Só nos pertence o gesto que fizemos não o fazê-lo como, iludida, a divindade que em nós já trouxemos supõe errada (e não) por convencida.
Porque o traçado nosso em breve cessa, para que outro o recomece e não progrida; que um gesto em ser gesto real se meça, não está em nós fazê-lo, mas na Vida.
Assim o nada a sagra quando finda porque o que é, só é o não ainda.
Não esquecer o Holocausto para que não se repita, é o mote aqui deixado.
Nunca o homem desceu tão baixo, próximo dos instintos mais animalescos. Aliás, julgo que nem os animais se comportariam assim, a não ser os predadores com fome. Perguntei, pergunto, perguntarei sempre: como foi possível?
Crianças judias com tigelas de sopa no gueto de Varsóvia.
Varsóvia, Polónia, por volta de 1940.
Foto de uma menina internada no Centro Infantil Kloster Indersdorf. O objetivo era o de ajudar a localizar membros de sua família que por acaso houvessem sobrevivido à Guerra. As fotos de crianças judias e não-judias eram publicadas em jornais para ajudar na reunificação de famílias separadas pela Guerra. Alemanha, depois de maio de 1945. *
Celebram-se os 100 anos do nascimento de Virgílio Ferreira no próximo dia 28 de Janeiro.
Antecipo-me na homenagem porque comecei a ler um conto do escritor para crianças, comprado na Bertrand neste Domingo de eleições.
Detalhe da ilustração de Júlio Resende
(fotografia minha)
O conto intitula-se A Estrelae é ilustrado por Júlio Resende. É uma publicação bonita em tons de
azul. Do conto, disseram-me que era triste. Não sei, pois apenas li o princípio enquanto esperava pelo transporte, e começa assim...
Um dia, à meia-noite, ele viu-a. Era a estrela mais gira do céu, muito viva, e a essa hora passava mesmo por cima da torre. Como é que não a tinham roubado? Ele próprio, Pedro, que era um miúdo, se a quisesse empalmar, era só deitar-lhe a mão. Na realidade, não sabia bem para quê. Era bonita, no céu preto, gostava de a ter. Talvez depois a pusesse no quarto, talvez a trouxesse ao peito. E daí, se calhar, talvez a viesse dar à mãe para enfeitar o cabelo.Devia-lhe ficar bem no cabelo.
Vergílio Ferreira, A Estrela. Lisboa: Quetzal, 2009, p. 9.
O menu manuscrito ou impresso, em cartão ou em papel de Bristol, mais raramente em tecido, foi algo próprio do século XIX,que se inscreveu num contexto de valorização do requinte e das boas maneiras.
Isabel M.R. Mendes Drummond Braga, Os Menus em Portugal, Para uma História das Artes de Servir à Mesa. Porto: Chaves Ferreira, Publicações SA., p. 25, *imagem p. 81.
(trad. Vasco Graça Moura e ilustr. de Júlio Pomar) [E se não choras, do que costumas chorar?- outra tradução encontrada, só colocada porque achei a frase bonita, pois Vasco Graça Moura impõe mais segurança.]
Seria mais fácil se tudo na vida tivesse uma resposta simples: ou preto ou branco. Negativo ou positivo como os meus dois gatos mais velhos, um é quase o negativo do outro.
A gata e o gato
A simplicidade das coisas reflectir-se-ia nas relações entre as pessoas. Deixava de existir o medo, a dúvida, a desconfiança, e em troca haveria a luz e a confiança,
BREVE O DIA BREVE O ANO BREVE TUDO
Breve o dia, breve o ano, breve tudo. Não tarda nada sermos. Isto, pensado, me de a mente absorve Todos mais pensamentos. O mesmo breve ser da mágoa pesa-me, Que, inda que mágoa, é vida.
27 - 9 - 1931
Ricardo Reis, In Poesia , Assírio & Alvim, ed. Manuela Parreira da Silva, 2000
Viver dentro de um livro e fazer parte da sua beleza faria esquecer a intranquilidade dos dias.
