30/11/2011

Um livro, uma surpresa...

Um livro, uma surpresa... que veio preencher o quarto vazio.

Porto, Janelas com azulejo - O quarto vazio




O livro

E quando chegares à dura
pedra de mármore não digas: «Água, água!»,
porque se encontraste o que procuravas
perdeste-o e não começou ainda a tua procura;
e se tiveres sede, insensato, bebe as tuas palavras
pois é tudo o que tens: literatura,
nem sequer mistério, nem sequer sentido,
apenas uma coisa hipócrita e escura, o livro.

Não tenhas contra ele o coração endurecido,
aquilo que podes saber está noutro sítio.
O que o livro diz é não dito
como uma paisagem entrando pela janela de um quarto vazio*.


*Tchousang Tseu
Manuel António Pina, Os Livros, Lisboa: Assírio & Alvim, 2003, p. 9.


28/11/2011

O caos nos livros

Cá em casa instalou-se o caos nos livros. Uns estão em pé, outros deitados, uns à vista, outros escondidos, não têm espaço para respirar!


Choram lamurientos porque não têm o lugar que merecem.

As estantes do outro lado sofrem do mesmo mal.


Alguns Tintins estão no chão a aguardar um espaço livre. Disse para mim que isto não pode continuar. Até 31 de Dezembro embora o tempo seja um dilema vou tratar dos meus/nossos livros. (A rolha é da minha gata)




O Livro


Dos diversos instrumentos do homem, o mais assombroso é, indubitavelmente, o livro. Os outros são extensões do seu corpo. O microscópio e o telescópio são extensões da vista; o telefone é o prolongamento da voz; seguem-se o arado e a espada, extensões do seu braço. Mas o livro é outra coisa: o livro é uma extensão da memória e da imaginação.
Em «César e Cleópatra» de Shaw, quando se fala da biblioteca de Alexandria, diz-se que ela é a memória da humanidade. O livro é isso e também algo mais: a imaginação. Pois o que é o nosso passado senão uma série de sonhos? Que diferença pode haver entre recordar sonhos e recordar o passado? Tal é a função que o livro realiza.



Jorge Juís Borges, Obras Completas, 1975-1988, Vol. IV, "O Livro", Teorema, 1999, p. 171


Esta decisão foi tomada quando quis guardar um livrinho e encontrei outro com cinco peças Isabelinas: Five Elizabethan Tragedies, impresso em 1950 pela University Press, Oxford. Adquiri este livro num alfarrabista em Portobello Road quando visitei Londres. Estava perdido no meio de outros...

Uma imagem da obra impressa em 1560

27/11/2011

Fado é Património Imaterial da Humanidade!

Lisboa, Praça da Figueira


Soube há pouco esta novidade através do blogue "Presépio no Canal" (ver na barra do lado esquerdo). Parabéns a todos os que lutaram por este reconhecimento.



Personalidades que mais marcaram o fado:


Guitarrista Carlos Paredes, Balada de Coimbra




Amália Roderigues, Povo que Lavas no Rio




Alfredo Marceneiro, Viela




FADO PORTUGUÊS

O Fado nasceu um dia,
quando o vento mal bulia
e o céu o mar prolongava,
na amurada dum veleiro,
no peito dum marinheiro
que, estando triste, cantava,
que, estando triste, cantava.

Ai, que lindeza tamanha,
meu chão , meu monte, meu vale,
de folhas, flores, frutas de oiro,
vê se vês terras de Espanha,
areias de Portugal,
olhar ceguinho de choro.

Na boca dum marinheiro
do frágil barco veleiro,
morrendo a canção magoada,
diz o pungir dos desejos
do lábio a queimar de beijos
que beija o ar, e mais nada,
que beija o ar, e mais nada.

Mãe, adeus. Adeus, Maria.
Guarda bem no teu sentido
que aqui te faço uma jura:
que ou te levo à sacristia,
ou foi Deus que foi servido
dar-me no mar sepultura.

Ora eis que embora outro dia,
quando o vento nem bulia
e o céu o mar prolongava,
à proa de outro velero
velava outro marinheiro
que, estando triste, cantava,
que, estando triste, cantava.

