31/12/2013

Votos

Votos, no fim do ano velho, de um
 Feliz Ano Novo para todos.

Desejo que seja um ano em que se descubra a maravilha!

OS FRUTOS

Assim eu queria o poema:
fremente de luz, áspero de terra,
rumoroso de águas e de vento.

Eugénio de Andrade, in "Ostinato Rigore", Poemas. Lisboa: Portugália, 1966, p. 219. 

[Diogo de Macedo, Enlevo, 1919, 
Museu Municipal de Coimbra/Edifício Chiado]

Com menos nuvens

[detalhe do céu, UC]

e muita luz, em janelas rasgadas.

[Loggia, MNMC]

Acima de tudo com muita tolerância e respeito pelas diferenças:
[Do Youtube]

30/12/2013

Livros, o deleite da alma - I

O Natal contribuiu para o enriquecimento da minha biblioteca graças a mãos amigas.
Os livros são o deleite da alma... o  repouso da vista.  O tempo deixa de ter importância e os ponteiros perdem o significado. 

A Torre do Tombo  e os seus Tesouros 
de Martim de Albuquerque

Começa assim:

Auto de inauguração do novo edifício do A.N.T.T., 
iluminura, ainda incompleta, de João Paulo de Abreu e Lima

O primeiro documento

Uma rosa ...

28/12/2013

Venturas

Este Natal tive a ventura de substituir o velho portátil por um novo. Um presente inesperado. O meu velho companheiro tinha como fundo o tríptico Jardim das Delícias, de Hieronymus Bosch, com os dois volantes fechados, como se pode ver na primeira imagem. O novo portátil foi-me oferecido com A Paisagem de Inverno com Patinadores (2) de Hendrick Avercamp, segunda imagem.

O velho amigo

O novo amigo

Estou indecisa quanto ao fundo a escolher. Se por um lado, A Paisagem de Inverno com Patinadores (2) me encanta, por outro, O Jardim das Delícias de Bosch tem-me acompanhado diariamente e passou por algumas provas...

A juntar a esta ventura há uma história feminina muito prosaica, ligada às compras de Natal. Reconheço que a infantilidade é um traço que, por vezes, salta apagando a racionalidade desejável. Quando andava a arranjar os presentes de Natal vi um adereço pelo qual me apaixonei, era baratinho, pode até ser de menos bom gosto, mas para mim não foi; comprei uma ostra que trazia uma pérola, simplesmente abri-la e ver a surpresa do tesouro encontrado resultava na delícia das delícias. [Gostei sempre de histórias de tesouros ...].
A pequena ostra trouxe a pérola do sucesso. Ligo a esta pérola o sucesso de ter ganho este novo portátil.


27/12/2013

Sem palavras

Sem palavras, nem ideias, uma preguiçosa lentidão. Procurei em vão um poema, mas não encontrei as palavras certas, nas vozes dos poetas. Como fazer para agradecer? 
[...]
Obrigada.




Imagens deste Natal

23/12/2013

Feliz Natal, Boas festas!

Desejo a todos um doce e Feliz Natal!

SURDINA DE NATAL 

Ó David    Ó Inês
Vamos ver o Menino
inda mais pequenino 
que vocês

Vamos vê-lo tapado
sob o céu do futuro
com a sombra de um muro
a seu lado

Vamos vê-lo nós três
novamente a nascer
Vamos ver se vai ser
desta vez

"Surdina de Natal para os meus netos", David Mourão-Ferreira in O Natal na Poesia Portuguesa. (Introdução e selecção de Luiz Forjaz Trigueiros), Porto: Dinalivro, 1987, p. 155


21/12/2013

NATAL UP-TO-DATE

Coração de Natal num mundo onde imperam os valores numéricos.


Aos nossos governantes...