Afonso Cruz oferece-nos essa beleza numa Enciclopédia da Estória Universal editada pela Alfaguara em 2015.
ISA
escondia palavras dentro de bocados de pão e depois atirava-os aos pássaros, e era assim que as suas palavras voavam por cima da sua aldeia, como fazem as nuvens carregadas de poemas quase a chover.
*p. 14*
Em especial para a minha amiga Graça
HUXLEY, ALDUS
tinha medo das flores, porque elas cheiram bem e a Humanidade não.
*p. 41*
Dois Senhores em memória
Obrigada a todos que me visitam, logo que possa virei agradecer individualmente.
Bizarro até ao fim, David Bowie é uma paixão antiga quer pela originalidade das suas músicas, quer pela performance que adoptou ao longo da sua carreira desde o psicadélico ao puro gentleman.
Adorava, adoro, este músico e excelente actor. Lamento não ter visto a peça de teatro o Homem Elefante protagonizado por ele.
Actor e bizarro até ao fim, Viva!
Um filme que me marcou imenso foi Merry Christmas Mr Lawrence
O Homem Elefante
Wild is the Wind foi hoje a minha escolha.
Que o homem de olho azul e olho verde/acastanhado vá com o vento em paz.
Regresso, em pleno Inverno, ao centro dos Templários, lugar mágico, espiritual, onde o silêncio apazigua apesar da chuva bater ininterruptamente na calçada.
Sem sol, a andorinha acompanha o café com o seu voo eterno, no Paraíso: infinita Primavera.
Café Paraíso, Tomar
Igreja de Santa Maria do Olival, Tomar
Amor como em Casa
Regresso devagar ao teu sorriso como quem volta a casa. Faço de conta que não é nada comigo. Distraído percorro o caminho familiar da saudade, pequeninas coisas me prendem, uma tarde num café, um livro. Devagar te amo e às vezes depressa, meu amor, e às vezes faço coisas que não devo, regresso devagar a tua casa, compro um livro, entro no amor como em casa.
Manuel António Pina, in "Ainda não é o Fim nem o Princípio do Mundo. Calma é Apenas um Pouco Tarde".
Toda a poesia é luminosa, até a mais obscura. O leitor é que tem às vezes, em lugar de sol, nevoeiro dentro de si E o nevoeiro nunca deixa ver claro. Se regressar outra vez e outra vez e outra vez a essas sílabas acesas ficará cego de tanta claridade Abençoado seja se lá chegar.
Ao declinar o dia Entre a linha do horizonte E o muro de pedra para além de mim, Procuro a presença impossível Da luz maior, Para que cada flor possa florir.
Do futuro nada sabemos, apenas que é a continuação do presente. Cai o dia, vem a noite depois a alvorada e é outro dia, e assim ininterruptamente.
Faz-se o ciclo das estações: Verão, Outono, Inverno, Primavera... o tempo continua, não em linha recta, mas em vários círculos perfeitos que não se tocam.
Os Homens com o seu poder aparente vão vencendo a Natureza e impondo os seus valores, mascarados de virtudes, esquecendo-se, por vezes, do sentido do bem e do mal.
O futuro é uma porta cinzenta. Contudo, essa porta cinzenta pode abrir-se com alguma luz para que esta ilumine o labirinto que é esse futuro. Pois, que assim seja o 1º dia do ano, um dia de luz.
Um bar em Amesterdão
Socorro-me de Fernando Pessoa, de quem escolhi o mote para este blogue: "O que é ser rio e correr?",
para iniciar o ano.
Nunca busquei viver a minha vida
Nunca busquei viver a minha vida A minha vida viveu-se sem que eu quisesse ou não quisesse. Só quis ver como se não tivesse alma Só quis ver como se fosse eterno.
s.d.
Teresa Rita Lopes, Pessoa por Conhecer - Textos para um Novo Mapa . Lisboa: Estampa, 1990. p. 333.
Ainda um presente especial um livro miniatura que só hoje faz sentido colocar