15/05/2014

Aprazíveis diálogos II

Ainda centrada geograficamente no Porto, chegou-me um texto que a todos tocará certamente. Identifico-me com ele embora não estabeleça uma relação profissional directa.
A minha amiga Cláudia, da Livraria Lumière, teve a gentileza de participar nos Aprazíveis diálogos. Obrigada.

Recentemente li um texto, com o qual me identifiquei particularmente. Parecia que tinha sido escrito para mim! Partilho um excerto e, estou certa, que outras pessoas vão, igualmente, identificar-se com ele. Apenas substitui as palavra "Biblioteca" por "Livraria", Bibliotecária por Alfarrabista e a inicial do nome próprio I. por C. 

Giuseppe Arcimboldo, Library, 
Skokloster Slott, Balsta, Sweden (Wikart)
The Librarian - Giuseppe Arcimboldo


Cláudia tive que mudar a imagem porque às vezes desaparecia.

(...) o livro tem sido o amigo leal e sempre presente nas horas boas e más fazendo rir, chorar, pensar e reflectir, ensinando, desvendando os segredos do universo, revelando um pouco da vida de cada um de nós. 
Na Livraria passa a maior parte do seu dia, escasso, contudo, para dedicar ao livro o tempo que ele merece. Diariamente, na Livraria, trava consigo própria uma luta titânica para manter com ele uma relação puramente profissional; ocasionalmente distrai-se, C. não resiste à tentação e lê, aqui e além, algumas passagens de alguns dos livros que, às dezenas, todos os dias lhe passam pelas mãos. Descobre-os, folheia-os, consulta os sumários, os índices, por vezes, lê os prefácios e as introduções, conhece-lhes a cor das capas, identifica-lhes o conteúdo, atribui-lhes a localização, divulga-os, publicita-os, dá-os a ler. Os milhares e milhares de livros, arrumados e alinhados em estantes e prateleiras, num infindável jogo de cores, são o seu mundo; conhece-os, acarinha-os, protege-os, mas infelizmente, na Livraria, não lhes pode oferecer aquilo por que eles mais anseiam: o prazer de os ler - C. é Alfarrabista

Da Memória do Mundo / Biblioteca Central da FLUP - Porto: Faculdade de Letras, 1996, p. 43 e 44. Texto de João Leite.

9 comentários:

  1. Gosto de livros, por muitas razões. Belo post (como sempre). Muitos beijinhos!

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  2. Bonito texto. Quem o escreveu conhece esta profissão por dentro.

    Livreiros, alfarrabistas e bibliotecários não são contratados para ler livros, mas antes para os disponibilizar ao público. Claro, para fazer esse trabalho há necessidade de folhear o livro, ler o prefácio na diagonal, consultar os índices e por vezes ver na enciclopédia quem foi o autor e os temas que tratou.

    Temos com os livros uma relação algo semelhante que os médicos tem com os doentes. Tratamo-los, mas não nos podemos afeiçoar. Tem que haver alguma distância, uma certa frieza, pois de outro modo pomo-nos a ler e não trabalhamos.

    Naturalmente uma boa cultura geral ajuda muito neste trabalho e de vez em quando, caímos na tentação e lemos um livro ou capítulo inteiro. No caso das bibliotecas, também aprendemos muito com alguns leitores, que gostam de contar sobre as suas investigações.

    O trabalho de uma biblioteca não é empolgante ou apaixonante, pelo contrário, é muitas vezes repetitivo, cheio de minúcias, onde todos os procedimentos estão normalizados e regulados. Um registo bibliográfico tem talvez uns oitenta ou 70 campos diferentes e há que conhece-los a todos. Mas em todo o caso, é sempre preferível estar com uma pilha de livros na nossa secretária do que estar atrás de um balcão de um banco a mexer com dinheiro.

    Um abraço

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  3. Este texto é a cara da Cláudia!
    Muito bem escolhido!
    Não tenho tempo de ver agora o vídeo, mas vejo depois.

    Um beijinho à Ana e um especial à Cláudia!

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  4. Margarida,
    Obrigada. O mérito é da Cláudia que me enviou este texto que me toca particularmente.
    Beijinho. :))

    Luís,
    Apreciei muito o seu comentário.
    Achei graça ao terceiro parágrafo porque nunca tinha pensado nisso. Agradeço a todos os bibliotecários a ajuda que me deram e continuam a dar.
    Um abraço!:))

    Isabel,
    Pois é. Então volta.:))
    Beijinho.

    À Cláudia,
    Agradeço a beleza do texto e o carinho com que trata os livros e os leitores que a procuram. Sou uma dessas pessoas e sinto um profundo agradecimento por todo o apoio que me dá quando procuro um livro.
    Beijinho grato. :))

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  5. O esplendor das iluminuras trazidas aqui pela Ana fez-me pensar nos milhões de horas de trabalho dedicado e delicado dos monjes, enclausuradas durante séculos longe da vista das pessoas.
    Se na Europa do norte a reforma veio operar uma revolução do saber no sul e particularmente por estes lados a santa ignorância permaneceu até aos nossos dias.
    O homem não é perfeito, ainda bem, deixa-se seduzir pelos livros. Mesmo os bibliotecários e alfarrabistas.

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  6. Trabalhar com livros, é para mim, fonte de grande prazer.
    Ao contrário dos bibliotecários, todos os dias são diferentes; nada aborrecidos, monótonos ou repetitivos!
    Quando a Ana me fez o pedido, tinha lido o livro mencionado fazia poucos dias, pelo que achei este excerto bastante adequado e com o qual me identifiquei.
    Quanto às leituras, sinto um desespero por não conseguir ler ao ritmo desejado... E, trabalhando com livros, esse desespero triplica!

    Obrigada, Ana, pelo convite e pelas palavras!
    Apenas faço o meu trabalho com amor e muito respeito aos livros. Não o sei fazer de outra maneira!

    Um beijinho.:))

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  7. Para o documentalista ou bibliotecário o tratamento do livro, publicação em série, etc., no que respeita à catalogação ou indexação, já constitui um enorme prazer. Se juntarmos a isto a colaboração com investigadores na pesquisa "daquela" obra, estudo, artigo, relatório, que parece não existir em parte alguma e, quando finalmente o localizamos, aí o sentido de dever cumprido é extremamente gratificante.
    Parece que fugi ao tema do comentário? Talvez! Mas o que é facto é que quem não ama verdadeiramente o livro dificilmente alcança determinados objectivos como, por exemplo, o que referi.
    Sem dúvida que o livro em suporte papel (para mim!) continua a ser o melhor amigo, o melhor companheiro.
    Beijinho, ana.

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  8. GL,
    O suporte papel é para mim fundamental. Não conseguiria ler com prazer um livro digital, a não ser que seja obrigatório esse suporte para não se estragar a obra em questão.

    Obrigada pela visita.
    Beijinho. :))

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  9. Agostinho,
    Desculpe não reparei que ainda não havia respondido ao seu gentil comentário.
    Boa tarde! :))

    Cláudia,
    Um beijinho e um bem-haja para si. :))

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