31/05/2010

O tempo e a memória: a persistência da memória... 2

Retirei daqui
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A persistência da memória...

O tempo
esfuma as circunstâncias,
cria sombras, apaga os pormenores...
mas deixa para sempre uma marca

... que jamais se apaga


Time - Pink Floyd

O tempo e a memória...

Gosto deste quadro de Dalí, embora seja melancólico! (Não é o meu favorito, mas faz parte)
Salvador Dalí, A persistência da memoria, 1931

óleo sobre tela, 24 x 33 cm, Museum of Modern Art, Nova Iorque
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O tempo é uma medida estranha...
queremos agarrá-lo
mas ele foge entre os nossos dedos.
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Este foi o meu pensamento de domingo!

30/05/2010

Viagem ao passado na terra da música I!

para o céu em voo rasante

"There's a lady who's sure
All that glitters is gold
And she's buying a stairway to heaven"

More lyrics: http://www.lyricsfreak.com/l/led+zeppelin/#share


Num tom calmo: "Jardin d'hiver" - Jim Tomlinson & Stacy Kent

Chove...

Claude Monet, Water Lilies, c. 1920.

Oil on canvas, Museum of Modern Art (MoMA), New York

Chove ininterruptamente
no jardim
os nenúfares
jazem.

Amamos, tão-somente, a ideia...

Albrecht Dürer, Study of a Drapery, 1508

Museu do Louvre, Paris

Não concordo inteiramente com este texto do heterónimo de Fernando Pessoa mas dá que pensar.
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INTERVALO DOLOROSO - Autobiografia sem factos
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112.
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Nunca amamos alguém. Amamos, tão-somente, a ideia que fazemos de alguém. É um conceito nosso - em suma, é a nós mesmos - que amamos.
Isto é verdade em toda a escala do amor. No amor sexual buscamos um prazer nosso dado por intermédio de um corpo estranho. No amor diferente do sexual, buscamos um prazer nosso dado por intermédio de uma ideia nossa. O onanismo é abjecto, mas, em exacta verdade, o onanista é a perfeita expressão lógica do amoroso. É o único que não disfarça nem se engana.
As relações entre uma alma e outra, através de coisas tão incertas e divergentes como as palavras comuns e os gestos que se empreendem, são matéria de estranha complexidade.
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Bernardo Soares, O Livro do Desassossego, Lisboa: Assírio & Alvim, 1998, p. 137.

29/05/2010

Sombra!

Max Ernst, "Arbre solitaire et arbres conjugaux", 1940.
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Huile sur toile, 81.5 x 100.5 cm. Thyssen-Bornemisza, Madrid.
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O quotidiano mata...

a insatisfação tem o sabor amargo

dos dias sem espuma.

Sombra.

28/05/2010

Dante Alighieri!

Dante é o meu escritor favorito, já li e reli a Divinia Comédia porque é um livro que me deslumbra!
Como as almas ilustres, belas e profundas não morrem: Parabéns Dante.
Estou a homenagear Dante depois de ter lido o comentário de APS no Prosimetron. Obrigada APS, não gostaria de deixar de agraciar Dante no dia de aniversário.
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John William Watherhouse, Dante e Beatrice, 1915

Private Collection


Paraíso, Canto XXV

Se acontecer que o poema sagrado,
em que céu e terra puseram mão,
(magro me fez, de tanto ano passado)
Vencer a crueldade que em prisão
me exila do redil onde, cordeiro,
dormi, oposto aos lobos que o atacam;
Voz e pêlo distinto do primeiro
terei, chegando poeta, e me façam
a testa ornar com folha de loureiro …

(Retirado da wikipedia)


Una Furtiva Lagrima - Elisir d'Amore, Gaetano Donizetti

"Una Furtiva lagrima" Rolando Villazon!



Act II de Elisir d'Amore

À saudade de ver beleza,
Roma cidade eterna!

Músicos - Caravaggio !

"Repouso durante a Fuga para o Egipto" levou-me a consultar o catálogo que remeto no link.
Caravaggio, Musici,1594-95
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Olio su tela / 92,1 x 118,4 cm, Metropolitan Museum of Art,New York

Caravaggio amava la musica. Nei suoi dipinti compaiono suonatori, spartiti, strumenti come liuti, violini e flauti. Il cardinale Del Monte, al cui servizio il pittore entra nel 1595, fa costruire un salone per la musica con libri e strumenti, oltre ad alcuni dipinti. Caravaggio dipinge per il cardinale “una musica di alcuni giovani ritratti al naturale, assai bene” (Concerto di musici), oggi conservato al Metropolitan di New York, che testimonia l’ambiente musicale della Roma di fine secolo. La sua grande precisione ha permesso di identificare alcuni dei brani copiati nelle partiture. Nel Riposo durante la fuga in Egitto, un angelo suona un motivetto del compositore fiammingo Noel Bauldwijn. Nelle due versioni del Giovane che suona il liuto compaiono flauto, arco, violino e spinetta, oltre ad alcuni libri di musica. Più difficile la lettura dello spartito di Omnia vincit Amor, dove il fanciullo con ali da Cupido travolge anche liuto e violino.