NATAL UP-TO-DATE

Em vez da consoada há um baile de máscaras
Na filial do Banco erigiu-se um Presépio
Todos estes pastores são jovens tecnocratas
que usarão dominó já na próxima década

Chega o rei do petróleo a fingir de Rei Mago
Chega o rei do barulho e conserva-se mudo
enquanto se não sabe ao certo o resultado
dos que vêm sondar a reacção do público

Nas palhas do curral ocultam microfones
O lajedo em redor é de pedras da lua
Rainhas de beleza hão-de vir de helicóptero
e é provável até que se apresentem nuas

Eis que surge no céu a estrela prometida
Mas é para apontar mais um supermercado
onde se vende pão já transformado em cinza
para que o ritual seja muito mais rápido

Assim a noite passa. E passa tão depressa
que a meia-noite em vós nem se demora um pouco
Só Jesus no entanto é que não comparece
só Jesus afinal não quer nada convosco

O Natal na poesia portuguesa, (Inrodução e selecção de Luís Forjaz Trigueiros). Porto: Dinalivro, 1987, p.153

19/12/2013

Em torno de Gaspar Simões

Tive uma boa surpresa quando recebi o catálogo da Livraria Lumière. A escolha da Cláudia Ribeiro para a capa recaiu em João Gaspar Simões, um escritor ligado à Revista Presença criada em 1927, segundo momento do Modernismo em Portugal.

No catálogo saliento as palavras de Manuel Poppe sobre o autor:
«A independência e a capacidade para separar trigo e joio - creio que nenhum dos autores da nossa Literatura desses anos, escapou ao juízo certo de Gaspar Simões - criaram-lhe um exército de inimigos. E tão acérrimo foi ataque ao grande escritor que as suas vítimas quase conseguiram apagar o seu nome e quase o enterraram vivo. 
De facto, quem fala, hoje do exímio ensaísta e ficcionista?»
Manuel Poppe

Deixo aqui o agradecimento a Manuel Poppe que me levou a ler o escritor e do qual li os seguintes títulos: Elói (1932); Pântano (1940) e o Internato (1946).
Agradeço à Cláudia que me arranjou os livros e que me enviou o catálogo que vale a pena consultar pois o elenco de livros é atrativo.

Sobre Fernando Pessoa Gaspar Simões escreveu os seguintes títulos: 
- Vida e Obra de Fernando Pessoa — História duma Geração, Vol. I: Infância e adolescência; Vol. II: Maturidade e morte, 1950
- Fernando Pessoa — Escorço interpretativo da sua vida e obra, 1962, reeditado como Fernando Pessoa, Breve Escorço da sua Vida e Obra, 1983 e segs. 
- Estudos sobre Fernando Pessoa no Brasil (textos de JGS et al.), São Paulo, 1986. 
- Fernando Pessoa — Heteropisicografia, 1973. 
- Fernando Pessoa na Perspectiva da Presença, 1978. 
- Obras Completas de Fernando Pessoa, 4 vols. (com Luís de Montalvor, para a ed. Ática), 1942-1945
(Wikipedia)

João Gaspar Simões em diálogo com Pessoa: 
Apartado 147. 

Lisboa, 18 de Novembro de 1930. 

Meu querido Gaspar Simões: 

Desculpe não ter respondido ainda à sua carta de 7: não queria responder sem lhe enviar os meus folhetos de versos em inglês, e só hoje é que consegui desencan­tar o embrulho onde estavam. Envio-lhos por este correio, sob invólucro separado. 
(...)
Estou com muito interesse em ver o seu estudo na Presença. Basta que o veja aí; não é preciso, como numa outra carta me disse, mandar-mo antes de o publi­car. O título não me alarma nada, sendo certo, porém, que, de per si, não o compreendo definidamente. O es­tudo, contudo, mo explicará. Noto, aliás, que não dá o título como definitivo, mas como provável. Se ele define bem as conclusões do estudo, deve mantê-lo. Tem, com certeza, o dom de interessar. Outra coisa muito diferente. Recebi, no dia 13, na minha caixa postal, uma carta sua (pelo envelope e letra nele) para o António Botto. Contra todos os precedentes, extraviei essa carta. Peço-lhe desculpa disso, e aviso-o, para que possa ter a maçada de escrever de novo. Não expliquei o caso ao António porque há uns quinze dias que o não vejo; a correspondência que vem para ele, para a minha caixa postal – e que pode sempre para ali ir, pois não costumo extraviar as cartas –, deixo-‑lha logo no Café Arcada, onde ele vai frequente­mente, mas a horas a que eu raras vezes posso ir. 

