14/01/2012

Discurso estéril - Alçada Baptista

Detalhe de O Desterrado, Soares dos Reis, 1872


Museu Soares dos Reis, Porto




Tenho que retomar o peso e a medida da palavra humana, quanto mais não seja para dizer com clareza que estamos a matar as almas à custa de pôr o homem a falar em voz alta e a fazê-lo viver desse discurso estéril. Que estamos a cair numa astenia geral, numa sociedade de fantasmas que, à custa de dizer palavras perderam a linguagem do ser. Gostaria de tentar redescobrir as ribeiras subterrâneas e as orações secretas que se diziam baixinho, as meias palavras que evocavam o estofo misterioso do tempo, as palavras segregadas dos amantes que comunicavam talvez a pulsação do cosmos, talvez a linguagem e o silêncio de Deus.

António Alçada Baptista, Os Nós e os Laços, Lisboa: Editorial Presença, 1985, p. 127.

15 comentários:

  1. Ana,
    Agrada-me essa preocupação, porque necessária.

    Beijo :)

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  2. E, isto escrito em 1985...
    Já não há "espaço" para se ser, para sonhar, para amar.
    Há que contrariar as tendências!
    Também depende de nós...

    Beijinho terno

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  3. Que texto tão bonito e verdadeiro. Uma boa amostra daquilo que apologiza.
    Bom fim de semana, ana.

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  4. Louvada seja a lucidez d'alma. Pois não precisamos da outra, entretanto precisamos que o ouvido perca a audição para para recuperarmos os sentidos do som, o silêncio de Dhiel.

    bjs grandes de todas nós.

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  5. AC,
    Julgo que iria gostar deste livro.
    Obrigada pela visita. Não consigo publicar um comentário no seu blogue.
    Beijo. :)

    Margarida,
    Que bom vê-la por aqui. Obrigada!
    Bjs. :)

    Cláudia,
    Temos que contrariar sim e encontrar a linguagem do ser!
    Beijinho terno!;)

    Sara,
    Sorri.
    Bom fim de semana! :)

    Cozinha dos Vurdóns,
    Obrigada pela "lucidez d'alma" e sigamos o silêncio de Dhiel.
    7 Beijinhos grandes!:)))))))

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  6. Tem toda a razão o A.B.
    Vamos-nos "desumanizando". Temos que manter o sonho, o sentimento, as palavras...
    beijinhos

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  7. MJ,
    Que contentamento em a ver por aqui a falar do sonho e da humanização.
    Beijinhos. :)

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  8. Parece que consigo estar de volta ao Blogger, ana.
    Bjs e boa semana

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  9. Fala-se demais, é verdade! Tagarelar ensudece ao ponto de desaprendermos a audição. E se não nos ouvirmos como saberemos quem somos?

    Alçada Baptista, sempre atento.

    L.B.

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  10. Uma reflexão que urge fazer.
    A palavra torna-se vazia se não se deixa preceder dos silêncios capazes de justificar um dizer.

    L.B.

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  11. Pedro,
    Eu não consigo comentar no seu blogue. Gostei de o ver por aqui. beijinhos. :)

    Olívia,
    Obrigada pela visita e pelo comentário que apreciei. Tentei retribuir mas não vi qual é o seu blogue.
    Abraço! :)

    Ládia Borges,
    Obrigada pela visita e sim, urge fazer-se uma reflexão.
    Abraço!:)

    Puma,
    Infelizmente é o que nos estamos a tornar...mas talvez ainda haja esperança.
    Obrigada pela visita!
    Abraço. :)

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  12. A fala deixa tantas vezes "a palavra" envergonhada.
    Já não há um pensar prévio, fala-se por falar, sem sentido, sem orientação.

    Beijo

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  13. Carlota,
    É tão verdadeiro o que diz que fico sem palavras.
    Beijo. :)

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