31/12/2010

Peace on Earth!

O som do carrilhão de Mafra para a despedida do ano. Um dos desejos Paz na Terra!
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Bing Crosby & David Bowie - The Little Drummer Boy / Peace On Earth


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Que o Novo Ano e os que se seguem tragam a felicidade e paz aos corações de todos os homens. Podemos estar certos dessa felicidade se a filosofia continuar a esclarecer o mundo e se os homens de todas as nações, unidos pelo talento, cultivarem cada vez mais as artes e a humanidade.

Almanaque Anual 1766 (citado em Daniel Roche, France in the Enlightemment, 1998)*

*Darrin Mcmahon, Uma História da Felicidade, Lisboa: Edições 70, 2009, p.253 (trad. Jaime Araújo)

30/12/2010

Porque é dia 30 - D'ont Warry Be Happy

Aproximamo-nos do final do ano, o meu desejo é que para todos que por aqui passam
a felicidade seja uma constante procura e uma renovada conquista!
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Campanário da Igreja de S. João Baptista, Tomar

A busca da felicidade superior, não apenas
a sua efectiva obtenção, é uma recompensa que excede
toda a riqueza humana, honra ou prazer físico.

- Cícero, excerto de Hortênsio, manuscrito perdido

Darrin Mcmahon, Uma História da Felicidade, Lisboa: Edições 70, 2009, p.33 (trad. Jaime Araújo)


29/12/2010

Do Espiritual na Arte

Do Espiritual na Arte é um livro de Kandinsky escrito em 1910 sobre teoria da arte.
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Dino Valls s/título

Cada quadro encerra misteriosamente toda uma vida, com muitos sofrimentos, dúvidas, horas de entusiasmo e de iluminação.
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Wassily Kandinsky, Do Espiritual na Arte, Lisboa: D. Quixote, 2010, p.24 (trad Maria Helena Freitas)
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Escolhi uma pintura de Dino Valls porque gosto do mistério que coloca nas suas telas e porque se ajusta com o pensamento de Kandinsky.

26/12/2010

Tempo...

O tempo anda sempre a brincar connosco! Nunca entendi o tempo.
Observo o relógio do campanário da Igreja de S. João Baptista e estou em perfeita harmonia com ele, ou seja, não sei para onde o ponteiro marca a hora. O tempo solar, o tempo das estrelas e da lua não se compadece com o tempo legal.
O tempo corre ... o quotidiano marca no relógio do nosso pulso: tic, tac, tic, tac, tic, tac ... e assim avança o tempo, sem contemplações, avança... avança e deixa-nos a olhar para o devir...
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Campanário da Igreja de S. João Baptista, Tomar

Escolhi este poema de Fernando Pessoa para acompanhar o relógio do meu campanário. Que o tempo que vem seja sorridente e deixe adormecer o Velho Ano com paz e alegria!

A lua por trás da torre

A lua por trás da torre
Faz a torre diferente.
A verdade, quando morre
Morre só porque não mente.

Mente a lua que se esconde
Por trás da torre de aqui,
Mente a torre porque é onde
A lua não está ali.

A lua é só um reflexo
A torre é um vulto somente,
E assim, num íntimo nexo,
Qualquer diz verdade e mente.

E é desta mista incerteza
De verdade e de mentira
Que nasce toda a beleza ―
Que desta hora se tira.

Saibamos, dando guarida
Ao que tudo é de metade,
Fazer bela a nossa vida
Mentindo com a verdade.

Fernando Pessoa, In Poesia 1931-1935 e não datada , Assírio & Alvim, ed. Manuela Parreira da Silva, Ana Maria Freitas, Madalena Dine, 2006 (Casa Fernando Pessoa)

Pink Floyd, Time

23/12/2010

Feliz Natal! "Ensinou-me a olhar para as coisas" (?)

Votos de FELIZ NATAL
para todos que amavelmente partilham as suas ideias
e me enriquecem!
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Lucas Cranach, o Velho, pintor alemão, A Sagrada Família, 1509. Escolhi este tríptico por colocar a Sagrada Família numa vivência quotidiana como tantas outras famílias.
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Städelaches Kunstinstitut. Frankfurt. Alemania.
(detalhe do volante direito: Duque João, o Resoluto, irmão do monarca abaixo assinalado, Frederico III)

(Detalhe volante esquerdo: Frederico, o Sábio, monarca da Saxónia)

No centro Maria vestida de azul e Santa Ana com o Menino. José encontra-se acocorado. No plano acima estão, não sei por que ordem(?) o Imperador Carlos V, o soberano Frederico, o Sábio e o duque João. (acrescentado17:30h) Vai chegar um Menino que dizem veio para salvar os homens. Creio que a sua beleza é capaz de o fazer... mas ainda não o encontrei. Um Menino que sabia o seu triste fim e não se revoltou.
Apesar das dúvidas utilizo Caeiro: "A mim ensinou-me tudo./Ensinou-me a olhar para as coisas./Aponta-me todas as coisas que há nas flores".

Poema do Menino Jesus

Num meio-dia de fim de Primavera
Tive um sonho como uma fotografia.
Vi Jesus Cristo descer à terra.
Veio pela encosta de um monte
Tornado outra vez menino,
A correr e a rolar-se pela erva
E a arrancar flores para as deitar fora
E a rir de modo a ouvir-se de longe.

