22/09/2010

Pintar a vida...

Pintar a vida é o que todos fazemos desde a aurora até ao ocaso. A vida é como o fio de Ariadne vai-se desenrolando... só que o da princesa tinha um propósito de ordem. O fio que tecemos nem sempre obedece à nossa vontade, não é ordem - é acaso. A tela de Ferenczy levou-me até aos pincéis que estavam arrumadinhos, peguei num, follheei o Livro do Desassossego e parei no texto escolhido!
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Károly Ferenczy (nasceu na Áustria e morreu em Budapeste) , A pintora, 1903
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Óleo sobre tela , 136 x 129,5 cm, Galeria Nacional Hungara, Buda, Hungria

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A vida é para nós o que concebemos nela. Para o rústico cujo campo próprio lhe é tudo, esse campo é um império. Para o César cujo império lhe ainda é pouco, esse império é um campo. O pobre possui um império; o grande possui um campo. Na verdade, não possuímos mais que as nossas próprias sensações; nelas, pois, que não no que elas vêem, temos que fundamentar a realidade da nossa vida.
Isto não vem a propósito de nada.

27-6-1930

Bernardo Soares, Livro do Desassossego por .Vol.I. Fernando Pessoa. (Recolha e transcrição dos textos de Maria Aliete Galhoz e Teresa Sobral Cunha. Prefácio e Organização de Jacinto do Prado Coelho.) Lisboa: Ática, 1982, p. 132.

6 comentários:

  1. Concordo com tudo e adorei este post. Dá muito que pensar.

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  2. O império é um campo- Foi sempre assim, de Alexandre ao seu émulo César ,ou mais perto de nós Napoleão ou Hitler.

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  3. Pois sim

    vivamos pois cada um no seu galho

    de preferencia numa árvore partilhada

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  4. Margarida,
    Obrigada pelas suas palavras que são luz e cor! :)

    Luís,
    Obrigada pela sua presença. Bem-vindo. Tenho muito gosto em partilhar consigo estes pensamentos. :)

    Mar Arável,
    de preferência numa árvore partilhada.
    Obrigada pela sua passagem.:)

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  5. Seria bom que conseguíssemos pintar a vida com as cores do «império», ambicionando melhorar a fecundidade do nosso «campo», mas não ambicionando mais do que esse «campo». Mas parece-me que o que está a dar é pintar a vida com as cores de um «campo», e suspirar por um «império».
    Dá-me sempre muito que pensar, Ana. :-)

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  6. Luísa,
    Bem-vinda e muito obrigada pela sagacidade das suas palavras.

    Julgo que a Luísa disse mais do que eu com a aparência simples da seguinte afirmação:
    "pintar a vida com as cores do «império», ambicionando melhorar a fecundidade do nosso «campo»".

    É um prazer pensar, divagar, parar para perceber mas corre-se o risco de parecermos inúteis.
    :)

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