Joseph Haydn, London Trio No. 1 in C major. Hob. IV 1.


Flute: Jean-Pierre Rampal (1922 ~ 2000).
Violin: Isaac Stern (1920 ~ 2001)
Cello: Mstislav Rostropovich (1927 ~ 2007)

27/05/2010

A Taça de Chá, Almada Negreiros!

Tenho uma paixão pela escrita de Almada Negreiros, por chá e pela cultura oriental.
O texto foi retirado da Revista Orpheu, nº1.
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Jean Metzinger, nasceu em Nantes, França, Hora do Chá (Mulher com chávena de chá),


A Taça de Chá

O luar desmaiava mais ainda uma máscara caida nas esteiras bordadas. E os bambús ao vento e os crysanthemos nos jardins e as garças no tanque, gemiam com elle a advinharem-lhe o fim. Em róda tombávam-se adormecidos os idolos coloridos e os dragões alados. E a gueisha, procelana transparente como a casca de um ovo da Ibis, enrodilhou-se num labyrinto que nem os dragões dos deuses em dias de lagrymas. E os seus olhos rasgados, perolas de Nankim a desmaiar-se em agua, confundiam-se scintillantes no luzidio das procelanas.
Elle, num gesto ultimo, fechou-lhe os labios co'as pontas dos dedos, e disse a finar-se:
-Chorar não é remedio; só te peço que não me atraiçoes emquanto o meu corpo fôr quente. Deitou a cabeça nas esteiras e ficou. E Ella, num grito de garça, ergueu alto os braços a pedir o Ceu para Elle, e a saltitar foi pelos jardíns a sacudir as mãos, que todos os que passavam olharam para Ella.
Pela manhã vinham os visinhos em bicos dos pés espreitar por entre os bambús, e todos viram acocorada a gueisha abanando o morto com um leque de marfim.
A estampa do pires é igual.

Almada Negreiros, in "Frisos", Revista Orpheu nº1, Lisboa: Edições Ática, 1971, p.82

Caravaggio, Repouso durante a Fuga para o Egipto.

No Repouso durante a Fuga para o Egipto, Caravaggio pintou um anjo de asas negras a tocar violino que contrasta com o resto da composição.
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Caravaggio, Repouso durante a Fuga para o Egipto, 1597


Galleria Doria-Pamphili, Roma, Italia.


O pintor colocou a figura do anjo a tocar violino de costas para dividir a composição do quadro em duas partes. À direita vê-se a Virgem com o Menino como se fosse uma cena quotidiana de uma família comum. À esquerda S. José segura a partitura para o anjo tocar. É interessante ver as cores outonais utilizadas no fundo da paisagem em contraste com as folhas verdes que estão próximas das personagens.

Adoro esta pintura.

26/05/2010

O Corvo junto ao rio Mandovi e um poema!

Ao anoitecer a solidão do rio é cortada pelo corvo curioso
que impera nas margens do rio Mandovi.
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Saudades de Goa, do sol, dos cheiros e do eremitismo!


Chain Of Pearls

Mother, I shall weave a chain of pearls for thy neck
with my tears of sorrow.

The stars have wrought their anklets of light to deck thy feet,
but mine will hang upon thy breast.

Wealth and fame come from thee
and it is for thee to give or to withhold them.
But this my sorrow is absolutely mine own,
and when I bring it to thee as my offering
thou rewardest me with thy grace.

Rabindranath Tagore

A Verdade!


A Verdade

Eu tinha chegado tarde à escola. O mestre quis, por força, saber porquê. E eu tive que dizer: Mestre! quando saí de casa tomei um carro para vir mais depressa, mas, por infelicidade, diante do carro caiu um cavalo com um ataque que durou muito tempo. O mestre zangou-se comigo: Não minta! diga a verdade! E eu tive de dizer: Mestre! quando saí de casa... minha mãe tinha um irmão no estrangeiro e, por infelicidade, morreu ontem de repente e nós ficámos de luto carregado. O mestre ainda se zangou mais comigo: Não minta! diga a verdade!!

E eu tive de dizer: Mestre! quando saí de casa... estava a pensar no irmão de minha mãe que está no estrangeiro há tantos anos, sem escrever. Ora isto ainda é pior do que se ele tivesse morrido de repente porque nós não sabemos se estamos de luto carregado ou não.Então o mestre perdeu a cabeça comigo: Não minta, ouviu? diga a verdade, já lho disse!

