Cortesia do google - esqueci-me de guardar o site onde retirei a imagem
Cantigas de Amor - D. Dinis
Quer'eu em maneira de proençal fazer agora un cantar d'amor, e querrei muit'i loar mia senhor a que prez nen fremusura non fal, nen bondade; e mais vos direi en: tanto a fez Deus comprida de ben que mais que todas las do mundo val.
Ca mia senhor quiso Deus fazer tal, quando a faz, que a fez sabedor de todo ben e de mui gran valor, e con todo est'é mui comunal ali u deve; er deu-lhi bon sen, e des i non lhi fez pouco de ben, quando non quis que lh'outra foss'igual.
Ca en mia senhor nunca Deus pôs mal, mais pôs i prez e beldad'e loor e falar mui ben, e riir melhor que outra molher; des i é leal muit', e por esto non sei oj'eu quen possa compridamente no seu ben falar, ca non á, tra-lo seu ben, al.
El-Rei D. Dinis, CV 123, CBN 485 (Projecto Vercial)
Na revista Única do Expresso li esta citação de Albert Camus:
O OUTONO É UMA SEGUNDA PRIMAVERA SE CADA FOLHA FOR UMA FLOR.
A citação abre um artigo sobre a arte de envelhecer composto pelos pensamentos de São José Lapa, Ana Bola, João Perry, Vitor Melícias, João Cutileiro, Maria Filomena Mónica, Celeste Rodrigues (fadista) e Manuel Sobrinho Simões (cientista).
Ora, ainda não me reconciliei com o Outono, para mim a Primavera é a estação eleita. Será que Camus fará mudar as ideias? O 1º andamento de Vivaldi será o Outono de Camus e o 2º andamento, Adágio Molto, é o Outono para mim .
Do apontamento no meu caderninho sobre a dolencia das flores, frase que já referi, fui à procura do texto de Clarice e encontrei-o no Pensador.
Rosas de Outono
Agora vou falar da dolencia das flores para sentir mais a ordem do que existe. Antes te dou com prazer o néctar, suco doce que muitas flores contém e que os insetos buscam com avidez. Pistilo é o orgão feminino da flor que geralmente ocupa o centro e contém o rudimento da semente. Pólen é pó fecundante produzido nos estames e contido nas anteras. Estame é o orgão masculino da flor. É composto por estilete e pela antera na parte inferior contornando o pistilo. Fecundação é a união de dois elementos de geração - masculino e feminino - da qual resulta o fruto fértil. “E plantou Javé Deus um jardim no Éden que fica no Oriente e colocou nele o homem que formara”(Gen.11- Quero pintar uma rosa. Rosa é flor feminina que se dá toda e tanto que para ela só resta alegria de se ter dado. Seu perfume é mistério doido. Quando profundamente aspirada toca no fundo íntimo do coração e deixa o interior do corpo inteiro perfumado. O modo de ela se abrir em mulher é belíssimo. As pétalas tem gosto bom na boca - é só experimentar. Mas a rosa não é it. É ela. As encarnadas são de grande sensualidade. As brancas são a paz do Deus. É muito raro encontrar na casa de flores rosas brancas. As amarelas são de um alarme alegre. As cor de rosa são em geral mais carnudas e tem a cor por excelência. As alaranjadas são produto de enxerto e são sexualmente atraentes. Preste atenção e é um favor: estou convidando voce a mudar-se para um reino novo. Já o cravo tem uma agressividade que vem de certa iritação. São ásperas e arrebitadas as pontas de suas pétalas. O perfume do cravo é de algum modo mortal. Os cravos vermelhos berram em violenta beleza. Os brancos lembram o caixão de criança defunta: o cheiro então se torna pungente e a gente desvia a cabeça para o lado com horror. Como transplantar o cravo para a tela? O girassol é o grande filho do sol. Tanto que sabe virar sua enorme corola para o lado de quem o criou. Não importa se é pai ou mãe. Não sei. Será o girassol flor feminina ou masculina? Acho que é masculina. A violeta é introvertida e sua introspecção é profunda. Dizem que se esconde por modéstia. Não é. Esconde-se para poder captar o próprio segredo. Seu quase-não-perfume é