O Jardim Japonês da Quinta das Lágrimas, foi, como já disse, criado pela arquitecta paisagista Doutora Cristina Castel Branco que esteve em Tóquio a fazer uma especialização. Não é de grandes dimensões mas foi criado para receber o povo nipónico que visita Coimbra. As cores das paredes representam as cores de Kyoto. Para ultrapassar alguns problemas que a arquitectura do palácio colocava, a arquitecta utilizou a madeira, pintou as paredes, criou a assimetria que os jardins japoneses requerem fechando uma das janelas com um estore. As colunas foram tapadas e os tubos que transportam a água da chuva foram pintados como se de bambu se tratassem. A Quinta das Lágrimas tem um local no jardim onde foram plantados bambus no século XIX.
Uma sakura ainda sem flor.
Cada pedra e respectiva posição contam uma história e um significado que não sei explicar.
Acer e uma lanterna
O Jardim Japonês requer muito tempo para ser elaborado e muita atenção na sua manutenção. Os elementos que o caracterizam são: a vegetação, as árvores, as flores, a água e as pedras. A distribuição destas não é arbitrária, todas têm um significado, uma simbologia. O jardim retrata a representação do Universo. No entanto há um pormenor que me retém: as ondas do mar imenso que faz parte do quotidiano japonês, o mar que dá e tira, como se pôde ver com a tragédia provocada com o sismo. As ondas são desenhadas no chão e todos os dias podem mudar. A distribuição da água, do musgo, das árvores e das flores é calculada e orientada para que a beleza da natureza seja exaltada. Porém há jardins que são apenas desenhados com pedra, utilizados essencialmente nos templos.
No jardim da Quinta das Lágrimas, onde se respira paz e tranquilidade, qualquer pessoa pode beber um chá japonês. A descrição que se segue da "Arte do Chá" foi realizada excepcionalmente pela Professora Ayano Shinzato.
Sentados no chão, antes de beber o chá, a anfitriã oferece um papel de arroz com o desenho de uma sakura a cada um e coloca o bolo Castella, pão de ló, levado pelos portugueses para o Japão, no século XVI. O bolo deve ser cortado em quatro quadradinhos e comido. Habitualmente, antes de beber o chá come-se um doce ou bolo.
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Pão de Ló do Japão, Castella, feito em Portugal por Paulo Duarte.
Após a degustação do bolo é que a taça do chá é entregue.
O chá foi cuidadosamente preparado com pó de chá verde, matcha, e elaborado com um conjunto de gestos e de regras que atribuem àquele momento um acto simbólico de meditação. Depois de deitar o pó, é cuidadosamente mexido, com um determinado número de voltas.
A Professora Ayano deu a taça do chá aos convidados, rodando a taça três vezes de modo ao desenho mais importante ficar voltado para o convidado. Este recebe a taça e tem que executar os mesmos movimentos e beber o chá com o desenho virado para o anfitrião tudo seguido com um conjunto de códigos e acenos de cabeça. Na pequena taça vem o chá verde, cor mesmo verde, sem açúcar e deve beber-se em três goladas, uma, duas e a terceira deve-se absorver (com ruído) todo o chá. O ritual deve ser feito em silêncio, seguindo-se depois uma palestra ou conversa e meditação a olhar o jardim pleno de simbologia.
Sobre o chá ver em
Homeopatas descalços uma excelente explicação.