31/03/2011

"When the angels play for God they play Bach..."

Bach terá nascido a 31 (?) de Março de 1685

x"When the angels play for God they play Bach: to each other, they play Mozart."

Isaiah Berlin

Jonathan Day, Bach in Heaven


I grew up in Alaska. All myths about Alaska are true. I have worked as a welder, a chicken poop shoveler, a janitor, a construction worker, a teacher, a microwave electrical engineer, a solid state physics researcher, a baker, a cook, a janitor, and several other things, mostly in Oregon. All myths about Oregon are true. I have earned bachelor's degrees in Art and in Electrical Engineering, and a Ph.D. in physics. All along the way, I have drawn and painted and sculpted and made prints. My work is in private collections across the country. I am currently earning my living as a free-lance illustrator.


Jonathan Day



Dedico aos heróis do Japão a música de Bach que os anjos tocam para Deus, para que os anjos teçam uma malha protectora.


The New York Times article of Japan.


«(...) Heroic workers and firefighters continued to cool the volatile reactors by pumping in hundreds of tons of water a day. Much-awaited electricity had reached the plant after a rush to extend new power lines, ready to hook up to vital cooling systems and guide the plant to a long-term “cold shutdown.” (...).»

30/03/2011

Dois Retratos, dois Pintores e As Minhas Visitas V

Francisco Goya, Isabel Velasco de Porcel, 1804-05.

Óleo sobre tábua, 82 x 54 cm, National Gallery, Londres

Dois pintores, Goya e Van Ghog nasceram a 30 de Março, o primeiro em 1746 e o segundo em 1853. O tempo afasta-os em relação à técnica mas ambos retrataram de uma forma sublime a mulher.


Van Ghog, Adeline Ravoux, 1890


Museum of Arte Cleveland, EUA


Junto a estes retratos o agradecimento a dois visitantes menos regulares mas que contribuíram na partilha e para o enriquecimento deste espaço levando-me até Cioran, e estou a falar do Luís e de c.a.



O texto foi publicado pelo Luís no Prosimetron


Offrande musicale, Art de la fugue, Variations Goldberg: J' aime en musique, comme en philosophie et en tout, ce qui fait mal par l ' insistance, par la récurrence, par cet interminable retour qui touche aux dernières profondeurs de l' être et y provoque une délectation à peine soutenable.


E.M. Cioran, Ébauches de Vertige, p.31, Gallimard, 2008


Agradeço a partilha da beleza.


ana

29/03/2011

As minhas visitas IV


Vou no quarto post sobre As Minhas Visitas, o silêncio continua a romper-se, os sorrisos a transmitir-se as sensações e conhecimentos a dilatar-se. De cada um retirei o seu olhar no que me tocou particularmente. Espero que perdoem a minha ousadia. São quatro homens com vivências díspares (penso eu), cada pessoa é singular mas algo os une: a escrita e a humanidade que colocam através da pena e o papel. Falo de Manuel Poppe, AC, JPD e Mar Arável.



Agarra o Instante!


(De Manuel Poppe optei por esta escolha porque ando a ler os seus livros e colocarei alguns posts)


Fotografia de Manuel Poppe



O tempo come as horas...


"Ao morrer, cada um de nós deve dizer à Morte:


Deixe-me estar ainda um bocadinho. Esquecia-me por completo de viver..."


António Patrício, in Words..., Serão Inquieto, 1920



Interioridades


O Calor das Mãos


António Tapadinhas, Azul, azul


"... A pouco e pouco insinua-se a textura do barro, e o choro mistura-se com o riso. Aumenta a dimensão do olhar. A percepção do barro amaina o vento, mas não faz desaparecer a inquietude. São tantas as estrelas perante um pedaço de argila...! É então que se sente o desabrochar da flor, rompendo a ténue fronteira da solidão. As estrelas continuam longe, mas há um calor novo que renova o sentido das coisas. O calor das tuas mãos.


O Guizo e o Gato


Ciclotomia 2.