Fiquei muito tempo calado. De repente, não sei o que me passou pela cabeça que acreditei que o mestre queria efectivamente que lhe dissesse a verdade. E, criança como eu era, pus todo o peso do corpo em cima das pontas dos pés, e com o coração à solta confessei a verdade:

Mestre! antes de chegar à Escola há uma casa que vende bonecas. Na montra estava uma boneca vestida de cor-de-rosa! Mestre! a boneca estava vestida de cor-de-rosa! A boneca tinha a pele de cera. Como as meninas! A boneca tinha tranças caídas. Como as meninas! A boneca tinha os dedos finos. Como as meninas!Mestre! A boneca tinha os dedos finos...

Escrito em 1921


José de Almada Negreiros - Obra Poética

25/05/2010

Haikai e a arte de papel...

Um pássaro de papel levou-me até ao origami, a arte japonesa de dobrar o papel. Sempre me fascinou esta arte mas falta-me a perícia...
O origami por sua vez levou-me à procura de Hakai outra arte japonesa, a da poesia!
Os haikai foram retirados da net tal como as imagens.

Um pássaro a voar
ou uma borboleta diáfana
enchem o olhar.


leaf falls from a tree
and returns to it
it was a butterfly

(?)


Unknown to birds and butterflies
A flower blooms
The autumn sky


Bashô

Swan lake

Oh elegant grace
Still the waters of the lake
Majesty passes

Eddie Roa

Les Belles Heures of Jean de France, Duc de Berry no Metropolitan Museum of Art, New York!

Para os que me visitam possam viajar por esta exposição deixo aqui este pequeno excerto e explicação!

24/05/2010

O Dragão no Livro das Horas Belas do duque de Berry!

Na minha visita virtual ao Metropolitan Musem of Art encontrei o Livro de Horas do Duque de Berry. É fantástico como pude folheá-lo a partir desta janela que é o portátil. O livro tem iluminuras lindíssimas! O pouco tempo que tenho não deu para aprofundar a minha leitura, mas houve uma imagem que me perturbou: a da procissão dos Flagelantes. Estas procissões surgiram na Idade Média. Durante 33 dias os flagelantes percorriam em procissão as cidades, autoflagelando-se para expiar os pecados e alcançar o paraíso! Os 33 dias não eram escolhidos ao acaso, eles reportar-se-iam à idade com que Cristo morreu.

A iluminura com a Procissão dos Flagelantes do Livro de Horas do Duque de Berry tocou-me. A sensação é devido ao extremo a que se levava a prece em torno da expiação dos pecados. A dor como mortificação do pecado. A encimar a iluminura está a imagem do dragão que se transporta num estandarte. O dragão tipificava os inimigos do povo de Deus. As procissões faziam-se no intuito a que se afastaria todo o mal simbolizado pelo dragão!
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The Great Litany, the flagellants processionfl 74v do Livro de Horas do duque de Berry
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Belles Heures of Jean de France, duc de Berry, 1405–1408/9. Herman, Paul, and Jean de Limbourg (Franco-Netherlandish, active in France by 1399–1416). French; Made in Paris. Ink, tempera, and gold leaf on vellum; 9 3/8 x 6 5/8 in. (23.8 x 16.8 cm). The Metropolitan Museum of Art, New York, The Cloisters Collection, 1954 (54.1.1).

Atenção não sou especialista na matéria, tenho apenas uma imensa curiosidade!

Picasso e Cocteau!

Picasso in The Metropolitan Museum of Art
April 27, 2010–August 15, 2010
Special Exhibition Galleries, 2nd floor
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Cat, from Picasso: Original Etchings for the Texts of Buffon
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Cat Picasso


Picasso Carta Ilustrada para Jean Cocteau, 1916
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23/05/2010

Pentecostes de Grão Vasco - Igreja de Santa Cruz!

Ao passar pelo blogue Memórias e Imagens apercebi-me que hoje se comemora o "Pentecostes", uma das celebrações mais importantes da litúrgia cristã. Estava de todo esquecida, talvez porque não sou católica praticante.
O quadro de Vasco Fernandes sobre o Pentecostes é lindíssimo e à volta dele houve algumas controvérsias. Indico o link para consultar.