Um grande abraço do seu amigo certo, admirador e obrigado, 
 Fernando Pessoa

 Cartas de Fernando Pessoa a João Gaspar Simões. (Introdução, apêndice e notas do destinatário.) Lisboa: Europa-América, 1957 (2.ª ed. Lisboa: Imprensa Nacional - ‑Casa da Moeda, 1982), p. 53. Do Arquivo Pessoa

A amizade 

18/12/2013

Renoir

La douleur passe, la beauté reste,
Pierre-Auguste Renoir no filme: Renoir de Gilles Bourdos 
(dito a Matisse; citado em "Cahiers de l'Université‎" - Ed. 15-17, Página 166, de Université de Pau et des pays de l'Adour, Groupe de recherche en sociologie de la littérature, Université de Pau et des pays de l'Adour, 1988)


Pierre-Auguste Renoir, A Ingénua, 1877,
Gallery Sterling and Francine Clark Art Institute at Williamstown, MA, USA

The Ingenue - Pierre-Auguste Renoir

Cena do filme Renoir, de Gilles Bourdos, Christa Théret em primeiro plano.
Festival de Cannes 2012. Fotografia retirada de Rotten Tomatoes.

Auto-retrato, fonte Wikipaintings, s.d.
Pierre-Auguste Renoir



A minha colecção de Cd's sobre pintores.
Perdi o Moinho e a Cruz sobre Brueghel, o Velho.

15/12/2013

Shall I Compare Thee To a Summer Day?- Peter O'Toole

Peter O'Toole um actor de eleição.

Caiem as folhas e com elas foram dois nomes escritos.
Primeiro, Mandela um homem superior na luta pelos direitos humanos. 
Segundo, Peter O'Toole um incontornável contributo cultural. 


Link

Ninguém pode levar Jesus para longe de mim ... não há nenhuma dúvida de que houve uma figura histórica de grande importância, com noções enorme. Como a paz.

Peter O'Toole in The New York Times (Wikipédia)

Um poema belíssimo de Shakespeare para aquecer a noite fria de outono.


Shall I compare thee to a summer's day? 
Thou art more lovely and more temperate. 
Rough winds do shake the darling buds of May, 
And summer's lease hath all too short a date. 
Sometime too hot the eye of heaven shines, 
And often is his gold complexion dimmed; 
And every fair from fair sometime declines, 
By chance, or nature's changing course, untrimmed; 
But thy eternal summer shall not fade, 
Nor lose possession of that fair thou ow'st, 
Nor shall death brag thou wand'rest in his shade, 
When in eternal lines to Time thou grow'st. 
So long as men can breathe, or eyes can see, 
So long lives this, and this gives life to thee. 

Link

14/12/2013

Prazeres

A culinária é, essencialmente uma arte e terá de constituir sempre um dos predicados da mulher que não deseje abdicar do seu valor, a despeito de tudo o que se possa dizer e pensar, a despeito de todas as correntes materialistas e ideias de emancipação, nem sempre bem definidas.

Laura Santos, A Mulher na Sala e na Cozinha. Lisboa: Editorial Lavores (16ª edição), s.d. p.8 
Um livro que me foi oferecido pela minha avó.

Prazeres: Bacalhau


Como aperitivo, foi servido vermute. Os criados serviram as ostras. Vinho branco: Bucelas; peixe; "sole normande"; vinho tinto: St. Émilion; poulet aux champignons; ervilhas em molho branco: petits pois à la Cohen; champanhe; ananases, nozes; café; chartreuses e licores; conhaque.

Eça de Queirós, Os Maias. Lisboa: Livros do Brasil, p. 134.


11/12/2013

Song of Birds

Como pode um pássaro que está preso cantar?


