Escolhi a tela de Lorenzo di Credi para a associar a Clarice Lispector.
A exposição na Fundação Calouste Gulbenkian leva-nos a ver Clarice através de um espelho de palavras. Ela surge nas fotografias que tirei e há uma palavra que resume o que encontrei - melancolia.
A Casa da Música no Porto rasga a paisagem, torna-se um grito que emerge do solo ao relacionar-se com o casario que o envolve. Bela na sua magnificência, extravagante nos seus gastos, ali se ergue imponente. Não ensurdece, na sua árida pedra ouve-se a límpida melodia.
Casa da Música, Porto
Relacionando esta Casa com uma poetisa "portuense"** , dela registo as palavras que li recentemente:
«A água desempenharia um papel musical, como o acompanhamento duma sinfonia de verdura.»
Porto, 14 de Julho de 2004,
Agustina Bessa-Luís*, no livro: revelação da água, texto de Agustina Bessa-Luís, fotografia de João Menéres. Porto: Edição, João Menéres, 2005.
Este edifício não tem um ponto que dê um enfoque à água mas a música assemelha-se a essa preciosidade que «sempre foi relacionada com a fonte da vida»*.
[Um livro belíssimo em imagem e em palavras, voltarei a ele, se os autores não se importarem].
**Agustina Bessa-Luís nasceu em Vila Meã-Amarante.
A Biblioteca Nacional é guardiã de livros portugueses e estrangeiros e de documentos de várias tipologias. Ao visitá-la, para nos recolhermos na leitura ou no estudo, encontramos exposições que, para além do livro, nos relatam contextos tornando o espécime visível.
Verdi e Wagner: 200 anos.
Uma mostra interessante.
«No ano em que se celebra o bicentenário do nascimento de dois dos maiores nomes da história da música dramática, Giuseppe Verdi (1813-1901) e Richard Wagner (1813-1883), a Biblioteca Nacional de Portugal associa-se ao Centro Histórico do Teatro Nacional de São Carlos para assinalar a dupla efeméride.
Nesta mostra evocativa dos dois compositores, são apresentados documentos manuscritos e impressos e materiais utilizados nas produções de algumas das suas óperas, pertencentes às coleções da BNP e ao Arquivo do TNSC.»
Literatura de Cordel no Brasil. Outra exposição na Biblioteca Nacional de Portugal que merece uma visita.
Reparem nos títulos, são deliciosos.
Desconheço este tipo de literatura e tenho pena de não poder pegar num livrinho, folhear e ler.
«Os folhetos que em Portugal, na Espanha e na América latina são ditos de cordel, porque outrora eram suspensos - para exposição e venda - de cordéis, apareceram em Portugal, como noutros países da Europa, poucas décadas depois da descoberta da imprensa, e foram até meados do século XX um poderoso meio de comunicação popular. Levados por emigrantes para o Brasil, aqui começaram alguns a ser reeditados pouco depois de D. João VI ter criado a primeira tipografia, em 1808; imitados ou recriados, permitiram que antes do final do século Leandro Gomes de Barros, Silvino Pirauá de Lima e outros poetas populares, sobretudo da Paraíba e de Pernambuco, fixassem os modelos do folheto de cordel brasileiro, que como regra ainda se mantêm, apesar das transformações sociais e tipográficas: papel mais ou menos ordinário, formato raramente afastado dos 15x12 ou 16x11 centímetros, simplicidade gráfica, capa ilustrada, com privilégio da xilogravura, impressão rudimentar, enunciação oralizante e narrativa, linguagem concreta, popular e coloquial, fixação quase exclusiva na expressão poética, com preferência pelo verso setissílabo e pela sextilha, gosto do cómico e da crítica social, abertura temática mas com atracção por certos “ciclos”…»
São Cristóvão é nos domingos
O ponto mais brasileiro
Encontro dos nordestinos
Que estão no Rio de Janeiro
Lá passam horas saudosas
Comendo coisas gostosas
E ouvindo um bom violeiro.
O nordestino que fez
O grande Rio crescer
Construindo arranha-céus
Se arriscando a morrer
Comandado pelos gringos
Tem direito aos domingos
Ter seu lugar de lazer.