Vasco Fernandes, Pentecostes c. 1534-1535

Óleo sobre madeira, 158,3 x 161,7 cm
Sacristia da Igreja de Santa Cruz, Coimbra, Portugal

A especialista em História de Arte Dalila Rodrigues escreveu, na Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, o seguinte:


"A contradição entre o classicismo da arquitectura e a ideia nervosa e dramática das figuras está expressa numa obra de intensidades e contradições. A intensa expressividade dos rostos e o patetismo como expressão do sentimento religioso são notórios nas figuras dos apóstolos que se agitam num arrebatamento cósmico. Uma luz intensa e quase apocalíptica revela um espaço cénico racional, depurado e de evidente inspiração renascentista, ao centro da qual, e contrastante na serenidade escultórica, figura o grupo da trindade feminina. O contraste entre o espaço cénico e as figuras femininas, por um lado, e a energia emergente das figuras que definem uma estrutura elíptica, por outro, evidencia o eclectismo dos componentes classicistas em Vasco Fernandes. Este dramatismo, acentuado pela cor vermelha das figuras em primeiro plano, é alheio a qualquer concepção classicista da figura humana. Não se trata, como é evidente, de uma prática empírica de resolver o fenómeno pictural. A concepção e disposição espacial das figuras e os valores cromáticos remetem para um modelo ou para uma reflexão profunda. A latinização da assinatura, que figura em primeiro plano sobre um pergaminho enrolado, é sintomática da utilização de um novo estilo enquanto linguagem alternativa.

Dalila Rodrigues"
Publicado em Grão Vasco e a Pintura Europeia do Renascimento, Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, Lisboa, 1992

22/05/2010

Não Fora o Mar!, Fernanda de Castro.

Balthasar van der AST,(b. 1594, Middelburg, d. 1657, Delft), Still-Life with Plums, Cherries, and Shells c.1628

Pen and watercolor, 291 x 399 mm , British Museum, London

Não Fora o Mar!

Não fora o mar,
e eu seria feliz na minha rua,
neste primeiro andar da minha casa
a ver, de dia, o sol, de noite a lua,
calada, quieta, sem um golpe de asa.

Não fora o mar,
e seriam contados os meus passos,
tantos para viver, para morrer,
tantos os movimentos dos meus braços,
pequena angústia, pequeno prazer.

Não fora o mar,
e os seus sonhos seriam sem violência
como irisadas bolas de sabão,
efémero cristal, branca aparência,
e o resto — pingos de água em minha mão.

Não fora o mar,
e este cruel desejo de aventura
seria vaga música ao sol pôr
nem sequer brasa viva, queimadura,
pouco mais que o perfume duma flor.

Não fora o mar
e o longo apelo, o canto da sereia,
apenas ilusão, miragem,
breve canção, passo breve na areia,
desejo balbuciante de viagem.

Não fora o mar
e, resignada, em vez de olhar os astros
tudo o que é alto, inacessível, fundo,
cimos, castelos, torres, nuvens, mastros,
iria de olhos baixos pelo mundo.

Não fora o mar
e o meu canto seria flor e mel,
asa de borboleta, rouxinol,
e não rude halali, garra cruel,
Águia Real que desafia o sol.

Não fora o mar
e este potro selvagem, sem arção,
crinas ao vento, com arreio,
meu altivo, indomável coração,

Não fora o mar
e comeria à mão,
não fora o mar
e aceitaria o freio.

Fernanda de Castro, in "Trinta e Nove Poemas" (recolhi no Citador)

Escolhi a pintura por ter o mar de forma implícita e porque visualizo a poetisa a olhar o mar!

No aparador o mar em forma de búzio...

21/05/2010

Viver na Beira-mar!

Domenico Tintoretto (Robusti) : A Sailor offering a model boat to St. Justin
xMuseum: Palazzo Ducale Venice

Viver na Beira-Mar

Nunca o mar foi tão ávido
quanto a minha boca. Era eu
quem o bebia. Quando o mar
no horizonte desaparecia e a areia férvida
não tinha fim sob as passadas,
e o caos se harmonizava enfim
com a ordem, eu
havia convulsamente
e tão serena bebido o mar.

Fiama Hasse Pais Brandão, in "Três Rostos - Ecos" (citador)

Vitória de Samotrácia!

Eis que rasga os céus com suas asas o branco e o azul infinito. Tranquila está agora Vitória plena de luz!


Vitória de Samotrácia, Museu do Louvre, Paris


Niké

A mulher com leque! Modigliani.

Foi com tristeza que soube do roubo de cinco obras famosas no Museu de Arte Moderna de Paris. Não escolhi as telas de Picasso, Matisse, Léger e Braque mas escolhi A Mulher com Leque de Modigliani por gostar deste retrato, das cores e do leque que nos transporta para o calor do dia.
É lamentável que, ainda hoje, este tipo de roubos aconteça e se prive a humanidade de partilhar a beleza criada.
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La Femme à l'éventail de Modigliani

20/05/2010

LA BELLA DONNA DELLA MIA MENTE!