Cornellis de Heem, Still Life with parrots, basket of fruits and flowers

Pablo Casals, veja-se o que o próprio afirma


Cello- Shin-ichi Eguchi, Conductor- Stephen Charette, Orchestre d'Harmonie de Coeur

07/12/2013

Rosé para acompanhar Callas

O Savini não é apenas um grande restaurante. (...). Não poderia haver, portanto, uma moldura mais adequada para a rainha do Scala e dos salões milaneses, à época dos seus triunfos naquele teatro. A seguir a Marinetti e a Toscanini, era a convidada mais esperada e apreciada no famoso restaurante (que fica a poucos metros do Duomo, a Catedral de Milão), em tantas noites inesquecíveis, depois dos espectáculos, em que tinha em seu redor a nata da sociedade e cultura italianas e internacionais. A seu lado Luchino Visconti, António Ghiringhelli (director do Scala), os príncipes do Mónaco e da Bélgica, festejando as suas apresentações mais aclamadas. No Savini, Maria gostava em particular de algumas especialidades tipicamente lombardas que o restaurante propunha de maneira mais refinada, como o arroz dourado, (...).                                     
Bruno Tosi, Segredos Culinários de Maria Callas, Histórias, Receitas e Sabores (prefácio de José Bento dos Santos). Lisboa: Assírio e Alvim, 2008, p. 27.

«Arroz Dourado
[receita do restaurante Savini]

arroz à milanesa
manteiga,
queijo parmesão

Refogue um pouco de manteiga numa frigideira pequena e disponha o arroz à milanesa numa camada de 2 cm de altura. Alise com uma colher de pau e deixe alourar. Vire o preparado na frigideira, eventualmente com a ajuda de um prato. Deixe alourar do outro lado também. Sirva muito quente com parmesão ralado à parte.» 
p. 57 do livro acima citado.

A minha sugestão é que acompanhe com um Rosé - Vinha da Defesa (2012), Herdade do Esporão, Alentejo - a belíssima voz de Maria Callas.

Um agradecimento a MR que me deu a conhecer este livro.

06/12/2013

"la capacité à servir les autres"- Homenagem

Em homenagem a Nelson Mandela (18 de Julho de 1918 - 5 de Dezembro de 2013)

Paul Lovering, Nelson Mandela



«L’honnêteté, la sincérité, la simplicité, l’humilité, la générosité, l’absence de vanité, la capacité à servir les autres – qualités à laportée de toutes les âmes- sont les véritables fondations de notre vie spirituelle.» 

Nelson Mandela, Extrait de Conversations avec moi-même, Le Figaro

04/12/2013

Triste tempo e pequenas alegrias

O sol... 
O sol...
outonal prolonga-se numa primavera fria. 
Anoitece mais cedo.
Desnudam-se as árvores.
O vento...
deposita as folhas no meu regaço.
Triste tempo...






Figueira da Foz



Kondrashov Sergey (1957),  "Sad time", 1994
Painting for sale 'Sad time'  painting art sale realism subject composition paintings

Um livro que caiu do céu para alegrar os caminhos da alma. 
Pousei as Fugas de Alice Munro e peguei em Jerusalém.
A minha gratidão mais profunda. :))


Começa assim:
Ernst Spengler estava sozinho no seu sótão, já com a janela aberta, preparado para se atirar quando, subitamente o telefone tocou. Uma vez, duas, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove dez, onze, doze, treze, catorze, Erns atendeu.

Gonçalo M . Tavares, Jerusalém. Lisboa: Caminho, 2005, p. 7.


01/12/2013

Advento

Vesti a casa de Natal como é costume todos os anos. 

Carlo Crivelli, detalhe, Anunciação com Santo Emídio, 1386 ,  Maria recebe a notícia 
[25 de Março] que vai ser Mãe, daqui *
Um habitante novo na minha árvore de Natal



* Informação sobre o quadro.

Apesar de estarmos no Advento recordo a Anunciação, momento especialmente místico para todos os católicos.

Fugas

Edward Hopper, Compartment C, Car 293, 1938, link
Fugas é o título do livro de Alice Munro agraciada com o Nobel da literatura. Gosto de ler contos. As pequenas histórias tornam-se mais suaves quando há mais trabalho. O trecho corresponde ao segundo conto do livro, uma parte passa-se numa viagem de comboio.


O livro escorregou-lhe das mãos, os olhos fecharam-se-lhe, e ela andava agora com umas crianças (alunas?) sobre a superfície de um lago. Em todos os sítios que cada uma delas calcava aparecia uma fenda em forma de estrela de cinco pontas, todas elas maravilhosamente regulares, de tal forma que o gelo parecia um chão de azulejos.

Alice Munro, Fugas. Lisboa: Relógio de Água, 2007, p. 56.


Arquivo