Post dedicado a Piet de Mondrian que usou excelentemente as cores primárias.
Azul, vermelho e amarelo.
" La composition à la façon de l'apparition naturelle (approche mimétique) devait être quittée pour qu'elle soit une peinture vraiment nouvelle. Un travail continu amenait le groupement à une composition exclusivement basée sur l'équilibre de rapports purs sortant de l'intuition pure par l'union de la sensibilité approfondie et de l'intelligence supérieure. Bien que des rapports se forment dans la nature et dans notre esprit suivant les mêmes lois principales et universelles, de nos jours, l'oeuvre d'art se manifeste d'une autre façon que la nature. Parce que de nos jours, dans l'oeuvre d'art, il faut tâcher d'exprimer seulement ce qui est essentiel de la nature, et, de l'homme, ce qui est universel. "
A sensação que resultou do filme de Woody Allen: Para Roma Com Amor é que tomei um gelato di cioccolato gostoso.
Saboreei toda a película como se estivesse lá a calcorrear as ruas plenas de flores.
Não posso ter a percepção profunda que tem o Manuel Poppe, do blogue Sobre o Risco. Todavia, para além de um passeio que fizera há uns anos a Roma, retornei para viver e conviver com os romanos durante uma temporada breve. Manuel Poppe descreve muito bem a essência do filme, intitulando-o um "Intermezzo". Pelo que me foi dado viver e pelas histórias que recolhi em Roma a sua visão é das melhores que já li.
A cor ocre da cidade, os cheiros por vezes pouco agradáveis, a noite alegre, plena de vida; o Transtevere tímido e as ruas repletas de pontos de água: fonte da vida marcam sem dúvida uma pessoa. A luz e as sombras são poesia, teatro e encenação constante.
A primeira ópera que conheci, na minha adolescência, foi os Palhaços de Ruggiero Leoncavallo. Apaixonei-me de imediato pela ária Vesti la ggiuba. Depois conheci outras óperas e a eleita passou a ser A Flauta Mágica. No presente há outras tantas que aprecio e me encantam.
Woody Allen não podia deixar de homenagear a ópera que, no filme, ganhou um lugar de destaque através de uma personagem suis generis, um tanto ou quanto felliniana, e mais não digo... Sugiro que vão ver o filme.
Da ópera deixo as duas interpretações que me arrepiam.
A canção Volare é o fio condutor entre as personagens e a cidade e toma um lugar proeminente no final, assumindo forma teatral na Piazza di Spagna.
(...)
Penso che un sogno cosi` non ritorni mai piu`,
mi dipingevo le mani e la faccia di blu.
Poi d'improvviso venivo dal vento rapito,
e incominciavo a volare nel cielo infinito.
Volare, oh oh
cantare, oh oh oh oh.
Nel blu degli occhi tuoi blu
felice di stare quaggiu`.
E continuo a volare felice
piu` in alto del sole
ed ancora piu` su
mentre il mondo
pian piano scompare
negli occhi tuoi blu
La tua voce e` una musica dolce che suona per me...
(...)
Mais uma canção que se ouvia em casa dos meus pais: UnaLacrima sul viso.
Bobby Solo (Roberto Satti) estreou-se no Festival de Sanremo com a canção UnaLacrima sul viso. Era conhecido como o Elvis italiano. Roberto Satti nasceu em Roma em 1945.
Nunca vi o filme em que a canção é protagonista (1964), apenas sei que foi realizado por Ettore Maria Fizarrote, o mesmo realizador de "Non son degno de ti" (1965).
Talvez o céu de Saba esteja representado na segunda tela e não na primeira. Todavia, a primeira é a que mais se aproxima do céu de Portugal, tão negro e tristemente tratado por governantes sem alma. Almejo um céu azul, sereno e radioso mas está tão longe essa estação...
La buona, la meravigliosa Lina
spalanca la finestra perché veda
il cielo immenso.
Qui tranquillo a riposo, dove penso
che ho dato invano, che la fine approssima,
più mi piace quel cielo, quelle rondini,
quelle nubi. Non chiedo altro
Fumare
la mia pipa in silenzio come un vecchio
lupo di mare.
***
CÉU
A boa, a maravilhosa Lina
abre de par em par a janela para que eu veja
o céu imenso.
Aqui repousando tranquilo, quanto penso
que lutei em vão, que o fim se aproxima,
mais amo este céu, estas andorinhas,
estas nuvens. Nada mais peço.