Sandro Botticelli, Detalhe do Nascimento da Vénus, 1483


Têmpera sobre tela, 172,5 × 278,5 cm, Galleria degli Uffizi (Florença)

LA BELLA DONNA DELLA MIA MENTE (Lovely Lady of My Memory)

Y limbs are wasted with a flame,
My feet are sore with travelling,
For, calling on my Lady's name,
My lips have now forgot to sing.

O Linnet in the wild-rose brake
Strain for my Love thy melody,
O Lark sing louder for love's sake,
My gentle Lady passeth by.

She is too fair for any man
To see or hold his heart's delight,
Fairer than Queen or courtesan
Or moonlit water in the night.

Her hair is bound with myrtle leaves,
(Green leaves upon her golden hair!)
Green grasses through the yellow sheaves
Of autumn corn are not more fair.

Her little lips, more made to kiss
Than to cry bitterly for pain,
Are tremulous as brook-water is,
Or roses after evening rain.

Her neck is like white melilote
Flushing for pleasure of the sun,
The throbbing of the linnet's throat
Is not so sweet to look upon.

As a pomegranate, cut in twain,
White-seeded, is her crimson mouth,
Her cheeks are as the fading stain
Where the peach reddens to the south.

O twining hands! O delicate
White body made for love and pain!
O House of love! O desolate
Pale flower beaten by the rain!

Oscar Wilde "La Bella Donna Della Mia Mente" was originally published in Kottabos, 1876. It was revised for Poems, 1881.

19/05/2010

A gargantilha de vidro!

São quase oito horas, Madalena penteia o cabelo, lentamente como se o pente não conseguisse tirar o enrodilhado que se tinha formado. Tem que se despachar, o tempo corre e Afonso vem buscá-la a casa!
Olha para o relógio, para o espelho e suspira... está calor, não lhe apetece apressar-se.
O jantar vai ser no S. Carlos, os convidados são de Afonso, ela não quer envergonhá-lo. Precisa de estar elegante. Após o jantar irão para o teatro, uma sessão especial a iniciar às 10:00 horas.
Sobre a cama está o livro: As Paixões da Alma, aberto ao acaso. Surpreendida lê:

"Quando a nossa alma se aplica a imaginar qualquer cousa que não existe, a representar, por exemplo, um palácio encantado ou uma quimera, e também quando se esforça por considerar qualquer cousa unicamente inteligível e não imaginável como por exemplo a sua própria natureza, as percepções que tem dessas cousas dependem principalmente da vontade que faz com que ela se aperceba."**


Depois de passar os olhos pelo texto, Madalena olhou para o estojo de veludo rosa velho que estava na mesa, abre-o e observa por algum tempo a gargantilha da avó. É bela, diz em voz alta, mas não a vou usar. Largou o vestido vermelho e pegou no preto mais simples que tinha, virou-se para o espelho e disse:
- Madalena a beleza não está na gargantilha nem no vestido, a beleza não se vê. Afonso que a procure!
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*Gargantilha Gatos de René Lalique de rocha, ouro e diamantes,(5, 4 x 33, 8 cm), Museu Fundação Calouste Gulbenkian.
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"Esta gargantilha é talvez das peças mais requintadas do artista na Colecção Gulbenkian, pois, apesar da sua aparente sobriedade e ausência de cor, constitui um verdadeiro prodígio da técnica aliado a uma criação artística excepcional. É constituída por um conjunto de pequenos quadrados de cristal de rocha gravados com decoração alternada de gatos e arbustos, ligados por uma malha quadriculada de ouro". (site do museu)
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** Descartes, O Discurso do Método, As Paixões da Alma, (Trad e notas Newton de Macedo), Lisboa:Sá da Costa, 2010, p. 97

Quatro Estações - Vivaldi, Primavera!



Para JPD pela sonata que escreveu no seu blogue!

O olhar!

O meu presente para o dia dos museus foi visitar a exposição permanente do museu da Fundação Calouste Gulbenkian. Visitei-o há uns anos. Escolhi esta pintura, embora tenha ficado de novo apaixonada por Lalique e as suas jóias naturalistas integradas na Art Noveau. Dominico Ghirlandaio é florentino.
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Dominico Ghirlandaio , retrato de uma Jovem

Têmpera sobre madeira, 44 x 32 cm, nº Inv. 282, Museu Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, Portugal


Olhar para o horizonte ou a desviar o olhar do pintor?

"A personagem retratada nesta tábua lembra as figuras da família Sassetti pintadas a fresco pelo artista para uma das capelas da Igreja de S. Trinità, em Florença. Traja à moda florentina da época com sobreposição de indumentária ajustada ao corpo e decote enfeitado por colar de coral."

Informação retirada do site do museu.

18/05/2010

Dia Internacional dos Museus.