"(...) Este Verão, na praia, surpreendi-me a fechar na mão toda a areia que ela pudesse conter. Afinal, a vida é como este punhado de grãos de areia. Cada, um momento, um instante, uma alegria, uma angústia, uma desalento, uma tristeza. E, no entanto, se abrir a mão, assim, a maior parte dos grãos esvaiu-se. Desapareceu. É certo que eu senti um formigueiro na mão. Mas... A gente teme tanto os formigueiros. São tão maus prognósticos... E se tudo isso se tivesse passado no interior de uma ampulheta gigante? Quem me dera que o istmo, entre os dois balões, fosse insuficientemente apertado para eu poder passar, cair na almofada de areia que até ali me suportara e, alguém, até um animal de estimação, sei lá, virasse aquele contador de tempo para que se repetisse o efémero... Sísifo a exaurir na sua escalada.(...)"


Mar Arável


COMO TE VEJO


Ainda não aprenderam


os meus olhos


a verem-te como és


mas apenas como te vejo


Publicado no "Que fizeste das nossas flores"


Agradeço a partilha da beleza, das palavras e imagens.


ana

28/03/2011

As minhas visitas III

E pela janela entra mais dádiva dos deuses, mais sensibilidades, sorrisos e partilhas. Espero que perdoem a minha ousadia. Aqui trago seis mulheres, seis perspectivas: R, Sara, Catarina, Blue, JJ e Princesa Nadie.



Primavera à vista (21 /03/2011)


O dia abre os olhos/ e penetra numa primavera antecipada./ Tudo o que as minhas mãos tocam voa. /O mundo está cheio de pássaros.


Octavio Paz, 'Primavera à vista' in Antologia Poética, Ed. Dom Quixote.



Etnografia de Circunstância(s)


Magnólias


Fotografia de Sara (24/2/2011)


Mostram-se em profusão floral por esta altura do ano, desafiando um Inverno ainda plenamente instalado. Contrariando uma certa lógica, lançam a flor antes da folha. Como se não conseguissem esperar. Como se essa mesma urgência fosse a expressão concreta e esplendorosa da nossa própria ânsia de Primavera.


Contempladora Ocidental


Fotografia de Catarina do blog Contempladora Ocidental. (23/03/2011)


Qual é a diferença entre “Um dia de primavera” e “Um dia na primavera”?


Linguagem dos Pássaros


(23/02/2011)

- Agrada-lhe?/ - As chaves por favor. /- Não deseja ver mais nada?/ - Já vi. /- É só para uma pessoa? /- Sim. /- Está a sentir-se bem, minha senhora? /- Melhor é impossivel. Não quero ser incomodada. /- Precisa de mais alguma coisa? /- Sim, dormir. Apenas isso.




Lou Andréas-Salomé (22/03/2011)


(...) Mas, do mesmo modo que uma série de acontecimentos que se afastam da mediania permitem que se faça com mais clareza a clarificação das normas do que é considerado como regra, esta história levou-me a compreender o sentimento amoroso em geral, na medida em que no amor, o outro - mesmo que não represente como neste caso Deus - é enaltecido de uma maneira quase mística tornando-se o símbolo de toda a maravilha.


Lou Andréas-Salomé, A Minha Vida, Livros do Brasil, 1991.


PrincesaNadie


Un cezto de flores Una silla


"a delante de una ventana con un cesto de flores... "


Agradeço a partilha da beleza, das palavras e imagens.


ana

27/03/2011

Na Líbia... os homens, as armas, o deserto

Na Líbia luta-se pela liberdade mas ela é uma incógnita. Será que à ditadura de Kadhafi sucederá outra de cariz religioso? Será que há esperança para aquele povo? Será que os dias não se transformarão no seu deserto?


Líbia, fotografia de Tyler Hick, The New York Times




“Aprendi que um homem só tem o direito de olhar um outro de cima para baixo para ajudá-lo a levantar-se” x

Gabriel García Márquez

As minhas visitas II

Dando continuidade ao post anterior, trago a sensibilidade, a originalidade e a cultura, dádiva dos deuses, destas três mulheres: Sandra, Luísa e Virgínia.

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"The Sun is Here...the Spring has arrived"

Fotografia de Sandra do blog Presépio com Vista para o Canal (20/3/2011)


Procuro a ternura súbita
os olhos ou o sol por nascer
do tamanho do mundo,
(...)

