21/06/2010

Na sala deserta...

Tenho deveres para cumprir, vou ter que cumprir. Julgo que hoje começa o Verão mas aos meus olhos o Inverno instalou-se, chove ininterruptamente e o mar não me deixa atravessar o canal. Não entendo esta tempestade.

Mar Egeu, Grécia 2008

O bicho vai roendo o rodapé. Monótono e firme, na sala deserta, o ranger dos seus «dentes» desafia o relógio do meu coração, o maquinismo do meu cérebro. Detenho-me à escuta. Quem trabalha mais depressa? Quem anda mais depressa? No meio da noite, esse bizarro e diligente trio - e eu. eu deserta e tensa.
Horas mortas. Agora é o bicho da madeira. Outra ocasião foi o murmúrio do mar ou o trilo das cigarras. (...)
Assim as histórias vão nascendo. assim se vão desdobrando em folhas de livros.
Aqui é a sala do colégio. Lá o bangaló de férias na praia. «Porque escreve só de noite?» (...)
Pessoas que se cruzam, olhares que se trocam. Lembras-te? Parecias-te comigo Não sei bem em quê.Talvez na distância que respeitavas. Voltávamos uma curva. Perdemo-nos ao largo.

Maria Ondina Braga, Estátua de Sal, Lisboa: Editor José A. Ribeiro, 1983, p. 49-50.

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