O livro que comecei a ler para que a música faça parte do dia-a-dia.
Bom dia!
«Senhores Mestres da Música, a Itália já não ouve as excelentes vozes de tempos passados particularmente entre as mulheres e, para grande vergonha dos culpados, vou explicar porquê.»
Pier Francesco Tosi (castrado), Introdução à arte do canto,1723.
Musée des Beaux Arts, Nice
Caravaggio,Os Músicos, c. 1595, (uma das versões)
Metropolitan Museum of Art, New York, retirado da Wikimedia Commons
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«Cilindro 1 Roma, 10 de Junho de 1914
Chamo-me Moreschi, professor Alessandro Moreschi, até há
pouco tempo soprano solista e, oficialmente, chefe dos coros da
Capela Sistina. Sou também um castrado, o último sobrevivente,
ou quase,dessa grande família de cantores, agora
esquecida mas que conheceu mais de dois séculos de glória em
palco e quase quatro à grandeza de Deus.
Era o parágrafo introdutório da enciclopédia que estava a preparar há mais de dois anos e que devia intitular-se Os Castrados e a Igreja. Título pretensioso, reconheço, mas apreciava a ressonância científica. Por muito tempo, fiquei admirado e também aborrecido por ninguém ter feito o favor de relatar num livro os nossos quatrocentos anos de história.»
Luc Leruth, A Quarta Nota. Tradução de Sandra Ribeiro, Lisboa:Temas e Debates, 2003, p. 9
Não posso fechar os olhos, tapar os ouvidos e calar a minha boca:
- Europa que tristeza o que vives...
Desabrochar ou fechar como uma concha?
CONSELHO Cerca de grandes muros quem te sonhas. Depois, onde é visível o jardim Através do portão de grade dada, Põe quantas flores são as mais risonhas, Para que te conheçam só assim. Onde ninguém o vir não ponhas nada. Faze canteiros como os que outros têm, Onde os olhares possam entrever O teu jardim como lho vais mostrar. Mas onde és teu, e nunca o vê ninguém Deixa as flores que vêm do chão crescer E deixa as ervas naturais medrar. Faze de ti um duplo ser guardado; E que ninguém, que veja e fite, possa Saber mais que um jardim de quem tu és — Um jardim ostensivo e reservado, Por trás do qual a flor nativa roça A erva tão pobre que nem tu a vês...
s. d.
Fernando Pessoa, Poesias (Nota explicativa de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1942 (15ª ed. 1995), p. 242.
Diogo Muñoz, patente na Exposição Factotum que decorreu de 7 de Junho a 14 de Setembro de 2014 na Fundação Dom Luís, Centro Cultural de Cascais.
Diogo Muñoz, Audrey Hepburn, sd
«Já afirmado a nível internacional, Diogo Muñoz pode ser definido como um artista completo, capaz de dominar a pintura em todas as suas formas e géneros. Grande retratista e pintor hiper-realista ocasional, a arte de Diogo é ainda, e sobretudo, génio criativo.
Falar da sua obra é falar de um mundo à parte, de um universo quase literário, feito de protagonistas e figurantes, de cor, imagens e símbolos, que remetem tanto à realidade histórica como ao imaginário colectivo, tanto à memória como à criatividade pura do artista. Aquela de Diogo Muñoz é uma pintura culta, refinada e extremamente atenta a todos os detalhes. A sua maturidade artística é facilmente reconhecível quer no seu virtuosismo pictórico que consente que jogue com ilusões hiper-realistas dignas de um mestre tardo-barroco -seja na fantasia inventiva, através da qual dá sinal de uma liberdade intelectual e expressiva, que torna a sua arte única e fortemente reconhecível.
Na sua produção mais recente Diogo desenvolveu um percurso de procura, que o levou a atingir um repertório de temáticas e imagens que remetem à cultura Pop assim como a ícones da história da arte. É aqui que, no espaço da tela, se sucedem cenários e personagens que trasladados da realidade histórica entram no presente da tela, no presente do pintor. Mestres do passado como Velasquez e Picasso dialogam com os ícones pop do nosso tempo, aqueles da BD e das revistas ilustradas, criando um vórtice temporal no qual a cultura alta se mescla com aquela das massas, da televisão, do espectáculo, gerando um "pastiche" de anacronismos imagéticos.»
Florença, Setembro de 2012
Giada Rodani, curadora e crítica de arte. [Retirado de um panfleto da exposição].
Audrey foi sempre um ícone para mim, quer no que diz respeito à elegância quer como ser humano, este último reforçado com o desempenho de embaixadora (*) da Unicef.
Depois de ter visto o filme de Gilles Bourdos: "Renoir" sobre Pierre Auguste Renoir tive vontade de conhecer a casa onde ele viveu os últimos anos de vida. Foi, pois, com emoção que visitei a propriedade, tentando imaginar quanto possível a vivência de um dos mentores do impressionismo.
Na subida... ao encontro de Renoir
- Casa - Museu Pierre Auguste Renoir, Cagnes - Sur- Mer ou Domaine des Collettes
A flora é luxuriante. O azul do mar no horizonte enche os olhos e apazigua a alma. A paisagem humana é diferente da do início do século XX, tal como, provavelmente, parte de algumas plantas mas dá para nos encontrarmos com o ambiente em que o pintor viveu e com as cores que conviveu. Encontramos as oliveiras centenárias e os caminhos sinuosos.
Mais próximo da casa de Renoir, ela recebe-nos de portas e janelas abertas
Renoir, Coco lising, 1905; Cópia de Albert André, La petite fille au cerceau de P.A. Renoir
Casa-museu Renoir, Caignes Sur Mer
A sala de jantar e a sala de estar. Não sei se estaria assim quando Renoir a habitava mas tem muitas fotografias que testemunham o seu quotidiano.
O mar, as cores, os cheiros eram provavelmente ingredientes para os temas escolhidos.
A cozinha
O atelier foi a sala que mais me emocionou.
Perspectiva do quarto de Renoir
A cadeira onde era transportado para o atelier do jardim
Pierre-Auguste Renoir. Natureza Morta. (sd)
O atelier no jardim
Escultura de Renoir representando Aline, sua mulher.
A chegada constante de refugiados, a morte de crianças e adultos, a destruição de escolas, as guerras, a fome, a falta de liberdade e tanta violência em nome do poder económico, político e religioso, torna o homem do começo do século XXI tão parecido ao homem do início do século XX e dos seus ancestrais.
Qual foi a evolução? O que se aprendeu com o passado?
Nada...
Renoir esculpiu um hino à vida. Um hino que me reconfortou quando visitei a sua
casa-museu em Cagnes-Sur-Mer.
Pierre Auguste Renoir e Richard Guino - Modelo de pêndulo: Hino à Vida
Gesso com patine
Entrada para a Casa-Museu de Pierre Auguste Renoir em Cagnes-Sur-Mer