Eugénio de Andrade, Procuro-te

Beira-Tejo

"Portraits..."

Fotografia de Luísa do blog Beira-Tejo, tirada em S. Vicente de Fora (21/03/2011)


"A Primavera não é só a renovação da natureza – e, nesta minha redoma urbana, como gosto de dar pela agitação namoradeira dos pombos e pela eclosão da flores! "

Dupla Vida de V

"Duas vezes a mesma vida"

(20/03/2011)


"No vácuo de mim eu me despenco. Porque seria preciso também abdicar de mim mesmo para novamente reconstruir-me. Tornar a escolher os gestos, as palavras, em cada momento decidir qual dos meus eus assumir. (...)"

Caio Fernando Abreu, in O Inventário do Ir-remediável

Agradeço a partilha da beleza, das palavras e imagens.

ana

25/03/2011

As minhas visitas I

Ter a nossa janela aberta e receber quem nos enriquece é uma dádiva dos deuses. O silêncio rompe-se, os sorrisos transmitem-se as sensações e conhecimentos dilatam-se. Hoje venho falar de três visitas regulares que muito me acalentam. De cada uma retirei o seu olhar e as suas escolhas que me tocaram particularmente. Espero que perdoem a minha ousadia.
O meu reconhecimento a estas mulheres sensíveis e com as suas particularidades e gostos.
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Dando as boas vindas à Primavera


Arthur Hacker, Les Fleurs du Printemps

«Spring is sooner recognized by plants than by men».

Provérbio chinês. (19/3/2011)

O Falcão de Jade

O Meu Pai e os Figos de Setembro


Fotografia de MJ Falcão, O Falcão de Jade

"Na manhã fria, que surgira bela e indiferente, colhera as flores que levava: as rosas de toucar, um ramo do medronheiro, as flores humildes da azinhaga..."

MJ Falcão, O Meu Pai e os Figos de Setembro . 18 /03/2011


Cozinha dos Vurdóns

Conversas na Cozinha dos Vurdóns


QUAL A DIFERENÇA ENTRE ESSAS CRIANÇAS, QUE SEJA CAPAZ DE DETERMINAR QUE UMA MERECE VIVER E A OUTRA NÃO?
Se algum desavisado disser: É A RAÇA.

LAMENTAMOS INFORMAR: TODOS, SEM EXCESSÃO SOMOS DA
RAÇA HUMANA.

NÃO HÁ DIVISÃO. O que existe é ignorância, preconceito e racismo. (22/3/2011)


Agradeço a partilha da beleza, das palavras e imagens.

ana

Um gato, um bailado, um olhar de Chagall

Este louva-a-deus
ao rastejar pelo chão
enreda-se no chão.
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Ishibashi Hideno, in O Japão no Feminino II, Haiku séculos XVII a XX, Lisboa Assírio & Alvim, (org. Luísa Freire), 2007, p. 83.
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Chagall, A Cat Costume design for Scene IV of the ballet Aleko, 1942.

Gouache, watercolor, and pencil on paper,40.6 x 30.2 cm, MOMA The Museum of Modern Art, New York

Excerpt from "Aleko" part of the piece "three spells", choreographed by Damien Jalet and Sidi Larbi Cherkaoui perfromed by Alexandra Gilbert and Damien Jalet, filmed at Aomori museum of arts, Japan

24/03/2011

Uma jóia, uma história

"No dia Mundial da poesia, 21 de Março, também foi o dia Mundial da luta por uma infância sem racismo.

crianças são como pássaros numa gaiola aberta .. o racismo é o canto que não sai e por hora não podemos assinar o quadro."
Comentário de Cozinha dos Vurdóns


É com estas palavras que agradeço uma jóia oferecida pela Cozinha dos Vurdóns. A Cozinha é composta por Mulheres que lutam e defendem a igualdade de direitos. Agraciaram-me com o prémio KREATIV BLOGGER AWARD. Embora almeje ajudar os outros fico aquém do que poderia fazer.


Tenho que o dar a (10) blogs amigos vou oferecer a todos os que me visitam por serem muito criativos e se destacarem pela diferença construtiva onde a beleza impera.




