A citação do Manuel acompanha-me todos os dias, apesar disso ainda não a apreendi.
É duma lucidez cortante. Obrigada, Manuel.
Acredita, ainda que digas que não: nós nunca aceitamos os outros, como eles são na realidade. Muitas vezes (para não dizer a maior parte das vezes) os outros são, para nós, aquilo que nós imaginamos que eles são e, às vezes, obrigamo-los mesmo a sê-lo. Tu pões-te a inventar-me e eu ponho-me a inventar-te: já viste o perigo que isso é?
Manuel Poppe, O Pássaro de Vidro, Lisboa: Caminho, 2007
“De los diversos instrumentos inventados por el hombre, el más asombroso es el libro; todos los demás son extensiones de su cuerpo… Sólo el libro es una extensión de la imaginación y la memoria.”
Jorge Luis Borges
James Charles, Reading Book, Pinterest
400 anos da morte de William Shakespeare [investigações mais recentes do historiador João Alves Dias referem que a morte do escritor ocorreu a 3 de Maio e não a 23 de Abril de 1616]
Ler aqui. Acrescentado às 8: 30 horas do dia 4 de Maio de 2016.
Uma coisa bela persuade por si mesma, sem necessidade de um orador.
Gosto da escrita de António Mega-Ferreira. Decidi depois da Viagem a Itália, no século XVIII, realizada por Goethe, fazer uma viagem de cariz literária ao novo mundo, pois só me traria novas ideias. A leitura foca vários vencedores do prémio Nobel, todavia, há um, que há muitos anos me acompanha e que destaco de todos os outros porque é uma paixão maior: Jorge Luís Borges.
Sorri ao ver a capa do livro e a sugestão que ela provoca.
(...) vi a relíquia cruel do que deliciosamente fora Beatriz Viterbo, vi a circulação do meu escuro sangue, vi a engrenagem do amor e a modificação da morte, vi o Aleph, de todos os pontos, vi no Aleph a terra, e na terra outra vez o Aleph e no Aleph a terra, vi o meu rosto e as minhas vísceras, vi o teu rosto e senti vertigem e chorei, porque os meus olhos tinham visto esse objeto secreto e conjetural cujo nome os homens usurpam, mas que nenum homem olhou: o inconcebível universo.
J. L.Borges, Aleph*
*António Mega Ferreira, Viagens Hispano-Americanas. Lisboa: Arranha Céus, 2015, p. 142-143.
Homenagear os monumentos e preservar o património é responsabilidade de todos os cidadãos.
Foco-me no Castelo de Ourém no Dia Internacional dos Monumentos e Sítios porque ele tem tido importância ao longo desta minha viagem.
(...) Se cada homem não é mais que um complemento de todos os outros, e se torna mais útil e simpático quando assim se apresenta, essa verdade é mais válida ainda quando se trata de descrições de viagens e de viajantes.
Johann Wolfgang Goethe, Viagem a Itália, 1786-1788. ( Tradução, prefácio e notas de João Barrento) Lisboa: Bertrand Editora, 2016, p. 368.
A prosa de Goethe levou-me ao poema de Alberto Caeiro
Para além da curva da estrada
Para além da curva da estrada Talvez haja um poço, e talvez um castelo, E talvez apenas a continuação da estrada. Não sei nem pergunto. Enquanto vou na estrada antes da curva Só olho para a estrada antes da curva, Porque não posso ver senão a estrada antes da curva. De nada me serviria estar olhando para outro lado E para aquilo que não vejo. Importemo-nos apenas com o lugar onde estamos. Há beleza bastante em estar aqui e não noutra parte qualquer. Se há alguém para além da curva da estrada, Esses que se preocupem com o que há para além da curva da estrada. Essa é que é a estrada para eles. Se nós tivermos que chegar lá, quando lá chegarmos saberemos. Por ora só sabemos que lá não estamos. Aqui há só a estrada antes da curva, e antes da curva Há a estrada sem curva nenhuma.
s.d.
Alberto Caeiro, Poemas Inconjuntos. (Recolha, transcrição e notas de Teresa Sobral Cunha.) Lisboa: Presença, 1994, p. 129.
