15/11/2011

Caleidoscópio

Como um caleidoscópio, Duomo, Milão







CALEIDOSCÓPIO

Não fales... Aconteces demasiado... Tenho pena de te estar vendo... Quando serás tu apenas uma saudade minha? Até lá quantas tu não serás? E eu ter de julgar que te posso ver, é uma ponte velha onde ninguém passa... A vida é isto. Os outros abandonaram os remos... Não há já disciplina nas coortes... Foram-se os cavaleiros com a manhã e o som das lanças… Teus castelos ficaram esperando estar desertos... Nenhum vento abandonou os renques das árvores ao cimo… Pórticos inúteis, baixelas guardadas, prenúncios de profecias — isso pertence aos crepúsculos posternados nos templos e não agora, ao encontrarmo-nos, porque não há razões para tílias dando sombra senão teus dedos e o seu gesto tardio...
Razão de sobra para territórios remotos... Tratados feitos por vitrais de reis... Lírios de quadros religiosos... Por quem espera o séquito?... Por onde se ergueu a águia perdida?
s.d.

Bernardo Soares (Fernando Pessoa), Livro do Desassossego, Vol.I. (Organização e fixação de inéditos de Teresa Sobral Cunha.) Coimbra: Presença, 1990, p.82.

9 comentários:

  1. Procure a história dos lírios Ana, é tão bela quanto o que acabamos de ler.

    bjs das 5

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  2. Gostei muito do post.
    Do texto de Pessoa e da Música de Monteverdi

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  3. Gostei.
    E gosto dos caleidoscópios. Tenho um que me deu uma amiga há muitos anos. É precioso, porque ela faz parte das estrelas.
    Um beijinho

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  4. São das poucas coisas que me fazem sorrir quando estou numa igreja. Por vezes perco-me a olhar para eles e nem ouço a palestra.
    Lindo este post.

    Beijo

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  5. Cozinha dos Vurdóns.
    Obrigada!
    O Livro do Desassossego é um livro que visito muitas vezes, nunca o li todo, vou lendo.
    5 Bjs. :)))))

    Obrigada, Pedro! :)
    Bjs.

    Isabel,
    Adoro caleidoscópios tive uns três mas não sei deles. Quando mudei de casa deixei de os ver. Junto-os às bolas de sabão nas boas memórias de infância. Ainda hoje gosto de ver as suas surpresas, gira que gira e vemos maravilhas em forma de cor.
    Bjs. :)

    Carlota,
    Achei graça ao seu comentário. Os vitrais fazem de facto sorrir, pela cor e pela história que narram.
    Bjs. :)

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  6. Confesso - eu, nunca o lí, mas vou procurar. Seu gosto acaba por ser uma referencia.

    bjs meus

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  7. Ana,
    Hoje entrei silenciosamente no (In)Cultura e, discretamente, tenho andado por aqui a "espiolhar" sem preocupações de tempo. O seu bom gosto é enorme, algumas das suas opções de post chegam-me a comover.
    Obrigado.

    Beijo :)

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