Festejei o 1º de Dezembro, dia da Restauração da Independência, (ano de 1640, fim do domínio filipino em Portugal), como faço sempre a vestir a casa de Natal.
Os sapatinhos vermelhos cantam as memórias de infância: as danças perdidas, a neve caída, o passeio à floresta luxuriante.
Os sapatinhos vermelhos cantam as memórias de infância: as danças perdidas, a neve caída, o passeio à floresta luxuriante.
Um bibe, um gorro, casacos de fazenda de lã e um cestinho de verga para trazer as pedrinhas brancas que fariam os caminhos, os fetos que se transformariam em palmeiras, o azevinho que daria cor e o musgo que calafetaria o cenário. Tudo para montar o templo onde nasceria o Menino.
Era tudo tão simples, tão exacto: a alegria espontânea, a ânsia da festa que se aproximava e era tudo éfemero de ano para ano.
O Menino fugiu...
***
O Menino fugiu...
***
(...)
Tinha fugido do céu,
Era nosso demais para fingir
De segunda pessoa da Trindade.
No céu era tudo falso, tudo em desacordo
Com flores e árvores e pedras,
No céu tinha que estar sempre sério
E de vez em quando de se tornar outra vez homem
(...)
Ao anoitecer brincamos as cinco pedrinhas
No degrau da porta de casa,
Graves como convém a um deus e a um poeta,
E como se cada pedra
Fosse todo o universo
E fosse por isso um grande perigo para ela
Deixá-la cair no chão.
Depois eu conto-lhe histórias das cousas só dos homens
E ele sorri, porque tudo é incrível.
Ri dos reis e dos que não são reis,
E tem pena de ouvir falar das guerras,
E dos comércios, e dos navios
Que ficam fumo no ar dos altos-mares.
Porque ele sabe que tudo isso falta àquela verdade
Que uma flor tem ao florescer
E que anda com a luz do sol
A variar os montes e os vales,
E a fazer doer aos olhos os muros caiados.
Depois ele adormece e eu deito-o
Levo-o ao colo para dentro de casa
E deito-o, despindo-o lentamente
E como seguindo um ritual muito limpo
E todo materno até ele estar nu.
Ele dorme dentro da minha alma
E às vezes acorda de noite
E brinca com os meus sonhos,
Vira uns de pernas para o ar,
Põe uns em cima dos outros
E bate as palmas sozinho
Sorrindo para o meu sono.
(...)
Quando eu morrer, filhinho,
Seja eu a criança, o mais pequeno.
Pega-me tu no colo
E leva-me para dentro da tua casa.
Despe o meu ser cansado e humano
E deita-me na tua cama.
E conta-me histórias, caso eu acorde,
Para eu tornar a adormecer.
E dá-me sonhos teus para eu brincar
Até que nasça qualquer dia
Que tu sabes qual é.
Esta é a história do meu Menino Jesus,
Por que razão que se perceba
Não há de ser ela mais verdadeira
Que tudo quanto os filósofos pensam
E tudo quanto as religiões ensinam?
Alberto Caeiro " O Guardador de Rebanhos", 1914
Tinha fugido do céu,
Era nosso demais para fingir
De segunda pessoa da Trindade.
No céu era tudo falso, tudo em desacordo
Com flores e árvores e pedras,
No céu tinha que estar sempre sério
E de vez em quando de se tornar outra vez homem
(...)
Ao anoitecer brincamos as cinco pedrinhas
No degrau da porta de casa,
Graves como convém a um deus e a um poeta,
E como se cada pedra
Fosse todo o universo
E fosse por isso um grande perigo para ela
Deixá-la cair no chão.
Depois eu conto-lhe histórias das cousas só dos homens
E ele sorri, porque tudo é incrível.
Ri dos reis e dos que não são reis,
E tem pena de ouvir falar das guerras,
E dos comércios, e dos navios
Que ficam fumo no ar dos altos-mares.
Porque ele sabe que tudo isso falta àquela verdade
Que uma flor tem ao florescer
E que anda com a luz do sol
A variar os montes e os vales,
E a fazer doer aos olhos os muros caiados.
Depois ele adormece e eu deito-o
Levo-o ao colo para dentro de casa
E deito-o, despindo-o lentamente
E como seguindo um ritual muito limpo
E todo materno até ele estar nu.
Ele dorme dentro da minha alma
E às vezes acorda de noite
E brinca com os meus sonhos,
Vira uns de pernas para o ar,
Põe uns em cima dos outros
E bate as palmas sozinho
Sorrindo para o meu sono.
(...)
Quando eu morrer, filhinho,
Seja eu a criança, o mais pequeno.
Pega-me tu no colo
E leva-me para dentro da tua casa.
Despe o meu ser cansado e humano
E deita-me na tua cama.
E conta-me histórias, caso eu acorde,
Para eu tornar a adormecer.
E dá-me sonhos teus para eu brincar
Até que nasça qualquer dia
Que tu sabes qual é.
Esta é a história do meu Menino Jesus,
Por que razão que se perceba
Não há de ser ela mais verdadeira
Que tudo quanto os filósofos pensam
E tudo quanto as religiões ensinam?