Hoje assinala-se o Dia Internacional dos Museus. Para comemorar deixo a proposta de uma visita à Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves. Já visitei há uns anos este museu mas se calhar irei até lá. A ideia veio do blogue de Margarida Elias, Memórias e Imagens que tem uma nota sobre este museu. Gosto muito da época desta casa, a Art Noveau, o espólio sei que é riquíssimo mas confesso que não me lembro bem. Quando a visitei achei que tinha muitos objectos à mostra não dando realce às peças com a devida atenção. Mas passaram alguns anos e espero encontrar uma exposição mais orientada para determinadas peças. Vou lá à procura da pintura portuguesa do fim do século XIX e princípio do século XX. A escolha recai na necessidade que tenho de me relembrar e de conhecer melhor a pintura portuguesa da época que mencionei.

Obrigada Margarida Elias!

17/05/2010

Botticelli e Flora!

Para assinalar os 500 anos da morte de Sandro Botticelli, lembrados por MR no Prosimetron escolho a mais bela mulher do pintor, na minha opinião. Flora personagem principal do quadro Primavera, símbolo do renascer da vida. As flores a coroá-la, o ollhar e a majestosidade com que se veste de flores são magníficos. Este Quadro é complexo um dia voltarei a ele.

Sandro Botticelli, Flora, detalhe de Primavera, c.1485-87,

Tempera 203 x 314 cm Galleria degli Uffizi


Detalhe Flores

"O belo é o esplendor da ordem"

16/05/2010

O Palhaço, Renoir!

Depois de reler A Morte do Palhaço de Raúl Brandão.
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Renoir, O palhaço Aka James Bollinger Mazutreek, 1868

Óleo sobre tela, 193,5 x 130 cm, Kroller-Muller Museum, Netherlands.


– O homem material - pensava o Palhaço – não existe. A vida é uma convenção. O que existe é o sonho, o sonho é a única realidade. Sonhar!, sonhar!...

Raul Brandão, A Morte do palhaço, 1926

Histórias...

Um palhaço esconde o rosto debaixo da máscara. Protege-se? Não sei. O rosto dele não se vê mas vêem-se os olhos. São castanhos de um negro brilhante! O seu olhar nada diz, conserva-se no silêncio. O que vi eu nele? As memórias da infância, um palhaço sem circo, nem palco. Fantasia. É mera fantasia. Nasce o palhaço a fazer lembrar Veneza.
Canta, ri, chora, adormece. Acorda. Ri, brinca. Sério olha através da cortina. O que observa?
A cidade estranha que acorda como se os homens lhe devessem prestar homenagem.
Esquece a cidade, olha para os bastidores e, ali só, senta-se a olhar para o firmamento imaginário.

Diário de Eva!

Pensa-se que Mark Twain escreveu este relato das primeiras impressões de Eva como uma carta de amor para a sua mulher Livy, que morreu em Junho de 1904.

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" O Diário de Eva chegou ao fim - tenho esperado que ela me fale, mas já não diz mais nada!"

Mark Twain*

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A obra foi banida das bibliotecas públicas em 1906 por Eva aparecer nua.

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Ilustração de Lester Ralph, Harper & Brothers, 1906

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Diário de Eva

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Segunda - feira

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Embora fale muito pouco, tem um vocabulário bastante considerável. Esta manhã usou uma palavra surpreendentemente boa. É evidente que ele próprio o reconheceu, porque a repetiu duas vezes, como por acaso. Embora não tenha disfarçado muito bem, mostrou que tem uma percepção assinalável. Sem dúvida que esta semente pode medrar, ser cultivada.

Onde terá arranjado tal palavra? Penso que nunca a utilizei.

Não, não se interessou pelo meu nome. Tentei esconder o meu desapontamento, mas suponho que não consegui. Afastei-me e sentei-me no banco de musgo, com os pés na água. É onde vou quando anseio porcompanhia, alguém a quem olhar, com quem conversar. Aquele belo corpo alvo, pintado no lago, não é suficiente - mas sempre é qualquer coisa, e tudo é preferível à solidão total.

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Mark Twain, Diário de Eva, Editora: Ela por Ela, 2002, p.26, 27 e 28 (traduzido do manuscrito original por Mark Twain)

*Notas retiradas do livro.

15/05/2010

Gustave Doré ilustra um poema de Edgar Allan Poe!

O Corvo, The Raven de Edgar Allan Poe numa edição belíssima.
Desenho de Gustave Doré, gravador: T. Johnson

Abri a vidraça, e eis que, com muita negaça,

Entrou grave e nobre um corvo dos bons tempos ancestrais.

Não fez nenhm cumprimento, não parou nem um momento,

Mas com ar solene e lento pousou sobre os meus umbrais.

Foi, pousou e nada mais.