Tinha fugido do céu.
Era nosso demais para fingir
De segunda pessoa da Trindade.
No céu tudo era falso, tudo em desacordo
Com flores e árvores e pedras.
No céu tinha que estar sempre sério
E de vez em quando de se tornar outra vez homem
E subir para a cruz, e estar sempre a morrer
Com uma coroa toda à roda de espinhos
E os pés espetados por um prego com cabeça,
E até com um trapo à roda da cintura
Como os pretos nas ilustrações.
Nem sequer o deixavam ter pai e mãe
Como as outras crianças.
O seu pai era duas pessoas -
Um velho chamado José, que era carpinteiro,
E que não era pai dele;
E o outro pai era uma pomba estúpida,
A única pomba feia do mundo
Porque nem era do mundo nem era pomba.
E a sua mãe não tinha amado antes de o ter.
Não era mulher: era uma mala
Em que ele tinha vindo do céu.
E queriam que ele, que só nascera da mãe,
E que nunca tivera pai para amar com respeito,
Pregasse a bondade e a justiça!

Um dia que Deus estava a dormir
E o Espírito Santo andava a voar,
Ele foi à caixa dos milagres e roubou três.
Com o primeiro fez que ninguém soubesse que ele tinha fugido.
Com o segundo criou-se eternamente humano e menino.
Com o terceiro criou um Cristo eternamente na cruz
E deixou-o pregado na cruz que há no céu
E serve de modelo às outras.
Depois fugiu para o Sol
E desceu no primeiro raio que apanhou.
Hoje vive na minha aldeia comigo.
É uma criança bonita de riso e natural.
Limpa o nariz ao braço direito,
Chapinha nas poças de água,
Colhe as flores e gosta delas e esquece-as.
Atira pedras aos burros,
Rouba a fruta dos pomares
E foge a chorar e a gritar dos cães.
E, porque sabe que elas não gostam
E que toda a gente acha graça,
Corre atrás das raparigas
Que vão em ranchos pelas estradas
Com as bilhas às cabeças
E levanta-lhes as saias.

A mim ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as coisas.
Aponta-me todas as coisas que há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas
Quando a gente as tem na mão
E olha devagar para elas.

Diz-me muito mal de Deus.
Diz que ele é um velho estúpido e doente,
Sempre a escarrar para o chão
E a dizer indecências.
A Virgem Maria leva as tardes da eternidade a fazer meia.
E o Espírito Santo coça-se com o bico
E empoleira-se nas cadeiras e suja-as.
Tudo no céu é estúpido como a Igreja Católica.
Diz-me que Deus não percebe nada
Das coisas que criou -
"Se é que ele as criou, do que duvido." -
"Ele diz por exemplo, que os seres cantam a sua glória,
Mas os seres não cantam nada.
Se cantassem seriam cantores.
Os seres existem e mais nada,
E por isso se chamam seres."
E depois, cansado de dizer mal de Deus,
O Menino Jesus adormece nos meus braços
E eu levo-o ao colo para casa.

... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...

Ele mora comigo na minha casa a meio do outeiro.
Ele é a Eterna Criança, o deus que faltava.
Ele é o humano que é natural.
Ele é o divino que sorri e que brinca.
E por isso é que eu sei com toda a certeza
Que ele é o Menino Jesus verdadeiro.

E a criança tão humana que é divina
É esta minha quotidiana vida de poeta,
E é por que ele anda sempre comigo que eu sou poeta sempre.
E que o meu mínimo olhar
Me enche de sensação,
E o mais pequeno som, seja do que for,
Parece falar comigo.

A Criança Nova que habita onde vivo
Dá-me uma mão a mim
E outra a tudo que existe
E assim vamos os três pelo caminho que houver,
Saltando e cantando e rindo
E gozando o nosso segredo comum
Que é saber por toda a parte
Que não há mistério no mundo
E que tudo vale a pena.

A Criança Eterna acompanha-me sempre.
A direcção do meu olhar é o seu dedo apontado.
O meu ouvido atento alegremente a todos os sons
São as cócegas que ele me faz, brincando, nas orelhas.

Damo-nos tão bem um com o outro
Na companhia de tudo
Que nunca pensamos um no outro,
Mas vivemos juntos e dois
Com um acordo íntimo
Como a mão direita e a esquerda.

Ao anoitecer brincamos as cinco pedrinhas
No degrau da porta de casa,
Graves como convém a um deus e a um poeta,
E como se cada pedra
Fosse todo o universo
E fosse por isso um grande perigo para ela
Deixá-la cair no chão.

Depois eu conto-lhe histórias das coisas só dos homens
E ele sorri porque tudo é incrível.
Ri dos reis e dos que não são reis,
E tem pena de ouvir falar das guerras,
E dos comércios, e dos navios
Que ficam fumo no ar dos altos mares.
Porque ele sabe que tudo isso falta àquela verdade
Que uma flor tem ao florescer
E que anda com a luz do Sol
A variar os montes e os vales
E a fazer doer aos olhos dos muros caiados.