Uma história japonesa


Perante a infelicidade e a desgraça os japoneses unem-se para se entreajudar, nesse âmbito fazem, em origami, mil garças e oferecem às instituições que precisam de auxílio. As mil garças simbolizam a força e o voo que é preciso fazer para ultrapassar as dificuldades.





Retirado da Cozinha dos Vurdóns


Tenho de partilhar 10 coisas que gosto, vou enumerá-las ao acaso:


1. De todas as pessoas que me enriquecem;
2. Viajar;
3. Ler;
4. Música de todos os géneros: clássica, Ópera...Blues, Pop, Rock, Fado, Jazz...;
5. Arte;
6. Pensar;
7. Bailado;
8. Cinema;
9. Flores;
10. Chocolate negro.

23/03/2011

"...entre as minhas ideias e as ideias correntes..."

Do meu país que amo uma tristeza imensa me afecta: a crise profunda em que estamos a cair, uma crise de valores, uma crise política e económica. À volta deste marasmo, uma oligarquia imponente procura a vontade de poder e não a vontade de cuidar de um povo.

Não pude deixar de me lembrar das palavras de Umberto Saba que um amigo me fez conhecer.

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Carlo Levi, ritratto di Umberto Saba olio su tela




Vou fazer minhas as palavras de Umberto Saba:


«...entre as minhas ideias e as ideias correntes existe um abismo sem pontes.»




Manuel Poope, Novas Crónicas Italianas, Lisboa:Teorema, 1994, p.103




Umberto Saba nasceu em Trieste, em 1883, e morreu em Gorizia, em 1957. Sobre a poesia de Saba:
"Herdeira de uma tradição poética classicista com origem em Dante, na qual se podem incluir autores como Petrarca, Parini, Manzoni, Leopardi e o Foscolo dos sonetos, das odes e de Dei sepolcri, a poesia de Saba é a procura persistente de uma perfeição e coerência formais com que cobrir a aspereza do vivido e do sentido, com as suas contradições, a sua incompletude, as suas consequências".
No site da Nova Almedina

ULISSES

Na minha juventude naveguei
ao longo das costas da Dalmácia. Ilhéus
à flor das ondas emergiam, onde raro
uma ave buscava a sua presa,
cobertos de algas, escorregadios, ao sol
belos como esmeraldas. Quando a noite
e a maré alta os ocultavam, as velas
sob o vento o largo demandavam,
para fugir da cilada. Hoje o meu reino
é essa terra de ninguém. No porto
acendem-se as luzes para outros; a mim para o alto mar
me leva ainda o não domado espírito,
e da vida o doloroso amor.

Umberto Saba, in Poesia, selecção, tradução, introdução e notas de José Manuel de Vasconcelos, Assírio & Alvim, 2010. Apanhado aqui.


xCarlo Levi, Carlo Levi, Autoritratto, 1945


Olio su tela, cm 42 x 34, Roma, Fondazione Carlo Levi

Carlo Levi foi um pintor, escritor, anti-fascista activista e médico judeu que nasceu em Turim em 1902.

21/03/2011

..."o mais profundo silêncio" - Dia Mundial da Poesia

Hoje dia Mundial da Poesia a minha escolha recaiu neste poema por ser singelo e por pintar um pássaro numa gaiola aberta.
Havia tantos poetas nacionais para lembrar mas fui atrás de uma gaiola aberta, de uma pintura, do mais profundo silêncio e de uma pena.
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PARA PINTAR O RETRATO DE UM PÁSSARO

