Albrecht Dürer, Study of a Drapery, 1508
Museu do Louvre, ParisNão concordo inteiramente com este texto do heterónimo de Fernando Pessoa mas dá que pensar.
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INTERVALO DOLOROSO - Autobiografia sem factos
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112.
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Nunca amamos alguém. Amamos, tão-somente, a ideia que fazemos de alguém. É um conceito nosso - em suma, é a nós mesmos - que amamos.
Isto é verdade em toda a escala do amor. No amor sexual buscamos um prazer nosso dado por intermédio de um corpo estranho. No amor diferente do sexual, buscamos um prazer nosso dado por intermédio de uma ideia nossa. O onanismo é abjecto, mas, em exacta verdade, o onanista é a perfeita expressão lógica do amoroso. É o único que não disfarça nem se engana.
As relações entre uma alma e outra, através de coisas tão incertas e divergentes como as palavras comuns e os gestos que se empreendem, são matéria de estranha complexidade.
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Bernardo Soares, O Livro do Desassossego, Lisboa: Assírio & Alvim, 1998, p. 137.
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