16/12/2010

Só o relógio prossegue o seu ruído.

O tempo e o silêncio por vezes são inquietantes porém outras, contrariamente, representam um vazio pacífico como a pequenez do relógio de Alberto Caeiro.
x
Dino Valls, não consegui saber o título da tela por isso atribuo-lhe o nome de
O Tempo


XLIV

Acordo de noite subitamente,
E o meu relógio ocupa a noite toda.
Não sinto a Natureza lá fora.
O meu quarto é uma cousa escura com paredes vagamente brancas.
Lá fora há um sossego como se nada existisse.
Só o relógio prossegue o seu ruído.
E esta pequena cousa de engrenagens que está em cima da minha mesa
Abafa toda a existência da terra e do céu...
Quase que me perco a pensar o que isto significa,
Mas estaco, e sinto-me sorrir na noite com os cantos da boca,
Porque a única cousa que o meu relógio simboliza ou significa
Enchendo com a sua pequenez a noite enorme
É esta curiosa sensação de encher a noite enorme
Com a sua pequenez.

Alberto Caeiro in "O Guardador de Rebanhos - Poema XLIV"

6 comentários:

  1. Gostei da pintura e gostei muito do poema. Bom dia!

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  2. Obrigada Margarida,
    Alberto Caeiro é um dos heterónimos do Pessoa que me atrai.
    O tempo é uma medida tão difícil de avaliar... a hora convencional é diferente da solar e diferente daquela que os nossos olhos humanos percepcionam.
    Beijinho!

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  3. Ana que bela pintura, a beleza da face da mulher, onde o tempo deixa de existir....

    Beijo grande

    Blue

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  4. Blue,
    Obrigada pelas suas palavras!
    Beijinho!

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  5. Alberto Caeiro: sempre profundo na aparente simplicidade. E sempre contemplativo...

    Abraço!

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  6. R,
    Um Abraço e excelente fim-de-semana!:)

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