(...) 7ª Estrofe

Open here I flung the shutter, when, with many a flirt and flutter,
In there stepped a stately Raven of the saintly days of yore.
Not the least obeisance made he; not a minute stopped or stayed he;
But, with mien of lord or lady, perched above my chamber door—
Perched upon a bust of Pallas just above my chamber door—
Perched, and sat, and nothing more.

The Raven

Edgar Allan Poe, O Corvo (ed. trilingue português/inglês/espanhol; trad. Fernando Pessoa/Juan Antonio Pérez Bonalde), Póvoa de Varzim: Editor Manuel Caldas, 2009, p. 8- 34-35.

A colagem na Arte - Max Ernst

A queda de um anjo é uma colagem de Max Ernst. O que me atraiu neste trabalho de Ernst foi o conceito e o tema, mais do que a beleza da tela.

Max Ernst, The Fall of an Angel

Collage and oil on paper. 44 x 34 cm. Private collection

"Cai ao anjo a pena,
ao rato o pelame.
Um regressa ao seu enxame,
o outro à sua caverna".

Versos retirados do poema: O Rato e o Anjo de Alexandre O'Neill

14/05/2010

Una Furtiva Lagrima - Elisir d'Amore, Gaetano Donizetti

Elixir d'Amor ópera do compositor Gaetano Donizetti.
Luciano Pavarotti (tenor) canta "Una Furtiva Lagrima", ária do II Acto ,no Royal Gala Concert - Royal Albert Hall, 13 de Abril de 1982.




Una furtiva lagrima
negli occhi suoi spuntò:
Quelle festose giovani
invidiar sembrò.
Che più cercando io vo?
Che più cercando io vo?
M'ama! Sì, m'ama, lo vedo. Lo vedo.
Un solo instante i palpiti
del suo bel cor sentir!
I miei sospir, confondere
per poco a' suoi sospir!
I palpiti, i palpiti sentir,
confondere i miei coi suoi sospir...
Cielo! Si può morir!
Di più non chiedo, non chiedo.
Ah, cielo! Si può! Si, può morir!
Di più non chiedo, non chiedo.
Si può morire! Si può morir d'amor.
Pablo Picasso, A Amizade, c. 1908


Para um Amigo Tenho Sempre

Para um amigo tenho sempre um relógio
esquecido em qualquer fundo de algibeira.
Mas esse relógio não marca o tempo inútil.
São restos de tabaco e de ternura rápida.
É um arco-íris de sombra, quente e trémulo.
É um copo de vinho com o meu sangue e o sol.

António Ramos Rosa, in "Viagem Através de uma Nebulosa" , retirado daqui

Pensamentos!

Postal com um gato de Matisse

O gato nutre pelo dono a verdadeira amizade, dá afecto e arranha!
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Amizade é um sentimento difícil de definir sem cairmos em lugares comuns. Tenho andado a reflectir sobre este tema e o que sei é que à medida que caminhamos é mais difícil encontrá-la.


«A amizade é , acima de tudo, certeza – é isso que a distingue do amor.»
Margueritte Yourcenar

«Quem cedo e bem aprende, tarde ou nunca esquece. Quem negligencia as manifestações de amizade, acaba por perder esse sentimento.»
William Shakespeare

13/05/2010

Ascensão de Cristo!

Hoje celebra-se a Ascensão de Cristo e é um dia especial, porque coincide com a festa de Nossa Senhora de Fátima e com a presença de sua Santidade o Papa Bento XVI!
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Fernão Gomes, Ascensão de Cristo, oficina Portuguesa, último quartel do século XVI, c. 1590


Pintura a óleo sobre madeira, Alt. 335 x larg. 123 cm, Museu de Arte Sacra do Funchal, provém da Sé do Funchal

xObrigada Margarida Elias e Jad por me terem recordado a coincidência das datas.

Dia da espiga!

Quarenta dias após a Páscoa celebra-se o dia da Ascensão de Jesus e celebra-se também o dia da Espiga. Tradicionalmente era e, em alguns sítios a tradição mantém-se, feito um passeio ao campo para se apanhar um ramo que era guardado de ano para ano. O dia da espiga era também o "dia da hora" e considerado "o dia mais santo do ano", não se trabalhava.
Simbolismo do ramo:
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Espiga – pão;
Malmequer – ouro e prata;
Papoila – amor e vida;
Oliveira – azeite e paz;
Videira – vinho e alegria e
Alecrim – saúde e força.
O meu ramo não tem alecrim nem uma parra, espero no entanto, ter alegria, saúde e força!
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Partilho o ramo para que o ano vindouro seja afortunado!
Notas retiradas da wikipedia

12/05/2010

Para agradecer a Margarida Elias!