José Régio, in 'Poemas de Deus e do Diabo'
(Retirado do Citador)

Todos precisamos de ... (Fado 6)

Esta postagem é dedicada a todas as crianças do mundo e à Cozinha dos Vurdóns que fazem parte desta luta: levam crianças à escola para aprender e para reconhecerem as suas raízes. Também é a resposta a um Natal que andam a preparar na sua cozinha!



Todos precisamos de

Os meus cartões de Natal não vão ser personalizados como fazia até aqui. Fui buscar a estes meninos uns cartões de Natal.




Hermínia Silva "Fado da Cigana", no filme de 1949, "Ribatejo", de Henrique de Campos



"caminhos Ciganos na literatura Portuguesa"

João Braga canta e fez a música do fado "Ciganos", Pedro Homem de Mello escreveu o poema (1983).


26/11/2011

"Esse longo convívio com os livros ..." (Fado 5)

Angelo Bronzino, detalhe do Retrato de Laura Battiferri, mulher do escultor Bartolomeo Ammannati (1550/1555). A senhora tem na mão um "petrarchino" (O Cancioneiro de Petrarca), alusivo ao seu nome (Laura).


Collezione Loeser, Palazzo Vecchio, Florença


Esse longo convívio com os livros de toda a sorte ensinou-me alguma coisa sobre eles, creio eu, mas ensinou-me, principalmente, que em matéria de livros tudo quanto sei só serve para mostrar o quanto ignoro. Não há dia que não aprenda alguma coisa. É talvez por isso que não me canso de manuseá-los, de folheá-los, de lê-los e de falar deles.


Rubens Borba Moraes, O Bibliófilo Aprendiz, Lisboa:Letra Livre, 2011, p. 15


Pelo Fado - Fado de Coimbra, entre os estudos, o futuro e uma carreira, o amor




25/11/2011

"Com ela era «assim»". (Pelo Fado 4)

Há dias em que nos sentimos Outono...






Numa rua em que a árvore pereceu nasceram cogumelos!



Não chorava por causa da vida que levava: porque, não tendo conhecido outros modos de vida, aceitara que com ela era «assim». Mas também adivinhava creio que chorava porque, através da música, adivinhava talvez que havia outros modos de sentir, havia existências mais delicadas e até um certo luxo da alma.

Clarice Lispector, A Hora da Estrela, Lisboa: Relógio d’Água, 2002p. 55-56.




Pelo Fado


A (minha) Diva do Fado


24/11/2011

Indignação e uma homenagem a António Gedeão (Pelo Fado 3)

INDIGNAÇÃO


William Gropper, Yougstown Strike





Gota de Água

Eu, quando choro,
não choro eu.
Chora aquilo que nos homens
em todo o tempo sofreu.
As lágrimas são as minhas
mas o choro não é meu.




António Gedeão, «Movimento Perpétuo», in Poesias Completas (1956-1967), Lisboa: Portugália Editora, 1978, p. 6.


In Memoriam de Rómulo de Carvalho, António Gedeão, que nasceu a 24 de Novembro de 1906. A minha escolha recaiu no poema Gota de Água para falar de indignação.


O Centro de Ciência Viva Rómulo de Carvalho, Universidade de Coimbra, comemora o 3º aniversário homenageando o seu mentor.



Pelo Fado, o fadista Carlos do Carmo que cantou Gedeão (hoje tinha que ser):
A Pedra Filosofal

23/11/2011

"Cada dia as horas se despem mais do alimento" (Pelo Fado 2)

Pierre-Auguste Renoir, Detalhe de Children's Afternoon in Wargemont, 1884




Oil on canvas, Nationalgalerie, Berlin, Germany



Cada dia é mais evidente que partimos

Cada dia é mais evidente que partimos
Sem nenhum possível regresso no que fomos,
Cada dia as horas se despem mais do alimento:
Não há saudades nem terror que baste.