O Campo de São Cristóvão
É palco de tradição
Dos primeiros nordestinos
Que deixaram seu torrão
Sua família querida
Vieram tentar a vida
Viajando em caminhão.
João José dos Santos Cadernos do CNLF, Vol. XVI, Nº 04, t. 2, pág. 1717.
No Dia Internacional dos Monumentos e Sítios a minha escolha recai num
detalhe de um Painel de Azulejos, Lição de Música, atribuído ao monogramista PMP, 1700-1730
Museu Nacional do Azulejo, Lisboa
Fuga O músico procura Fixar em cada verso O cântico disperso Na luz, na água e no vento. Porém, luz, vento e água Variam riso e mágoa, De momento a momento. E em vão a área dos dedos Se eleva! Não traduz Os súbitos segredos Escondidos no vento, Nas águas e na luz...
Pedro Homem de Mello, in "Segredo" (Retirado do citador)
Mostra: Raúl Rêgo, Bibliófilo, Centenário do Nascimento 15 de Abril a 25 de Maio 2013
Raúl Rêgo, republicano e democrata, combatente antifascista, frontal em todas as posições assumidas sem rodeios, ao longo de uma vida feita de batalhas e de coragem, foi jornalista e indiscutivelmente um dos símbolos da liberdade de imprensa...
Texto retirado da homenagem efetuada pela CML no Dia Mundial da Imprensa, 3 de Maio de 2005
«Raúl Rêgo colecionava livros, era um dos grandes bibliófilos portugueses. Mas colecionar livros é diferente de ser bibliófilo; e ser bibliófilo também é diferente de ser um estudioso e um expert no assunto: é que um livro cerrado não traz cultura! Mas o bibliófilo não gosta apenas do livro pelo conhecimento (ou divertimento) que o mesmo lhe pode proporcionar... gosta do livro pelo cheiro, pelo formato, pela época em que foi feito, pelo autor que o escreveu, pela tipografia que o imprimiu e, também, pelo seu conteúdo. Enfim, gosta do livro pelo livro. E Raúl Rêgo era esse expert, esse bibliófilo, que se passeava de livraria em livraria na busca de saciar o seu prazer infinito. Depois de ter caçada a presa, anotava-a, estudava-a e, na maioria das vezes, escrevia sobre ela.
A Biblioteca Nacional de Portugal organiza, neste momento em que passa o centenário do seu nascimento, uma mostra evocativa desse bibliófilo. Mostra que faz uma viagem entre alguns dos seus livros, objetos de estudo e de coleção – o que nos legou desses anos de investimento. A escolha incidiu entre os livros do século XVI, escolhendo daqueles apenas os que não existem nas coleções da própria BNP.»
Há livros que nos tocam profundamente. "Quando eu era uma obra de Arte" é sem dúvida um livro singular e marcante.
Miguel Ângelo, David, Galleria dell' Accademia, Florença (daqui)
Diálogos da escrita
A arte é feita para o homem, pelo homem, mas a arte não é certamente um homem.
Eric-Emmanuel Schmitt, Quando eu era uma obra de arte. Porto: Ambar, 2003, p.176.
(...) Há em olhos humanos, ainda que litográficos, uma coisa terrível: o aviso inevitável da
consciência, o grito clandestino de haver alma.
Bernardo Soares, O Livro do Desassossego, Vol.I. (Recolha e transcrição dos textos de Maria Aliete Galhoz e Teresa Sobral Cunha. Prefácio e Organização de Jacinto do Prado Coelho.) Lisboa: Ática, 1982, p. 138.
Não há nada que a Arte não possa exprimir, e
reconheço que todo o trabalho que realizei desde que conheci Dorian Gray é
um trabalho de qualidade, é a melhor obra da minha vida.
Oscar Wilde, O Retrato de Dorian Gray, Lisboa: Edital Estampa, 1995, p.10.
[Após a leitura do livro mencionado perceberão o conjunto de ideias].