Obrigada Margarida Elias pelo conhecimento que me transmitiu. Nunca ligaria bolas de sabão a vanitas, sempre liguei à delicadeza, ao efémero, à beleza das coisas diáfanas, à diversão de as apanhar e as manter na mão e a alguma tristeza por nunca conseguir .
Sinto-me mais rica. :)
Sir John Everett Millais, Bubbles, 1886

Lady Lever Art Gallery, Port Sunlight, England

Olhar perdido numas bolas de sabão!

Não conhecia Thomas Couture. Ao procurar bolas de sabão na pintura por gostar da transparência e da luz que elas podem retratar encontrei este pintor francês. Neste quadro o que me intrigou foi a melancolia do jovem rapaz que parece olhar para o vazio, perdido em pensamentos, em vez de sorrir para a transparência que se desfaz!
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Thomas Couture Bolas de Sabão,c.1859

Óleo sobre tela, 130.8 x 98.1 cm

O sonho

Sonhe com aquilo que você quer ser,
porque você possui apenas uma vida
e nela só se tem uma chance
de fazer aquilo que quer.



4 versos do Poema Sonho de
Clarice Lispector

11/05/2010

Flores - Enrico Valero

Flores de Enrico Valero


Para iluminar este dia cinzento


Prefiro rosas, meu amor, à pátria,
E antes magnólias amo
Que a glória e a virtude.

tês versos retirados de " Odes", Ricardo Reis,

10/05/2010

Faltam as palavras...


"Há muita coisa a dizer que não sei como dizer. Faltam as palavras. Mas recuso-me a inventar novas: as que existem já devem dizer o que se consegue dizer e o que é proibido. E o que é proibido eu adivinho. Se houver força. Atrás do pensamento não há palavras: é-se. Minha pintura não tem palavras: fica atrás do pensamento. Nesse terreno do é-se sou puro êxtase cristalino. È-se. Sou-me. Tu te és."

Clarice Lispector, Água Viva, Rio de Janeiro: Editora Rocco, 1998. p. 27

Possente Spirto - Vittorio Prato, Nota Azul em tom de amizade!

Não sei se c.a. passará por aqui mas deixo-lhe Orfeu numa nota azul/noite, pensado a partir de um post que colocou.
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Para que encontre a serenidade que precisa.

Possente Spirto, III acto da ópera Orfeu de Monteverdi. Vittorio Prato (tenor)
Teatro Ponchielli - Festival de Cremona,Orquestra Barroca de Veneza,Coro: Costanzo Porta, director: A.Marcon, maestro: A.Cigni,encenação L.Cutuli;

"Dança dos Espíritos"


Orfeu e Euridice ópera de Christoph Willibald Ritter von Gluck

ORCAM - Orquestra de Câmara Ábdon Milanez
Solista Caroline Galvão (Flauta)
Maestro Daniel Seixas

Intermezzo - Cavalleria Rusticana !



Cavalleria Rusticana, compositor: Pietro Mascagni, filme de Franco Zeffirelli, 1982

Turiddu: Plácido Domingo
Santuzza: Elena Obraztsova
Alfio: Renato Bruson
Lola: Axelle Gall
Mamma Lucia: Fedora Barbieri

Orchestra & chorus of the Teatro Alla Scala, Milan, Chorus Master: Romano Gandolfi
Conductor: Georges Prêtre

A colagem - Still life!

Andei à procura dos primórdios da colagem e julgo que encontrei um dos seus autores. Gosto de Braque e desta natureza-morta!
Georges Braque. Still Life, 1914. Colagem de cortes variados de aguarelas, carvão, grafite e óleo. 35,1 x 27,9 cm. Assinado no verso (centro) em carvão : G Braque


Sinfonia branca nº 3

Julgo que já vi esta pintura no blogue Memória e Imagens. Gosto imenso deste pintor e deste tema. Daí a minha escolha! Para além do título atribuído pelo pintor eu designaria esta tela com a seguinte expressão: a sonhar acordada.x
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Detalhe de Simfonia em branco nº 3

James McNeill Whistler, Symphonie in Wieß Nr. 3, 1865/67

Öl auf Leinwand, 51,1 × 76,8 cm, The Barber Institute of Fine Arts, University of Birmingham, USA

"A vida mais não é do que uma sombra vaga, um pobre comediante caminhando e lamentando-se no palco durante uma hora, finda a qual deixa de ser ouvido. É uma história contada por um idiota, ruidosa e furibunda e sem sentido algum".

Shakespeare, Macbeth,

in Marcel Proust, "Os prazeres e os dias", Lisboa: Editorial Estampa, 2010 (2ª ed, trad. Manuel João Gomes) p.28

Com agradecimento a I didn't pela sua visita e bem-vindo!

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