31/12/2011
Feliz Ano Novo!
30/12/2011
O espelho, a beleza... Balanços!
- Hoje, durante o meu passeio matinal, vi uma linda mulher... Meu Deus, que linda que ela era! (...)
- Sério, sr. Spinell? Descreva-ma então.
- Não, não posso! Dar-lhe-ia uma imagem imperfeita dela. Ao passar, mal a vi; na verdade, não a vi. Apercebi-me, porém, da sua sombra esfumada, e isso bastou para me excitar a imaginação e guardar dela uma imagem de beleza. Meu Deus, que linda imagem!
A mulher do sr. Klöterjahn sorriu.
- É essa a sua maneira de olhar para as mulheres bonitas, senhor Spinell?
- Sim, minha senhora, é; é muito melhor do que olhá-las fixamente na cara, com uma grosseira avidez da realidade, para no fim ficarmos com uma impressão falsa...
Thomas Mann, in "Tristão" (retirado do citador)
29/12/2011
Placebo
The Doors
E um cover
27/12/2011
Palavras (apenas agradecer)
A companhia, sem relógios e sem tempos marcados.
O vislumbre das estrelas ou do céu azul reflectido no mar.
No mar que é nosso e nos liga a outros mundos: ao Ocidente e ao Oriente.
O mar que traz numa garrafa segredos e afectos.
O mar finisterra onde começa a promessa de novos futuros.
Um mar que não mata, nem rasga com as marés violentas
o sossego dos pássaros que acompanham os navios.
Um mar que é nosso,
sem falsas promessas,
sem homens que exijam e peçam o nosso sangue!
Um mar em que a partilha acabe com a solidão e faça da utopia uma palavra mais sólida...
apesar de nada saber do mar!
Fotografias do mar, Espinho.
21/12/2011
cultivar
Uma bola cheia de sonhos!
Vou partir por uns tempos mas levo-os comigo!
19/12/2011
Júlio Pomar
Colagem e acrílico sobre tela, 100 x 100 cm. Colecção Joost van Odijk, Essene
18/12/2011
"A glória nocturna de ser grande não sendo nada!"
... e do alto da majestade de todos os sonhos, ajudante de guarda-livros...
L. do D.
... e do alto da majestade de todos os sonhos, ajudante de guarda-livros na cidade de Lisboa.
Mas o contraste não me esmaga — liberta-me; e a ironia que há nele é sangue meu. O que devera humilhar-me é a minha bandeira, que desfraldo; e o riso com que deveria rir de mim, é um clarim com que saúdo e gero uma alvorada em que me faço.
A glória nocturna de ser grande não sendo nada! A majestade sombria de esplendor desconhecido... E sinto, de repente, o sublime do monge no ermo, do eremita no retiro, inteirado da substância do Cristo nas pedras e nas cavernas do afastamento do mundo.
E na mesa do meu quarto sou menos reles, empregado e anónimo, escrevo palavras como a salvação da alma e douro-me do poente impossível de montes altos vastos e longínquos da […] estranha recebida por anel de renúncia em meu dedo evangélico, jóia parada do meu desdém estático.
s.d.
17/12/2011
16/12/2011
A Avó
Pushkin Museum of Fine Arts Moscow Russia
A Avó
Tinha ao colo o gato velho
cansadamente passando
a sua branca mão pelo
pêlo dele preto e brando
Sentada ao pé da janela
olhando a rua ou sonhando-a
todo o passado passando
a passos lentos por ela
Dormiam ambos enquanto
a tarde se ia acabando
o gato dormindo por fora
a avó dormindo por dentro
Manuel António Pina, Os Livros, Lisboa: Assírio & Alvim, 2003, p. 33
14/12/2011
Little Boxes
Little boxes on the hillside
Little boxes made of ticky tacky
Little boxes
Little boxes
Little boxes all the same
There's a green one and a pink one
And a blue one and a yellow one
And they're all made out of ticky tacky
And they all look just the same
And they all get put in boxes, little boxes all the same
And there's doctors and there's lawyers
And business executives
And they're all made out of ticky tacky and they all look just the same
And they all play on the golf course and drink their martini dry
And they all have pretty children and the children go to school
And the children go to summer camp
And then to the university
And they all get put in boxes, and they all come out the same
And the boys go into business and marry and raise a family
And they all get put in boxes, little boxes all the same
There's a green one, and a pink one
And a blue one and a yellow one
And they're all made out of ticky tacky
And they all look just the same
13/12/2011
espelho sem narciso
reflexos,
espelho sem narciso.
Água,
terra,
fogo,
ar
contidos no azul
vidrado dos azulejos.
Nota traduzida pela paleta
como símbolo do que vai ser criado.
divagações ... olhares perdidos no céu!
12/12/2011
"o amor humano completou o esforço leve da Natureza"
CANTO IX
56
Árvores de fruto bem organizadas
mostram que o amor humano completou
o esforço leve da Natureza.
Laranjeiras carregadas desses frutos,
que na mão parecem perdoar os pecados do homem,
mostram-se numa invulgar proporção com o que escondem.
Árvores tímidas, mas que ensinam.
