Do meu país que amo uma tristeza imensa me afecta: a crise profunda em que estamos a cair, uma crise de valores, uma crise política e económica. À volta deste marasmo, uma oligarquia imponente procura a vontade de poder e não a vontade de cuidar de um povo.
Não pude deixar de me lembrar das palavras de Umberto Saba que um amigo me fez conhecer.
x
Carlo Levi,
ritratto di Umberto Saba olio su tela
Vou fazer minhas as palavras de Umberto Saba:
«...entre as minhas ideias e as ideias correntes existe um abismo sem pontes.»
Manuel Poope, Novas Crónicas Italianas, Lisboa:Teorema, 1994, p.103
Umberto Saba nasceu em Trieste, em 1883, e morreu em Gorizia, em 1957. Sobre a poesia de Saba:
"Herdeira de uma tradição poética classicista com origem em Dante, na qual se podem incluir autores como Petrarca, Parini, Manzoni, Leopardi e o Foscolo dos sonetos, das odes e de Dei sepolcri, a poesia de Saba é a procura persistente de uma perfeição e coerência formais com que cobrir a aspereza do vivido e do sentido, com as suas contradições, a sua incompletude, as suas consequências".
No site da Nova Almedina
ULISSES
Na minha juventude naveguei
ao longo das costas da Dalmácia. Ilhéus
à flor das ondas emergiam, onde raro
uma ave buscava a sua presa,
cobertos de algas, escorregadios, ao sol
belos como esmeraldas. Quando a noite
e a maré alta os ocultavam, as velas
sob o vento o largo demandavam,
para fugir da cilada. Hoje o meu reino
é essa terra de ninguém. No porto
acendem-se as luzes para outros; a mim para o alto mar
me leva ainda o não domado espírito,
e da vida o doloroso amor.
Umberto Saba, in Poesia, selecção, tradução, introdução e notas de José Manuel de Vasconcelos, Assírio & Alvim, 2010. Apanhado aqui.
xCarlo Levi, Carlo Levi,
Autoritratto, 1945
Olio su tela, cm 42 x 34, Roma, Fondazione Carlo Levi
Carlo Levi foi um pintor, escritor, anti-fascista activista e médico judeu que nasceu em Turim em 1902.