Alguém sabe quem é a Santa que chora aos pés de Cristo?
Sandro Botticelli, Detalhe "Lamentação da morte de Cristo, c. 1495, Museo Poldi Pezzoli
A história do Filho de Deus-Homem, que morreu pelos homens, é uma história bela e incontornável também, no mundo da poesia e da Arte.
De um livro que comecei a ler, e ao qual fui buscar o trecho que apresento,
por o interligar à imagem embora, nada tenha a ver uma história com a outra.
«Gritaram. Lançaram nomes. Dir-se-ia um leilão. As propostas choviam: O Homem Sonhado, O Outro Homem, Aquele que gostaríamos de ser, Aquele que já não esperávamos, ...»
Eric-Emmanuel Schmitt, Quando eu era uma obra de arte, Porto: Ambar, 2002
O Astro-Rei parecendo mais próximo continua, porém, distante.
Janela rasgada nas muralhas do Castelo de Óbidos.
Ah, a Música
Quem terá deixado esquecida
esta música ouvida num canto da rua?
Ninguém de quem passa nela repara
No entanto— é ela — faltava
no dia de chuva
No meu dia de chuva?
Meu seria decerto este dia
pois por mais precário que eu seja
nenhuma chuva fora podia
cair
se acaso em mim não caísse
Cai chuva e há música em meu coração
Era mera ilusão o dia de chuva
Ruy belo, in Aquele Grande Rio Eufrates (banco de poesia Casa Fernando Pessoa).
Pier Francesco Sacchi - Doutores da Igreja - ca. 1516, Museu do Louvre, Paris*
S. Gregório Magno (Papa) Ambrósio (cardeal), Agostinho e Jerónimo (bispos)
O caminho da perfeição é o mais árduo porque nunca tem um fim. * Acrescentado a 29 de março depois de perceber que não tinha o autor nem o destino da obra
Se nada há de novo
e tudo o que há
já dantes era como agora é,
só ilusão a criação será:
criar o já criado para quê?
Que alguém me mostre, sobre um livro antigo
como quinhentas translações astrais,
a tua imagem, na inscrição, no abrigo
do espírito em seus signos iniciais.
Que eu saiba o que diria o velho mundo
deste milagre que é a tua forma;
se te viram melhor, se me confundo,
se as translações seguem a mesma norma.
Mas disto estou seguro: antigos textos
louvaram mais com bem menores pretextos.
William Shakespeare, in "Sonetos" Tradução de Carlos de Oliveira (Citador) Louise Élisabeth Vigée Le Brun,
John William Waterhouse, Ofélia, 1894 [Wikimedia Commons]
De Caeiro, o heterónimo predilecto caiu esta pétala:
Pétala dobrada para trás da rosa que outros dizem de veludo.
Pétala dobrada para trás da rosa que outros dizem de veludo.
Apanho-te do chão e, de perto, contemplo-te de longe. Não há rosas no meu quintal: que vento te trouxe? Mas chego de longe de repente. Estive doente um momento. Nenhum vento te trouxe agora.
Agora estás aqui. O que foste não és tu, se não toda a rosa estava aqui.
12-4-1919
Alberto Caeiro, “Poemas Inconjuntos”. (Recolha, transcrição e notas de Teresa Sobral Cunha.) Lisboa: Presença, 1994. p. 115.
De Eugénio de Andrade todas as rosas:
Hoje roubei todas as rosas dos jardins
Hoje roubei todas as rosas dos jardins e cheguei ao pé de ti de mãos vazias.
sabes, pai
o cachecol bege nos muros da foz cobria as árvores com o seu pêlo, ao vento o boné azul, marinheiro nos cabelos louros sussurrava pequenas frases às silentes águas o teu sorriso tão leve, enternecia o rosto esses óculos, teu cabelo nas tardes de sol ou o barco encalhado na areia breve junto ao castelo onde nos passeávamos eu tu a mãe, duas ou três falas e o meu corpo que se chegava a vós junto à estrada nestes muros da foz, abertos ao mar
que voava
Jorge Reis-Sá, in "A Palavra no Cimo das Águas"
(Retirado do Citador)
A figura mais perfeita e mais capaz de quantas inventou a natureza e conhece a geometria é o círculo. Circular é o globo da terra, circulares as esferas celestes, circular toda esta máquina do universo, que por isso se chama orbe, e até o mesmo Deus, se sendo espírito pudera ter figura, não havia de ter outra, senão a circular.
