O tempo e o silêncio duas máximas que entram em casa pela porta do fundo. Não há pressa deste lado da mesa mas os minutos passam rápidos, os ponteiros não se coibem. A estante vazia enche-se da poeira que teima em cair. Afasto-a e nela registo a minha mão como um desenho infantil, o nome, a palavra ou o conceito que prendo entre o ranger dos dentes. O grito mudo.
Detalhe de Fonte Bicéfala, século XVI (1501-1515), oficina de Lisboa, Museu Nacional de Arte Antiga.
Um dia eu disse que nunca ninguém leu a minha mão. Umas amigas leram virtualmente e ofereceram a sua poesia.
[A ordem foi tirada à sorte]
La Bonne Aventure (A boa-sorte ) Jacques-Louis David - 1824
Terás sorte e serás feliz. Primeiro acredita em tí, segundo crê nos céus, e terceiro por fim, mantenha a fé na terra.
Terás sorte porque receberás flores, as vezes até os canteiros as trazem, mas não a vemos ... veja ... são flores, terás sorte. Serás feliz, pois aprenderá com os anos a enxergá-la, ... do teu lado direito o sol, do esquerdo a lua, no meio as estrelas;
Se tens olhos vê, se tens pés, ande, se tens mãos, abrace, se tens dentes, sorri, se tens boca, constroi;
pois teu coração foi forjado no fogo dos anos e teus sentimentos lavados nas pérolas do rio.
Creia, és feliz, creia, tens sorte. Só os grandes repensam suas vidas e acertam seus passos, procuram os caminhos e se dislumbram com as estrelas no céu. Só os grandes reorganizam seus sentimentos de modo a sempre se acharem pequenos e ainda distantes do céu. Só grandes mulheres respiram sensibilidade através dos poros. Terá boa sorte a mão que demarca a construção de um mundo novo ... vês? Ès feliz ... tens sorte e temos nós também, por tê-la.
poema e imagem de Cozinha dos Vurdóns. Como Um Cipreste
Se eu fosse uma árvore queria ser um cipreste.
Sob o luar Doce e manso Num contraste Forte e seguro Ergue-se o cipreste.
Olho-o.
Cresce Em direcção ao céu Numa rectidão que nada perturba.
Sabe quem é. Sabe o que quer.
Firme Sereno Seguro Leal
...um cipreste...
Fotografias e poema da Isabel - Palavras Daqui e Dali
A Isabel sabe que adoro ciprestes.
Da Cláudia Ribeiro - Livraria Lumière
"Um bom livro é um legado precioso que o autor faz à humanidade" Addison*
"A arte é uma flor nascida no caminho da nossa vida e que se desenvolve para suavizá-la". Schopenhaeur *
*in Almanaque Bertrand, 1961, p. 67. E ainda os Queen que adoro!
Da Alexandra Ribeiro- Livraria Lumière
Feliz Aniversário
Alguma coisa está acontecendo, olhei para o céu, cadê as estrelas??? o sol sumiu; a lua partiu.........
Sumiram as rosas dos jardins, Sumiram os peixinhos do mar, E vento deve estar soprando em outro lugar......
Em busca de ajuda, procurei os anjinhos, e nem eles consegui encontar. Quando de repente um deles, eu vi tentando escapar.......
Não exitei, e fui logo perguntando: Anjinho, anjinho: -O que está acontecendo??? E o anjinho mesmo que apressado, respondeu ao meu chamado: -Meu rapaz, você não tem do que se preocupar, todos saíram para comemorar, o aniversário da pessoa mais linda.......deste lugar......
Grata a todos! Espero que os "anjos" cantem no Céu para Vós por me fazerem feliz, num dia especial!
"Dos Anjos, diz-se que cantam no Céu... Nós andamos a ensaiar na terra, para cantar com eles no Céu. Mas um pouco do Céu já se ouve, quando vós cantais."
Papa Paulo II, dirigindo-se aos Antigos Orfeonistas (do Orfeon Académico de Coimbra) na Basílica de S. Pedro, Junho de 1996.
Os Portugueses dos séculos XV e XVI provaram pela experiência e pela dedução científica que o mundo equatorial era habitável e habitado.*
Fig. 19 da História de Portugal de A. H. de Oliveira Marques, Lisboa: Palas Editora, 1976 (6ª edição).
* A Terra habitada e as zonas inabitáveis, segundo o Tratado da Esfera, de Sacrobosco, século XIII.
O Professor Oliveira Marques faleceu a 23 de Janeiro de 2007. Foi e é o mentor da História e da Cultura portuguesas para muitos estudantes e para os apaixonados pela História das nossas raízes.
Observando a imagem, pergunto-me se o mundo equatorial não será agora mais desejável que o nosso país?
Num espelho invertido, tiramos a máscara, olhamo-nos. Descobrimos a pele e os músculos tensos que desfiguram o sorriso num leve esgar. Os olhos abrem e fecham-se. A pele enruga-se contraída entre o sofrimento e a raiva, a civilidade e a brutalidade. As pérolas perdem o brilho, Kokoschka amarelece. Afinal a carne esquece Deus e a moral esvai-se...
