18/03/2011

"O futuro do homem é o homem",

Nas minhas divagações sobre a essência da humanidade: Quem somos? Para onde vamos? O que queremos?, cheguei a este trecho de Eugénio de Andrade.
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Mário Botas, Eugénio de Andrade, 1980.

Tinta da china

Poética
Texto ou Antologia para Prosa

"O futuro do homem é o homem", estamos de acordo. Mas o homem do nosso futuro não nos interessa desfigurado. Este animal triste que nos habita há milhares de anos, cujas possibilidades estamos tão longe de conhecer, é o fruto de uma desfiguração - acção de uma cultura mais interessada em ocultar ao homem o seu rosto do que em trazê-lo, belo e tenebroso, à luz limpa do dia. É contra a ausência do homem no homem que a palavra do poeta se insurge, é contra esta amputação no corpo vivo da vida que o poeta se rebela. E se ousa "cantar no suplício" é porque não quer morrer sem se olhar nos seus próprios olhos, e reconhecer-se, e detestar-se, ou amar-se, se for caso disso, no que não creio. De Homero a S. João da Cruz, de Virgílio a Alexandre Blok, de Li Bay a William Blake, de Bashô a Kavafis, a ambição maior do fazer poético foi sempre a mesma: Ecce Homo, parece dizer cada poema.
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Eugénio de Andrade,in " Afluentes do Silêncio", Editorial Inova Limitada, Dezembro 1970, trecho retirado da Fundação Eugénio de Andrade


8 comentários:

  1. Caramba Ana,

    Gostei e muito, não conhecia o trecho ... de tanto falarem bem comecei a ler Caeiro.

    Tô gostando ...

    bjs

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  2. Uma escolha feliz.
    Que engloba três grandes nomes da cultura em Portugal, ana.

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  3. Margarida,
    Também gostei. Bjs! :)

    Cozinha dos Vurdóns,
    Fico contente que tenhm gostado.
    5 bjs! :)

    Obrigada, Pedro Coimbra. :)

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  4. Duas escolhas assinaláveis, ana. Ninguém o diria melhor do que E.A., que certamente não temeu enfrentar-se.
    Já o tema da Mariza é também um dos meus preferidos!

    Como diriam os nossos 'irmãos' do Brasil:

    'amei'! :)

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  5. R,
    Voltei a colocar este fado e a Mariza porque adoro.
    Do E.A. não há palavras.
    Bom fim-de-semana!

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  6. Eugenio de Andrade e o meu poeta portugues favorito, por isso, e sempre um deleite ler a sua poesia.:-)
    Este tema da Mariza fez-me sorrir...ouvi-o muita vez no meu primeiro inverno por terras baixas...choveu muito nesse ano...;-)
    Bjs!

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  7. Sandra,
    Também gosto muito da simplicidade dele, da inquietude e da beleza.
    Mariza é para mim a melhor fadista viva.
    Bjs! :)

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