Uma das mulheres, por exemplo, pega numa laranja
e quase fica infantil.
Gonçalo M. Tavares, Uma Viagem à Índia, Lisboa: Caminho, 2011, p. 367 (Prefácio de Eduardo Lourenço)
10/12/2011
Uma preocupação do homem: dormir
o cansaço,
a saudade,
os acasos,
a preocupação
em salvar!
salvar alguém de um sono letárgico mas quem dorme não recebe a mensagem, apenas dorme.
Na figura: "O rei Salomão dormindo num leito de aparato e rodeado de 60 guardas. Fixada ao baldaquim, uma lamparina. Extraído de o Jardim das Delícias do Herrade de Landsberg (1167-91), manuscrito alsaciano".
Um livro que reencontrei, num tempo diferente, numa livraria diferente e muito especial:
a Livraria Lumière que como o nome indica espalha a luz!
um reencontro menos doloroso.
Um livro cujo enfoque é dormir num cenário próprio em tempo preciso.
Dormir é bom, como gostava de dormir!
Este livro é uma brochura cuja documentação foi fornecida por F.K. Mathys, de Basileia, sd., para uma campanha médica. Para bem dormir conta a história da cama ao longo dos tempos desde os egípcios até ao século XX, acabando com a "casa" Roche e os comprimidos milagrosos para dormir.
09/12/2011
Pormenores!
Detalhe 1 Detalhe 2
Detalhe 3 Detalhes 4
No dia em que uma estátua é acabada, começa, de certo modo, a sua vida.
08/12/2011
Maravilhada!
Buda, Zaratrusta e Ali Babá e os 40 Ladrões
Medem 3,2 cm
Pormenor da escultura de Soares dos Reis, Viscondessa de Vinhó e Almedina, 1882,
Rosas para a Cláudia e a Alexandra
Museu Soares dos Reis, Porto
07/12/2011
"Problemas com a fé?"
(Sofro de défice parental, mas não sei o que é). *
(Santidade tem problemas com a fé?)
Por último uma das citações que mais me apaixonou foi:
«Il concetto di anima e quello di inconscio non possono coesistere.»
(O conceito de alma e de inconsciente não pode coexistir)
interliguei-a com o Arrependimento de Pedro
Autor desconhecido, O Arrependimento de S. Pedro, Escola Italiana, século XVII
Museu de Évora
06/12/2011
(In)quietude
no jardim já não havia rosas.
O banco estava vazio.
Fechei os olhos e vi no horizonte
uma estrela cadente.
Encheu-me de (in)quietude
04/12/2011
Destino
neste mar salgado,
onde o sol poente perde a cor
e a aurora nasce timidamente.
...
O destino é a espera ... e o silêncio!
03/12/2011
Um Natal antecipado - Mulheres de Pescadores!
Há alegrias que nos fazem esquecer os dias nefastos e pensar que aquele Menino Jesus (Guardador de Rebanhos) de Alberto Caeiro afinal vai aparecendo.
Quando regresso do mar venho sempre estonteado e cheio
de luz que me trespassa. Tomo então apontamentos rápidos – seis
linhas – um tipo – uma paisagem. Foi assim que coligi este livro,
juntando-lhe algumas páginas de memórias. Meia dúzia de
esboços afinal, que, como certos quadrinhos do ar livre, são
melhores quando ficam por acabar. Estas linhas de saudade
aquecem-me e reanimam-me nos dias de Inverno friorento. Torno
a ver o azul, e chega mais alto até mim o imenso eco
prolongado... Basta pegar num velho búzio para se perceber distintamente
a grande voz do mar. Criou-se com ele e guardou-a
para sempre. – Eu também nunca mais a esqueci...
01/12/2011
Sapatinhos vermelhos
Os sapatinhos vermelhos cantam as memórias de infância: as danças perdidas, a neve caída, o passeio à floresta luxuriante.
O Menino fugiu...
***
Tinha fugido do céu,
Era nosso demais para fingir
De segunda pessoa da Trindade.
No céu era tudo falso, tudo em desacordo
Com flores e árvores e pedras,
No céu tinha que estar sempre sério
E de vez em quando de se tornar outra vez homem
(...)
Ao anoitecer brincamos as cinco pedrinhas
No degrau da porta de casa,
Graves como convém a um deus e a um poeta,
E como se cada pedra
Fosse todo o universo
E fosse por isso um grande perigo para ela
Deixá-la cair no chão.
Depois eu conto-lhe histórias das cousas só dos homens
E ele sorri, porque tudo é incrível.
Ri dos reis e dos que não são reis,
E tem pena de ouvir falar das guerras,
E dos comércios, e dos navios
Que ficam fumo no ar dos altos-mares.
Porque ele sabe que tudo isso falta àquela verdade
Que uma flor tem ao florescer
E que anda com a luz do sol
A variar os montes e os vales,
E a fazer doer aos olhos os muros caiados.
Depois ele adormece e eu deito-o
Levo-o ao colo para dentro de casa
E deito-o, despindo-o lentamente
E como seguindo um ritual muito limpo
E todo materno até ele estar nu.
