24/06/2010

O tempo, esse grande escultor...

O tempo, esse grande Escultor é um livro de ensaios de Marguerite Yourcenar sobre arte, história, cristianismo, natureza, pintura e reflexões sobre as civilizações orientais, os guerreiros japoneses e o erotismo da Índia medieval ou o budismo. Enfim, retrata os seus pensamentos sobre o passado e o presente onde a história é uma constante. Nele encontrei este trecho que deu o título ao livro.
Peguei na reflexão da autora e transpus para a nossa relação com o mundo, ou seja qualquer acto ligado ao nosso conhecimento. Então utilizei a escultura em sentido figurado para todos os actos que praticamos. O tempo esse escultor transforma a nossa visão, molda as nossas vontades, desejos, e influência a nossa criação. Marguerite Yourcenar define numa escultura o ciclo da vida: a construção da beleza, a admiração, a erosão, o desgaste e o regresso ao "estado mineral" do início.
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Esfínge encontrada em Spata, Ática, 570-550 a.C, Período Arcaico, Atenas

Museu Nacional de Arqueologia de Atenas, 2008, Grécia


No dia em que uma estátua é acabada, começa de certo modo, a sua vida. Fechou-se a primeira fase em que, pela mão do escultor, ela passou de bloco a forma humana; numa outra fase, ao correr dos séculos, irão alternar-se a adoração, a admiração, o amor, o desprezo ou a indiferença, em graus de sucessivos de erosão e desgaste, até chegar pouco a pouco, ao estado de mineral informe a que seu escultor a tinha arrancado.

Marguerite Yourcenar, O Tempo esse grande Escultor, Lisboa: Difel, 2001, p.49

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