Sophia de Mello Breyner Andresen, Antologia Círculo de Poesia, Moraes Editores, 1975


Pelo Fado


22/11/2011

A janela (Pelo Fado I)

Logo de manhã, mal acordamos ouvimos falar da crise que todos sentimos. Mas nem tudo são más notícias. Recebi uma tela e um convite que veio do Instituto de Santo António dos Portugueses para visitar uma exposição em Roma. Grata pelo convite. A chuva não faz tanta tristeza quando recebemos uma janela onde o bom tempo impera.


Paolo Bigelli, La buona stagione (la finestra)





Acrilico su tela cm.100x100


A tela vai estar em exposição no Instituto de Santo António dos Portugueses no evento intitulado "Tramas coloridas" de 2 a 20 de Dezembro de 2011.

Janelas da casa Amarela, Porto
(As minhas favoritas das impressões que trouxe da cidade)

Pelo Fado, com vontade de que seja Património Imaterial da Humanidade!



21/11/2011

O mistério final da natureza

Outono, Évora



A Ciência não pode resolver o mistério final da natureza. E isto porque, em última análise, somos parte do mistério que tentamos resolver .

Max Planck, Daqui

19/11/2011

Para onde caminhamos...

Gustave Caillebotte, Interior Of A Studio With Stove




Um livro, uma perspectiva, um enigma.


Li Viagem ao País da Manhã de Hermann Hesse, um escritor que já não lia há muito tempo. É uma história interessante mas estranha, uma frase que retive foi a seguinte:

Para onde caminhamos, afinal? Sempre para casa.

Hermann Hesse, A Viagem ao País da Manhã, Cavalo de Ferro, 2011, ([Berlim, 1932], Trad. Mónica Dias). p. 15.

18/11/2011

Luz e sombra

Torso de Pathos (séculos I a.C-I?), Fundação Calouste Gulbenkian








Não há beleza maior
que um corpo
nu
branco
intemporal

17/11/2011

Diálogos I - "A Perspectiva das Coisas"

A Perspectiva das Coisas, II Parte, A Natureza-Morta na Europa, Séculos XIX e XX (1840-1955) é a exposição temporária que a Fundação Calouste Gulbenkian apresenta até 8 de Janeiro de 2012.
A tela que gostei mais de ver foi a de Paul Gauguin que a Margarida apresentou no blog Memórias e Imagens. Porém, houve outra tela que me prendeu o olhar: Ramo de Dálias e Livro Branco de Matisse que eu intítularia "instante". O copo da água e o livro aberto dão a impressão que o leitor saiu por breves momentos. Foi a transitoriedade que me tocou.


Henri Matisse, Natureza-Morta, Ramo de Dálias e Livro Branco, 1923



The Baltimore Museum of Art

« Il y a des fleurs partout pour qui veut bien les voir. » Matisse



E ainda outra obra que me causou boa impressão foi a de James Ensor, o pintor das máscaras que ao de leve deixa a sua marca. As máscaras, as cores, as flores, o pote, o leque e o pormenor do bordado encantaram-me.


James Ensor, Natureza-Morta com Pote Chinês, 1929.



Finalmente, uma tela minúscula mas interessantíssima e na qual perdi/ganhei algum tempo foi a de Cézanne, "Sete Maçãs".



Paul Cézanne, Sete Maçãs, 1877 (?)



«Quand la couleur est à sa richesse, la forme est à sa plénitude,» Cézanne

Pogues é bom para ouvir mas não para ver - uma máscara para James Ensor

15/11/2011

Caleidoscópio

Como um caleidoscópio, Duomo, Milão







CALEIDOSCÓPIO

Não fales... Aconteces demasiado... Tenho pena de te estar vendo... Quando serás tu apenas uma saudade minha? Até lá quantas tu não serás? E eu ter de julgar que te posso ver, é uma ponte velha onde ninguém passa... A vida é isto. Os outros abandonaram os remos... Não há já disciplina nas coortes... Foram-se os cavaleiros com a manhã e o som das lanças… Teus castelos ficaram esperando estar desertos... Nenhum vento abandonou os renques das árvores ao cimo… Pórticos inúteis, baixelas guardadas, prenúncios de profecias — isso pertence aos crepúsculos posternados nos templos e não agora, ao encontrarmo-nos, porque não há razões para tílias dando sombra senão teus dedos e o seu gesto tardio...
Razão de sobra para territórios remotos... Tratados feitos por vitrais de reis... Lírios de quadros religiosos... Por quem espera o séquito?... Por onde se ergueu a águia perdida?
s.d.