Depois ele adormece e eu deito-o.
Levo-o ao colo para dentro de casa
E deito-o, despindo-o lentamente
E como seguindo um ritual muito limpo
E todo materno até ele estar nu.

Ele dorme dentro da minha alma
E às vezes acorda de noite
E brinca com os meus sonhos.
Vira uns de pernas para o ar,
Põe uns em cima dos outros
E bate palmas sozinho
Sorrindo para o meu sono.

... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...

Quando eu morrer, filhinho,
Seja eu a criança, o mais pequeno.
Pega-me tu ao colo
E leva-me para dentro da tua casa.
Despe o meu ser cansado e humano
E deita-me na tua cama.
E conta-me histórias, caso eu acorde,
Para eu tornar a adormecer.
E dá-me sonhos teus para eu brincar
Até que nasça qualquer dia
Que tu sabes qual é.

... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...

Esta é a história do meu Menino Jesus.
Por que razão que se perceba
Não há-de ser ela mais verdadeira
Que tudo quanto os filósofos pensam
E tudo quanto as religiões ensinam ?

Alberto Caeiro

George Michael - December Song (I Dreamed of Christmas)

21/12/2010

Aceita o Universo

Hieronymus Bosch, O Jardim das Delícias (com os dois volantes fechados), 1500 a 1504, segundo algumas citações.
Museu do Prado, Madrid

Aceita o universo
Como to deram os deuses.
Se os deuses te quisessem dar outro
Ter-to-iam dado.


Se há outras matérias e outros mundos —
Haja.

Alberto Caeiro, In Poemas Inconjuntos, In Poesia , Assírio & Alvim, ed. Fernando Cabral Martins, Richard Zenith, 2001

20/12/2010

Se eu fosse como um homem que vive na floresta

Confissão um livro de Tolstoi perturbador, profundo e actualíssimo. Na procura .... é pertinente ler-se esta autobiografia. Será um acto de amor à vida?
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Retrato de Tolstoi retirado da Internet


Se eu fosse como o homem que vive na floresta sabendo que não existe qualquer saída dela, poderia continuar a viver; mas eu era como um homem perdido na floresta e dominado pelo medo, correndo com grande agitação na ânsia de encontrar o caminho, sabendo que cada passo que dá o confunde ainda mais, mas não podendo deixar de correr desordenadamente.

Lev Tolstoi, Confissão, Edições Alfabeto, 2010, p.43, (trad. e notas Nina Guerra e Filipe Guerra).

18/12/2010

Chorar

Dino Valls, Antiphone, 1994
( dinovalls.com)

Há chorar com lágrimas e chorar com riso: chorar com lágrimas é sinal de dor moderada; chorar sem lágrimas é sinal de maior dor; e chorar com riso é sinal de dor suma e excessiva.

Padre António Vieira in Lágrimas de Heráclito (O Pranto e o Riso ou as Lágrimas de Heráclito, Discurso integral do Padre António Vieira, em Roma no ano de 1674, a convite da Rainha Cristina da Suécia)

Paulo Neves da Silva, Citações e Pensamentos de Padre António Vieira, Alfragide: Casa das Letras, 2010, p. 30.

Corelli - Sarabande



17/12/2010

Il Silenzio

Sandro Botticelli Nascita di Venere, dettagli (Galleria degli Uffizi)

Il Silenzio

Conosco una città
che ogni giorno s’empie di sole
e tutto è rapito in quel momento

Me ne sono andato una sera

Nel cuore durava il limio
delle cicale

Dal bastimento
verniciato di bianco
ho visto
la mia città sparire
lasciando
un poco
un abbraccio di lumi nell’aria torbida
sospesi

Giuseppe Ungaretti (surripiado da internet )


16/12/2010

Só o relógio prossegue o seu ruído.

O tempo e o silêncio por vezes são inquietantes porém outras, contrariamente, representam um vazio pacífico como a pequenez do relógio de Alberto Caeiro.
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Dino Valls, não consegui saber o título da tela por isso atribuo-lhe o nome de
O Tempo


XLIV

Acordo de noite subitamente,
E o meu relógio ocupa a noite toda.
Não sinto a Natureza lá fora.
O meu quarto é uma cousa escura com paredes vagamente brancas.
Lá fora há um sossego como se nada existisse.
Só o relógio prossegue o seu ruído.
E esta pequena cousa de engrenagens que está em cima da minha mesa
Abafa toda a existência da terra e do céu...
Quase que me perco a pensar o que isto significa,
Mas estaco, e sinto-me sorrir na noite com os cantos da boca,
Porque a única cousa que o meu relógio simboliza ou significa
Enchendo com a sua pequenez a noite enorme
É esta curiosa sensação de encher a noite enorme
Com a sua pequenez.

Alberto Caeiro in "O Guardador de Rebanhos - Poema XLIV"

14/12/2010

"...melodia clara".

