Não posso fechar os olhos, tapar os ouvidos e calar a minha boca:
- Europa que tristeza o que vives...
Desabrochar ou fechar como uma concha?
Cerca de grandes muros quem te sonhas.
Depois, onde é visível o jardim
Através do portão de grade dada,
Põe quantas flores são as mais risonhas,
Para que te conheçam só assim.
Onde ninguém o vir não ponhas nada.
Faze canteiros como os que outros têm,
Onde os olhares possam entrever
O teu jardim como lho vais mostrar.
Mas onde és teu, e nunca o vê ninguém
Deixa as flores que vêm do chão crescer
E deixa as ervas naturais medrar.
Faze de ti um duplo ser guardado;
E que ninguém, que veja e fite, possa
Saber mais que um jardim de quem tu és —
Um jardim ostensivo e reservado,
Por trás do qual a flor nativa roça
A erva tão pobre que nem tu a vês...
s. d.
Fernando Pessoa, Poesias (Nota explicativa de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1942 (15ª ed. 1995), p. 242.
Fernando Pessoa, Poesias (Nota explicativa de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1942 (15ª ed. 1995), p. 242.
Os pais fundadores não foi com esta Europa que sonharam, ana.
ResponderEliminarFoi com algo muito diferente daquilo que agora vemos.
Beijinhos
Pois foi, Pedro.
EliminarBeijinhos. :))
A erva tão pobre que nem tu a vês...
ResponderEliminarOra aí está questão :
Chegam fugidos, mas não deixam de ser muçulmanos.
Fiquei estarrecido com as manifestações que vi em Londres e em Paris. De uma violência extrema onde nem as polícias respectivas dominam.
Confesso que não estou nada tranquilo...
Um beijo, Ana.
Estamos a viver momentos conturbados.
EliminarBeijinhos.:))
Simbolicamente, podias ter incluído a do NOVO MUNDO, mas em sentido oposto.
ResponderEliminarNão me lembrei. :))
EliminarLindíssimo poema! Bjns!
ResponderEliminarTremendo este nosso Pessoa! O que ele diz! "Faz o teu jardim igual aos outros...mas esconde o teu jardim -tu próprio, o "teu" eu- verdadeiro de toda a gente!
ResponderEliminarEnfim, esta duplicidade da heteronímiia está em tudo nele... Mas escreve tão bem...
"Faze canteiros como os que outros têm,
Onde os olhares possam entrever
O teu jardim como lho vais mostrar.
Mas onde és teu, e nunca o vê ninguém
Deixa as flores que vêm do chão crescer
E deixa as ervas naturais medrar.
"Faze de ti um duplo ser guardado;
E que ninguém, que veja e fite, possa
Saber mais que um jardim de quem tu és —
Um jardim ostensivo e reservado,
Por trás do qual a flor nativa roça
A erva tão pobre que nem tu a vês..."
Bom começo de fim de semana. Tudo bem???
Pois escreve e é sempre tão ele próprio.
EliminarEstá tudo bem, um pouco mais de trabalho.
Beijinho. :))
~~~
ResponderEliminar~ O último poema de Pessoa...
~ Persiste a temática que cultivou - neste caso - dois carácteres,
sendo um fictício...
~ O Poeta atravessava uma fase difícil e por muito que tentasse
não conseguia esconder dos amigos a sua vida decadente...
~ Também a Europa vive uma situação de declínio semelhante...
~ É fácil ser caridoso, quando se tem os bolsos cheios...
~~~~~~ Beijinhos. ~~~~~~~~~~~~~
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Majo,
EliminarTem razão quando à caridade. É sempre difícil mas temos que ser humanos.
Beijinho. :))
Esta Europa?
ResponderEliminarUm som de búzio nos ouvidos distantes
Pois!
EliminarGostei da sua metáfora pois ligou-a com a minha flor concha.:))
EliminarAnónimo,
EliminarBoa noite.
Nos tivemos em Pessoa o profeta. E como um cristo morreu...
ResponderEliminarO movimento eterno interno
na Terra toda
faz-se segundo a vontade inquieta
do homem
obedecendo a um indeterminado
e louco poder
Depois de muito palmilhar
não se cansou
e atravessou o mar mil vezes
e da europa velha abalou para
um novo mundo
e o movimento continua imparavel.
Obrigada pelo poema.
EliminarBoa noite, Agostinho.:))
Fernando Pessoa, e a sua imortalidade.
ResponderEliminarPoeta, profeta, visionário, lúcido, o Homem capaz de ver passados, e presentes, mas também futuros.
"Europa que tristeza o que vives...", palavras suas, Ana, e que faço minhas.
Não, não podemos fechar como a concha, é nosso dever desabrochar, a questão está em saber como.:(
Beijinho
GL,
EliminarUma lástima tudo o que a Europa vive. Quem somos?
Beijinho.:))
Muito preocupante o rumo que tudo leva na Europa e no Mundo!
ResponderEliminarNão podemos nem devemos ficar indiferentes.
Um beijinho, Ana.:)
Cláudia,
EliminarAbsolutamente.
Um beijinho saudoso.:))