegria da pobreza ... e só amor pão e vinho..." tem aquele espírito redutor e miserável que infelizmente condiciona ainda grande parte da população; O Carlos Tê faz com mestria na suas letras o retrato físico e social da nossa realidade. O Paredes foi um virtuoso da guitarra portuguesa.

    Boa semana

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  12. Não é outro blogue, ana.
    É uma rubrica que tenho no blogue às quintas-feiras e que se chama Intemporais

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