Esta semana na companhia de Botticelli e de Rilke que escreveu poesia de uma espiritualidade encantadora.
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Sandro Botticelli, Anunciação, 1489-90


Têmpera. 150 x 156 cm, Galleria degli Uffizi, Florença
Detalhe



Anunciação


Não foi por um Anjo ter entrado (faz essa ideia tua)
que ela se sobressaltou. Tão pouco como outras,quando
um raio de sol ou à noite a lua
nos seus quartos se vão instalando,
se sobressaltam, ela não tinha o hábito de se indignar
à vista da figura do Anjo assumia;
ela mal sabia que este ali ficar
para os anjos é laborioso. (Oh se fosse possível saber como ela era pura. Não foi uma cerva que, a salvo,
deitada na floresta, dela se apercebeu,
equivocando-se de tal modo que concebeu,
sem sequer ser coberta, o Licorne mais alvo
o animal feito de luz,o mais puro de conceber.)
Não por ele entrar, mas o Anjo inclinar
para ela, tão de perto, o rosto que vinha anunciar,
tão jovem; e que de ambos o olhar se entrechocasse
quando um outro se encontrasse,
como se em volta tudo vazio parecesse
e que milhões de seres olhavam, faziam, suportavam,
nela se concentrasse: ela e ele apenas ali se encontravam;
Olhar e ser olhado, olhos e deleite para a vista
em mais nenhum lugar senão aquele: repara
isso sobressalta. E o susto de ambos era coisa prevista.

Então entoou o Anjo a sua melodia clara.

Rainer Maria Rilke, A Vida de Maria, Lisboa: Portugália Editora, 2008, p.41 (Trad. e pref. Maria Teresa Dias Furtado)

Antonello Messina - Annunciation
J. S. Bach - Magnificat


13/12/2010

Procura


Fotografia Nuno Rastos Rodrigues


O café pode ser um momento de prazer, de pensamentos e de tertúlias.

Este é o provérbio que encontramos no link assinalado:

"O café deve ser escuro como o breu, forte como um touro e tão doce como o amor."
Provérbio Turco

Ao tomar o café doce, forte e escuro encontrei sobre a mesa um panfleto onde li:

"Há um sol esplendente nas coisas"

Verso de Mário de Cesariny

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxProcura...

12/12/2010

Mas tu falas-me de países tão distantes

Onde podem existir unicórnios...
(Contrastes).
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Hieronymus Bosch, O Jardim das Delícias, detalhe.

Óleo sobre madeira, 220 x 389 cm, Museu do Prado, Madrid

Mas tu falas-me de países tão distantes.
E a minha força com as suas fontes
procura com o olhar os contornos dos montes.

Primeiro Livro, O Livro da Vida Monástica

Rainer Maria Rilke, O Livro de Horas, Lisboa: Assírio & Alvim, 2009, p.109
(trad. Maria Teresa Dias Furtado)

11/12/2010

O Outono gelado quase a despedir-se...

O Outono gelado e com neve parece que se despediu. O Outono com as folhas caídas dos belos plátanos está quase a despedir-se... mas a melancolia ainda não embarcou no navio de Cecília Meirelles que nos acompanhou esta semana.

Thomas Heeremans (c. 1640-1697)Winter Scene by a City Wall (c.1660-1697)

Courtesy of MU's Museum of Art and Archaeology
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Prazo de Vida

No meio do mundo faz frio,
faz frio no meio do mundo,
muito frio.

Mandei armar o meu navio.
Volveremos ao mar profundo,
meu navio!

No meio das águas faz frio.
Faz frio no meio das águas,
muito frio.

Marinheiro serei sombrio,
por minha provisão de mágoas.
Tão sombrio!

No meio da vida faz frio,
faz frio no meio da vida.
Muito frio.

O universo ficou vazio,
porque a mão do amor foi partida
no vazio.

Cecília Meireles, in 'Mar Absoluto' (retirado do citador)

Des Hommes et des Dieux

"DOS HOMENS E DOS DEUSES , Des hommes et des Dieux, é um filme de Xavier Beauvois com Lambert Wilson, Michael Londsdale e Olivier Rabourdain. Foi apresentado no Festival de Cannes 2010. Ganhou o Grande Prémio do Júri Prémio do Júri Ecuménico Prémio da Educação Nacional e foi candidato francês ao Óscar Melhor Filme Estrangeiro.

Baseado em factos reais, “Dos Homens e dos Deuses” apresenta o dia-a-dia de um mosteiro perdido no meio das montanhas do Atlas, onde vive uma comunidade de monges cistercienses franceses. Levam a sua vida em harmonia com a população muçulmana, mas uma acesa guerra civil, que opõe o exército argelino a grupos fundamentalistas islâmicos, instaura o terror na região."
Os monges recusam o regresso a França e a protecção do exército.
Uma das frases que retive do filme foi quando uma rapariga diz para o médico monge:
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«Les oiseaux c'est nous et vous, vous êtes la branche»

Picasso, Das Gesicht des Friedens
Art Movement - Classic Modernism - Size 40 cm x 50 cm

10/12/2010

Suportar a vida de outra maneira, sem a inventar?

Não iria suportar a vida sem sonhar, embora saiba que essa é a principal fonte de tristeza!
Obrigada Manuel Poppe pela mensagem do seu livro.
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Zvi Mairovich, Portrait of a Woman*



«- (...) E achas que éramos capazes de suportar a vida de outra maneira, sem a inventar?
- Sem a sonhar, dizes bem... Então foi o que aconteceu, sonhaste-a, idealizaste-a...
- Sei lá se a sonhei! Só sei que me desiludiu...
- Imaginaste-a. Se ela se entregasse, perdias a tua liberdade. A maravilhosa liberdade de sonhar. Ficavas preso a ela. Só aquilo, só ela. Assim, podes continuar à espera que chegue a perfeição.»