Bernardo Soares (Fernando Pessoa), Livro do Desassossego, Vol.I. (Organização e fixação de inéditos de Teresa Sobral Cunha.) Coimbra: Presença, 1990, p.82.

13/11/2011

Um poema

Espinho


UM POEMA

Não tenhas medo, ouve:
É um poema
Um misto de oração e de feitiço...
Sem qualquer compromisso,
Ouve-o atentamente,
De coração lavado.
Poderás decorá-lo
E rezá-lo
Ao deitar
Ao levantar,
Ou nas restantes horas de tristeza.
Na segura certeza
De que mal não te faz.
E pode acontecer que te dê paz...

Miguel Torga, Diário XIII.

12/11/2011

Para a Isabel

O descanso do voo, a caminho da Ribeira, Porto.

Sem pudor



Onde fica o rio, o mar?




Pauta e sinfonia



"Trent'anni pocu, trent'anni assai".
Plus d'informations sur ce DVD disponibles sur le site officiel du groupe de chants polyphoniques Corse A Filetta : www.afiletta.com


Paolo Fresu - Fellini

11/11/2011

O íntimo rumor que abre as rosas.

Entre cores o casario, Porto



Se hoje comer uma castanha quero que com ela venha este poema:

É tão fundo o silêncio

É tão fundo o silêncio entre as estrelas.
Nem o som da palavra se propaga,
Nem o canto das aves milagrosas.
Mas lá, entre as estrelas, onde somos
Um astro recriado, é que se ouve
O íntimo rumor que abre as rosas.

José Saramago, Provavelmente Alegria, Lisboa: Caminho, 1998, p.34 (4ªedição)

10/11/2011

Lumière - Luz - Livros, Agradecimento

Numa breve visita ao Porto fui à Livraria Lumière da Cláudia Ribeiro e da Alexandra Ribeiro, duas mulheres jovens e encantadoras que vivem no mundo dos livros. Sempre achei que os portuenses eram pessoas simpáticas e acollhedoras. Ontem tive a prova disso. A Cláudia com quem passei mais tempo, porque a Alexandra teve que ir para a livraria, foi uma anfitriã exímia. Uma mulher livreira, apaixonada por livros de uma sensibilidade extraordinária.


Livraria Lumière, Travessa da Cedofeita, Porto


Livros, cromos, gravuras, tudo fantástico.


Tive uma surpresa que me deixou sem palavras recebi esta caixinha. E o que tinha dentro?




O Fernando Pessoa, o meu poeta maior.



O Bibliófilo Aprendiz


Para que servem livros antigos? Por quê, para quê coleccionar livros raros? Essas perguntas lembram-me uma história que se conta.
Dizem que um poeta francês foi apresentado a um riquíssimo banqueiro. O apatacado personagem perguntou ao poeta:
- Para que serve a poesia?
E o poeta respondeu-lhe:
- Para o senhor, não serve para nada.

Rubens Borba de Moraes, O bibliófilo Aprendiz, Lisboa: Letra Livre, 2011, p. 19. ;)

Voltarei à Livraria Lumière aqui e não só. Hoje, apenas quero deixar:

Muito Obrigada!

09/11/2011

"Os meus Livros"

"Os meus livros (que não sabem que existo)" levaram-me até Roma, Álbum Artistico.


Um livro que adquiri na Livraria Lumière


Biblioteca do Vaticano, um lugar de sonho


Roma - Álbum artístico, Milano, Edizione e Stampa C. Capello, S/d. Magnificamente ilustrado com 132 tavole. In-oblongo.