Porque há acasos ou coincidências hoje revi o filme:
O Homem da Máscara de Ferro
Houve um tempo em que vivíamos a uma grande e respeitável distância do céu. O céu era uma grande taça azul invertida, uma ampla tenda, ou, de acordo com a Bíblia, um grande prato metálico arqueado sobre a terra (EoR, 13:346). Era o lar de Deus ou era a grande deusa Nut curvando-se, protegendo o mundo. O céu era tão vasto, tão alto, tão distante, que apenas as aves e as montanhas o podiam alcançar.
Imagem e texto retirado de O Livro dos Símbolos, Reflexões Sobre Imagens Arquetípicas, Taschen, Katthleen Martin, p. 56.
The hair ornament of the sun has sunk into the legendary sea.
Mitsuhashi Takajo (1879-1972), Women Poets of Japan. New Directions Publishing, 1977,(editado por Kenneth Rexroth), p.80.
Barbara Regina Dietzsch (1706-1783), Cardo com Insectos.
Guache sobre velino, Alemanha
Cardo
Os contornos das suas folhas espinhosas espetam e rasgam como pequenos picos, desencorajando o toque. No entanto, a vistosa flor que coroa a haste tem uma doce fragrância, atraindo borboletas, insectos, abelhas e pássaros. (...) Na mitologia, o cardo não cresceu no Jardim do Éden; pelo contrário, os cardos e os espinhos apareceram como castigos depois do Pecado, em oposição à bênção dos figos e das uvas do Paraíso. (...) na crença popular ele é visto como uma oferta do Diabo. No entanto, o cardo também transmite as ideias de amor que sobrevive ao sofrimento e do trabalho que sobrevive às privações. O cardo é associado ao amor mundano de Afrodite bem como à amorosa compaixão da Virgem Maria. (...)
A Escócia, que tem o cardo como símbolo nacional, celebrava o carácter deste numa lenda do século X. Os invasores viquingues, esperando atacar furtivamente o castelo de Staines, tiraram as botas. Mas os escoceses tinham enchido de cardos a fossa seca do castelo e os gritos do inimigo traíram a sua presença. Organicamente, as raízes do cardo dão origem a uma flor doce e a haste rude, pelo que se diz que essas raízes propagam a melancolia.
Marina Heilmeyer, The Language of Flowers: Symbols and Miths, Munique e Londres, 2001, p. 26.
Imagem e texto retirado de O Livro dos Símbolos, Reflexões Sobre Imagens Arquetípicas, Taschen, Katthleen Martin, pp.166-167.
LÁGRIMAS DA PÁTRIA / ANNO 1636
Está tudo devastado e mais que devastado!
as hordas agressivas, a trombeta que arrasa,
A espada a beber sangue, a metralha que abrasa,
Consomem todo o esforço, trabalho e pão guardado.
As torres num braseiro, a igreja está no chão,
A Câmara em ruínas, os fortes já os não vemos,
Donzelas violentas - para onde quer que olhemos
Há fogo, peste e morte varrendo o coração.
Muralhas e cidade sempre em sangue ensopadas.
Três vezes já seis anos as ribeiras pejadas
De cadáveres que impedem a água correr.
Para não falar daquilo que é pior do que a morte,
Mais terrível que peste e fome e fogo forte:
Que os tesouros da alma se deitem a perder!
Andreas Gryphius, (1616-1664), in O Cardo e a Rosa, Poesia do Barroco Alemão,
selecção, tradução e prefácio de João Barrento, Lisboa: Assírio & Alvim, 2002, p. 19
Auto-retrato de Albrecht.Dürer. Ele segura na mão planta do género Eryngium (cardo) - 1493
Uma vitória numa questão política elementar: a igualdade de direitos.
(...) "todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei"
Artigo 13 da Constituição da República (número 1).
O resultado da inconstitucionalidade do Orçamento de Estado pelo Tribunal Constitucional revela que ainda estamos num estado de direito cuja justiça social é equacionada.
Com o Tribunal Constitucional partilho o ramo de rosas que recebi de uma grande amiga, a quem aproveito para agradecer publicamente.
Moustaki recordado há uns dias no blogue Falcão de Jade fez-me lembrar a canção: Ma Liberté.