Manuel Poppe, Sombras em Telavive, Lisboa: Teorema, 2001, p.84

Acrescentei o texto depois do comentário belo de Margarida Elias.

* Zvi Mairovich é um pintor israelita que nasceu numa aldeia da Polónia em 1911 e faleceu em 1974. Só conheci este pintor com a leitura deste livro.

08/12/2010

Não haver gestos...

Flor Bela Espanca nasceu a 8 de Dezembro de 1894 e morreu à terceira tentativa de suícidio a 8 de Dezembro de 1930.
«Este diário é o registo dos últimos dias de uma virgem prometida à morte»
Natália Correia*
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Forbela Espanca retratada pelo irmão Apeles Espanca

Dezembro 2,

Não haver gestos nem palavras novas!


Florbela Espanca, Diário do último ano, Lisboa:Bertrand, 4ª ed., 1998, p. 61
*(Edição fac-similada, prefácio de Natália Correia)


Quando não há gestos nem palavras novas valerá a pena viver?

07/12/2010

...parei no círculo de lajes com a estrela de oito pontas no meio.

No livro de Tracy Chevallier A Rapariga com o Brinco de Pérola houve uma passagem que me ficou na memória: Griet foge de casa dos seus amos por causa de uma injustiça. Sozinha no meio da praça teve que decidir a direcção a tomar. A encruzilhada narrada na história surge num ou outro momento das nossas vivências. Não foi Vermeer que escolhi para ilustrar esta passagem mas o pintor espanhol, nascido em Zaragoza, Dino Valls, cuja pintura é por vezes difícil de assimilar. Nesta pintura pode visualizar-se a angústia de quem tem de fazer uma escolha!
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Dino Valls, Vanitas


Cheguei ao centro da praça e parei no círculo de lajes com a estrela de oito pontas no meio. Cada ponta indicava uma direcção na qual eu podia seguir.


Tracy Chevalier, A Rapariga com Brinco de Pérola, Lisboa: Quetzal, 2008, p.208

05/12/2010

Mozart in Memoriam

Gosto muito de Mozart, da sua música, da sua sensibilidade e jovialidade se assim se pode dizer. Soube no Prosimetron, através de Jad, que ele pereceu a 5 de Dezembro de 1791. Fica aqui a minha homenagem.
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*This family painting of Mozart is from Johann Nepomuk Cella Groce and was painted late Autumn 1780. It is the only authentic family portrait in existence. Mozart is seated at his piano with his sister, Nannerl. The portrait in the painting is of Mozart's deceased mother, Anna Maria. His father, Leopold, is shown standing to the right.


Mozart Magic Flute - Roth and Le Roi perform "Papagena / Papageno!"



Mozart Last Days **


**Hermann Kaulbach's 1872 oil painting "Mozart's last days," depicting the death of Wolfgang Amadeus Mozart. Based on eyewitness accounts of the composer's final days, Mozart may have died from acute kidney failure brought on by a strep throat epidemic that appears to have arisen from a local military hospital.
(Imagno/Getty Images)

O filme Amadeus realizado por Milos Forman, em 1984, encantou-me. A escrita do Requiem é o excerto que escolhi para associar à pintura: Últimos dias de Mozart.

Amadeus - Salieri y Mozart

Tom Hulce no papel de Wolfgang Amadeus Mozart
F. Murray Abraham.no papel de Antonio Salieri

Será o destino pertença de cada um ?

Peste vista de Buda, Budapeste, Húngria

Não há nenhum ser humano que seja bastante forte e inteligente para desviar com palavras ou com acções o destino fatal que advém, segundo leis irrevogáveis, da sua natureza, do seu carácter.

Sándor Márai, As Velas Ardem Até Ao Fim, Lisboa: D. Quixote, 2001

Ler um livro é viajar daí o meu regresso a Budapeste.,Húngria que é a pátria de Sándor Márai. Voltei a lembrar-me dele por causa da palavra destino que surgiu na leitura de um outro livro. Será o destino pertença de cada um?

Brahms, sinfonia nº 3


04/12/2010

...vida em círculos

Rainer Maria Rilke nasceu a 4 de Dezembro de 1875 em Praga. Esta semana foi a vinheta que acompanhou o blogue. O desenho é de Leonid Pasternak um pintor russo pós-impressionista. Sou apreciadora de esboços ou estudos que parecem inacabados.

Leonid Pasternak, Rainer, Maria Rilke

"Vivo a minha vida em círculos cada vez maiores
que se estendem sobre as coisas.
Talvez não possa acabar o último,
mas quero tentar".

Rainer Maria Rilke in Livro de Horas

Vivaldi - Concerto for Two Violins in A Minor RV522

Tal como Rilke de tempos a tempos a vida assemelha-se a círculos, parecendo que voltamos ao ponto de partida. Será sempre assim?

01/12/2010

Afectos

Alviela, Alcanena


A beleza deste Intermezzo
hoje assume o afecto recente que encontramos no curso do rio,
antes de desaguar no oceano.