Os Meus Livros

Os meus livros (que não sabem que existo)
São uma parte de mim, como este rosto
De têmporas e olhos já cinzentos
Que em vão vou procurando nos espelhos
E que percorro com a minha mão côncava.
Não sem alguma lógica amargura
Entendo que as palavras essenciais,
As que me exprimem, estarão nessas folhas
Que não sabem quem sou, não nas que escrevo.
Mais vale assim. As vozes desses mortos
Dir-me-ão para sempre.

Jorge Luis Borges, Obras Completas 1975-1985 in "A Rosa Profunda" (1975), Lisboa, 1998, p.113.

08/11/2011

"Como todos os homens da Biblioteca..."

«Como todos os homens da Biblioteca, viajei na minha
juventude, peregrinei à procura de um livro e talvez
mesmo em busca do catálogo dos catálogos. »*

Jorge Luís Borges
*Jacques Bonnet, bibliotecas cheias de fantasmas, Lisboa: Quetzal, 2010, p. 127



O silêncio... um bom local para ler um livro

Campus Universitário de Évora





06/11/2011

AC contagiou-me

Já coloquei aqui "A Chuva" mas não faz mal poderia fazer replay, replay, replay, replay...

Porque hoje Sophia faria anos!

Sophia de Mello Breyner Andresen nasceu no Porto a 6 de Novembro de 1919. Dedico as pombas a uma mulher que via o mundo com outra luz! Não sei porquê mas as pombas fazem-me lembrar bolas de sabão, estão tão ligadas como estas à infância. Sophia não esqueceu a criança que todos somos.



Apesar das pombas serem aves, Praça do Giraldo, Évora



Os pássaros

Ouve que estranhos pássaros de noite
Tenho defronte da janela:
Pássaros de gritos sobreagudos e selvagens
O peito cor de aurora, o bico roxo,
Falam-se de noite, trazem
Dos abismos da noite lenta e quieta
Palavras estridentes e cruéis.
Cravam no luar as suas garras
E a respiração do terror desce
Das suas asas pesadas
.

Sophia de Mello Breyner Andresen, Antologia, Círculo de Poesia, Lisboa: Moraes Editores, 1975

05/11/2011

os dias as horas




Hachiko
os dias
as horas
verão
outono
inverno
primavera
os dias
as horas

INVERNO

(Fotografia do Google)

04/11/2011

Onde está a beleza da Europa?

O rapto da Europa lenda mitológica da identidade europeia transposta para a arte.



Rembrandt van Rijn, Detalhe de "O rapto da Europa", 1632




Óleo sobre tela, 61 x 78 cm, J. Paul Getty Museum, Los Angeles, Califórnia




He moved among the cows, more beautiful than they or other bulls,
he strolled spring grasses, white as the snow untouched
by southern rains or footprint on the ground,
huge, silky muscles at his neck and silvered dewlaps hanging,
horns as white as if a sculptor’s hand had cut them out of pearl.
And no one feared his look, forehead and eye were gracefully benign…
Agenor’s daughter gazed at him in wonder.
...
Then she became less shy, he gave his breast to her caressing hands
and let her garland even his horns with new-plucked flowers. The princess,
innocent on whom she sat, climbed to his back; slowly the god stepped out
into the shallows of the beach and with false-footed sureness took to sea,
swimming against full tide, the girl his captured prize; she fearful,
turned to shoreward, set one hand on his broad back, the other held
one horn, her dress behind her fluttered in the wind.
(Ovid, Metamorphoses II.849-59)

A tela de Rembrandt


Portugal e a Europa na visão de Pessoa:

Primeiro


O DOS CASTELOS

A Europa jaz, posta nos cotovelos:
De Oriente a Ocidente jaz, fitando,
E toldam-lhe românticos cabelos
Olhos gregos, lembrando.

O cotovelo esquerdo é recuado;
O direito é em ângulo disposto.
Aquele diz Itália onde é pousado;
Este diz Inglaterra onde, afastado,
A mão sustenta, em que se apoia o rosto.

Fita, com olhar esfíngico e fatal,
O Ocidente, futuro do passado.

O rosto com que fita é Portugal.


8-12-1928
Fernando Pessoa, Mensagem, Lisboa: Ática, 10ª ed. 1972), p 21.