glória abafada mas exige da gente que o busque. Não grita nunca seu perfume.Violeta diz levezas que não se podem dizer. A sempre-viva é sempre morta. Sua secura tende à eternidade. O nome em grego quer dizer: sol de ouro. A margarida é florzinha alegre. É simples e à tona da pele. Só tem uma camada de pétalas. O centro é uma brincadeira infantil. A formosa orquídea é exquise e antipática. Não é expontânea. Requer redoma. Mas é mulher esplendorosa e isto não se pode negar. Também não se pode negar que é nobre porque é epífita. Epífitas nascem sobre outras plantas sem contudo tirar delas a nutrição. Estava mentindo quando disse que era antipática. Adoro orquídeas. Já nascem artificiais, já nascem arte. Tulipa só é tulipa na Holanda. Uma única tulipa simplesmente não é. Precisa de campo aberto para ser. Flor dos trigais só dá no meio do trigo. Na sua humildade tem a ousadia de aparecer em diversas formas e cores. A flor do trigal é bíblica. Nos presépios da Espanha não se separa os ramos de trigo. É um pequeno coração batendo. Mas angélica é perigosa.Tem perfume de capela. Traz êxtase. Lembra a hóstia. Muitos tem vontade de come-la e encher a boca com o intenso cheiro sagrado. O jasmim é dos namorados. Dá vontade de por reticências agora. Eles andam de mãos dadas, balançando os braços, e se dão beijos suaves ao quase som odorante do jardim. Estrelícia é masculina por excelência. Tem uma agressividade de amor e de sadio orgulho. Parece ter crista de galo e o seu canto. Só que não espera pela aurora. A violencia de tua beleza. Dama-da-noite tem perfume de lua cheia. É fantasmagórica e um pouco assustadora e é para quem ama o perigo. Só sai de noite com seu cheiro tonteador. Dama-da-noite é silente. E também da esquina deserta e em trevas e dos jardins de casas de luzes apagadas e janelas fechadas. É perigosíssima: é um assobio no escuro, o que ninguém aguenta. Mas eu aguento porque amo o perigo. Quanto à suculenta flor de cáctus, é grande e cheirosa e de cor brilhante. É a vingança sumarenta que faz a planta desértica. É o explendor nascendo da esterelidade despótica. Estou com preguiça de falar da edelvais. É que se encontra à altura de tres mil e quatrocentros metros de altitude. É branca e lanosa. Raramente alcançável: é a aspiração. Gerânio é flor de canteiro de janela. Encontra-se em São Paulo no bairro do Grajaú e na Suiça. Vitória-régia está no Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Enorme até quase dois metros de diametro. Aquáticas, é de se morrer delas. Elas são o amazônico dinossauro das flores. Espalham grande tranquilidade. A um tempo majestosas e simples. E apesar de viverem no nível das águas elas dão sombras. Isto que estou te escrevendo é em latim: de natura florum. Depois te mostrarei o meu estudo já transformado em desenho linear. O crisântemo é de alegria profunda. Fala através da cor e do despenteado. É flor que descabeladamente controla a própria selvageria. Acho que vou ter que pedir licença para morrer. Mas não posso, é tarde demais. Ouvi o Pássaro de Fogo - e afoguei-me inteira. Tenho que interromper porque - eu não disse? eu não disse que um dia ia me acontecer uma coisa? Pois aconteceu agora mesmo.”
Clarice Lispector, Água Viva (1973)
Gostava de megulhar num mar de flores... e adormecer.
Aprendi com as Primaveras a me deixar cortar para poder voltar sempre inteira.
Cecília Meireles
Obrigada por este presente, Cozinha dos Vurdóns, foi tão bonito reler depois da noite passada entre investigadores e cientistas que comemoraram Noite Europeia dos Investigadores, 2001 - 23 de Setembro. Um encontro em que se falou de ciência, religião e filosofia. Talvez um dia me sinta inteira!
Desenho não identificado de Rómulo de Carvalho no Centro de Ciência Viva do Departamento de Física da Universidade de Coimbra.