Pinte primeiro uma gaiola
com a porta aberta.
Em seguida pinte
alguma coisa graciosa,
alguma coisa simples,
alguma coisa bonita,
alguma coisa útil...
ao pássaro.
Depois, coloque a tela contra uma árvore
no jardim,
no bosque
ou na floresta
e esconda-se
atrás da árvore
sem dizer nada, sem se mexer.
Às vezes o pássaro chega logo,
mas pode levar muitos, muitos anos
até se resolver.
Não desanime,
espere.
Espere, se preciso, durante anos.
A velocidade ou a lentidão da chegada
do pássaro, não tem a menor relação
com a qualidade da pintura.
Quando ele chegar
(se chegar)
mantenha o mais profundo silêncio,
espere que ele entre na gaiola.
Depois que entrar,
feche lentamente a porta com o pincel.
Aí então
apague uma por uma todas as varetas.
(Cuidado para não esbarrar em nenhuma pena
do pássaro.)
Finalmente pinte a árvore,
reservando o mais belo de seus ramos
ao pássaro.
Pinte também a verde folhagem e a doçura do
vento,
a poeira do sol,
o rumorejo dos bichinhos da relva no calor da
estação.
Depois aguarde que o pássaro se decida a
cantar.
Se ele não cantar,
mau sinal:
sinal de que o quadro não presta.
Mas bom sinal, se ele canta:
sinal de que você pode assinar o quadro.
Então retire suavemente
uma pena do pássaro
e escreva o seu nome a um canto do quadro.

Jacques Prévert, “Paroles” (1945)

retirado daqui

ANNIE GIRARDOT - Pour faire le Portrait d'un Oiseau

Do Jardim Japonês e ainda o chá

O Jardim Japonês da Quinta das Lágrimas, foi, como já disse, criado pela arquitecta paisagista Doutora Cristina Castel Branco que esteve em Tóquio a fazer uma especialização. Não é de grandes dimensões mas foi criado para receber o povo nipónico que visita Coimbra. As cores das paredes representam as cores de Kyoto. Para ultrapassar alguns problemas que a arquitectura do palácio colocava, a arquitecta utilizou a madeira, pintou as paredes, criou a assimetria que os jardins japoneses requerem fechando uma das janelas com um estore. As colunas foram tapadas e os tubos que transportam a água da chuva foram pintados como se de bambu se tratassem. A Quinta das Lágrimas tem um local no jardim onde foram plantados bambus no século XIX.



Uma sakura ainda sem flor.






Cada pedra e respectiva posição contam uma história e um significado que não sei explicar.




Acer e uma lanterna



O Jardim Japonês requer muito tempo para ser elaborado e muita atenção na sua manutenção. Os elementos que o caracterizam são: a vegetação, as árvores, as flores, a água e as pedras. A distribuição destas não é arbitrária, todas têm um significado, uma simbologia. O jardim retrata a representação do Universo. No entanto há um pormenor que me retém: as ondas do mar imenso que faz parte do quotidiano japonês, o mar que dá e tira, como se pôde ver com a tragédia provocada com o sismo. As ondas são desenhadas no chão e todos os dias podem mudar. A distribuição da água, do musgo, das árvores e das flores é calculada e orientada para que a beleza da natureza seja exaltada. Porém há jardins que são apenas desenhados com pedra, utilizados essencialmente nos templos.



No jardim da Quinta das Lágrimas, onde se respira paz e tranquilidade, qualquer pessoa pode beber um chá japonês. A descrição que se segue da "Arte do Chá" foi realizada excepcionalmente pela Professora Ayano Shinzato.

Sentados no chão, antes de beber o chá, a anfitriã oferece um papel de arroz com o desenho de uma sakura a cada um e coloca o bolo Castella, pão de ló, levado pelos portugueses para o Japão, no século XVI. O bolo deve ser cortado em quatro quadradinhos e comido. Habitualmente, antes de beber o chá come-se um doce ou bolo.

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Pão de Ló do Japão, Castella, feito em Portugal por Paulo Duarte.







Após a degustação do bolo é que a taça do chá é entregue.




O chá foi cuidadosamente preparado com pó de chá verde, matcha, e elaborado com um conjunto de gestos e de regras que atribuem àquele momento um acto simbólico de meditação. Depois de deitar o pó, é cuidadosamente mexido, com um determinado número de voltas.





A Professora Ayano deu a taça do chá aos convidados, rodando a taça três vezes de modo ao desenho mais importante ficar voltado para o convidado. Este recebe a taça e tem que executar os mesmos movimentos e beber o chá com o desenho virado para o anfitrião tudo seguido com um conjunto de códigos e acenos de cabeça. Na pequena taça vem o chá verde, cor mesmo verde, sem açúcar e deve beber-se em três goladas, uma, duas e a terceira deve-se absorver (com ruído) todo o chá. O ritual deve ser feito em silêncio, seguindo-se depois uma palestra ou conversa e meditação a olhar o jardim pleno de simbologia.