Fumar
em silêncio o meu cachimbo como um velho
lobo-do-mar.
Umberto Saba, Poesia. Lisboa: Assírio & Alvim, 2010, pp. 372-373, (selecção, tradução, introdução
e notas José Manuel de Vasconcelos)
O pavão simboliza a ressurreição de Cristo e como a Fénix é considerado um símbolo solar.
Na mitologia grega é um dos animais atribuídos à deusa Hera. Simboliza ainda a imortalidade e a totalidade, muito embora a sua imagem esteja associada à vaidade.
Retirado do Dicionário de Símbolos.
Melchior d' Hondecoeter(Dutch, Utrecht 1636–1695 Amsterdam), Peacocks
Os livros simbolizam a imortalidade dos seus autores. Assim, no Palácio de Cristal, no Porto, ocorre o Festival do Livro, de iniciativa do Bairro dos Livros que no seu convite alia
o pavão à festa do livro. Tenho pena de não poder passar por lá.
Cláudia, obrigada pelo convite.
E porque chegou o outono: as folhas morrem preparando o tempo em que o renascer virá.
The falling leaves drift by the window The autumn leaves of red and gold I see your lips, the summer kisses The sun-burned hands I used to hold Since you went away the days grow long And soon I'll hear old winter's song But I miss you most of all my darling When autumn leaves start to fall.
A música original é francesa: "Les feuilles mortes", o poema é de Jacques Prévert e a música de Joseph Kosma.
Não pertenço à geração que ouvia Gianni Morandi mas foi com ela que ouvi e aprendi a gostar das canções italianas.
Gianni Morandi, fotografia de Roberto Ferrari
Morandi nasceu a 11 de Dezembro em Monghidoro, na província de Emilia-Romagna. Estreou-se na música em 1962 e entrou em 18 filmes, sendo o primeiro em 1964 "IN GINOCCHIO DA TE". Em 1984 participou na série televisiva Voglia de Volare.
(wikipédia)
Na ordem do dia com esperança que o mundo mude! il mondo cambierà, 1963
A música dele que ouvi mais foi o single: Non Son Degno de Ti, 1964
Henri Matisse, Cabeça de Laurette com uma chávena de café, daqui
MOMENTO NUM CAFÉ
As mãos lindas que vi deixam-me absorto:
compridos dedos, polegares de espátula,
um dedilhar de flores em jardins ociosos,
só comparável a conversa amena
de duas mulheres simples debruçadas
sobre o tampo liso de uma mesa.
A riqueza da vida reside nisto:
um leve toque no ombro do próximo…
uma cortina de chuva vedando a verdade,
olhos indiferentes, indiscretos…
e um ar de encanto, um fácil soluço
ouvido longe,
como que em segredo.
Ruy Cinatti, in 56 Poemas (retirado da Casa Fernando Pessoa)
Obrigada Isabel (do blog Palavras Daqui e Dali) pelo café que saboreei com Cinatti neste dia cansativo.
Por mão amiga recebi notícias de Irene Lisboa evocada por Luísa Dacosta e por Paula Morão. Obrigada Maria João do blogue "O Falcão de Jade".
Após a leitura das notícias, lembrei-me de duas mulheres mais novas, mas ainda assim contemporâneas, que se notabilizaram seguindo a mesma escrita intimista: Clarice Lispector (1920-1977) e Maria Ondina Braga (1932-2003).
Com estilos de vida diferentes, pertencendo a gerações diferentes, a vida destas três mulheres cruza-se através da palavra portuguesa: solidão.
Ter-se-ão conhecido?
Nada sei sobre uma possível ligação. O mais provável é nem se terem conhecido.
Todavia, em locais dispersos, com realidades peculiares, as três mulheres têm, a meu ver, algo em comum. O que me fez refletir que em cada canto do mundo, sem que as pessoas se apercebam, a fonte da vida é a mesma, as energias são iguais, os anseios são os mesmos, não importa a religião, o poder político ou o poder económico. Quero com isto dizer que as sombras são as mesmas, todos temos uma caverna e é dela que partimos para traçar os dias.
IRENE LISBOA
Irene Lisboa , com 24 anos, fotografia retirada do
Quinzenário Literário:Educação Feminina, 1 de Abril, 1913, nº I
«...