Ele dorme dentro da minha alma
E às vezes acorda de noite
E brinca com os meus sonhos,
Vira uns de pernas para o ar,
Põe uns em cima dos outros
E bate as palmas sozinho
Sorrindo para o meu sono.
(...)
Quando eu morrer, filhinho,
Seja eu a criança, o mais pequeno.
Pega-me tu no colo
E leva-me para dentro da tua casa.
Despe o meu ser cansado e humano
E deita-me na tua cama.
E conta-me histórias, caso eu acorde,
Para eu tornar a adormecer.
E dá-me sonhos teus para eu brincar
Até que nasça qualquer dia
Que tu sabes qual é.
Esta é a história do meu Menino Jesus,
Por que razão que se perceba
Não há de ser ela mais verdadeira
Que tudo quanto os filósofos pensam
E tudo quanto as religiões ensinam?
Alberto Caeiro " O Guardador de Rebanhos", 1914
Continua efémero!
Recital de Harpa
30/11/2011
Um livro, uma surpresa...
E quando chegares à dura
pedra de mármore não digas: «Água, água!»,
porque se encontraste o que procuravas
perdeste-o e não começou ainda a tua procura;
e se tiveres sede, insensato, bebe as tuas palavras
pois é tudo o que tens: literatura,
nem sequer mistério, nem sequer sentido,
apenas uma coisa hipócrita e escura, o livro.
Não tenhas contra ele o coração endurecido,
aquilo que podes saber está noutro sítio.
O que o livro diz é não dito
como uma paisagem entrando pela janela de um quarto vazio*.
*Tchousang Tseu
Manuel António Pina, Os Livros, Lisboa: Assírio & Alvim, 2003, p. 9.
28/11/2011
O caos nos livros
O Livro
Em «César e Cleópatra» de Shaw, quando se fala da biblioteca de Alexandria, diz-se que ela é a memória da humanidade. O livro é isso e também algo mais: a imaginação. Pois o que é o nosso passado senão uma série de sonhos? Que diferença pode haver entre recordar sonhos e recordar o passado? Tal é a função que o livro realiza.
Esta decisão foi tomada quando quis guardar um livrinho e encontrei outro com cinco peças Isabelinas: Five Elizabethan Tragedies, impresso em 1950 pela University Press, Oxford. Adquiri este livro num alfarrabista em Portobello Road quando visitei Londres. Estava perdido no meio de outros...
27/11/2011
Fado é Património Imaterial da Humanidade!
Soube há pouco esta novidade através do blogue "Presépio no Canal" (ver na barra do lado esquerdo). Parabéns a todos os que lutaram por este reconhecimento.
Personalidades que mais marcaram o fado:
Guitarrista Carlos Paredes, Balada de Coimbra
Amália Roderigues, Povo que Lavas no Rio
Alfredo Marceneiro, Viela
FADO PORTUGUÊS
O Fado nasceu um dia,
quando o vento mal bulia
e o céu o mar prolongava,
na amurada dum veleiro,
no peito dum marinheiro
que, estando triste, cantava,
que, estando triste, cantava.
Ai, que lindeza tamanha,
meu chão , meu monte, meu vale,
de folhas, flores, frutas de oiro,
vê se vês terras de Espanha,
areias de Portugal,
olhar ceguinho de choro.
Na boca dum marinheiro
do frágil barco veleiro,
morrendo a canção magoada,
diz o pungir dos desejos
do lábio a queimar de beijos
que beija o ar, e mais nada,
que beija o ar, e mais nada.
Mãe, adeus. Adeus, Maria.
Guarda bem no teu sentido
que aqui te faço uma jura:
que ou te levo à sacristia,
ou foi Deus que foi servido
dar-me no mar sepultura.
Ora eis que embora outro dia,
quando o vento nem bulia
e o céu o mar prolongava,
à proa de outro velero
velava outro marinheiro
que, estando triste, cantava,
que, estando triste, cantava.
José Régio, in 'Poemas de Deus e do Diabo'
(Retirado do Citador)
Todos precisamos de ... (Fado 6)
Todos precisamos de
Os meus cartões de Natal não vão ser personalizados como fazia até aqui. Fui buscar a estes meninos uns cartões de Natal.
Hermínia Silva "Fado da Cigana", no filme de 1949, "Ribatejo", de Henrique de Campos
"caminhos Ciganos na literatura Portuguesa"
João Braga canta e fez a música do fado "Ciganos", Pedro Homem de Mello escreveu o poema (1983).
26/11/2011
"Esse longo convívio com os livros ..." (Fado 5)
25/11/2011
"Com ela era «assim»". (Pelo Fado 4)
Numa rua em que a árvore pereceu nasceram cogumelos!
Não chorava por causa da vida que levava: porque, não tendo conhecido outros modos de vida, aceitara que com ela era «assim». Mas também adivinhava creio que chorava porque, através da música, adivinhava talvez que havia outros modos de sentir, havia existências mais delicadas e até um certo luxo da alma.
Clarice Lispector, A Hora da Estrela, Lisboa: Relógio d’Água, 2002p. 55-56.
Pelo Fado
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