A Europa segundo a visão do pintor espanhol José García y Más que apresenta uma Europa economicista.


José García y MásThumbnails European Countdown, 2010




José García y Más nasceu em 1945 em Santa Cruz de la Palma, nas Canárias

A Europa actual - o estado da União Europeia...



«Os líderes europeus recusam renegociar os requisitos para o segundo resgate da Grécia e bloquearão a ajuda urgente de oito mil milhões de euros ao país, caso Atenas não aplique os ajustes exigidos, segundo a imprensa espanhola e francesa.»
Público, 2-11-2011

«O primeiro-ministro grego afinal não se demite e está pronto a retirar a sua proposta de referendo sobre a permanência do seu país na zona euro.»
Público 3-11-2011


Será que a Europa tem futuro?

02/11/2011

Possuir é perder

E porque hoje é dia de finados escolhi O Enterro do Conde de Orgaz de El Greco*


El Greco, Pormenor de "O Enterro do Conde de Orgaz", 1586, Igreja de S. Tomé, Toledo

Cristo, a Virgem, S. João Baptista e o anjo
(Fotografias do guião de Toledo)


Detalhe, o Conde de Orgaz e Santo Agostinho em primeiro plano. Há quem pense que a primeira figura, olhando para fora do quadro, é El Greco



Detalhe, em primeiro plano o filho do pintor, Jorge e Santo Estevão



Igreja de S. Tomé onde está a tela: O Enterro do Conde de Orgaz



A arte livra-nos ilusoriamente da sordidez de sermos

A arte livra-nos ilusoriamente da sordidez de sermos. Enquanto sentimos os males e as injúrias de Hamlet, príncipe da Dinamarca, não sentimos os nossos — vis porque são nossos e vis porque são vis.
O amor, o sono, as drogas e intoxicantes, são formas elementares da arte, ou, antes, de produzir o mesmo efeito que ela. Mas amor, sono, e drogas tem cada um a sua desilusão. O amor farta ou desilude. Do sono desperta-se, e, quando se dormiu, não se viveu. As drogas pagam-se com a ruína de aquele mesmo físico que serviram de estimular. Mas na arte não há desilusão porque a ilusão foi admitida desde o princípio. Da arte não há despertar, porque nela não dormimos, embora sonhássemos. Na arte não há tributo ou multa que paguemos por ter gozado dela.
O prazer que ela nos oferece, como em certo modo não é nosso, não temos nós que pagá-lo ou que arrepender-nos dele.
Por arte entende-se tudo que nos delicia sem que seja nosso — o rasto da passagem, o sorriso dado a outrem, o poente, o poema, o universo objectivo.
Possuir é perder. Sentir sem possuir é guardar, porque é extrair de uma coisa a sua essência.

Bernardo Soares, Livro do Desassossego, Vol.II. Fernando Pessoa, s.d. (Recolha e transcrição dos textos de Maria Aliete Galhoz e Teresa Sobral Cunha. Pref. e Org. de Jacinto do Prado Coelho.) Lisboa: Ática, 1982, p.518

*Notas retiradas de um panfleto da Igreja de S. Tomé com dados do historiador de arte Robert Cumming

01/11/2011

Cinema Paraíso

Herri Met des Bles, Paraíso, Rijskmuseum, Amesterdão




O sonho e a realidade numa película de Giuseppe Tornattore (1988). "Cinema Paraíso" venceu o Globo de Ouro para o melhor filme estrangeiro em Cannes (1989), na mesma categoria obteve no ano seguinte o Oscar nos EUA (1990) e recebeu ainda outros prémios que se podem ver no link assinalado. Música de Ennio Morricone.


«Cada um de nós tem uma estrela para seguir.
A vida não é como é vista no cinematógrafo. (...)
Não voltes mais, não penses mais em nós,
não voltes, não escrevas, não voltes para a nostalgia»


Alfredo (Philippe Noiret).





O(s) beijo(s) proibido(s) e censurado(s) pelo padre da terra foram reunidos numa película por Alfredo para deixar a Salvatore que se tornou num profícuo realizador...

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