Ray Carlhes nasceu a 23 de Setembro em Albany, Georgia, USA.
Presto-lhe a minha homenagem neste dia em que começa o Outono boreal, tempo em que as árvores se enfeitam de dourado e se despem!
Jardim Botânico da Universidade de Coimbra, Coimbra
Georgia on My Mind
Georgia, Georgia The whole day through (the whole day through) Just an old sweet song Keeps Georgia on my mind (Georgia on my mind) I said a Georgia, Georgia A song of you (a song of you) Comes as sweet and clear as moonlight through the pines Other arms reach out to me Other eyes smile tenderly Still in the peaceful dreams I see The road leads back to you I said Georgia, oh Georgia, no peace I find (no peace i find) Just an old sweet song Keeps Georgia on my mind (Georgia on my mind ohh) Other arms reach out to me Other eyes smile tenderly Still in peaceful dreams I see The road leads back to you Oh Georgia, No peace, no peace I find Just an old, sweet song Keeps Georgia on my mind (Georgia on my mind) Other arms reach out to me Other eyes smile tenderly Still in peaceful dreams I see The road leads back to you Oh Georgia, Georgia No peace, no peace I find Just an old sweet song Keeps Georgia on my mind (Georgia on my mind) I said just an old sweet song Keeps Georgia on my mind
Júlio Resende nasceu no Porto a 23 de Outubro de 1917 e faleceu hoje em Gondomar. Uma grande perda. Tirou o curso na Faculdade de Belas Artes do Porto. Gosto da simplicidade do homem e da pintura que fez ao longo da vida. Bem haja!
Júlio Resende, Uma casa em Korntal
«Sendo inquestionável a função da cor na pintura reconhecemos que nem sempre os pintores sentiram nela uma forte motivação temperamental. Para que a cor viesse a constituir a génese de um conteúdo assumido como tal, teríamos de aguardar os finais do séc. XIX e o dealbar do século XX». Júlio Resende, retirado daqui.
Graça Morais é uma das pintoras portuguesas que admiro. As histórias que narra nas pinturas, desde sonhos da infância aos retratos de mulheres e o seu quotidiano fascinam-me. Há quem veja semelhanças e influências entre a sua pintura e a da Paula Rêgo. Talvez haja algum paralelismo mas Graça Morais é quanto a mim mais serena.
Na Galeria Ratton, em Lisboa, decorre uma exposição de Graça Morais intitulada "O tempo das cerejas e papoilas, Trás-os-Montes" desde 23 de Setembro a 11 de Novembro de 2011, como se pode ver no desdobrável.
As minhas amigas da Cozinha dos Vurdóns têm um "post" sobre o amor, a vida, a morte, ... Este é um elo de ligação mas com uma componente mais restrita.
Diego Rivera, Família Pobre na Rua, 1934
Audrey Hepburn em África fotografia retirada do site da UNICEF.
O Haver
Resta, acima de tudo, essa capacidade de ternura Essa intimidade perfeita com o silêncio Resta essa voz íntima pedindo perdão por tudo - Perdoai-os! porque eles não têm culpa de ter nascido...
Resta esse antigo respeito pela noite, esse falar baixo Essa mão que tateia antes de ter, esse medo De ferir tocando, essa forte mão de homem Cheia de mansidão para com tudo quanto existe.
Resta essa imobilidade, essa economia de gestos Essa inércia cada vez maior diante do Infinito Essa gagueira infantil de quem quer exprimir o inexprimível Essa irredutível recusa à poesia não vivida.
Resta essa comunhão com os sons, esse sentimento Da matéria em repouso, essa angústia da simultaneidade Do tempo, essa lenta decomposição poética Em busca de uma só vida, uma só morte, um só Vinicius.
Resta esse coração queimando como um círio Numa catedral em ruínas, essa tristeza Diante do cotidiano; ou essa súbita alegria Ao ouvir passos na noite que se perdem sem história.
Resta essa vontade de chorar diante da beleza Essa cólera em face da injustiça e o mal-entendido Essa imensa piedade de si mesmo, essa imensa Piedade de si mesmo e de sua força inútil.