Depois de ver:
O Deus da Carnificina de Roman Polanski, com Jodie Foster, Kate Winslet, Christoph Waltz e John C. Reilly. E ainda a especial participação de Elvis Polanski, filho do realizador.
Aguarela de Manuel Tavares, O Mártir da Cruz, 1958. Colecção Carlos do Carmo.
Retirado do livro de Fernando Tordo e Manuel de Sousa, As Cores da Crucificação, Lisboa: Oro Faber, 2005, p. 170. Fotografia - Pedro Saraiva
Adolfo Correia da Rocha, Miguel Torga, faleceu a 17 de Janeiro de 1995. A minha homenagem a um homem que passou pelo mundo com a discrição de um gentleman.
Coimbra, 14 de Julho de 1974
ORAÇÃO
Peço-te lucidez, Senhor. Rogo-te humildemente, Em nome da terrena condição, Que me não cegues neste labirinto De paixões. Que nele, aos tropeções, Eu nunca chegue até onde, perdido, O homem já não pode Saber até que ponto é consentido O jugo que sacode.
Miguel Torga, Diário XII, Coimbra, (2ª edição) p. 73.
Agradeço a Cláudia da Livraria Lumière que me recordou o poeta, escritor e ensaísta.
Tenho que retomar o peso e a medida da palavra humana, quanto mais não seja para dizer com clareza que estamos a matar as almas à custa de pôr o homem a falar em voz alta e a fazê-lo viver desse discurso estéril. Que estamos a cair numa astenia geral, numa sociedade de fantasmas que, à custa de dizer palavras perderam a linguagem do ser. Gostaria de tentar redescobrir as ribeiras subterrâneas e as orações secretas que se diziam baixinho, as meias palavras que evocavam o estofo misterioso do tempo, as palavras segregadas dos amantes que comunicavam talvez a pulsação do cosmos, talvez a linguagem e o silêncio de Deus.
António Alçada Baptista, Os Nós e os Laços, Lisboa: Editorial Presença, 1985, p. 127.
(...) um olhar duma imensa inocência sobre o mundo. Através dos seus olhos, tudo parecia bom... António Alçada Baptista, Os Nós e os Laços, Lisboa: Editorial Presença, 1985, p. 97.
Desenho a tinta da china e aguarela, altura: 22,5; largura: 34cm, Museu do Chiado – Museu Nacional de Arte Contemporânea. Lisboa
Nu feminino deitado numa cama, de frente, cabelo apanhado atrás, com o cotovelo direito assente numa cómoda, baixando o olhar para o lado esquerdo, e com um bandolim encostado no fundo. (Retirado da Matriznet).
"Um grande amor nunca é espontâneo".
Agustina Bessa-Luís, Adivinhas de Pedro e Inês
Talvez a Agustina tenha razão.... Será? Do amor tantos poetas, escritores, pintores, cantores, filósofos... escreveram, desenharam, meditaram, cantaram. Porém, ninguém consegue apreender totalmente a essência dessa palavra. Há uma certa impossança em abraçar o vocábulo. Terá Pedro vislumbrado a essência em Inês?
Abro este ano com a Torre da Universidade de Coimbra. Um local muito especial para mim. Tenho revisitado muitas vezes este Paço das Escolas. Não sei se este ano novo poderei vir ao blogue com regularidade. Sei de antemão que vou ter saudades de quem me tem acompanhado. Sei que terei o impulso de escrever alguma nota, colocar algum poema, música, arte ou algo que me toque para partilhar com todos. Mas esta torre com história, que podem ver no link assinalado, vai ter que organizar o meu tempo. Assim, o primeiro foco de intenções para este ano é que as horas se tornem mais organizadas.
Em especial para o Pedro, "o bar do Direito", um pouco renovado.
A Torre é uma peça maior do xadrez por ganhar importância estratégica, principalmente na fase final do jogo. O desenho abaixo retrata ao que parece a primeira torre do jogo de xadrez.
«Uma das lendas que acompanham a criação do jogo conta que o brâmane Sissa criou o chaturanga, predecessor mais antigo do xadrez, tomando por base as figuras do exército indiano e incluiu a Biga, um carro de guerra movido por cavalos muito comum na época*. O movimento desta peça era idêntico ao da atual torre, o seu nome em sânscrito era Ratha. De acordo com relatos gregos, esta era a composição do exército indiano desde o Séc. IV a.C.»
Ler mais aqui wikipédia , *Lasker (1999), pp.29, 30.
A segunda intenção é fazer um retiro e cavalgar para vencer o jogo em que se torna a nossa vida. A terceira que todos estejam presentes mesmo na minha ausência.
Recebi um livro no Natal, para juntar à coleção de mini-livros, do qual transcrevo: (...) dêem-me um amigo, no meu retiro, a quem possa murmurar: A solidão é doce!
William Cowper (1731-1800) in Um Amigo, Helen Exley, Editorial Estampa