O meu agradecimento hoje é dirigido ao Filipe. Conheço muito pouco dos seus interesses mas percebi que os Açores têm importância para si. Para mim também têm, há uns anos valentes vivi no Pico e tenho belíssimas recordações. Deixo o Pico e um excerto que tirei da net do "Mau Tempo no Canal" de Vitorino Nemésio. O canal que atravessei algumas vezes.
UM PASSEIO A CAVALO
Ao entardecer os campos enchiam-se de neblina, o Pico ficava baço e monumental nas águas. Dos lados da estrada da Caldeira sentiu-se uma tropeada, depois pó e um cavaleiro no encalço de uma senhora a galope:
― Slowly! Let go him alone ...
Os cavalos meteram a trote e puseram-se a par. O de Roberto Clark vinha suado, com um pouco de espuma na barriga e sinal de sangue num ilhal. O de Margarida, enxuto, meteu a passo.
― Ah, não posso mais ... O tio desafiou-me e deixou-se ficar para trás! Assim não vale ...
― Largaste-te logo ... Eu bem te disse: prender e folgar ... prender e folgar ... E depois, deixaste-o fazer a curva a galope com a mão do outro lado. That’s dangerous! ...
Roberto Clark exprimia-se correntemente em português; só tinha um nada de entonação ingénua, cheia de ohs, que tanto divertia a sobrinha; às vezes hesitava um pouco, à procura de certas palavras, fazendo estalar os dedos como quem deixa fugir precisamente a que convinha. Era um rapaz alto, espadaúdo. Vestia um casaco de sport e calção encordoado, à Chantilly, um boné escocês enterrado até às sobrancelhas ruivas, debaixo das quais espreitavam dois olhinhos sem cor precisa, como que metidos n’água.
Vitorino Nemésio, Mau Tempo no Canal , (excerto do cap. IX)
Ao entardecer os campos enchiam-se de neblina, o Pico ficava baço e monumental nas águas. Dos lados da estrada da Caldeira sentiu-se uma tropeada, depois pó e um cavaleiro no encalço de uma senhora a galope:
― Slowly! Let go him alone ...
Os cavalos meteram a trote e puseram-se a par. O de Roberto Clark vinha suado, com um pouco de espuma na barriga e sinal de sangue num ilhal. O de Margarida, enxuto, meteu a passo.
― Ah, não posso mais ... O tio desafiou-me e deixou-se ficar para trás! Assim não vale ...
― Largaste-te logo ... Eu bem te disse: prender e folgar ... prender e folgar ... E depois, deixaste-o fazer a curva a galope com a mão do outro lado. That’s dangerous! ...
Roberto Clark exprimia-se correntemente em português; só tinha um nada de entonação ingénua, cheia de ohs, que tanto divertia a sobrinha; às vezes hesitava um pouco, à procura de certas palavras, fazendo estalar os dedos como quem deixa fugir precisamente a que convinha. Era um rapaz alto, espadaúdo. Vestia um casaco de sport e calção encordoado, à Chantilly, um boné escocês enterrado até às sobrancelhas ruivas, debaixo das quais espreitavam dois olhinhos sem cor precisa, como que metidos n’água.
Vitorino Nemésio, Mau Tempo no Canal , (excerto do cap. IX)
E vocês compreenderam o texto? Depois de ter carregado em 'Mau tempo no canal'.
ResponderEliminarCaro Tó,
ResponderEliminarNão me preocupei em ler o site apenas em retirar o excerto. Li o livro há uns anos. Não o tenho.
Obrigada pela sua visita!
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