Resta esse sentimento de infância subitamente desentranhado De pequenos absurdos, essa capacidade De rir à toa, esse ridículo desejo de ser útil E essa coragem para comprometer-se sem necessidade.
Resta essa distração, essa disponibilidade, essa vagueza De quem sabe que tudo já foi como será no vir-a-ser E ao mesmo tempo essa vontade de servir, essa Contemporaneidade com o amanhã dos que não tiveram ontem nem hoje.
Resta essa faculdade incoercível de sonhar De transfigurar a realidade, dentro dessa incapacidade De aceitá-la tal como é, e essa visão Ampla dos acontecimentos, e essa impressionante
E desnecessária presciência, e essa memória anterior De mundos inexistentes, e esse heroísmo Estático, e essa pequenina luz indecifrável A que às vezes os poetas dão o nome de esperança.
Resta esse desejo de sentir-se igual a todos De refletir-se em olhares sem curiosidade e sem memória Resta essa pobreza intrínseca, essa vaidade De não querer ser príncipe senão do seu reino.
Resta esse diálogo cotidiano com a morte, essa curiosidade Pelo momento a vir, quando, apressada Ela virá me entreabrir a porta como uma velha amante Mas recuará em véus ao ver-me junto à bem-amada...
Resta esse constante esforço para caminhar dentro do labirinto Esse eterno levantar-se depois de cada queda Essa busca de equilíbrio no fio da navalha Essa terrível coragem diante do grande medo, e esse medo Infantil de ter pequenas coragens.
15/04/1962
Vinicius de Moraes, in "Jardim Noturno - Poemas Inéditos", Companhia das Letras - São Paulo, 1993, pág. 17.
Joel Isaacson, Retrato de James Joyce, 1998, (detalhe)
gouache
Mas que haveria depois do universo? Nada. Mas haveria qualquer coisa em torno do universo para mostrar onde terminava, antes do lugar onde começava nada? Podia não ser uma parede, mas podia ser uma linha fininha, muito fininha em torno de todas as coisas. Era algo imenso, pensar em tudo e em todos os lugares. Só Deus o podia fazer. Tentou imaginar o enorme pensamento que esse deveria ser, mas só conseguiu pensar em Deus. Deus era o nome de Deus, tal como o seu nome era Stephen. Em francês dizia-se Dieu em vez de God, e era também o nome de Deus. E quando alguém rezava e dizia Dieu em vez de Deus, Deus compreendia imediatamente que era um francês que rezava. Mas embora tivesse nomes diferentes em todas as línguas do mundo, e se bem que Deus compreendesse o que diziam todos os homens que rezavam nas suas línguas diferentes, contudo, Deus permanecia sempre o mesmo Deus e o nome verdadeiro de Deus era God.
James Joyce, Retrato do Artista quando Jovem, Lisboa: Difel, 2002, p.34-35.(trad e prefácio de Alfredo Margarido, 2ª ed.)
Picasso - Mulher com um Leque - National Gallery of Art, Washington D.C Fotografia daqui
Elegância é a arte de não se fazer notar, aliada ao cuidado subtil de se deixar distinguir. Paul Valéry
Audrey Hepburn
A citação de Paul Valéry sobre elegância é para mim das mais interessantes. Hoje, reparei como é tão raro encontrar este arquétipo. Audrey Hepburn encarna este tipo. O que é ser elegante? Tenho para mim que é:
1. Ser simples; 2. Ser natural; 3. Ter sempre um sorriso; 4. Não dizer mal dos outros; 5. Saber estar; 6. Não embaraçar os outros; 7. Não ser soberbo/a; 8. Ser discreto/a; 9. Saber dizer que não se sabe; 10. Ser verdadeiro/a.
Todos temos uma ideia para a nossa casa. Eu gosto da casa destes cantores de folk.
