Como um caleidoscópio, Duomo, Milão
CALEIDOSCÓPIO
Não fales... Aconteces demasiado... Tenho pena de te estar vendo... Quando serás tu apenas uma saudade minha? Até lá quantas tu não serás? E eu ter de julgar que te posso ver, é uma ponte velha onde ninguém passa... A vida é isto. Os outros abandonaram os remos... Não há já disciplina nas coortes... Foram-se os cavaleiros com a manhã e o som das lanças… Teus castelos ficaram esperando estar desertos... Nenhum vento abandonou os renques das árvores ao cimo… Pórticos inúteis, baixelas guardadas, prenúncios de profecias — isso pertence aos crepúsculos posternados nos templos e não agora, ao encontrarmo-nos, porque não há razões para tílias dando sombra senão teus dedos e o seu gesto tardio...
Razão de sobra para territórios remotos... Tratados feitos por vitrais de reis... Lírios de quadros religiosos... Por quem espera o séquito?... Por onde se ergueu a águia perdida?
s.d.
Bernardo Soares (Fernando Pessoa), Livro do Desassossego, Vol.I. (Organização e fixação de inéditos de Teresa Sobral Cunha.) Coimbra: Presença, 1990, p.82.
Não fales... Aconteces demasiado... Tenho pena de te estar vendo... Quando serás tu apenas uma saudade minha? Até lá quantas tu não serás? E eu ter de julgar que te posso ver, é uma ponte velha onde ninguém passa... A vida é isto. Os outros abandonaram os remos... Não há já disciplina nas coortes... Foram-se os cavaleiros com a manhã e o som das lanças… Teus castelos ficaram esperando estar desertos... Nenhum vento abandonou os renques das árvores ao cimo… Pórticos inúteis, baixelas guardadas, prenúncios de profecias — isso pertence aos crepúsculos posternados nos templos e não agora, ao encontrarmo-nos, porque não há razões para tílias dando sombra senão teus dedos e o seu gesto tardio...
Razão de sobra para territórios remotos... Tratados feitos por vitrais de reis... Lírios de quadros religiosos... Por quem espera o séquito?... Por onde se ergueu a águia perdida?
s.d.
Bernardo Soares (Fernando Pessoa), Livro do Desassossego, Vol.I. (Organização e fixação de inéditos de Teresa Sobral Cunha.) Coimbra: Presença, 1990, p.82.
Procure a história dos lírios Ana, é tão bela quanto o que acabamos de ler.
ResponderEliminarbjs das 5
Gostei muito do post.
ResponderEliminarDo texto de Pessoa e da Música de Monteverdi
Gostei.
ResponderEliminarE gosto dos caleidoscópios. Tenho um que me deu uma amiga há muitos anos. É precioso, porque ela faz parte das estrelas.
Um beijinho
São das poucas coisas que me fazem sorrir quando estou numa igreja. Por vezes perco-me a olhar para eles e nem ouço a palestra.
ResponderEliminarLindo este post.
Beijo
Cozinha dos Vurdóns.
ResponderEliminarObrigada!
O Livro do Desassossego é um livro que visito muitas vezes, nunca o li todo, vou lendo.
5 Bjs. :)))))
Obrigada, Pedro! :)
Bjs.
Isabel,
Adoro caleidoscópios tive uns três mas não sei deles. Quando mudei de casa deixei de os ver. Junto-os às bolas de sabão nas boas memórias de infância. Ainda hoje gosto de ver as suas surpresas, gira que gira e vemos maravilhas em forma de cor.
Bjs. :)
Carlota,
Achei graça ao seu comentário. Os vitrais fazem de facto sorrir, pela cor e pela história que narram.
Bjs. :)
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarConfesso - eu, nunca o lí, mas vou procurar. Seu gosto acaba por ser uma referencia.
ResponderEliminarbjs meus
Leiam amigas,
ResponderEliminarVão gostar.
Bjs, 5!
Ana,
ResponderEliminarHoje entrei silenciosamente no (In)Cultura e, discretamente, tenho andado por aqui a "espiolhar" sem preocupações de tempo. O seu bom gosto é enorme, algumas das suas opções de post chegam-me a comover.
Obrigado.
Beijo :)