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25/09/2012

Cielo - Umberto Saba

Talvez o céu de Saba esteja representado na segunda tela e não na primeira. Todavia, a primeira é a que mais se aproxima do céu de Portugal, tão negro e tristemente tratado por governantes sem alma. Almejo um céu azul, sereno e radioso mas está tão longe essa estação...

J. M. W. Turner. Stormy Sea with Blazing Wreck 1835-40, Tate Britain, London.

Turner, Norham Castle, Sunrise (c. 1845)


CIELO

La buona, la meravigliosa Lina
spalanca la finestra perché veda
il cielo immenso.

Qui tranquillo a riposo, dove penso
che ho dato invano, che la fine approssima,
più mi piace quel cielo, quelle rondini,
quelle nubi. Non chiedo altro
Fumare
la mia pipa in silenzio come un vecchio
lupo di mare.

***

CÉU

A boa, a maravilhosa Lina
abre de par em par a janela para que eu veja
o céu imenso.

Aqui repousando tranquilo, quanto penso
que lutei em vão, que o fim se aproxima,
mais amo este céu, estas andorinhas,
estas nuvens. Nada mais peço.
Fumar
em silêncio o meu cachimbo  como um velho
lobo-do-mar.

Umberto Saba, Poesia. Lisboa: Assírio & Alvim, 2010, pp. 372-373, (selecção, tradução, introdução
 e notas José Manuel de Vasconcelos)

 

23/03/2011

"...entre as minhas ideias e as ideias correntes..."

Do meu país que amo uma tristeza imensa me afecta: a crise profunda em que estamos a cair, uma crise de valores, uma crise política e económica. À volta deste marasmo, uma oligarquia imponente procura a vontade de poder e não a vontade de cuidar de um povo.

Não pude deixar de me lembrar das palavras de Umberto Saba que um amigo me fez conhecer.

x

Carlo Levi, ritratto di Umberto Saba olio su tela




Vou fazer minhas as palavras de Umberto Saba:


«...entre as minhas ideias e as ideias correntes existe um abismo sem pontes.»




Manuel Poope, Novas Crónicas Italianas, Lisboa:Teorema, 1994, p.103




Umberto Saba nasceu em Trieste, em 1883, e morreu em Gorizia, em 1957. Sobre a poesia de Saba:
"Herdeira de uma tradição poética classicista com origem em Dante, na qual se podem incluir autores como Petrarca, Parini, Manzoni, Leopardi e o Foscolo dos sonetos, das odes e de Dei sepolcri, a poesia de Saba é a procura persistente de uma perfeição e coerência formais com que cobrir a aspereza do vivido e do sentido, com as suas contradições, a sua incompletude, as suas consequências".
No site da Nova Almedina

ULISSES

Na minha juventude naveguei
ao longo das costas da Dalmácia. Ilhéus
à flor das ondas emergiam, onde raro
uma ave buscava a sua presa,
cobertos de algas, escorregadios, ao sol
belos como esmeraldas. Quando a noite
e a maré alta os ocultavam, as velas
sob o vento o largo demandavam,
para fugir da cilada. Hoje o meu reino
é essa terra de ninguém. No porto
acendem-se as luzes para outros; a mim para o alto mar
me leva ainda o não domado espírito,
e da vida o doloroso amor.

Umberto Saba, in Poesia, selecção, tradução, introdução e notas de José Manuel de Vasconcelos, Assírio & Alvim, 2010. Apanhado aqui.


xCarlo Levi, Carlo Levi, Autoritratto, 1945


Olio su tela, cm 42 x 34, Roma, Fondazione Carlo Levi

Carlo Levi foi um pintor, escritor, anti-fascista activista e médico judeu que nasceu em Turim em 1902.

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