Gostava de escrever com um fio de água. um fio que nada traçasse
Fino e sem cor, medroso...» Irene Lisboa
[Irene Lisboa] Morreste em Novembro de 1958 e para mim tinhas nascido tão tarde! Só em 1956 - Lembras-te? Foi António Sérgio que nos apresentou, num concerto. (...) A natureza foi o teu espelho e exaltação. criaste-lhe uma alma, sentias a água a chorar, e o impossível corporizava-se, sob os teus olhos, na rapariga de pedra. Luísa Dacosta, "Um Perfil e Uma Obra. Irene Lisboa in Vida mundial. Lisboa. Nº 1636 (16 Out. 1970), p. 41-52.
Segundo Paula Morão, Irene Lisboa no livro, o pouco e o muito, descreve a chuva violenta que cai lá fora ordenada em três linhas de fuga: o tema do isolamento (corolário da solidão); a metáfora da linguagem e a auto-análise, «eu que faço?», «eu que escrevo o quê?» e em «eu quem sou?».
Paula Mourão interliga a escritora com o intersecionismo modernista, nomeadamente, com Álvaro de Campos de "Tabacaria" pelo recurso comparativo e pelo tema da solidão; e no tema da chuva aproxima-a à "Chuva Oblíqua" ou de "Chove?" de Fernando Pessoa.; perfila-a na sombra de Cesário Verde de "Contrariedades"; e ainda, enquadra-a na escrita de Camilo Pessanha. Concluiu que era "interessante notar como em todos os casos se trata de poetas que estiveram à frente do seu tempo, suscitando problemas de avaliação crítica e de reconhecimento, como veio acontecer com Irene Lisboa".
Paula Morão, "Notas sobre o estilo de Irene Lisboa", Irene Lisboa: 1892-1958 [catálogo], pp.31-38, Lisboa: Biblioteca Nacional, 1992 .
CLARICE LISPECTOR
Carlos Scliarp (1920-2001), Retrato de Clarice Lispector, 1972. Daqui
Apenas isso: chove e estou vendo a chuva. Que simplicidade. Nunca pensei que o mundo e eu chegássemos a esse ponto de trigo. A chuva cai não porque está precisando de mim, e eu olho a chuva não porque preciso dela. Mas nós estamos tão juntas como a água da chuva está ligada à chuva.
Clarice Lispector
ONDINA BRAGA
Maria Ondina Braga, Cortesia do Google
Chovia a potes. Muito pretendido, àquela hora, muito requisitado, o condutor: tlim-tlim! Grosseiro, o condutor? Dava-se-lhe um desconto. Pang-yau de manhã à noite a pedalar de costas curvadas, que ganhava o pobre que lhe sobrasse para cortesia? Elas pelo menos assim o entenderam, pulando uma atrás da outra para dentro do coche, rápidas, encharcadas, a abrigar-se, a enxugar o rosto molhado. Para onde quer ir?, perguntou então a professora da Escola Chinesa. Ora, para onde quero ir!... Num domingo de chuva em Macau tudo quanto se podia desejar era um sam-lun-ché, não era? Riram, radiantes, e não só por terem conseguido transporte como pelo encontro, pela convivência. Abotoavam as bandas do oleado que as cobria da cabeça aos pés. Diga-lhe que nos leve sem destino, queremos é matar o tempo!, propôs Ester. Sem destino? Xiao franzia o sobrolho. Não. Isso sem destino o homem não compreendia.
Maria Ondina Braga, Nocturno em Macau. Lisboa:Editorial Caminho, 1991.
O vídeo clip é surreal e a meu ver comunga com a solidão, o fio condutor desta postagem
A festa de S. Francisco Xavier em Goa Velha reúne hindus e católicos. Não há fronteiras religiosas neste dia. Há, sim, a convivência secular e a manifestação de tolerância. (registo oral em Goa Velha)
Goa Velha, Festa de S. Francisco Xavier, 3 de Dezembro, 2008
Não existe mais do que uma história: A história do homem. Todas as histórias nacionais não são mais do que capítulos de uma maior.
Rabindranath Tagore (retirado do Citador)
«O primeiro lugar nas armas da virtude pertence ao egrégio Xavier. Vê como há‑de maravilhar o mundo inteiro, A Índia, a Etiópia e as raças que a Musicania mãe alimenta. Vê como se confia aos santos nos céus.»
Carlota Miranda Urbano, "S. Francisco Xavier e a Poesia Hagiográfica Novaltina em Portugal" Humanitas 58 (2006), pp. 369-390, (Universidade de Coimbra).