Padre António Vieira, "Sermão de Nossa Senhora do Ó Na Igreja de Nosssa Senhora da Ajuda, Bahia (1640)", in Obras Completas, Sermões, vol. II - tomos IV, V e VI,
Porto, Lello &; Irmão, 1959, págs. 435 – 450.
Após o anúncio do novo Papa, Francisco, apeteceu-me ler um outro jesuíta, célebre na sua oratória. Deixo um trecho do padre António Vieira associado a esta fotografia na qual a água se movimenta como se da terra brotasse naturalmente, sem mão humana, como o novo Papa.
Com o escritor comungo a paixão por Itália, em particular, Roma e o Panteão.
O livro que ando a ler ...
(Grata à Cláudia, Livraria Lumière)
Sabe que o Atlas se cobre de neve, no Inverno? O crepúsculo doura a crista da montanha, por detrás do minarete, que se ilumina. Fica uma luzinha, a cintilar. Mouna sorria e eu nunca percebi o sorriso. Nem esse, nem outros.
Manuel Poppe, Um Inverno em Marraquexe. Lisboa: Edições Teorema, 2004, p.36.
Um episódio que me marcou em Marrocos foi quando, de mochila às costas, dentro de um carro, subimos um bocadinho o Atlas e fomos apanhados numa tempestade de areia. Perdidos no meio do deserto, eis que apareceu uma caravana de tuaregs que, montados em cavalos, transportavam mercadoria. Nos pulsos traziam relógios digitais e nas albardas coca-colas, o mundo americano numa terra sem o tio Sam.
De Marrocos só tenho slides ainda da era do celuloide (1985). Encontrei no Google uma fotografia da Medina de Marraquexe, de Bouchot, que me encantou. Visitei a Medina com amigos, sem guia e, apesar de labiríntica, não nos perdemos. Encontrámos um mundo estranho, acolhedor e a comprová-lo estavam as sardinhas albardadas que comemos num souk, sentados com marroquinos, numa refeição sem talheres e onde se partilhava a mesma água (tal proeza não foi para mim) ao som do muezzin que chamava para as orações.
Obrigada Manuel Poppe por esta viagem de regresso a um país hoje de certeza diferente.
De uma forma sumária: Manuel Poppe (escritor e jornalista) nasceu em Lisboa, viveu a adolescência na Guarda, regressou à capital para se licenciar. Foi Conselheiro Cultural na embaixada portuguesa em Roma, cidade onde obteve o título académico de "Dottore in Lingue e Leterature Straniere pela Universidade La Sapienza"com uma tese sobre José Régio. De Roma partiu para S.Tomé com a mesma missão que mais tarde o levaria a Telavive e finalmente a Marrocos.
Medina de Marraquexe, fotografia de Emmanuel Bouchot
Não é feio um homem chorar, feio é fazê-lo Chorar.
Um manifestante.
Subjugados ao poder do
desamor, não importa:
a fome,
a tristeza,
a precariedade,
a fragilidade...
Os portugueses estão cada vez mais com o coração nas mãos.
Sandro Botticelli, detalhe de Madona com o Menino Rodeada por Cinco Anjos, Museu do Louvre, Paris
Santos de Roca, Museu de S. Roque, Lisboa
Ir Esta é a hora em que a existência se constrói nos passos
de um deus que chega para me levar nos braços. Esta é a hora do espinho arrancar do pensamento. Partir, nos rios nas aves ou no vento.
Para a Margarida - girassóis que encontrei no fim do Verão.
A Margarida do blogue Memórias e Imagens ofereceu-me a nomeação de Liebster Award.
Agradeço muito esta distinção.
Tenho que atribuir a nomeação a outros blogs. A escolha é para mim muito difícil uma vez que só posso escolher cinco. :( Vou correr o risco de repetir escolhas já efetuadas.
Assim, dos cinco que me cabe escolher vão para:
- http://aarteemportugal.blogspot.pt/
- http://falcaodejade.blogspot.pt/
- http://myra-parole.blogspot.pt/
- http://sobreorisco.blogspot.pt/
- http://cozinhadosvurdons.blogspot.pt/
«O Sol é o grande Pintor realista.»
Teixeira de Pascoaes, Obras Completas de Teixeira de Pascoaes, VIII volume, Prosa II. O Bailado, Lisboa Livraria Bertrand, 1973, p.301.