Sobre o chá ver em Homeopatas descalços uma excelente explicação.

20/03/2011

Viva a Primavera

Uma papoila. A beleza da papoila é que não gosta de ser apanhada, morre quando a desenraízam!


Hoje ao visitar o blogue da Princesa Nadie vi os detalhes de uma bela tela sobre a chegada da Primavera. Escolhi estes mas sugiro que visitem o blogue porque a tela tem pormenores interessantes e podem ter uma ideia completa do quadro. Sempre gostei de coroas de flores, quando era criança eu e as minhas irmãs faziamos coroas de malmequeres.
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Detalhe, Lawrence Alma Tadema, Chegada da Primavera, 1836
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A Primavera chegou às 23 horas e 20 minutos de hoje.

Detalhe

Quando Tornar a Vir a Primavera

Quando tornar a vir a Primavera
Talvez já não me encontre no mundo.
Gostava agora de poder julgar que a Primavera é gente
Para poder supor que ela choraria,
Vendo que perdera o seu único amigo.
Mas a Primavera nem sequer é uma cousa:
É uma maneira de dizer.
Nem mesmo as flores tornam, ou as folhas verdes.
Há novas flores, novas folhas verdes.
Há outros dias suaves.


Alberto Caeiro, Poemas Inconjuntos In "Poesia", Lisboa: Assírio & Alvim, ed. Fernando Cabral Martins, Richard Zenith, 2001

Detalhe



Nigel Kennedy

Um chá a pensar nos 50 japoneses que morrem para salvar o seu povo.

Na Quinta das Lágrimas, no Jardim Japonês, criado pela arquitecta paisagista Doutora Cristina Castel-Branco, assisti à arte do chá: rito efectuado pela Professora Ayano Shinzato, do curso de Japonês da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Um convite que a professora fez aos seus alunos para vivenciar a arte do chá e a harmonia do jardim japonês, à procura do simbolismo, da estética, da busca do silêncio e da meditação. Enfim, demonstrar como esta arte liberta as coisas de somenos importância, à procura do que é verdadeiramente importante - a Verdade.

Neste momento de beleza foi recordada a tragédia que o Japão vivencia e foram homenageados os 50 japoneses que estiveram e estão expostos a taxas de radioactividade letal. Quero também registar que mais 50 voluntários se apresentaram para a mesma tarefa sendo designados os novos Kamikases.

O meu agradecimento à professora e à arquitecta paisagista que nos deram uma bela lição sobre os jardins japoneses, a sua simbologia e estética.

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A Arte do Chá no jardim Japonês da Quinta das Lágrimas, Coimbra

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«Segundo a tradição da gente japonesa, Darumá, o grande apóstolo indiano do budismo, veio à China aí pelo começo do século VI da nossa era cristã, e em terras chinesas pregou em honra da verdade, iluminando o espírito dos povos [...] certa noite, as pálpebras se lhe cerraram de fadiga, e o bom Darumá deixou-se adormecer, para só acordar pela manhã. Então, pedindo a alguém uma tesoura ou instrumento parecido, cortou a si próprio as pálpebras indignas e arremessou-as ao solo, num gesto de despeito... As pálpebras, por milagre, enraizaram, dando nascença a um gracioso arbusto nunca visto, que medrou muito de pronto e cujas folhas, tratadas de infusão pela água quente, foram um remédio precioso contra o sono e contra o cansaço das vigílias. Estava conhecido o chá; tem pois na China a sua origem, e é coisa santa, como se acaba de provar.. »

Venceslau de Morais – O culto do chá. 2.ª ed. Lisboa: Vega, 1996, p. 17-18. Com desenhos de Yoshiaki




Dedico este post a todos os Japoneses e, em particular, a Luís Afonso e à sua família directa que vivem Hakata/Fukuoka, Kyushu, Japão.

19/03/2011

Lua cheia no céu incandeceste.

