30/11/2016

Não quero ir onde não há a luz

Brilho duplo.
Joana Vasconcelos (casamento) no Palácio da Ajuda

Não quero ir onde não há a luz
verso título do poema de

Fernando Pessoa, Poesias Inéditas (1930-1935).  (Nota prévia de Jorge Nemésio.) Lisboa: Ática, 1955 (imp. 1990), p. 109.

28/11/2016

Infernos, um livro que veio da minha primeira visita à nova Lumière

Na nova Lumière fui muito bem recebida, como sempre. O espaço é fantástico, a luz é dominante, ou não se chamasse assim a livraria. Ao fundo, a galeria de escritores. Uma cadeira, um café e a companhia agradável da Cláudia e da Alexandra Ribeiro. Muito acolhedora esta livraria, já o era no passado, agora é mais porque nos oferece um espaço maior.
De lá trouxe o livro que ando a ler: Infernos de Jean Genet. Um livro poético,  lucidamente amargo, uma auto-crítica? Não sei se será, mas é um livro em que o escritor faz um ajuste de contas consigo e com o mundo marginal de que fazia parte.  






Não há - nem mesmo tu - quem te perdoe a beleza. Não há - e mesmo tu - quem saiba fazer mais do que desatar a rir perante as maldições indeslindáveis que te deixam melancólico. Serás em breve só a memória da tua beleza. Dela restará o canto, e depois o canto deste poema que abandonas, e talvez mais longe «esta ideia de miséria infinita». Trabalha. Manifesta brilhantemente aquilo que o mundo já condenou em ti e não os astros. (...)

Jean Genet, Infernos, Fragmentos. (Tradução e prefácio de Aníbal Fernandes). Lisboa: Hiena Editora, 1990, p. 38

... Já passaram 25 anos que morreu Freddie Mercury.


26/11/2016

Abstracto

Composição a partir da tela de António Charrua



O amor é abstracto,
são explosões de cor,
é luminoso no seu esplendor
e escuro na tristeza da sua morte.

 

25/11/2016

Numa visita ao museu

A arte abstracta nasceu em 1910, por oposição à arte concreta e real, por oposição à fotografia que captava a realidade tal como se apresentava.

Tela de António Charrua,
numa exposição temporária no Museu Nacional Machado de Castro

Gostei da citação de Raquel Henriques da Silva pois, na tentativa de explicação fica sempre algo por dizer.

18/11/2016

Tarde de Outono

Cascata encenada pelo homem

Tarde de Outono,
uma cascata sinfónica
corta o silêncio majestoso do jardim,
espaço cénico do botânico que o criou.
Os amantes procuram a paz
para fazer juras de amor.
Os poetas procuram a quietude
para escrever.
Os pintores procuram a mansidão,
para colocarem na tela
a impressão dourada das folhas.
As crianças procuram na água
os peixinhos vermelhos
 e a alegria de chapinhar.
A folha cai da árvore lentamente,
flutua no ar... flutua
cai na água e rodopia
em movimentos concêntricos,
à procura de ti.


16/11/2016

Parabéns, João Menéres!

Parabéns, João!
Um dia muito feliz e tão bonito como o de ontem no lançamento do livro.

fotografia de João Menéres, Entre o Ver e o Olhar, p. 22

Estrelas cadentes em forma de flor
enchem o céu de júbilo.

ana

11/11/2016

O castanheiro

Boa noite de S. Martinho!


Nostalgia
o castanheiro da avó
ficou perdido no bosque
já ninguém o visita.
Debaixo da frondosa copa,
à sombra das suas folhas dançantes,
os livros ficaram perdidos
pousados junto às raízes fortes.
As memórias boas e funestas
são sombras e afectos perdidos.
O canto dos pássaros continua...
a vida continua,  o canto também,
mas os pássaros são outros, ...
O livro aberto está em branco,
a passagem do tempo apagou a escrita,
apagou o nome,
apenas ficou o coração desenhado na árvore.
O castanheiro da avó
permanece inteiro, em direcção ao céu,
no chão ficaram duas ou três castanhas.

ana

Homenagem a um cantor que gosto.

10/11/2016

"stories"


You may have heard the world is made up of atoms and molecules, but it's really made up of stories. When you sit with an individual that's been here, you can give quantitative data a qualitative overlay.
William Turner



09/11/2016

O ritmo antigo que há nos pés descalços

O ritmo antigo que há nos pés descalços

O ritmo antigo que há nos pés descal
ços
Esse ritmo das ninfas copiado
Quando sob arvoredos
Batem o som da dança —

Pelas praias às vezes, quando brincam
Ante onde a Apolo se Neptuno alia
As crianças maiores,
Têm semelhanças breves

Com versos já longínquos em que Horácio
Ou mais clássicos gregos aceitavam
A vida por dos deuses
Sem mais preces que a vida.

Por isso à beira deste mar, donzelas,
Conduzi vossa dança ao som de risos
Soberbamente antigas
Pelos pés nus e a dança

Enquanto sobre vós arqueia Apolo
Como um ramo alto o azul e a luz da hora
E há o rito primitivo
Do mar lavando as costas.

9-8-1914

Ricardo Reis, Odes (Notas de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor). Lisboa: Ática, 1946.


07/11/2016

Intensidade

intensidade
dilema
grau
tristeza
profundidade
desencontro
incenso que não arde,
velas derretidas em candelabro de prata.
Perfume perdido,
na impotência física
da porta em ruínas.
...Tristeza.

ana










05/11/2016

o não ter tempo...

45º



Deus pede estrita conta de meu tempo.
E eu vou do meu tempo, dar-lhe conta.
Mas, como dar, sem tempo, tanta conta
Eu, que gastei, sem conta, tanto tempo?

Para dar minha conta feita a tempo,
O tempo me foi dado, e não fiz conta,
Não quis, sobrando tempo, fazer conta,
Hoje, quero acertar conta, e não há tempo.

Oh, vós, que tendes tempo sem ter conta,
Não gasteis vosso tempo em passatempo.
Cuidai, enquanto é tempo, em vossa conta!
Pois, aqueles que, sem conta, gastam tempo,
Quando o tempo chegar, de prestar conta
Chorarão, como eu, o não ter tempo...


Frei António das Chagas, in  Antologia Poética 
(citador)



03/11/2016

Para a Margarida

Parabéns, Margarida!
Um resto de dia muito feliz. 


A pintura é uma poesia que se vê e não se sente, 
e a poesia é uma pintura que se sente e não se vê.

Leonardo da Vinci, Tratado de Pintura 
(retirado do Citador)

Study sheet with cats dragon and other animals - by Leonardo da Vinci
http://www.leonardodavinci.net/study-sheet-with-cats-dragon-and-other-animals.jsp


02/11/2016

Sabedoria



Sócrates sentou-se e respondeu:
-Seria bom, Agatão, que a sabedoria fosse uma coisa que se pudesse transmitir, de um homem que a possui, a um homem que não a possui, mediante um simples contacto mútuo, tal como a água que passa para um copo vazio através de um simples fio de lã.


Platão, O Banquete ou do Amor, Coimbra: Atlântida Editora, sd, p. 44.

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