Jean-Baptiste Camille Corot, Houses near Orleans, 1830 J. Paul Getty Museum, Los Angeles, EUA
Crosby, Still, Nash & Young - Our House do álbum Déjà Vu
Our House
I'll light the fire You put the flowers in the vase That you bought today
Staring at the fire For hours and hours While I listen to you Play your love songs All night long for me Only for me
Come to me now And rest your head for just five minutes Everything is good Such a cosy room The windows are illuminated By the sunshine through them Fiery gems for you Only for you
Our house is a very, very fine house With two cats in the yard Life used to be so hard Now everything is easy 'Cause of you And our la,la,la, la,la, la, la, la, la, la, la.....
Our house is a very, very fine house With two cats in the yard Life used to be so hard Now everything is easy 'Cause of you And Our
I'll light the fire And you place the flowers in the jar That you bought today
Uma dádiva que chegou da Isabel do blog Palavras Daqui e Dali. Obrigada! :)
Dádiva
Um dia feliz. O nevoeiro levantou cedo, eu trabalhava no jardim. Os beija-flores pairavam sobre a madressilva. Não havia na terra coisa que eu quisesse ter. Não conhecia ninguém digno da minha inveja. O que houvera de mal, já tinha esquecido. Não tinha vergonha de me lembrar que tinha sido quem fôra. No meu corpo nada doía. Endireitando as costas, via as velas e o mar azul.
(Onde o sol nasce e onde se põe), 1974
Czeslaw Mitosz e Wiskawa Szymborska, Alguns Gostam de poesia, Antologia, Lisboa: Cavalo de Ferro, 2004 (trad. do polaco e selecção de Elzbieta Milewska e Sérgio Neves) p. 69
O tempo não nos torna mais sábios, apenas mais cobardes.
Carlos Ruiz Zafón, Marina, Lisboa: Planeta, 2010, p.259 (trad. Maria do Carmo Abreu)
Faz tempo que tenho problemas com o blogue, desapareceram "Outras Culturas" e "seguidores", mudei de modelo e apareceu o que havia desaparecido. Apesar de ter recuperado os elementos nunca mais voltaram ao modelo inicial, isto é, aparecerem do lado esquerdo. Passaram então, para o final do blogue. Finalmente, parece que voltei a ter tudo no lugar.
Alguns amigos disseram-me que não conseguiam ver o blogue. Depois de tantas vicissitudes e de esperar que o blogger repusesse o que estava mal decidi vestir o modelo mais simples para pelo menos chegar a todos. Lamento estes contratempos. Agradeço a todos a visita e a companhia.
Na noite de bréu, onde o silêncio é incomensurável, uma luz azul cobalto rasga os céus.
Resquícios de almas perdidas no vazio cinzento dos escombros elevam-se numa pira de luz espalhando o pranto inevitável. A vida nasce das cinzas como a Fénix renascida. Uma pérola gigante rola sobre o Ground Zero, pára bem no centro da praça, e dentro dela saem milhares de laços identificados com o nome dos homens que pereceram sem que o pulsar assim o ditasse.
Ground Zero, Manhanttan, Nova Iorque
World Trade Center, Manhattan, terrorismo ou o poder sem razão, 11 de Setembro 2001 O meu minuto de silêncio em memória das vítimas do 11 de Setembro de 2001: Lacrimosa
Sandro Botticelli, detalhe de Flora do quadro Alegoria da Primavera, c.1485-87.
Galleria degli Uffizi, Florença
O prémio Champalimaud visão 2011, no valor de um milhão de euros, atribuído ao Programa Africano de Controlo da Oncocercose (APOC), é o reconhecimento dado pelos notáveis resultados na prevenção e combate à cegueira dos rios. Esta doença afecta 18 milhões de pessoas.
Associei esta boa novidade com Jorge Luís Borges que viveu na sombra e cegueira e foi um grande homem de letras e sabedoria.