Lua cheia no céu incandescente.
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Umberto Sartory, S/título

Olio e polvere da sparo su cartoncino, cm. 70 × 70, 1983/84, Museo Nuovo Rinascimento, Veneza


Quando o meu desejo
se torna intenso de mais,
visto a roupa de dormir
virada pelo avesso,
escura casca da noite. *

Ono No Komachi, O Japão no Feminino I, Tanka, séculos IX a XI,(Organização Luísa Freire), Lisboa: Assírio & Alvim, 2007, p. 21.

*Velho costume japonês de virar a roupa ao contrário para que se cumpra um desejo.

18/03/2011

"O futuro do homem é o homem",

Nas minhas divagações sobre a essência da humanidade: Quem somos? Para onde vamos? O que queremos?, cheguei a este trecho de Eugénio de Andrade.
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Mário Botas, Eugénio de Andrade, 1980.

Tinta da china

Poética
Texto ou Antologia para Prosa

"O futuro do homem é o homem", estamos de acordo. Mas o homem do nosso futuro não nos interessa desfigurado. Este animal triste que nos habita há milhares de anos, cujas possibilidades estamos tão longe de conhecer, é o fruto de uma desfiguração - acção de uma cultura mais interessada em ocultar ao homem o seu rosto do que em trazê-lo, belo e tenebroso, à luz limpa do dia. É contra a ausência do homem no homem que a palavra do poeta se insurge, é contra esta amputação no corpo vivo da vida que o poeta se rebela. E se ousa "cantar no suplício" é porque não quer morrer sem se olhar nos seus próprios olhos, e reconhecer-se, e detestar-se, ou amar-se, se for caso disso, no que não creio. De Homero a S. João da Cruz, de Virgílio a Alexandre Blok, de Li Bay a William Blake, de Bashô a Kavafis, a ambição maior do fazer poético foi sempre a mesma: Ecce Homo, parece dizer cada poema.
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Eugénio de Andrade,in " Afluentes do Silêncio", Editorial Inova Limitada, Dezembro 1970, trecho retirado da Fundação Eugénio de Andrade


17/03/2011

"La vie est un ballet"

Irma Stern, Ballet dancers, 1943.
Irma nasceu na África do Sul em 1894 e faleceu em 1966.
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La vie est un ballet ; on ne le danse qu'une fois.
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Proverbe malinké

Homenagem a Rudolfo Nureyev que nasceu a 17 de Março na Rússia Soviética em 1938. Faleceu em Paris em 1993.


15/03/2011

Um detalhe

Giambattista Tiepolo nasceu em Veneza a 15 de Março.

Giambattista Tiepolo, Detalhe Anunciação


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Se chovesse agora,
talvez a lua que passa
cruzando este céu
e parando no portão
pudesse ficar retida.

Isumi Shikibu (974?-1034?) in O Japão no Feminino I, Tanka, séculos IX a XI, (org. Luísa Freire), Lisboa: Assírio & Alvim, 2007, p. 54.

14/03/2011

O grito das gárgulas

O grito das gárgulas é mudo!
A pensar no Japão.

Gárgulas de Il Duomo, Milão
Catedral
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Só as gárgulas conhecem todos os segredos de uma cidade.
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José Mário Silva, Prosa, Efeito Borboleta e outras Histórias, Alfragide: Oficina do Livro, 2010, p. 167


13/03/2011

O choro das árvores

Hasegawa Tōhaku, pintor japonês (1539-1610), Shōrin-zu byōbu

(right)
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(left)

Redemoinho do Tsunami do Japão

Imagem daqui
xx

O silêncio, o que é o silêncio? perguntei ao mestre.
- Uma floresta cheia de ruído.
x
Casimiro de Brito, in "Arte da Respiração" (retirado do citador)

No Japão o silêncio foi interrompido pelo choro das árvores, pelos gritos de dor e pelas lágrimas.

Ninguém entende as guerras nem as catástrofes naturais. Não sei porque é que me lembrei do filme de Spielberg: "O Império do Sol" que me tocou particularmente. A causa poderá estar ligada às últimas notícias sobre os dois reactores nucleares que se danificaram como consequência do Tsunami e por ter passado no blogue O Falcão de Jade. Temo por aquele povo!

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