Pietro Mascagni: Cavalleria Rusticana - Intermezzo



Hoje ao passear junto ao Alviela... persistências

Hoje ao passear junto ao Alviela lembrei-me da citação de Susan Sontag.
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xAlviela, Centro de Ciência Viva do Alviela, Carsoscópia, Alcanena


2/11/58

(...)


Diz Blake:

Se o Sol e a Lua duvidassem,
Não tardava que se apagassem.

Susan Sontag Renscer, Diários e Apontamentos 1947-1963, Lisboa: Quetzal, 2010, p.196

Chopin Nocturno n.º 4, Maria João Pires


O sol não tem aquecido e a lua não aparece...

persistência da melancolia.

28/11/2010

Blake in Memoriam!

William Blake nasceu a 28 de Novembro, de 1757, em Londres. Gosto imenso das suas aguarelas, da sua poesia e desenhos. O simbolismo patente nos seus trabalhos revela a constante procura de desvendar o mistério da vida.


Escolhi para o homenagear a Criação de Eva, como o início de tudo.
x
Illustration to Milton's "Lost Paradise", National Gallery of Victoria, Melbourne
x
A segunda escolha tem que ver com o fim e o enigma da morte. Esta como consequência do pecado original e da expulsão de Adão e Eva do Jardim do Éden.
x
A Casa da Morte, 1795-c.1805

Colour printed finished in ink and watercolour, Illustration to Milton's "Lost Paradise", Tate Gallery, London

E para finalizar alguns trabalhos dele ao som de Vivaldi.

William Blake - British Romantic Writer and Painter and Illustrator, 1757-1827 and Vivaldi: Gloria, for 6 solo voices, chorus, trumpet, 2 oboes, 2 violins, 2 violas, 2 cellos, strings & continuo in D major


Não dês nada...

Dá rosas, rosas, a quem sonha rosas!


Dá rosas, rosas, a quem sonha rosas!
Ou não dês nada, que sonhar é tudo.
As flores naturais e preciosas
São as que eu sonho, transtornado e mudo.

Dá rosas, rosas, só em pensamento,
A quem não tem no mundo mais jardim
Que aquele que há entre o desejo e o intento
E onde haja as rosas que me dás a mim.

Fernando Pessoa, Poesia 1931-1935 e não datada , Assírio & Alvim, ed. Manuela Parreira da Silva, Ana Maria Freitas, Madalena Dine, 2006

27/11/2010

Caem os sonhos um a um

como estas folhas outonais!
x
Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa



XV

Caem os sonhos um a um
e o sangue estremece.
Caem, e ficam no chão
de quem os morde e os esquece.

Farto de seiva, o dia amadurece.

Eugénio de Andrade, As mãos e os frutos, Vila Nova de Famalicão: Quasi, (22ª ed.), 2006, p.39.

26/11/2010

In Memoriam - Mário Cesariny

x
Mário Cesariny, Ilustração: No Pássaro Paradípsico de Manuel Lourenço


Faz-se Luz

Faz-se luz pelo processo
de eliminação de sombras
Ora as sombras existem
as sombras têm exaustiva vida própria
não dum e doutro lado da luz mas no próprio seio dela
intensamente amantes loucamente amadas
e espalham pelo chão braços de luz cinzenta
que se introduzem pelo bico nos olhos do homem
x
Por outro lado a sombra dita a luz
não ilumina realmente os objectos
os objectos vivem às escuras
numa perpétua aurora surrealista
com a qual não podemos contactar
senão como amantes
de olhos fechados
e lâmpadas nos dedos e na boca

Mário Cesariny, in "Pena Capital"
x
Mário Cesariny de Vasconcelos pereceu a 26 de Novembro de 2006. A vinheta desta semana homenageou este escritor e pintor surrealista. Escolhi este poema para dar alento a estes dias mais curtos e escuros. Faça-se então Luz.
A ilustração encantou-me porque pode ser uma flor ou um sol - Luz!


Yundi Li - Chopin "Fantasie" Impromptu, Op. 66

25/11/2010

...o próprio homem

Eça de Queirós nasceu na Póvoa de Varzim a 25 de Novembro de 1845. Homenageio-o com a recordação, em pintura, de um dos livros que me deu prazer ler que foi O Crime do Padre Amaro pela crítica e a ironia subjacentes.
Paula Rêgo pintou um conjunto de telas impressionantes sobre este livro. A exposição esteve no Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian em 1998 e eu tive o privilégio de a visitar.
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Paula Rêgo, O Crime do Padre Amaro - O embaixador de Jesus

«O melhor espectáculo para o homem será sempre o próprio homem.»
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Eça de Queirós
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In Citações e Pensamentos de Eça de Queirós, ( organizada por Paulo neves da Silva) Lisboa: Casa das Letras, 2010
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Se não nos rirmos de nós próprios, das nossas fraquezas e dos nossos sucessos de quem nos devemos rir?
Eça sempre soube rir da hipocrisia da sociedade portuguesa apontando as fraquezas humanas. O seu riso tinha como objectivo criar um mundo melhor.



