06/01/2016

"Ver claro"

Como desejava "ver claro"

Relicário árvore




Ver claro

Toda a poesia é luminosa, até
a mais obscura.
O leitor é que tem às vezes,
em lugar de sol, nevoeiro dentro de si
E o nevoeiro nunca deixa ver claro.
Se regressar outra vez e outra vez
e outra vez
a essas sílabas acesas
ficará cego de tanta claridade
Abençoado seja se lá chegar.


Eugénio de Andrade in "Os Sulcos da Sede"


E caiu a primeira neve!

Bom dia de reis.

28 comentários:

  1. Não me lembro desta poesia, Ana, mas tenho-a !

    Primeira neve ?
    - Nevão !
    E a chuva foi tanta na 2ª feira que em Celorico um muro ruiu !!!

    Um beijo.

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    1. João,
      É um poema tão lúcido.
      Nevão, sim.
      Gosto de neve.
      Um beijinho.:))

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    2. Realmente não tenho !

      A propósito da tua LUZ :

      COMO SABER DE QUE MATÉRIA
      É FEITO O OLHAR ?
      ACABA AQUI
      A LUZ GÉMEA DA TUA BOCA,
      MAS ASSIM
      VÊ-SE MELHOR A ESPUMA DO CREPÚSCULO.

      ( EUGÉNIO DE ANDRADE, in O PESO DA SOMBRA )

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    1. Sim. As árvores são dignas de serem relíquias, não acha?:)))))

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    2. Claro, claro...
      Eu é que nunca pensado nisso, Ana...

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  3. Por Macau estamos com temperaturas entre os 18 e os 23 graus (hoje).
    A humidade é que teima em não descer dos noventa e tal por cento.
    Beijinhos

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    1. Pedro,
      Se não fosse a humidade, estaria perfeito.
      Beijinho.:))

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    1. Obrigada, Margarida.
      Sei que adora as árvores.
      Beijinho.:))

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  5. ~~~
    Como é verdadeira a mensagem do poema de EA!

    ~~~ Excelente Dia de Reis, querida Ana. ~~~

    ~~~~~ Beijinhos. ~~~~~
    ~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

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    1. Obrigada, Majo.
      EA era um homem lúcido e de uma sensibilidade que muito me atrai.
      Beijinho.:))

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  6. Esta tua fotografia é fantástica! Gosto imenso. E o título está muito bom.
    Quanto ao Eugénio, gosto muito!
    Feliz Dia de Reis, Ana!
    Bjs

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    1. Obrigada, Sandra.
      Feliz dia para ti também.:))
      Bjs.:))

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  7. "Só se vê bem com o coração" - escreveu Saint-Exupéry...
    Nem sempre temos a lucidez necessária e desejada, não é?
    Um grande beijinho, Ana.:))

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    1. Cláudia,
      Saint-Exupéry tem toda a razão, mas às vezes é preciso mais a cabeça do que o coração.
      Respondendo: é, e é preciso sermos lúcidos. :))
      Beijinhos.:))

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  8. Felizmente, que podemos, em qualquer altura da vida mudar a nossa visão sobre as coisas.

    Gosto muito desta música, que me leva até à adolescência.

    Um beijinho e continuação de um bom Dia de Reis:)

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    1. Obrigada.
      Sim, Isabel, isso revela espírito de abertura e espírito crítico.
      Ouvia esta música nas festas dos primos um pouco mais velhos.
      Beijinhos.:))

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  9. Como disse a Agostinho ainda hoje, um poema é uma oração com poder na melodia das palavras que nos transportam para uma outra dimensão sobrenatural de paraísos possíveis (perdidos ou jamais encontrados) que confortam a alma.
    A análise por vezes quebra a magia.
    Às vezes "ver claro" esse cubo que é o poema passa apenas pelo fruir da melodia, como se estivéssemos a ouvir um cântico com letra estrangeira que gostamos e até às vezes mais do que quando compreendemos tudo.
    Beijinho, Ana, e sabes, querida amiga, vês muito claro!...

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    1. Graça,
      Gosto da poesia do Agostinho. Já fui espreitar porque o teu comentário assim o recomenda. :))
      Pois é a análise quebra a magia, tens razão, mas a magia, por vezes traz nevoeiro...
      És uma querida, vês-me sempre com bons olhos. Às vezes almejo ver mais claro. :))
      Beijinho.:))

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  10. Tive este comentário, escrito no meu smartfone ontem na hora do café, e, no momento da publicação, ardeu. Era mais ou menos isto:
    O “ver claro” é de uma limpidez brilhante, Ana: “tombe la neige” da minha adolescência num inverno (ainda) por se revelar!
    A imagem de entrada é transparência iluminada, uma ideia brilhante que irradia uma luz diferente.
    De EA que dizer? Dá a receita para ver claro a poesia, para que ninguém se sinta excluído dos sentimentos que se ateiam na recitação das palavras. Não há desculpa por não sentirmos o que não dizemos nem ouvimos. Não sentimos sem dizer/ouvir. Por vezes, temos de ler várias vezes para que a luz apareça.
    Eugénio! eu génio? Não, também eu almejo ver claro e, no entanto, apesar da vontade, fico-me pelas franjas sem ir à raiz, perdido no emaranhado revolto dos cabelos. É como acontece quando o nevoeiro impede de ver o corpo por inteiro, de entrar de verdade na floresta; mesmo quando somente uma neblina a espreguiçar-se no ar.
    E não é por haver catedrais, Sintras, Serralves, Gerês, Gulbenkians, e outros lugares que gente de peregrina intenção abre o coração à clorofila: não vê as cores, não ouve o som, não aspira os aromas. E, como há-de sentir se não se deixa tocar?
    Génio. Génio é pôr uma árvore num relicário. Quem sabe se essa gente beata alcança, na clarividência dum passo - o batismo na natureza - a felicidade dum crente? Ter um santo em casa, uma árvore num relicário? É de génio.

    Bj

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    1. Agostinho,
      Muito obrigada pelas suas palavras tão gentis. :))
      Gostei da sua dissertação sobre a clareza.
      Bj.:))

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  11. Sim, ver claro! Como o poeta "vi, claramente visto...", sem deturpações, com lucidez. Mas com neve ainda é melhor! Uma vez apanhei ~há 3 ou 4 anos- um nevão na Guarda e foi maravilhoso: a claridade da neve, do ar, da névoa. ia partindo uma perna, mas valeu a pena! UM beijinho
    Tombe la neige/tu ne viendras pas ce soir...

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    1. Maria João, Já há uns anitos que não vou à serra ver a neve, tenho saudades, confesso.
      Beijinho. :))

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