ELOGIO DA SOMBRA
A velhice (tal é o nome que os outros lhe dão) pode ser o tempo de nossa felicidade. O animal morreu ou quase morreu. Restam o homem e sua alma. Vivo entre formas luminosas e vagas que não são ainda a escuridão. Buenos Aires, que antes se espalhava em subúrbios em direção à planície incessante, voltou a ser La Recoleta, o Retiro, as imprecisas ruas do Once e as precárias casas velhas que ainda chamamos o Sul. Sempre em minha vida foram demasiadas as coisas; Demócrito de Abdera arrancou os próprios olhos para pensar; o tempo foi meu Demócrito. Esta penumbra é lenta e não dói; flui por um manso declive e se parece à eternidade. Meus amigos não têm rosto, as mulheres são aquilo que foram há tantos anos, as esquinas podem ser outras, não há letras nas páginas dos livros. Tudo isso deveria atemorizar-me, mas é um deleite, um retorno. Das gerações dos textos que há na terra só terei lido uns poucos, os que continuo lendo na memória, lendo e transformando. Do Sul, do Leste, do Oeste, do Norte convergem os caminhos que me trouxeram a meu secreto centro. Esses caminhos foram ecos e passos, mulheres, homens, agonias, ressurreições, dias e noites, entressonhos e sonhos, cada ínfimo instante do ontem e dos ontens do mundo, a firme espada do dinamarquês e a lua do persa, os atos dos mortos, o compartilhado amor, as palavras, Emerson e a neve e tantas coisas. Agora posso esquecê-las. Chego a meu centro, a minha álgebra e minha chave, a meu espelho. Breve saberei quem sou.
Jorge Luis Borges, Elogio da sombra, 1969
Tenho os quatro volumes: Obra Completa de Jorge Luís Borges mas neste momento está inacessível por isso agradeço a gentileza do Google.
Gracías a la Vida de Joan Baez é uma canção que gosto mais de ouvir em espanhol. A versão mais actual é interessante. Em especial para a Isabel!
Ao longo da muralha que habitamos Há palavras de vida há palavras de morte Há palavras imensas,que esperam por nós E outras frágeis,que deixaram de esperar Há palavras acesas como barcos E há palavras homens,palavras que guardam O seu segredo e a sua posição
Entre nós e as palavras, surdamente, As mãos e as paredes de Elsenor
E há palavras e nocturnas palavras gemidos Palavras que nos sobem ilegíveis À boca Palavras diamantes palavras nunca escritas Palavras impossíveis de escrever Por não termos connosco cordas de violinos Nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar E os braços dos amantes escrevem muito alto Muito além da azul onde oxidados morrem Palavras maternais só sombra só soluço Só espasmos só amor só solidão desfeita
Entre nós e as palavras, os emparedados E entre nós e as palavras, o nosso dever falar.
Vicente Esparza é um pintor e desenhador alicantino. Nasceu em Huesca em 1946. Começou os estudos na Escuela de Artes y Oficios, em Alicante e terminou a formação no Circulo de Bellas Artes de Madrid.
Em Alicante encontrei uma exposição com as suas obras intitulada: Entre lo urbano y lo escénico. O tema e a pintura de Esparza encantaram-me, talvez por causa da luz e da face humanizada do animal que espalha entre a multidão. Por vezes há animais que são mais humanos do que as pessoas.
O silêncio é a profunda noite secreta do mundo. Não se pode falar de silêncio como se fala da neve: sentiu o silêncio dessas noites? Quem ouviu não diz. Há uma maçonaria do silêncio que consiste em não falar dele e de adorá-lo sem palavras.
Clarice Lispector, Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres, Lisboa: Relógio de Água, 1999, p.31
Virgínia Woolf,Contos, Lisboa: Relógio de Água, 2004, p. 159
Li os Contos de Virgínia Woolf ante a estrela maior e o azul marinho.
O olhar penetrante de Virgínia Woolf descreve, como um pintor, a paisagem e o ambiente ligando a emoção com a razão. É repousante ler um livro desta escritora.
Para terminar este périplo pelas três culturas falta só falar na presença mourisca que é visível pela cidade na arquitectura e no artesanato.
Toledo foi conquistada pelos mouros que invadiram a Península Ibérica no século VIII. A cidade conheceu prosperidade sob o domínio do califado de Córdova, foi nesta época que foi construída a mesquita. Após o desmembramento do califado tornou-se a capital da taifa de Toledo (ou reino de Toledo), em 1035. Com profundas raízes mouriscas a cidade mostra-nos a riqueza deixada pelo povo, possivelmente de origem berbere, que atravessou o Estreito de Gibraltar e venceu os visigodos.