Nota Histórico-Artística do site da Direcção Geral do Património Cultural - DGPC
«Localizado numa região correspondente na actualidade ao município de Ourém, o castelo do mesmo nome encontra-se estrategicamente situado no centro do país, na confluência de antigas vias, numa zona dotada de assinalável diversidade de recursos naturais essenciais à sobrevivência e fixação de comunidades humanas, a exemplo dos inúmeros testemunhos arqueológicos identificados até ao momento. Conquistada, em definitivo, aos mouros em 1136, Ourém foi doada (1178) por D. Afonso Henriques (1109-1185) a sua filha Infanta Dona Teresa (Matilde), por iniciativa de quem lhe foi conferido foral, constituindo, desde então, parte dos territórios mais importantes das rainhas portuguesas, até que, em 1384, D. João I (1357-1433) a concede, bem como o título de Conde de Ourém, ao Condestável do Reino, D. Nuno Álvares Pereira (1360-1431). É em meados do século XV, com D. Afonso, Conde de Ourém e Marquês de Valença, que as muralhas do primitivo castelo são rasgadas para edificação do Paço, até ser destruído quase por completo pelo terramoto de 1755. Entrou, então, num processo de degradação agravado pelas invasões francesas, já no início do século XIX, sendo, no entanto, contemplado no primeiro documento nacional de classificação de estruturas antigas como "monumentos nacionais", datado de 1910, numa confirmação da sua importância histórica, até que, na década de trinta do século passado, foi objecto de obras de restauro e de beneficiação e valorização, estas últimas já nos anos oitenta. Destacado na paisagem em local de difícil acesso, no topo do monte sobranceiro à Vila, o castelo, originalmente edificado entre os séculos XII e XIII, foi dotado de um grandioso Paço no tempo de D. Afonso, Marquês de Valença (vide supra), nele imprimindo-se notória influência arquitectónica italiana. Desenhando um triângulo, o conjunto que hoje observamos possui corpo central de planta rectangular e dois torreões (torres largas e ameadas) insertos no próprio muralhado de planta poligonal da Vila. Os dois pisos inferiores foram completados com um amplo terraço circundado por balcão com mata-cães sobre arcaria apontada assente em mísulas piramidais. [AMartins]»
Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa: "Navegar é preciso; viver não é preciso*."
Quero para mim o espírito desta frase, transformada a forma para a casar com o que eu sou: Viver não é necessário; o que é necessário é criar. Não conto gozar a minha vida; nem em goza-la penso. Só quero torna-la grande, ainda que para isso tenha de ser o meu corpo e a minha alma a lenha desse fogo. Só quero torna-la de toda a humanidade; ainda que para isso tenha de a perder como minha. Cada vez mais assim penso. Cada vez mais ponho na essência anímica do meu sangue o propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir para a evolução da humanidade. É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa Raça.»
Trecho retirado do livro que acabei de ler de Manuela Nogueira, O Meu Tio Fernando Pessoa. (Prefácio de Richard Zénith). V. Nova Famalicão: Centro Atlântico, Lda, 2015, p. 15-16.
*Nota de Soares Feitosa: "Navigare necesse; vivere non est necesse" - latim, frase de Pompeu, general romano, 106-48 aC., dita aos marinheiros, amedrontados, que recusavam viajar durante a guerra, cf. Plutarco, in Vida de Pompeu.
[...] O meu caminho é pelo infinito fora até chegar ao fim! Se sou capaz de chegar ao fim ou não, não é contigo, deixa-me ir... É comigo, com Deus, com o sentido (...) 11-06-1915
Trecho retirado da "Saudação a Walt Withman"
Álvaro de Campos, Poesias de Álvaro de Campos. (Nota editorial e notas de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1944.
A Maria João enviou-me um poema muito bonito de Camilo Pessanha. Associei-o ao trabalho de Myra Landau que intitulo Jardim de Inverno e às fotografias: tímida Primavera e lento acordar primaveril.
Tímida Primavera
Myra Landau, Jardim de Inverno
Passarito assustado com o lento acordar primaveril
Floriram por engano as rosas bravas
Floriram por engano as rosas bravas
No Inverno: veio o vento desfolhá-las...
Em que cismas, meu bem? Porque me calas
As vozes com que há pouco me enganavas?
Castelos doidos! Tão cedo caístes!...
Onde vamos, alheio o pensamento,
De mãos dadas? Teus olhos, que um momento
Perscrutaram nos meus, como vão tristes!
E sobre nós cai nupcial a neve,
Surda, em triunfo, pétalas, de leve
Juncando o chão, na acrópole de gelos...
Em redor do teu vulto é como um véu!
Quem as esparze – quanta flor! – do céu,
Sobre nós dois, sobre os nossos cabelos?