Faenol Festival 2003: 3. In Trutina (from Carmina Burana) - Hayley Westenra

23/11/2010

A Verdade... entre o silêncio

Ontem vi a entrevista de Judite de Sousa a um ex-casapiano. Fez-me impressão a dor que ainda se observa na fisionomia do rapaz. Não confio na justiça ou pelo menos sou menos crente.
Assolaram-me uma série de associações, nada interligado... Abomino a violência, o desrespeito, o abuso do mais forte sobre a fragilidade.
A sensibilidade não existe nestes meios. É um mundo que desconheço e o qual não imagino, felizmente. Custou-me ver aquele jovem que não nomeio porque julgo que ele precisa de paz e de "silêncios" para se reencontrar. Há no entanto, uma particularidade que me espantou e não compreendo, ele ainda via como um pai a pessoa que o conduziu para uma vivência dolorosa.
Depois deste desabafo só me lembrei do poema de Fernando Pessoa: Achar a Montanha e da tinta da china de Cruzeiro Seixas: A Terra e o Céu.
Que do Céu chovam cavaleiros da justiça e que da Terra se procure a luz da verdade. E que a verdade tenha um sentido duplo.
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Cruzeiro Seixas, A terra e o Céu, tinta da china sobre papel Retirada daqui
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A Montanha por Achar

A montanha por achar
Há-de ser quando a encontrar,
Um templo aberto na pedra
Da encosta onde nada medra.

O santuário que ter,
Quando o encontrar, há-de ser
Na montanha procurada
E na gruta ali achada.

A verdade, se ela existe,
Ver-se-á que só consiste
Na procura da verdade
Porque a vida é só metade.

Fernando Pessoa, In Poesia 1931-1935 e não datada , Assírio & Alvim, ed. Manuela Parreira da Silva, Ana Maria Freitas, Madalena Dine, 2006

Em prol da Ciência

A lua durante esta noite!


Todos nos maravilhamos com as estrelas, a lua, o sol... o universo.


Pequeno Atlas do Sistema Solar


A obra Pequeno Atlas do Sistema Solar, da autoria de Eduardo Ivo Alves, será apresentada no próximo dia 23 de Novembro (3.ª feira), pelas 18h30m, na Livraria Fnac Coimbra.

A apresentação estará a cargo de Pedro Pina, investigador do Instituto Superior Técnico.

Eduardo Ivo Alves é Professor na Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra, é geólogo e ultimamente tem se dedicado à investigação planetária. O livro é publicado pela Imprensa da Universidade de Coimbra e destina-se ao grande público.

22/11/2010

Um anjo?

De Budapeste trouxe esta memória, uma escultura que ainda hoje me atormenta: O Génio da Morte.

Em plena época da Art Noveau (ou ainda resquícios de romantismo?), o escultor criou a peça com umas grandes asas, será a morte libertadora? x

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Donáth Gyula (1850-1909), The Genius of Death




Galeria Nacional Húngara, Buda, Budapeste, Húngria




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Trouxe Liszt na bagagem - Harmonies poétiques et religieuses, S.173 - 6. Hymne de l'Enfant à son réveil

Piano Leslie Howard






E a beleza de Peste vista de Buda, Budapeste, Húngria


21/11/2010

A ilha eterna onde nunca amanhece nem anoitece

A voz é tão poderosa como uma pintura. A ária "Ebben? ne andrò lontana", da ópera La Wally de Alfredo Catalani povoou uma parte da noite. Lembrei-me dela quando olhei para a barca e os corvos, símbolos de Lisboa.
Se com esta ária se pudesse pintar uma tela, o branco dos Alpes em festa de Inverno imperava, apesar da trágica morte dos amantes.
A vida e a morte surgem como uma pena que voa levada pela leveza do vento. A morte aparece como libertadora. O abismo e a neve são o cenário onde dois corvos negros simbolizam a passagem da barca para a ilha eterna onde nunca amanhece nem anoitece!
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S. Carlos, Lisboa
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Maria Callas faz desta morte o encontro com a serenidade!



20/11/2010

Uma janela iluminava-a...

É com prazer que folheio esta história: A Rapariga com o Brinco de Pérola, de Tracy Chevalier. Cada página recorda a película, a sensibilidade e a beleza que se desenrolam perante os nossos olhos. Surge a visão de uma rapariga simples, Griet, que observa a pintura e o mistério que o seu mestre representa.
Neste quadro a vaidade é perceptível a partir do espelho que reflecte a Mulher com o Colar de Pérolas.

xJohannes Vermeer,Woman with a Pearl Necklace, 1662-1664
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Staatliche Museen, Berlin



[A tela] Representava uma mulher de pé diante de uma mesa, de perfil, voltada para um espelho na parede. Tinha um manto sumptuoso de cetim amarelo debruado a arminho branco, e uma elegante fita vermelha de cinco pontas no cabelo. Uma janela iluminava-a da esquerda, e a luz incdia-lhe na face e delineava a curva delicada da testa e do nariz. Estava a pôr um colar de pérolas ao pescoço, a puxar as fitas para cima, com a mão no ar. Fascinada com a sua própria imagem no espelho, não parecia consciente de que alguém a olhava. (...)
Senti vontade de pôr aquele manto e as pérolas. Senti vontade de conhecer o homem que pintava assim aquela mulher.

