Ontem vi a entrevista de Judite de Sousa a um ex-casapiano. Fez-me impressão a dor que ainda se observa na fisionomia do rapaz. Não confio na justiça ou pelo menos sou menos crente.
Assolaram-me uma série de associações, nada interligado... Abomino a violência, o desrespeito, o abuso do mais forte sobre a fragilidade.
A sensibilidade não existe nestes meios. É um mundo que desconheço e o qual não imagino, felizmente. Custou-me ver aquele jovem que não nomeio porque julgo que ele precisa de paz e de "silêncios" para se reencontrar. Há no entanto, uma particularidade que me espantou e não compreendo, ele ainda via como um pai a pessoa que o conduziu para uma vivência dolorosa.
Depois deste desabafo só me lembrei do poema de Fernando Pessoa: Achar a Montanha e da tinta da china de Cruzeiro Seixas: A Terra e o Céu.
Que do Céu chovam cavaleiros da justiça e que da Terra se procure a luz da verdade. E que a verdade tenha um sentido duplo.
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A Montanha por Achar
A montanha por achar
Há-de ser quando a encontrar,
Um templo aberto na pedra
Da encosta onde nada medra.
O santuário que ter,
Quando o encontrar, há-de ser
Na montanha procurada
E na gruta ali achada.
A verdade, se ela existe,
Ver-se-á que só consiste
Na procura da verdade
Porque a vida é só metade.
Fernando Pessoa, In Poesia 1931-1935 e não datada , Assírio & Alvim, ed. Manuela Parreira da Silva, Ana Maria Freitas, Madalena Dine, 2006
Violência, abuso, injustiça. Que bom que essas palavras desaparecessem do mundo!
ResponderEliminarInfelizmente, estão presentes de mais no nosso quotidiano.
O que se dabe do sofrimento dos outros?
Um beijinho e obrigada por "falar", protestar...
Estas situações são tão terríveis que é difícil falar delas e creio que as pessoas preferem o silêncio não só por vergonha, mas também por não quererem acreditar que são verdade. Mas de facto, é preciso falar delas, denuncia-las, para que se possa evitar que voltem a acontecer. Só não entendo é como as pessoas que cometem os crimes conseguem viver com elas mesmas e dormir bem de noite...
ResponderEliminarMJ Falcão,
ResponderEliminarNão consegui calar-me, fiquei impressionada. Embora haja mais detalhes a equacionar, deu-me vontade de desabafar.
Obrigada pela sua visita e opinião.
Um beijinho.
Margarida,
Concordo inteiramente com o que afirma e estou em sintonia com a sua opinião. Como podem dormir?
Um beijinho.
Eu ainda confio na Justiça, e até na Casa Pia, instituição onde se fez e continua a fazer uma série de reformas, da segurança (que falhou muito ao permitir que jovens saissem e entrassem a qualquer hora) à vertente pedagógica. Foi horrível o que sucedeu a estes jovens, mas a verdade é que são, felizmente, poucos se tivermos em conta os milhares de alunos, internos e externos, da Casa Pia.
ResponderEliminarEu sei de histórias terríveis! E parabéns pelo excelente post!
ResponderEliminarUma pergunta: acha que viajei demais?...
Olhe, se entender que é possível, gostaria de ter uma morada sua, para lhe enviar um livro meu.
Deixo-lhe o meu mail:
manuel.poppe@hotmail.com
Um grande abraço.
Ana, eu também vi. E estava consumida.
ResponderEliminarEu também não acredito na justiça, basta olhar ao redor.
E quem vai contra os Direitos Humanos e já não entro pelo restante, infelizmente dorme melhor do que qualquer um de nós.
O poder perante o mais fraco, o abuso, a chantagem a tortura.Tudo com base no poder, uso e abuso.
Não consigo colocar-me no mesmo lugar, é um mundo que me assusta e também desconheço, mas prefiro nem dizer o que seria justiça para mim nalguns casos.
Eu tenho um filho e te garanto que a nossa justiça a mim não me dava consolo. Eu penso e refiro sabendo que é incorrecto, na justiça que teria vontade de fazer com as minhas próprias mãos.
Sei o que é não conseguir provar algo grave, sei o que é ter que pensar antes de abrir a boca, por não ter provas e saber que ninguém iria acreditar em mim. Optei porque naturalmente sou assim por abrir a boca, fiquei sem emprego, mas dormi descansada.
Esse poema é incrivelmente belo.
Um beijo e obrigado.
Blue
Luís,
ResponderEliminarMuito obrigada pela sua visita. Pois, eu estou menos crente em relação à justiça, embora, não conheça tecnicamente o processo. A minha descrença vai para a justiça no sentido que abarca o terceiro poder da Constituição e a justiça no sentido filosófico, ético e moral.
Bjs.
Manuel Poppe,
Não existe viajar demais. Fico contente por ter viajado.
Quem me dera poder fazê-lo.
Acerca do seu livro, estou sem palavras:
- Muito, muito obrigada. Dentro em breve contactarei.
Um abraço!
Blue,
Obrigada pelo seu comentário.
Estou em sintonia consigo. E o que conta é terrivelmente injusto.
O poder que as pessoas têm em decidir da vida dos outros afastando-os do seu modo de ganhar a vida, é angustiante e desconsolador num Estado democrático!
Sentirmo-nos esmagados com a injustiça é das piores dores que se pode ter. Mas infelizmente,é assim...
Resta-nos ler o grande Fernando Pessoa e olhar para a beleza da pintura de Cruzeiro Seixas para pensarmos que há pessoas que constroiem.
Bjs.
Eu é que lhe agradeço a sua amizade!
ResponderEliminarUm beijo!
O que é particularmente irritante nesta «justiça», Ana, é que o meio de prova por excelência do crime em causa é a prova testemunhal. Mas parece ser porque a sentença assenta basicamente nesse meio de prova (como é lógico e legal que assente), que o processo está sendo contestado. Há tempos, alguém dizia que ainda acabaremos precursores no domínio do direito penal, criando a nova figura do crime sem criminoso. Ou, pior ainda, a figura do crime em que o criminoso é a própria vítima. Tristezas!
ResponderEliminarLuísa,
ResponderEliminarQue bom vê-la por aqui. "Tristezas"...diz bem.
O que afirmou é tão pertinente que aguardaremos uma decisão justa, isto é, sem demagogias.
Não vi a entrevista, mas percebo que por vezes o vazio afectivo é de tal dimensão, que nos agarramos ao pouco que sobra. E no que toca a qualquer forma de abuso, nunca é demais abordar o assunto e combatê-lo com veemência.
ResponderEliminarBem haja por relembrá-lo, Ana.
R,
ResponderEliminarQue bom vê-la por cá e obrigada pelas suas palavras.
Bom fim-de-semana!