Pormenor do monumento Cristo de La Luz - Mesquita do século X,
posteriormente convertida em igreja
Fontanário no meio do jardim
outro ponto de água
Mesquita del Cristo de La Luz
Interior da mesquita
Perspectiva do tecto
Uma representação de Cristo, já em parte desaparecida, a mostrar a reconversão da mesquita em igreja.
Mezquita del Cristo de la Luz
«El edificio original es de planta casi cuadrada de época califal. Su estado de conservación es prácticamente íntegro y constituye, por su originalidad, la más importante muestra del arte islámico en Toledo.
Se levantó en el año 999 por el arquitecto Musa ibn Alí, según reza una inscripción en caracteres cúficos en la fachada principal. Interiormente las naves se compartimentan en nueve espacios cubiertos con bóvedas nervadas, todas diferentes, gracias a cuatro columnas exentas con capiteles visigóticos sobre las que voltean doce arcos de herradura.
En el siglo XII se le añadió una cabecera románico-mudéjar, formada por un ábside semicircular y presbiterio recto, y decorada interiormente con frescos románicos, para adaptarla al culto cristiano. Exteriormente se decora con arquerías ciegas de herradura, siendo el acceso compuesto de tres puertas con tres arcos diferentes: polilobulado, de medio punto y de herradura.» daqui (turismo espanhol)
Para que as religiões se unam e não se digladiem, leiam os seguidores os seus livros sagrados e não transformem as três religiões que encontrei nesta cidade católica, Toledo, em interesses económicos e em poder: Pido a Diós.
Toledo é uma cidade peculiar por se vivenciar uma miscelânea cultural. Da cultura cristã passo para a cultura judaica /hebraica.
Se é histórico que os judeus foram perseguidos e expulsos também é que a sua presença na Península Ibérica, e em particular em Toledo, foi muito importante quer economicamente quer culturalmente. A visita à sinagoga que alberga um museu foi uma experiência gratificante.
Sinagoga Samuel Ha Leví o del Tránsito que após a expulsão dos judeus, em 1492, foi transformada em igreja.
Trecho fotografado do Guia de Toledo ... su Arte, ...su Historia, Toledo, p. 27
"Sinagoga Samuel Ha-Leví, construida en la segunda mitad del siglo XIV, de estilo gótico-mudéjar, por Samuel Ha-Leví, el tesorero del rey Pedro I, el Cruel.
Encierra hoy el Museo Sefardí, debajo del cual se encuentra uno de los baños del barrio de Hamanzeite". (Retirado do link indicado).
Vista do pátio interior do museu e Sinagoga
Livro com uma belíssima iluminura.
Escultura de Martina Lasry: Simbologia das las Letras Hebreas, século XX.
Peça do traje de casamento Sefardita.
Detalhe da escultura de Rosa Hidalgo, Samuel (Shmuel) Ben Meir Ha-Levi , Donado por Eprycon, S.L. a la ciudad de Toledo, 2002,
«Samuel ha-Leví Abulafia funcionario público, Oidor de la Audiencia y Tesorero Real del Rey Pedro I de Castilla.
La notable influencia y el rápido crecimiento de la riqueza de Samuel Levi, hicieron que el tesorero obtuviera el permiso del rey para construir otra sinagoga (a pesar de la prohibición de crear nuevas sinagogas), conocida hoy como "El Tránsito", y erigió así un magnífico monumento en el que no faltaban inscripciones en hebreo como agradecimiento al rey.
Samuel ha-Leví murió en 1360 tras perder a causa del propio rey la influencia que hasta entonces tenía».
Samuel Levi é representado com a Torah.
Local onde ficava guardada a Torah
Ponteiro para ler a Torah e rolo para pousar os braços.
Menorah, o castiçal de 7 braços.
Vista do tecto da Sinagoga
Na livraria do museu comprei um livro maravilhoso: S. Lomó Ibn Gabirol Selección de Perlas, Mibhar Ha-P. Nînîm (Máximas morales, sentencias e historietas) da Biblioteca Nueva Sefarad, Barcelona: Amelier Editor, 1977.