Alberto Caeiro " O Guardador de Rebanhos", 1914
Onde está esse Menino, por que terras viaja? Porque é que se esqueceu desta Terra cujos rios correm em atropelo?
Continua efémero!
Continua efémero!
Já colocado há uns tempos mas sempre renovado nesta época do ano.
Tudo bonito.
ResponderEliminarO poema, a voz da Maria Bethânia, a foto com os sapatinhos vermelhos...
Ainda não decorei a minha casa.
Só quando começarem as férias. Mas depois deixo às vezes ficar até ao fim de Janeiro ou mais. Custa-me recolher e guardar as coisas. E de ano para ano vou aumentando o número de pequenos objectos de Natal, que deixo ficar todo o ano.
Beijinhos
Isabel,
ResponderEliminarTambém deixo sempre qualquer coisa natalícia de um ano para o outro... talvez para que seja sempre Natal...ou para dar sorte e trazer felicidade... não sei porque deixo mas deixo.
Sempre decorei a casa no 1º de Dezembro. Tiro depois de dia 6 de Janeiro.
O último Natal comprei uma bola de cristal (vidro) sobre um pedestal barroco, abano-o e cai neve, dou corda e toca uma melodia linda, não consegui arrecadá-lo. Todos os anos compro uma pecinha nova. Este ano foi um coração.
Beijinhos e obrigada! :)
"O Guardador de Rebanhos" é daqueles poemas que não me canso de ler.
ResponderEliminarF. Pessoa tinha o dom de brincar com as palavras e tanto dizer!!
"A vestir a casa de Natal" - que bonito! Tanta entrega, dedicação, tanto gosto. Cada objecto com o seu significado...
Parabéns por fazer tudo com tanta alma e empenho!
Beijinhos natalícios
Curiosamente, nós também ana.
ResponderEliminarParece que somos almas gémeas em muita coisas :))
Bjs e bfds
Que bonito! adorei os sapatinhos!
ResponderEliminarEm minha casa também aindei a colocar as decorações de Natal. Bjs!
Não existe maior maldade no homem do que retirar das crianças o sonho e a fantasia.
ResponderEliminarNo natal temos sempre algo vermelho pra cortar inveja e manter a sensualidade feminina em alta. Uma planta para lembrarmos da nossa condição humana, um pão para que não se esqueça de dividir o alimentocom os outros, o sal para sabermos que a vida pode ser dura, mas que na dureza se encontra a saída, um incenso e alecrim, para a prosperidade de futuras mães e seus filhos e uma vela que não se apaga durante os messes de dezembro, janeiro e fevereiro - kristesco nasceu mais ou menos em fevereiro. Anjinho, pombinhas, bolas e fitas e muiiito pisca pisca...adoraaaaaaaaaaaaamos pisca pisca.
5 bjs de todas nós
Uma altura de magia, o que eu já acreditei nessa magia...
ResponderEliminarOntem aproveitei o dia para passear, como pode ver no meu blogue.
Beijo
Cláudia,
ResponderEliminarMuito obrigada. Apenas vivo o Natal que é uma época que gosto e é um dos motivos que me levam a gostar do Inverno.:)
Beijinhos.
Pedro,
Pois é que bom! :)
Beijinhos.
Margarida,
Que bom, é a viver o Natal que ele acontece. :)
Beijinhos.
Cozinha dos Vurdóns,
Vou seguir o vosso conselho e vou arranjar o que ainda não tenho.
Difícil é ter uma vela permanentemente acesa!
5 Beijinhos. :)))))
Carlota,
Já espreitei e adorei o seu passeio. Estvémos de alguma forma em sintonia. Que BOM!
Beijinhos. :)
Ainda nao tratei das decoracoes de Natal. So no dia 8 de Dezembro. Primeiro temos de celebrar o Sinterklaas, na noite de dia 5.
ResponderEliminarAdorei os sapatinhos! Mimosos!
Gostei muito do comentario das amigas das Cozinhas.
Vou ver se me falta alguma coisa tambem. :-)
Beijinhos!
Sandra,
ResponderEliminarFeliz dia 5 de Dezembro.
As amigas da Cozinha são fabulosas têm receitas fantásticas de humanidade e de sabores!
Beijinhos. :)
Um excelente post, Ana, a lembrar tudo o que de melhor tem o Natal. Se me permite, deixo aqui o link dum conto, sobre o mesmo tema, que me escapou dos dedos há uns tempos.
ResponderEliminarhttp://ac-wwwinterioridade.blogspot.com/2010/12/conto-de-natal.html
Beijo :)
Um post tão suave, tão profundo ... e que me deixou bem disposta, relaxante...
ResponderEliminarAbraço
AC,
ResponderEliminarMuito obrigada pela seu comentário. Esta postagem são as memórias do dia 1 de Dezembro desde pequena até hoje. Porém, no presente não é tão bonito, falta o musgo...
Irei ver com muito gosto.
Bjs. :)
Catarina,
Muito obrigada, fico contente por ter tido a sensação que descreve, então foi muito positivo o que escrevi.
Abraço! :)
Isabel,
ResponderEliminarA bola de cristal tem umpresépio dentro! Pensei que o tinha referidomas vi agora que não. Descrito parece feio mas não é!
Bjs. :)