18/06/2010

Saramago!

Para Saramago.



Fala do Velho do Restelo ao Astronauta

Aqui, na Terra, a fome continua,
A miséria, o luto, e outra vez a fome.

Acendemos cigarros em fogos de napalme
E dizemos amor sem saber o que seja.
Mas fizemos de ti a prova da riqueza,
E também da pobreza, e da fome outra vez.
E pusemos em ti sei lá bem que desejo
De mais alto que nós, e melhor e mais puro.

No jornal, de olhos tensos, soletramos
As vertigens do espaço e maravilhas:
Oceanos salgados que circundam
Ilhas mortas de sede, onde não chove.

Mas o mundo, astronauta, é boa mesa
Onde come, brincando, só a fome,
Só a fome, astronauta, só a fome,
E são brinquedos as bombas de napalme.
José Saramago

6 comentários:

  1. Lindo o poema. Tenha pena que Saramago tenha morrido.

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  2. Também me fez impressão.
    Gosto de alguns dos seus livros e da atitude polémica que por vezes assumia.

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  3. Tem razão Sara, é sempre triste ver quem eleva Portugal ir-se embora.

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  4. Cara Ana, felicito-a pela inclusão de um poema. Frequentemente, esquece-se que a produção literária de Saramago transcendeu o romance. Começou, aliás, na poesia e passou também pelo teatro. Sou apologista de que se (re)lembre as grandes obras e grandes vidas. E esse poderá constituir um dos nossos (dos portugueses) maiores tributos.
    Abraço e bom fim-de-semana.

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  5. Obrigada R,
    Descobri-o como poeta há pouco tempo e essa faceta está a deixar-me fascinada.
    Abraço e desejo também que o fim-de-semana seja óptimo!

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