Tracy Chevalier, Rapariga com Brinco de Pérola,Lisboa: Quetzal, 2008, p.40.

J. S. Bach - Prelude and Fugue n.1 in C Major BWV 846 (WTC I)

18/11/2010

de ilusão em ilusão... o afastamento da vaidade?

O livro aberto simbolizará a procura do perdão e o afastamento da vaidade?
(Clicar no link para ver o quadro).
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Quentin Metsys, Detalhe do quadro The Moneylender and his Wife (O Cambista e a sua Mulher), (1514). Acrescentei informação mais detalhada sobre o quadro a 21 de Novembro 16.49 h

Óleo sobre madeira, 71 x 68 cm, Museu do Louvre, Paris
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«Ao longo dos séculos, o homem fez tudo o que estava ao seu alcance para acreditar, andou de dogma em dogma, de ilusão em ilusão, e consagrou muito pouco tempo às dúvidas, breves intervalos entre os seus períodos de cegueira. A bem dizer, não se tratava de dúvidas mas sim de pausas, momentos de descanso, que se sucediam às fadigas da fé, de qualquer fé

E. M. Cioran, Do Inconveniente de Ter Nascido, Lisboa: Edições Galimard, 1973, p. 95.

OrFée au Lavoir Moderne Parisien nous chante illusion. Batterie: Edouard Coquard; piano: Michel Goubin; basse: Benoît Domuynk e guitare: Donatien Roustant

17/11/2010

A natureza tem que ajudar

Comprei esta rosa em Janeiro de 2008. Na altura era linda, floresceu, caiu a flor e este ano em 2010 ela morreu. Todos me diziam para a deitar fora pois, já nada podia nascer dali.
Entristeci... não queria que ela morresse, queria que durasse sempre.
Lembrei-me do Principezinho, de Saint-Exupéry, livro que tenho perdido nos confins das minhas estantes.Retirei daqui.

- Foi o tempo que perdeste com a tua rosa que fez a tua rosa tão importante.


Perdi muito tempo com a minha rosa. Continuo a regá-la. Fiquei feliz por renascer, mas não depende só de mim,
a natureza tem que ajudar.

...um retrato, uma alma!

À procura da beleza porque o tédio mata!
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Júlio Romero Torres nasceu em Córdoba em 1874, estudou Belas Artes sob a orientação do pai, Rafael Romero Barros, um pintor impressionista.
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Júlio Romero Torres, Viva El Pelo, 1928

Museo Julio Romero Torres, Córdoba, Espanha


«Um retrato pintado com a alma é um retrato, não do modelo mas do artista»

Oscar Wilde (citador)

16/11/2010

My tears! ... Memories

Já fiz uma postagem com a canção deste poema em Agosto, na vinheta que contemplava as tapeçarias de Pastrana. Encontrei uma versão mais bonita da música, desta vez, no blogue "Feira das Vaidades".
Hoje não choveu, mas é como se chovesse na materialização destas lágrimas.
As lágrimas podem expressar alegria quando algo nos toca e maravilha, ou tristeza quando nos lembramos da dor que nos causaram pela descrença em nós.
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Rogier Van der Weyden, Detalhe de Cristo Descendo da Cruz, Rosto de S. João Evangelista onde manifesta a sua dor (acrescentado a 25 de Novembro 2010)
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Acho-o lindo por isso o usei, ele ilustra bem esta canção.
Esta imagem já foi utilizada no Prosimetron.

Flow My Tears

Flow, my tears, fall from your springs!
Exiled for ever, let me mourn;
Where night's black bird her sad infamy sings,
There let me live forlorn.

Down vain lights, shine you no more!
No nights are dark enough for those
That in despair their lost fortunes deplore.
Light doth but shame disclose.

Never may my woes be relieved,
Since pity is fled;
And tears and sighs and groans my weary days
Of all joys have deprived.

From the highest spire of contentment
My fortune is thrown;
And fear and grief and pain for my deserts
Are my hopes, since hope is gone.

Hark! you shadows that in darkness dwell,
Learn to condemn light
Happy, happy they that in hell
Feel not the world's despite.

John Dowland

Andreas Scholl

15/11/2010

Do apolínio - a beleza da "Rapariga com o Brinco de Pérola"!

A Rapariga com o Brinco de Pérola é uma tela de Vermeer que me deleita e me faz sorrir. O filme que vi realizado por Peter Webber, em 2003, também trouxe beleza aos meus pensamentos. Se o quadro é belo, o filme não o é menos, pois, vivencia, em ficção, a vida do pintor e a feitura deste quadro em particular. O realizador baseou-se no romance de Tracy Chevallier inspirado no quadro do célebre pintor.
O atelier de Vermeer, as cores e a luz que irradiam da suas telas narradas na ficção, a história de amor e de inibições, os gestos as sensações que se transmitem pelo olhar e nunca se materializam e o silêncio constante no filme embelezam ainda mais a película.
Este post nasceu de uma associação de ideias, por causa de um comentário e da constante procura de tudo o que é "apolínio".
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Johannes Vermeer, Girl with a Pearl Earring, c. 1665.
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Oil on canvas, 46.5 × 40 cm Royal Picture Gallery Mauritshuis Hague,(Haia)



Filme de Peter Webber


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