S. Francisco Xavier nasceu a 7 de Abril de 1506 em Xavier e faleceu a 3 de Dezembro de1552 em Sanchoão (China). O seu corpo repousa na Basílica do Bom Jesus de Goa (Velha Goa), Índia.
Todavia há que ter cuidado com os espelhos para não cairmos no lago como Narciso.
Michelangelo Caravaggio Narcissus, 1594-96,
Galleria Nazionale d'Árte Antica, Rome
Em mim o que há de primordial é o hábito e o jeito de sonhar. As circunstâncias da minha vida, desde criança sozinho e calmo, outra[s] forças talvez, amoldando-me de longe, por hereditariedades obscuras a seu sinistro corte, fizeram do meu espírito uma constante corrente de devaneios. Tudo o que eu sou está nisto, e mesmo aquilo que em mim mais parece longe de destacar o sonhador, pertence sem escrúpulo à alma de quem só sonha, elevada ela ao seu maior grau. Quero, para meu próprio gosto de analisar-me, ir, à medida que isso me ajeite, ir pondo em palavras os processos mentais que em mim são um só, esse, o de uma vida devotada ao sonho, de uma alma educada só em sonhar.
Vendo-me de fora, como quase sempre me vejo, eu sou um inapto à acção, perturbado ante ter que dar passos e fazer gestos, inábil para falar com os outros, sem lucidez interior para me entreter com o que me cause esforço ao espírito, nem sequência física para me aplicar a qualquer mero mecanismo de entretenimento trabalhando. Isso é natural que eu seja. O sonhador entende-se que seja assim. Toda a realidade me perturba. A fala dos outros lança-me numa angústia enorme. A realidade das outras almas surpreende-me constantemente. A vasta rede de inconsciências que é toda a acção que eu vejo, parece-me uma ilusão absurda, sem coerência plausível, nada. (...) Para dar relevo aos meus sonhos preciso conhecer como é que as paisagens reais e as personagens da vida nos aparecem relevadas. Porque a visão do sonhador não é como a visão do que vê as coisas. No sonho, não há o assentar da vista sobre o importante e o inimportante de um objecto que há na realidade. Só o importante é que o sonhador vê. A realidade verdadeira dum objecto é apenas parte dele; o resto é o pesado tributo que ele paga à matéria em troca de existir no espaço. Semelhantemente, não há no espaço realidade para certos fenómenos que no sonho são palpavelmente reais. Um poente real é imponderável e transitório. Um poente de sonho é fixo e eterno. Quem sabe escrever é o que sabe ver os seus sonhos nitidamente (e é assim) ou ver em sonho a vida, ver a vida imaterialmente, tirando-lhe fotografias com a máquina do devaneio, sobre a qual os raios do pesado, do útil e do circunscrito não têm acção, dando negro na chapa espiritual.
Bernardo Soares, Livro do Desassossego. Lisboa: Assírio & Alvim, 1998, pp. 485 e 487. (Edição Richard Zenith)
Parmigianino(Girolamo Mazolla) nasceu em Parma (1503), viveu em Florença, Roma e em Bolonha acabando por falecer na terra natal em 1540. Pintor maneirista.
Caravaggio nasceu em 1571 na Lombardia (Bérgamo ou Milão). Viveu em Milão, Roma, Nápoles, Malta e Sicília. Foi encontrado morto na praia. Pintor barroco
George Lambert (1873-1930) nasceu em S. Petersburgo, viveu na Alemanha, em Inglaterra e Austrália onde faleceu. Pintor do romantismo.
Há dias em que a cidade tem um sabor mais caloroso. Ontem foi um desses dias.
Coimbra em jardim esplendoroso, no Quebra-Costas
Mestre Alves André, Tricana do Mondego (inaugurada a 7 de Dezembro 2008).
Homenagem da Junta de Freguesia de Almedina.
Quebra-Costas
Vêm de um Céu
Vêm de um céu
talvez de ficção.
Vejo-as chegar,
vejo-as partir.
São aves
de passagem, não lhes sei o nome.
Têm como eu pouca realidade.
Seguem a direcção do vento,
rumo a sul,
chamadas
pela cal ardendo sobre o mar.
É difícil a nostalgia;
naturalmente mais difícil quando
o tempo fere
o nosso olhar
e o priva do que fora mais seu:
a nudez musical da luz primeira.
Mas de que falo eu, se não forem aves